Capítulo 6 (Season 2): ENCONTRO COM O ACASO [parte I]

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Quando O Amor Acontece

Eu tranquei a porta e deixei Rodrigo do lado de fora de casa. Vê-lo ali, chorando, olhando pra mim com aquela expressão abatida foi muito doloroso pra mim, mas eu tinha uma decisão a tomar. Ver Rodrigo beijando Vitor mais uma vez foi insuportável pra mim, e eu não queria mais ouvir nada dele. Ainda conseguia ouvi-lo chorar do lado de fora, o que me machucava muito, mas não tinha mais nada a fazer. Depois de algum tempo, já era possível perceber que Rodrigo havia ido embora, e eu permanecia ali na porta, parado como uma estátua, os olhos encharcados. Até que a madrugada foi se aproximando lentamente, mas não havia o mínimo de resquício de sono em mim. Passei aquela noite inteira acordado, pensando em Rodrigo, era inevitável, mas se eu precisava superar isso. Mesmo sabendo que não seria nada fácil, eu tinha que tentar. O sol começa a aparecer do lado de fora, e eu resolvo me recompor, pois daqui a pouco minha mãe e Sérgio vêm tomar café da manhã e sairão para trabalhar. Eu vou para o banheiro, e me assusto um pouco ao ver minha cara, que agora é de feiúra misturada com olhos vermelhos e olheiras de uma noite sem dormir. Apresso-me em lavar o rosto e tentar disfarçar essa tristeza que sinto, e consigo um resultado aceitável por enquanto. Termino de me arrumar para parecer um pouco mais normal e sigo para a cozinha, quando minha mãe e Sérgio imediatamente aparecem:

– Oi filho! Você por aqui tão cedo? – minha mãe diz, e ela parece surpresa, eu a abraço forte.

– Oi mãe. Pois é, eu meio que caí da cama. – eu olho para ela, que me analisa de perto.

– Bom dia Miguel! – Sérgio me cumprimenta e senta à mesa.

– Miguel, você passou a noite inteira acordado. Eu te conheço bem. – minha mãe diz, e eu me rendo.

– Como eu ia conseguir dormir, mãe? Meu namoro acabou, e eu amava Rodrigo. – eu engasgo ao dizer o nome dele.

– Se você o “amava” mesmo, – minha mãe faz aspas com os dedos – por que terminou o namoro? – minha mãe questiona, enquanto prepara o café.

– Ele me traiu, mãe. Vi ele beijando outro cara ontem. – eu digo, quando Sérgio e minha mãe olham para mim com uma expressão enigmática.

– Mas como foi que isso aconteceu? O Rodrigo explicou o que aconteceu de verdade? – Sérgio entra na conversa.

– Nem precisava explicar nada. Eu vi.

– E você não deu chance para que o Rodrigo pudesse explicar o que houve? – minha mãe se senta perto de mim.

– Agora não adianta mais. Acabou. Eu quero esquecer que o Rodrigo existe e seguir em frente.

– Mas você sabe que ele mora praticamente ao nosso lado né? – Sérgio diz, enquanto bebe um gole de café.

– Uma hora ou outra vocês vão acabar se esbarrando por aí, filho. – minha mãe fala.

– Eu sei gente. Mas o que eu posso fazer?

– Filho, você sabe que Sérgio e eu tínhamos uma postura muito diferente em relação a isso tudo. E nós resolvemos deixar esses preconceitos para trás, por você, por amor. – minha mãe diz, segurando minha mão.

– Nós vimos o quanto Rodrigo era... na verdade, é apaixonado por você. – ela enfatiza a palavra “é”.

– Miguel, pensa bem: você acha que vai esquecer o Rodrigo assim, de uma hora pra outra? Vai apagar ele da memória como se ele fosse um arquivo no seu celular? – Sérgio diz, olhando com firmeza para mim.

– Filho, o que nós queremos que você saiba, é que estamos do seu lado, não importa qual seja a sua decisão. Mas queremos que você busque aquilo que te faz feliz. Pensa bem, você acha que vai ser feliz sem o Rodrigo? Vocês se amam. – minha mãe pega minha mão e beija levemente, e eu sorrio. Olho para Sérgio, e ele dá uma piscadinha para mim, e eu sorrio para ele. Eu paro um pouco para pensar no que eles me dizem, mas algo na minha cabeça me diz que não tem mais volta, acabou.

Minha mãe e Sérgio saem para trabalhar, e eu me despeço deles com abraços apertados, me sinto grato por tê-los aqui do meu lado nesse momento. Resolvo ficar um pouco de molho em casa. Tomo um banho demorado, e me lanço no sofá para assistir alguma coisa na TV. Passo por todos os canais, e decido fazer outra coisa. Procuro minhas coisas e levo para meu antigo quarto, que continua praticamente o mesmo de quando eu saí de casa pela primeira vez, ou melhor, quando eu fui expulso. Mas isso ficou pra trás. Arrumo minhas roupas no armário, e deito na cama, pensando no que fazer depois. Quando tento fechar os olhos para dormir um pouco, meu celular toca na sala, eu me assusto e levanto para atendê-lo, mas penso que pode ser Rodrigo, e me contenho um pouco. O celular para de tocar, e dá sinal de vida de novo, eu respiro fundo e alcanço-o. olho com cautela para o visor, e verifico quem está ligando:

– Oi Diego. Tudo bem? – eu não pareço nem um pouco animado em falar com ele.

– Oi Miguel. Incomodo? –ele diz, e parece estar animado, diferente de mim.

– Não, de maneira alguma. – minha voz não disfarça o desânimo.

– Sua voz está estranha. Aconteceu alguma coisa? – ele pergunta.

– Não aconteceu nada não, eu tô bem.

– Bom, então se não aconteceu nada, vamos fazer acontecer? Quer dar uma volta comigo hoje à noite?

Hoje é um daqueles dias em que eu não queria ver ninguém, alegria não é uma palavra que cabe no meu vocabulário nesse momento. Mas resolvo aceitar a proposta de Diego.

– Claro. Pode me buscar na saída da aula? – eu pergunto.

– Claro que sim. Eu te ligo mais tarde. Tchau. – ele se despede, e eu desligo o telefone.

Passo o dia inteiro sozinho em casa, sem fazer nada, sem comer nada, sem querer nada. Mas com o pensamento em apenas uma pessoa. Tento afastar Rodrigo da minha cabeça, mas não tenho sucesso. Logo chega a hora de ir para a faculdade, e começo a sentir medo de encontrar Rodrigo na rua, mas lembro que isso é pouco provável, afinal, ele deve estar trabalhando agora, e vai direto para a aula. Sigo para o ponto de ônibus um pouco mais tranquilo. Até a porcaria do ônibus me faz lembrar dele, que maravilha não é mesmo?

Chego na sala, e as garotas já estão lá, animadas como sempre. E eu chego com uma bela cara de desânimo:

– Oi amigo. Que cara de enterro é essa? – Luana pergunta, enquanto me abraça.

– Cara de quem terminou com o namorado. – eu me sento perto delas.

– O que? Como assim Miguel? – Roberta faz uma cara de espanto.

– Acontece que o nosso amigo em comum, o Vitor, estava beijando o Rodrigo ontem num barzinho do Centro. Eu vi os dois juntos. – eu digo sem olhar muito para elas.

– Quer dizer que aquele mala do Vitor roubou seu boy, nerd? – Géssica diz.

– Gess! Ficou maluca amiga? Isso é jeito de falar? – Roberta repreende Géssica.

– Relaxa meninas. Na verdade, acho que foi isso mesmo que aconteceu. Eu perdi o Rodrigo pra sempre.

– Não fica assim, amigo. Vai ficar tudo bem. – Luana diz, fazendo carinho em mim. Eu me sinto bem em estar ao lado das minhas amigas, elas sempre me deram apoio em tudo, sempre foram um porto seguro pra mim.

Tive que explicar para as meninas toda a história de Rodrigo e Vitor, sobre ter visto eles aos beijos no bar, sobre ter voltado para a casa de minha mãe, sobre as coisas com Diego... Tinha que explicar tudo para elas, que sempre faziam questão de estar por dentro das fofocas.

Passamos boa parte da aula conversando, nem percebemos quando já era hora de ir embora. Quer dizer, elas provavelmente iriam para casa, e eu sairia com Diego. Foi quase instantâneo: pensei nele, e ele me ligou:

– Oi! Estou aqui na frente da faculdade te esperando. Vamos? – a animação na voz dele era bem perceptível.

– Claro. Já estou indo aí. – eu disse, tentando parecer um pouco mais feliz.

Me despedi das garotas e segui para encontrar Diego. Ele estava no carro, próximo do ponto de ônibus, me esperando. Ao me ver, ele piscou os faróis do carro, e eu entrei no veículo. Fiquei surpreso ao vê-lo todo formal, de terno e gravata, estava lindíssimo:

– Oi. Você está de saída do trabalho ou algo assim? – eu perguntei, analisando-o um pouco.

– Na verdade eu estava apresentando TCC na faculdade hoje. Pode parecer que estou vestido de um jeito muito formal, mas é que eu queria impressionar a banca de avaliadores, e acho que funcionou. Tirei nota máxima! – ele dizia, e agora eu conseguia entender a animação dele.

– Nossa, fico feliz por você Diego. Parabéns. – eu dizia, e cumprimentava-o com um aperto de mão.

– Obrigado. Então, posso te convidar para comemorar conosco? – ele disse. Nem notei essa palavra “conosco”. Haverá mais alguém? Eu me pergunto mentalmente.

– Claro que sim. Vamos lá. Preciso me animar um pouco.

E esse foi o sinal para que Diego arrancasse com o carro em um rumo qualquer. Durante o caminho, ele foi me explicando sobre todos os passos dele neste fim de curso na faculdade, sobre como foi a sua apresentação do TCC, sobre como andavam as coisas no futuro emprego de advogado. E eu o ouvia falar com muita atenção, queria mesmo esquecer um pouco de mim, deixar o egocentrismo de lado é bom.

Em pouco tempo, chegamos à um tipo de restaurante, onde fomos em direção à uma mesa já ocupada, e eu estranhei um pouco. Havia um casal de idosos na mesa, junto com uma moça loira muito bonita, quase da minha idade, parecia uma modelo ou miss. Quando chegamos, os três ocupantes da mesa se levantam:

– Filho! Parabéns pela sua apresentação! – a senhora diz, abraçando Diego. Eu fico vermelho de vergonha, totalmente avulso, enquanto a moça loira me analisa.

– Obrigado mãe! Eu estou feliz que vocês vieram comemorar comigo! – Diego fala, todo animado. Ele abraça o senhor, que provavelmente é seu pai, e depois abraça a loira, enquanto eu permaneço estático.

– E quem é esse rapaz bonito aqui hein? – A senhora diz, apontando para mim, e eu fico cada vez mais vermelho. Minha pele queima.

– Aposto que é o rapaz de quem o Diego fala tanto. – o senhor fala, e eu já sinto vontade de fugir dali. Olho para Diego e dou um sorriso amarelo, do tipo “por que você não me avisou?”, e ele sorri de volta.

– Pois é... Gente... Esse é o Miguel, o meu... – Diego faz uma pausa longa, enquanto todos olham para ele. – ... é meu amigo, Miguel.

– Oi Miguel! Tudo bom com você meu filho? – a senhora me cumprimenta, e eu retribuo seu gesto amigavelmente.

– Tudo bom sim! Prazer em conhecê-la. – eu digo.

– Miguel, esta é a minha mãe, Teresa. Este é o meu pai, Antônio, e esta belezura aqui é a minha irmã, Mariana. – ele diz, enquanto abraça a loira bonita. Eu cumprimento o pai de Diego com um aperto de mão, e ele sorri pra mim.

– Oi Miguel, tudo bem? – Mariana diz, e me abraça.

– Oi! Prazer conhecer você Mariana. – eu sorrio para ela.

Todos nós sentamos à mesa, e uma longa conversa se inicia. Acabo descobrindo que os pais de Diego são advogados aposentados, o que explica a bela aparência deles, que parecem não ter muitas dificuldades financeiras na vida. e Mariana se mostra uma pessoa muito simpática, sorridente e alegre. Como eu suspeitava, ela realmente era modelo, e fazia faculdade de moda. Eu contei para eles sobre mim, sobre minha família, e eles ouviam com muita atenção, até que chegamos a um assunto deveras delicado para mim:

– E você está namorando, Miguel? – dona Teresa pergunta, e eu entalo com o copo de suco que bebia.

– Cof! Cof! Então... Eu terminei o namoro recentemente. – eu dizia, morrendo de vergonha da situação.

- Que pena filho. Então já que você está solteiro, cuidado com o Diego, pois ele é um galanteador de primeira classe. – O senhor Antônio diz, e todos na mesa riem, exceto Diego e eu. Na verdade eu fico surpreso em ouvir isto do pai de Diego. Eles parecem ser uma família com a mente bem aberta, e provavelmente sabem que Diego é gay.

– Pai. Não fala assim. O que o Miguel vai pensar de mim? – Diego diz, parecendo um pouco constrangido.

– Pois saiba que se vocês dois estão tendo alguma coisa, nós aprovamos. Você é um rapaz muito educado Miguel. – dona Teresa diz, sorrindo para mim.

– Obrigado dona Teresa. Vocês também são muito educados. Mas devo dizer que Diego e eu somos apenas amigos.

– Tudo bem, filho. – dona Teresa diz.

A noite vai passando, e a conversa vai ficando cada vez mais animada. Os pais de Diego dizem que querem conhecer os meus pais, e eu digo à eles que temos que marcar um almoço juntos, eles vão gostar disso. Eu converso bastante com Mariana, e vejo que podemos ser bons amigos, afinal, ela gosta das mesmas músicas que eu, e também é viciada em séries da TV americana. Por um momento eu esqueço os dias anteriores que foram tão dramáticos. Mas não por muito tempo.

Por alguma razão que só o destino pode explicar, vejo Rodrigo entrar no restaurante, sozinho, com a cara meio abatida. Ele se senta em uma mesa distante da nossa, e não me vê. Fico olhando para ele, que parece estar muito abatido. Depois de alguns minutos, ele me vê. A cara dele muda de imediato e se ilumina. Eu estremeço. Levanto da mesa e anuncio que vou ao banheiro, e praticamente corro dali. Não olho para trás, mas sei que Rodrigo provavelmente veio atrás de mim. Eu chego no banheiro e abro a torneira da pia, enquanto me olho no espelho e me pergunto “o que eu fiz pra merecer isso?”

Vejo que alguém entra no banheiro, e eu não preciso abrir os olhos para saber quem é, apenas ouvir a voz:

– Miguel, precisamos conversar. – Rodrigo fala, se aproximando de mim. Eu sinto que meus pés grudam no chão, e eu não consigo mover sequer um músculo. Estou num beco sem saída.

– Miguel? Está tudo bem aqui? Aconteceu alguma coisa? – Diego diz, entrando no banheiro. E sinto que isso não vai acabar bem.

Comentários

Há 3 comentários.

Por em 2016-07-04 21:40:20
meu deus que demora posta logo por favor
Por em 2016-07-04 20:03:01
to amando sua serie e serio nao aguento mais espera
Por em 2016-07-04 20:01:40
ai posta logo o outro capitulo