Capítulo 4 (Season 2): UMA NOVA DECEPÇÃO

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Quando O Amor Acontece

Minha cabeça começa a girar, deve ser efeito da pouca bebida que eu consumi. Nunca fui daqueles que bebem até a última gota para ficar descontroladamente bêbado, mas começo a sentir uma leve dor de cabeça. Eu abro os olhos e ainda estou na mesa do barzinho, beijando Diego. Foi um beijo muito bom, não posso negar, mas quando eu recupero o controle, interrompo o beijo e solto Diego, que olha pra mim e sorri:

– Uau! Acho que eu estava certo. Além de bonito, você beija muito bem. – ele fala, e tudo que eu quero é encontrar um buraco onde eu possa enfiar a minha cabeça e me esconder, como um avestruz faria. Estou morrendo de vergonha do que fiz agora.

– Droga. Isso não deveria ter acontecido. Droga. Droga. Droga. – eu repito comigo mesmo, mas Diego parece escutar tudo o que eu digo.

– Como assim “não deveria ter acontecido”? – ele olha pra mim e pergunta.

– Eu tenho namorado. – o pensamento voa em Rodrigo. – Me desculpa, eu não devia ter feito isso.

– Não se desculpe. – Diego fala, tentando pegar minha mão, mas eu desvio dele. Eu levanto apressado da mesa e procuro as garotas, e Diego se levanta junto:

– Espera aí, você vai embora? – ele pergunta.

– Preciso ir. Já está tarde. – eu digo, sem olhar pra ele.

– E quando eu vou te ver de novo? – ele se aproxima de mim.

– Eu não sei.

Eu vejo onde as meninas estão e caminho em direção a elas. Chego perto de Luana, que está paquerando um cara qualquer, e aviso que estou indo embora:

– Amiga, eu preciso ir pra casa.

– Mas já? O que aconteceu? Ainda tá cedo. – ela diz, surpresa.

– Eu conto depois. Mas preciso mesmo ir, agora. Vou de táxi, não se preocupem comigo tá? Manda um beijo pra Gess, depois a gente se fala.

– Tá bom amigo. Até mais. – Luana se despede e me abraça.

Eu chego na rua e fico esperando um táxi para ir embora. Uma eternidade esperando, e nada. Nenhum táxi aparece, e eu continuo esperando. Estou sozinho na rua, quando percebo alguém se aproximar de mim. “Não. Por favor, não seja um assaltante. De novo não...”, eu digo em pensamento. Mas quando o estranho se aproxima, ouço uma voz não tão desconhecida assim:

– Ei, você nem se despediu de mim e saiu correndo. – Diego diz, enquanto se posiciona ao meu lado.

– Me desculpa. – eu ainda estou morrendo de vergonha. – Só precisava ir embora.

– Tudo bem. – ele diz, parecendo meio indiferente. Um silêncio constrangedor se instala entre nós, enquanto estamos parados na rua. Eu olhando para os lados, procurando uma maneira de ir pra casa, e ele parado ao meu lado.

– Não consigo segurar, tenho que fazer isso. – ele diz, enquanto me pega pelo braço e me beija. No início, eu me sinto um criminoso, tentando me livrar dos braços fortes dele, mas acabo me entregando ao desejo, e deixo as coisas acontecerem. O beijo parece durar mil anos, Diego tem muito talento pra isso, eu confesso. Não sei o que se passa comigo, eu apenas sigo os movimentos dos lábios de Diego, enquanto sinto sua língua brigar com a minha. De repente, ele para e se afasta um pouco de mim, sorrindo e me olhando com carinho.

– Cara, você é incrível. – ele fala sorrindo. E que sorriso! Hipnotiza.

– Ai caramba... Isso não devia ter acontecido de novo. – eu começo a me lamentar outra vez. – eu olho para a rua e um táxi surge, e eu rapidamente faço sinal, e o táxi para. Eu tento correr para entrar no carro, mas Diego me segura e pergunta:

– Você ainda não me respondeu quando nos veremos de novo. – mas eu não consigo responder. Apenas olho para ele e sorrio, e ele sorri de volta. O carro sai em disparada, e Diego fica para trás. Eu olho pelo espelhinho do táxi, e vejo-o se distanciando. Eu levo as mãos para o rosto e falo sozinho:

– O que foi que eu fiz?

– Perdão? O senhor falou comigo? – o taxista pergunta.

– Não. Desculpa. – eu digo, um pouco constrangido.

A viagem segue silenciosa. Quando finalmente chego em casa, abro a porta com cuidado, com medo de que Rodrigo acorde. Não há ninguém na sala, e a TV está desligada, sigo silenciosamente para o quarto, e Rodrigo está na cama, dormindo profundamente. Eu paro em pé ao lado dele, e fico observando-o dormir. Como esse cara consegue ser bonito assim até dormindo? Parece um anjo. Eu começo a relembrar o que aconteceu com Diego. Me sinto culpado, afinal, eu sempre segui aquele ditado que diz “não faça com os outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você”. Mas eu também penso nas atitudes de Rodrigo, ele também errou. E agora, eu fiz o mesmo, cometi o mesmo erro.

Depois de um longo banho, me visto e deito ao lado de Rodrigo, que permanece em estado de sono profundo. Olho mais alguns minutos para ele, e lhe dou um beijo no rosto. Ele se mexe um pouquinho e se vira na cama. Eu me viro para o lado oposto ao dele, e espero o sono chegar, o que não demora muito para acontecer.

[...]

Um novo dia se inicia, é o que a luz forte vinda da janela anuncia. O dia vai ser muito ensolarado, mas eu não me animo. Viro para o outro lado da cama e Rodrigo não está mais lá. Provavelmente deve ter ido trabalhar, e nem me avisou nada. Deve ter ficado irritado por eu ter chegado tarde ontem à noite. Eu levanto e sigo para a cozinha, procurar alguma coisa para enganar a fome. Me sento no sofá da sala para comer, quando meu celular toca. Olho no visor, e percebo que é um número que eu não conheço. Penso em não atender, mas a curiosidade é maior:

– Alô? – minha voz meio sonolenta pergunta.

– Oi! Bom dia. Miguel? – uma voz nem tão estranha assim pergunta do outro lado da linha.

– Sim, sou eu. Quem fala? – eu pergunto, mesmo já desconfiando de qual seja a resposta.

– Sou eu, Diego. – "bingo!" Eu penso comigo mesmo. – Desculpa se te acordei ligando agora.

– Não... Tudo bem... Eu... Não estava dormindo. Não me lembro de ter passado meu número pra você. – eu fico confuso. Como ele conseguiu meu número?

– Eu conheci as suas amigas, Géssica e Luana. Eu insisti tanto que elas me deram seu número. – está explicado então. Eu mato aquelas vadias.

– Não tem problema. Posso te ajudar em alguma coisa? – essa ligação deve ter algum motivo, e eu quero sabê-lo.

– Eu queria te ver de novo. – ele diz, e eu fico em silêncio por um tempo.

– Diego... Eu te disse que tenho namorado. Não sei se é uma boa ideia.

– Eu sei Miguel. Eu te entendo. Mas quero que você saiba que a partir de agora pode contar comigo. Pelo menos podemos ser amigos? – ele pergunta.

– Claro que sim. Vamos ser amigos. – eu tento parecer amistoso, mas não é um dos meus pontos fortes.

– Tudo bem então. Tchau Miguel. – ele se despede.

– Tchau Diego. – eu digo, e desligo o celular.

Espero que essa nova amizade com Diego faça bem a mim, eu preciso me afastar um pouco de tantos problemas sentimentais.

[...]

Logo a noite chega, e eu preciso ir para a faculdade. Nem dá pra acreditar que já estou na penúltima semana de aula. Em breve a formatura vai acontecer, e eu estou ansioso demais, assim como as garotas também, tanto que elas já começaram a planejar tudo a respeito de vestidos, sapatos, e afins para o baile de formatura. Já eu, nem me preocupo tanto com esses detalhes, vou deixar isso pra depois. A aula de hoje foi animada, muitas risadas e gritos de alegria com as notas de uma disciplina medonha, mas todos os meus colegas foram aprovados. Hora de ir pra casa.

– E aí, meu nerd lindo. Como estão as coisas com o Rod? – Géssica pergunta, enquanto nós caminhamos rumo ao estacionamento da faculdade.

– A gente está há alguns dias sem conversar direito. Ele está me evitando, e eu estou fazendo o mesmo.

– Não se preocupa amigo. Vai dar tudo certo. Lembra que estamos do seu lado para o que precisar. – Roberta fala, sempre sorridente.

– Espero que fique mesmo, meninas.

– E aquele carinha do barzinho, o Diego? – Luana se lembra do nosso novo amigo.

– Não sei. Faz algum tempo que não recebo mensagens dele.

– Ele é bem bonito. E ficou caidinho por você. Me dá um pouco desse seu mel pra ver se eu deixo de ser encalhada. – Géssica fala, passando as mãos em mim, e todos nós rimos alto.

– Deixa de ser boba, menina. O Diego é apenas um amigo. Só isso.

– Tá bom então, gatão. Vamos indo meninas? – Luana pergunta para as garotas quando chegamos ao carro delas.

– Vamos lá. Tchauzinho amigo! – Roberta me dá um beijinho no rosto.

- Tchau gatonas. Tomem cuidado.

– O Rodrigo vai vir te buscar? – Luana pergunta.

– Vou ligar para ele. Não se preocupem comigo. – eu jogo um beijo para elas, que vão logo embora, buzinando pra mim. Eu caminho até a frente da faculdade, onde sempre fico esperando Rodrigo.

Ligo para ele uma vez, e não recebo resposta alguma. Todas as outras dez tentativas de ligação fracassam, e eu começo a me preocupar. As horas passam, e eu começo a me irritar. Onde Rodrigo se meteu? Decido então pegar um ônibus para ir pra casa. Por sorte, logo o ônibus passa, e eu sigo para casa. Fico com um certo medo, pois há poucas pessoas no ônibus, afinal, já está super tarde. Decido me acalmar, olhando para a movimentação das pessoas do lado de fora.

O ônibus passa em frente a um tipo de balada, e eu mal posso acreditar no que vejo: Rodrigo e Vitor, sentados em uma mesa, parecendo muito íntimos. “Ai não, de novo não”, eu grito em pensamento. O ônibus para, e a situação que já era ruim, piora: eles se beijam. “Peraí, de novo?” eu fico abismado. Como se a primeira vez que flagrei os dois se beijando já não fosse o suficiente, acontece de novo. Rodrigo estava mesmo me traindo, e ainda por cima com esse crápula do Vitor. Eu olho para os dois e bufo de raiva.

O ônibus começa a se mover, e eu desvio o olhar para frente. Não quero acreditar que isso seja mesmo verdade. Eu quero chorar, mas decido adiar essa ideia. Quando chego em casa, é inevitável: eu desabo em lágrimas. Choro muito, pois acredito que não tenho mais muitas coisas para decidir. Arrumo todas as minhas coisas em uma mochila, e saio de casa enxugando o rosto com as mangas da camisa que usava. Decido voltar para a casa de minha mãe. Mesmo receoso em chegar lá tarde da noite, é o lugar onde quero estar agora. Bato na porta, e logo minha mãe aparece para atender, com uma cara meio sonolenta e assustada:

– Filho? O que aconteceu? O que você faz aqui? – minha mãe pergunta enquanto me analisa da cabeça aos pés.

– Acabou mãe. Vou terminar tudo com o Rodrigo. – eu abraço minha mãe, e começo a chorar em seus ombros. Não vou voltar atrás. Rodrigo estava me traindo, e o ponto final estava próximo.

(Continua...)

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