Capítulo 3: A hora da verdade

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Quando O Amor Acontece

Olá pessoal! Antes de começar este capítulo, gostaria de pedir desculpas para quem tenha lido o capítulo 1. Só depois que publiquei que percebi que tinha vários erros lá, peço mil desculpas por isso, e espero que esses erros não tenham prejudicado a compreensão da história. E desde já peço desculpas se houver erros nos capítulos seguintes e prometo ficar mais atento a isso. Agora chega de mimimi e vamos à leitura! :)

(...)

O dia amanheceu chuvoso, frio. Parecia um aviso para o que viria pela frente. Felizmente era sábado, eu não precisaria trabalhar, mas foi só abrir os olhos que me lembrei que aquele dia seria importante.

Precisava tomar muita coragem para falar com minha família. Levantei da cama disposto a colocar os pingos nos "is", fui direto para o banheiro dar um jeito na cara de sono, tomar um banho e me vestir. Hora da verdade.

Eu sempre morei com minha mãe. Depois que ela se separou do meu pai e se casou novamente, eu fui junto, por que era muito apegado à ela. Até hoje, eu nunca tive muito contato com o meu pai, ele era praticamente um desconhecido pra mim.

Meu padrasto, Sérgio, era um homem alto, forte, um típico exemplar de homenzarrão. Isso por que ele foi criado por uma família rígida, e sempre deixou clara a sua opinião sobre certas coisas que, de acordo com ele, eram erradas, abomináveis. Uma dessas coisas era a homossexualidade. Foram inúmeras as vezes em que Sérgio se posicionava como um homem preconceituoso e homofóbico, dizendo que gays eram a coisa mais abominável da sociedade.

A cada comentário que ele sempre fazia, eu sentia uma mistura de raiva, nojo e pena. Raiva e nojo por ele ser uma pessoa preconceituosa, que julga as pessoas sem conhecê-las, e pena por ele ser uma pessoa tão decepcionada consigo mesmo e se achar no direito de difamar alguém que ele nem conhece.

Quando eu saio do meu quarto e vou para a sala de estar, minha mãe está lá, lendo alguma coisa que eu não consigo identificar. Eu estava decidido: contaria para minha mãe que sou gay. Sentei no sofá e ela logo me notou chegar:

- Bom dia, filho! Já tá acordado? - Ela disse sem tirar os olhos da sua leitura.

- Pois é, mãe. Tá chovendo à beça lá fora, hein? - Tentei parecer o menos tenso possível, mas minhas mãos estavam suando, mesmo com o frio que fazia.

- Tá chovendo mesmo. E parece que vai passar o dia todo assim.

E o silêncio se instalou entre nós. Onde tinha ido parar a minha coragem? Eu simplesmente fiquei ali, parado, sem saber o que fazer. Todo o discurso que eu tinha ensaiado mentalmente de repente tinha ido pro espaço, apagado da minha mente. Depois de um longo tempo sem conseguir dizer uma palavra, respirei fundo, e disse:

- Mãe. Eu preciso te contar uma coisa... Eu sou gay.

Minha mãe tirou os olhos da leitura e me olhou fixamente. Seu olhar parecia estranho, parece que ela não estava surpresa com o que eu tinha acabado de dizer. Ela me olhou por alguns segundos, e voltou a ler, dizendo:

- Miguel, eu já sabia disso. Na verdade, eu sempre soube disso. Mas não queria tocar no assunto por que você sabe como o Sérgio é. Se ele souber que você é gay, não sei o que ele pode fazer.

Minha mãe mal acabou de falar, e Sérgio aparece gritando na sala, me dando um grande susto:

- COMO É QUE É? QUEM É GAY AQUI?

Sérgio gritava de um jeito assustador. Me levantei do sofá e fiquei estático, esperando o momento em que Sérgio voaria no meu pescoço para me esganar, e minha mãe também ficou de pé, em choque e muda. Eu apenas consegui respirar fundo e encarar Sérgio de uma vez:

- Eu mesmo. Eu sou gay sim, Sérgio! - Disse com convicção.

Sérgio me olhava com uma fúria gritante estampada em sua face, uma expressão assustadora. Eu estremeci, com medo do que ele pudesse fazer, e fiquei ali, esperando a reação dele. Ele olhou para minha mãe e bufou:

- Tá vendo só, Janaína! Eu te avisei que esse moleque era viado! Eu já sabia que esse jeito estranho dele, de nunca ter aparecido com nenhuma namorada, tinha alguma coisa errada. Eu te avisei! E a culpa é sua!

Minha mãe não falava nada. Ela parecia apenas concordar com todos os absurdos que Sérgio dizia. Eu não sabia mais o que fazer. Sérgio andava de um lado para outro na sala, bufando e coçando a cabeça. Até que ele parou, e disse:

- Pois bem. Você é viado... mas vai ser viado longe daqui! Pega as merdas das tuas coisas e sai da minha casa! Não quero viado nenhum morando embaixo do mesmo teto que eu! Sai daqui agora! - Ele gritava.

Olhava para ele com uma expressão de raiva. Virei para minha mãe, e ela estava cabisbaixa, completamente imóvel. Só consegui me voltar para Sérgio e dizer:

- Tá bem. Eu vou embora. Eu que não quero viver sob o mesmo teto que uma pessoa intolerante igual você.

Me virei e fui em direção ao meu quarto. Fechei a porta e desmoronei. O que eu tinha feito estava feito, eu me sentia aliviado, mas era justamente essa reação deles que me deixava com medo. E agora, não sabia mais o que fazer. Chorei tanto que pensei que fosse ficar desidratado, e ainda tremia muito pelo que tinha acabado de acontecer. E pra piorar, não sabia pra onde iria. Arrumei as poucas roupas que eu tinha na minha mochila, peguei os meus pertences, que também eram poucos, e saí do quarto, levando a mochila nas costas.

Quando cheguei na sala novamente, ainda chorando um pouco, minha mãe estava sentada novamente no sofá, e meu padrasto ao lado dela. Os dois não falavam nada, estavam sentados, olhando para o nada. Quando eles me viram passar pela sala, apenas me olharam sair pela porta, sem dizer nada. Só consegui ver que minha mãe apresentava uma expressão tristonha, ao contrário de Sérgio, que mantinha a mesma face enfurecida, como se quisesse me matar com o olhar. Eu fechei a porta, e saí.

A chuva caía intensamente lá fora, então abri o pequeno guarda-chuva qie tinha, e segui meu caminho, mesmo sem saber para onde. Passei em frente a casa de Rodrigo e pensei em chamá-lo, mas resolvi continuar caminhando. Talvez aquela não fosse uma boa hora para falar com ele, eu precisava ficar sozinho, pensar um pouco.

Só tinha um lugar que eu conseguia pensar em ir naquele momento, e foi o que eu fiz. Quando cheguei na lan house, entrei e me sentei na minha cadeira de sempre. Essa era mais uma coisa que eu tinha que resolver agora. Trabalhar aqui, tão perto de casa, seria muito complicado. Fiquei quase a manhã inteira ali, sentado, encarando o meu reflexo na tela do computador desligado.

Os flashes do que aconteceu em casa inundavam a minha cabeça. Fiquei me perguntando se tinha feito a coisa certa, se não agi por impulso. Mas ao mesmo tempo em que sentia a tristeza por ser expulso de casa, também sentia uma sensação de liberdade, como se tivesse tirado o peso de quinhentos elefantes das minhas costas. Vivi por tanto tempo escondendo esse segredo comigo. Vivia uma vida que não era minha. Passei por tantas situações indesejadas, e agora eu estava livre. Livre pra ser do jeito que eu sou. De repente, o toque do celular me desperta dos meus devaneios. Era Rodrigo me ligando:

- Oi Miguel! Tudo bem com você? - Eu precisava ouvir aquela voz, a voz rouca, mas que me transmitia muita paz.

- Oi Rodrigo! Eu tô bem, quer dizer, na medida do possível, mas estou bem. Queria tanto falar com você. Eu contei para minha mãe e meu padrasto que sou gay. Mas acho que as coisas tomaram um rumo diferente do que eu esperava. - Minha voz já começava a embargar. Rodrigo percebeu e disse:

- Miguel! Você fez mesmo isso? Caramba! Onde você está? Me explica direito o que aconteceu! - Ele parecia ter surtado.

- Eu tô bem... Mas precisamos conversar. Eu tô aqui na lan house. Vem aqui que eu te espero. - As palavras saíram de forma automática, com a voz ainda embargada. Rodrigo respondeu:

- Claro! Tô indo aí.

Desliguei o telefone e tentei segurar o choro. Precisava de apoio de alguém nesse momento tão difícil, e Rodrigo parecia ser meu alicerce agora. Eu saí da lan house e fiquei na calçada, esperando Rodrigo aparecer.

A chuva continuava, só que desta vez mais amena, e a rua estava deserta. O frio estava ficando mais fraco também, me trazendo um pouco de alívio por não estar usando nenhum casaco. Foi quando vi Rodrigo aparecer, com aquela carinha de admiração. Não queria saber se tinha mais alguém por perto, e quando ele chegou, eu o abracei. Abracei tão forte que ele se sentiu sem ar:

- Ei. Calma. Você é magrinho mas é bem forte, Miguel. - Ele disse sorrindo.

Quando eu o soltei do abraço apertado, o olhei nos olhos e disse:

- Fui expulso de casa. - e o choro tentava voltar a tona.

- Como é que é? Você foi expulso? - A expressão de Rodrigo era de espanto. - Como eles puderam fazer isso com você?

Vendo que eu estava a ponto de cair no choro novamente, Rodrigo me abraçou de novo. Desta vez, ele que usou seus músculos para me apertar, mas eu não reclamei da força de seu abraço.

Me senti protegido por um escudo naqueles braços fortes de Rodrigo. Eu precisava daquele abraço. Precisava de alguém pra desabafar. De repente ele se volta para mim, e me beija. Eu realmente não esperava por aquilo. O beijo de Rodrigo me mez viajar, esquecer de tudo ao redor, esquecer que alguém podia nos ver ali na calçada. Quando ele me solta, diz:

- Não vou te deixar sozinho! Você está comigo agora. Você vai morar comigo!

Não consegui dizer mais nada. Aquela frase de Rodrigo me deixou sem ação, desnorteado. A gente se conhecia a tão pouco tempo, eu fui expulso de casa, e agora ele quer que eu more con ele. Acho que isso tudo estava indo rápido demais. E voltar para perto da minha casa parecia uma má ideia.

Não conseguia tirar a expressão triste do meu rosto, e Rodrigo parecia ser tudo que eu precisava naquela hora. Ele pega a minha mochila, coloca em suas costas, e nós seguimos para a casa dele. O medo de voltar para perto de casa me invade, e eu não sei como vai ser a partir de agora. Só preciso de um tempo pra pensar no que fazer. Morar com Rodrigo não parecia ser uma boa ideia.

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