Capítulo 2: A Rua dos Beijos Perdidos

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Quando O Amor Acontece

Passou-se uma semana desde que conheci Rodrigo, e nossa amizade ficava cada vez maior. Quase sempre ele aparecia na lan house para conversar comigo. Ele acabou me passando o telefone dele, e quase sempre nós conversávamos sobre coisas da vida, trocando mensagens de texto.

Nossa relação de amizade ficava cada vez mais óbvia, bom, pelo menos pra mim. Mas era notável que, em algumas mensagens, Rodrigo parecia estar me sondando sobre alguma coisa a respeito de relacionamentos. Esse lado "detetive" de Rodrigo me deixava envergonhado. Será que ele está tentando flertar comigo? Eu não era gay assumido, quer dizer, não para minha família pelo menos. Só tinha contado para as pessoas que eu confiava: minhas amigas mais próximas, e só. Eu tinha medo da reação da minha família, principalmente de minha mãe e meu padrasto, pois ambos sempre deixavam claro em algumas conversas a opinião deles a respeito dos gays: eles eram totalmente contra.

Mas Rodrigo me transmitia muita confiança, mesmo que a gente tivesse se conhecido há tão pouco tempo. Eu já sabia muitas coisas sobre ele, e ele sabia muito sobre mim. Tanto que nas conversas que trocávamos, ele sempre me deixava muito a vontade para falar sobre tudo. E foi em uma dessas trocas de mensagens que eu resolvi que era a hora de colocar as cartas na mesa. Rodrigo precisava saber a verdade:

"Miguel, percebi que você anda meio distraído esses dias... Tá apaixonado por alguma menina, seu mala?" - Aquela mensagem de Rodrigo era o que eu precisava para abrir o jogo.

"Menina? Caramba.. Acho que é hora de deixar uma coiaa clara, Rodrigo... Eu nunca gostei de menina nenhuma. Eu sou gay!"

Com muita convicção (e medo) pressionei a maldita tecla enviar. E não recebi nenhuma resposta de Rodrigo. O arrependimento foi instantâneo, mas já não tinha mais como voltar atrás. Talvez eu tenha me precipitado, falando desse jeito para ele que eu era gay. Fiquei imaginando a reação dele lendo a minha confissão. Acho que acabei de perder um amigo por confiar demais.

No dia seguinte, fui trabalhar pensando se Rodrigo ainda falaria comigo depois daquela conversa que tivemos. Ele deve ter pensado que foi um erro ter se aproximado de mim, e resolveu se afastar. Fiquei na esperança de que ele apareceria na lan house, mas não aconteceu. A minha hipótese de que ele nunca mais falaria comigo parecia estar certa. Parce que meu talento em perder amigos estava ressurgindo das cinzas.

Quando eu fechei a lan house e fui a caminho da faculdade, já tinha perdido totalmente as esperanças de encontrar Rodrigo. Estava me sentindo um lixo por ter estragado uma amizade tão sincera, mesmo que conhecesse ele há tão pouco tempo. Não pude evitar passar a aula inteira pensando nele. Acho que nem me dei conta de como o tempo passou rápido naquela aula. Quando dei por mim, estava indo para o ponto de ônibus. Hora de voltar para casa.

Caso eu não encontrasse Rodrigo no ônibus, teria certeza que nossa amizade tinha acabado. Mas eis que ele surge, lindo como sempre, me deixando nervoso. Eu estava com tanta vontade de vê-lo, mas ao mesmo tempo morrendo de medo do que aconteceria depois, era uma mistura de sentimentos. Quando ele me viu no ônibus, sorriu discretamente para mim, mas sentou em outro lugar, um pouco distante.

Isso me deixou muito mais consuso do que eu já estava. Rodrigo está me evitando? Eu me perguntava em pensamento. As pessoas iam descendo em seus pontos, e a adrenalina no meu corpo aumentava. Logo chegaria a vez de Rodrigo e eu descermos, seria inevitável que nós conversássemos de algum jeito. Ele desceu primeiro, e eu fui em seguida. Caminhamos alguns metros, até que ele parou, e eu me aproximei dele. Rodrigo virou-se para mim, e começou a falar de cabeça baixa:

- Oi Miguel! Queria falar com você.

- Oi Rodrigo! Tudo bem, qual o assunto? - Não sei de onde tirei ar pra respirar nesse momento.

Estávamos perto da casa dele. Rodrigo estava estranho. Ele não me olhava nos olhos e parecia trêmulo. Quando ele começou a falar, veio a surpresa:

- Queria te falar uma coisa, mas acho que falar não vai ser suficiente. Acho que se eu tentar apenas falar, não vou conseguir, então... É melhor eu fazer o que tenho que fazer...

Ele parou de falar, pegou minha mão e me puxou para junto de si. Senti minhas mãos gelarem, e meu coração parou de bater naquele momento. Estávamos cara a cara, sentindo a respiração um do outro. Então, ele me beijou. Foi um beijo rápido, mas intenso. Fiquei sem ar, sem saber o que fazer, estava me sentindo em um universo paralelo, viajando num lugar desconhecido. Tentei me desprender do beijo, mas acho que na verdade eu também queria aquilo.

Quando ele me soltou, finalmente me olhou nos olhos e disse:

- Desculpa. Eu tinha que fazer isso! - Rodrigo virou-se e foi para sua casa. Fiquei paralizado ali no meio da rua, sem saber o que fazer, não consegui falar nada. Só pude observar ele sumindo do meu campo de visão, entrando em sua casa.

Quando finalmente consegui me mexer e sair do lugar, continuei o meu trajeto e fui para casa, pensando no que tinha acabado de acontecer. Aquele cara maravilhoso, que conheci a tão pouco tempo, tinha acabado de me beijar. Será que foi mesmo real?

Acho que eu esperava por aquilo desde o dia que vi Rodrigo na lan house, mas achava impossível que fosse acontecer um dia. Não conseguia parar de pensar naquilo, estava muito confuso. Minha vontade era mandar uma mensagem pra ele, mas faltava coragem pra escrever qualquer coisa naquele momento. Mal consegui dormir direito naquela noite. Não conseguia parar de pensar em Rodrigo. Aquele beijo me despertou um sentimento diferente por ele... Queria estar perto dele naquela hora. Acho que um único beijo dele me deixou tão atônito, que eu não conseguia pensar em mais nada. Eu estava me apaixonando por Rodrigo.

Passaram-se duas semanas desde o tal beijo, e Rodrigo havia simplesmente sumido. Não o vi mais na lan house e nem no ônibus, e não recebi mais mensagens dele. Pelo visto, ele estav tão confuso quanto eu. talvez ele tenha se dado conta de que eu não sou uma pessoa para se beijar.

Até que, certo dia, voltando da faculdade, ele surge no ônibus, mas não me vê. Quando chegamos no nosso ponto, ele desceu primeiro e eu fui um pouco atrás. Precisava tomar alguma atitude, todos esses dias sem falar com ele estavam me deixando sufocado. Me apressei para alcançá-lo, e quando consegui, peguei no seu braço e disse:

- Ei espera! Fala comigo!

Ele se virou para mim, com uma expressão de surpresa, e respondeu:

- Oi. O que houve?

- Queria falar com vocé aquela noite... Aquele beijo... por que você fez aquilo?

Ele me encarava com uma expressão quase chorosa, e eu não sabia mais o que fazer. Depois de um tempo sem falar, ele finalmente diz:

- Por que eu tô afim de você Miguel! Desde aquele dia que eu te vi na lan house senti algo diferente. Não parava de pensar em você. E quando soube que éramos vizinhos, percebi que o destino estava tentando dar um aviso. Acho que você é a pessoa certa pra mim. E quando você me disse que era gay, eu tive certeza: era você! Você é a pessoa que tanto procurei. Eu tô apaixonado por você, Miguel. - As lágrimas no rosto de Rodrigo me deixaram paralizado. Aquele homem lindo, educado, o sonho de consumo de qualquer homem ou mulher, apaixonado por mim, um típico exemplar de Zé Ninguém. Não me contive, e o beijei no meio da rua.

Foi um beijo muito mais intenso, apaixonado. Apenas nos deixamos levar pelo momento. A rua deserta era o cenário perfeito, ninguém precisa saber de nada. O beijo intenso nos deixou sem ar. Quando finalmente paramos, ele me olhou nos olhos e disse:

- Quero ficar com você Miguel!

Eu sorri. Acho que eu não precisava ouvir mais nada. A atração que ambos sentíamos um pelo outro ficava cada vez mais clara.

- Eu também quero muito ficar com você! Mas não pode ser assim tão de repente. Temos que pensar bem, ir com calma. Minha família não sabe de mim.

Rodrigo pareceu entender o que eu quis dizer:

- Você precisa contar para eles Miguel! Não tem como esconder isso pra sempre.

Rodrigo tinha razão. Eu tinha que encarar isso de frente, de peito aberto. Tinha que contar para minha família que eu era gay.

- Eu sei, Rodrigo. Mas preciso pensar direito em como fazer isso. Mas não vou deixar nada impedir que a gente fique junto! Eu gosto muito de você.

Ele sorri de um jeito muito lindo, e me beija de novo. O cheiro do perfume dele ficou em mim, devido os carinhos que trocamos. Aquele cheiro suave me fazia sorrir feito um bobo, sem motivo.

- Tá bom Miguel! Eu vou estar com você no que você precisar! Conta comigo!

- Tá bom Rodrigo. Agora eu tenho que ir pra casa. Tchau!

E antes que eu pudesse ir, ele me segura e me beija novamente.

- Calma aí. Deixa eu ficar com esse beijo de lembrança pra sonhar com você. Te vejo amanhã?

- Claro Rod! Até amanhã!

Fui caminhando direção à minha casa, olhando para trás. Rodrigo ficou parado, vendo eu me afastar. Acho que eu estava no céu. O garoto mais gato do bairro, querendo ficar comigo, eu só conseguia sorrir comigo mesmo. Parecia um sonho muito irreal. Mas estava acontecendo de verdade. Assim que chego em casa, recebo uma mensagem dele:

"Oi! Já estou com saudade! Durma bem! E sonhe comigo! Vou sonhar com você! Beijos"

Aquela mensagem me fez sorrir ainda mais, feito uma criança boba. Minha mãe aparece na sala, percebe que eu estava estranho e pergunta:

- Oi filho! Tá rindo de quê nesse celular hein?

Não tinha percebido que ela estava ali, quase tive um infarto. Mas consegui contornar a situação:

- Nada não, mãe... É bobagem.

- Tá bom então. Melhor você ir domir filho, já está tarde. Boa noite!

- Boa noite mãe! - Me despedi e fui para o meu quarto tentar dormir depois do que aconteceu na rua.

Deitei na cama e meus pensamentos foram instantaneamente inundados por Rodrigo. Acho que eu estava realmente gostando dele, desejando estar beijando ele como se o mundo fosse acabar. Queria estar junto com ele. Saber que estávamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe um do outro, me fazia trazia um mal estar.

E eu ainda tinha que resolver aquilo que mais me aflingia naquele momento: precisa contar para minha família que eu era gay. Mas eu ainda não sabia como fazer isso, só sabia que tinha que fazer logo. Precisa tirar aquele peso das minhas costas se quisesse ser feliz. Então, decidi: faria isso amanhã mesmo! Tinha chegado a hora da verdade.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Nando martinez em 2016-04-05 16:54:14
Oh meu pai! Coitado do Miguel aposto que a sua família nem vai aceitar ,forças para ele e estou torcendo para os dois ficarem juntos