Piloto: NOVOS RUMOS, VELHAS FRUSTRAÇÕES

Conto de Mahrio como (Seguir)

Parte da série Chuva de Novembro

OI PESSOAL. ENTÃO, ESSA É A MINHA NOVA SÉRIE. ME SENTI INSPIRADO A ESCREVER E TÁ SAINDO. JÁ AVISO A VOCÊS QUE NÃO FAÇO IDEIA DE COM QUE FREQUÊNCIA PUBLICAREI A HISTÓRIA, MAS VOU ME ESFORÇAR PRA POSTAR PELO MENOS UM CAP. POR SEMANA OK? ESPERO QUE VOCÊS GOSTEM. E LEMBRANDO QUE OS FEEDBACKS SÃO SEMPRE BEM VINDOS.

Bye.

. . . . . .

Olho pela janela do ônibus para tentar me distrair, e sinto um frio na barriga. No meu fone de ouvido está tocando uma canção animada do The Script, uma banda irlandesa que eu amo, mas a alegria da música não muda a minha ansiedade em nada. Hoje é o meu primeiro dia de aula na faculdade, ou melhor, na universidade (tanto faz).

Estou sozinho, como sempre estive, quando o ônibus finalmente chega ao seu destino. Ainda da janela do ônibus é possível enxergar o prédio da faculdade, com uma fachada de vidro azul muito brilhante. Várias pessoas começam a se mexer para sair do ônibus, e eu fico admirado, todos vão estudar aqui também? Então talvez eu faça alguma amizade por aqui. Talvez. Quem sabe?

Eu também me mexo e desço do ônibus. Fico parado por alguns segundos, contemplando a grandeza do prédio da faculdade, que é enorme. Avanço e passo pelo hall de entrada, muito espaçoso.

Há muita gente caminhando, indo em direção as suas salas, muitos em pequenos grupos, que eu deduzo serem veteranos por aqui, e todos muito bem vestidos. Eu começo a sentir vergonha da roupa que estou usando. Deve ser o maldito complexo de inferioridade que eu sempre tive. Me encorajo a continuar caminhando em direção ao bloco de salas onde vou estudar, no curso de Jornalismo.

Bom, não posso negar que era um sonho realizado. Foi uma jornada árdua até chegar aqui, fazendo uma coisa que eu sempre desejei: ser jornalista. Eu sempre fui um cara muito isolado, vivia lendo e escrevendo coisas, trabalhando diariamente. Ah, eu nem me apresentei ainda, mas que falta de educação...

Bom, oi! Meu nome é Bruno Fernandes, mas não se engane pelo sobrenome, eu não sou de nenhuma família tradicional. Pelo contrário: minha família é bem simples. Moramos em um bairro igualmente simples, afastado do centro da cidade. Por isso eu vou passar os próximos quatro anos vindo até faculdade de ônibus, mas já estou acostumado com essa rotina.

Completei 22 anos há pouco tempo. E como todos os meus 21 aniversários anteriores, não teve festa nenhuma. Eu odeio fazer festa no meu aniversário por que odeio ser o centro das atenções, e morro de vergonha, e não tinha muitos motivos para comemorar mesmo... Nem motivos e nem ninguém. E ainda por cima, tem o fato de a minha família super amorosa (só que não) me amar muito por eu ser gay. Me descobri quando tinha 15 anos. Eu já vivia um conflito interior imenso, mas eu tinha certeza que minha mãe, Heloísa, já sabia, afinal, tem aquele ditado clichê que diz que toda mãe sabe, né? Então eu carrego essa teoria comigo. Mas o que me deixa mais abismado é como a minha família mudou desde aquele fatídico dia. Eu me lembro bem, como se tivesse acontecido ontem. Era uma noite de sábado. Eu estava em casa lendo um livro, quando meu padrasto, Cláudio, chegou em casa bêbado (mais uma vez, era um hábito dele), e foi me jogando contra a parede. Eu fiquei tão assustado com aquilo que acho que fiquei azul:

– Escuta aqui seu moleque. Me tira uma dúvida. – Cláudio falava, com um hálito de bebida mortal, que dava pra sentir de longe.

– Que dúvida? – minha voz era quase inaudível, o corpo trêmulo, já imaginando o que viria a seguir.

– Tu é gay ou não? – ele já estava quase gritando, enquanto minha mãe aparece na sala com uma cara de espanto.

Eu me encolhi, mas é claro que eu já sabia que essa era a hora de pôr as cartas na mesa. Decidi abrir o jogo de uma vez:

– Sim. Eu sou.

- Minha mãe e Cláudio se entreolharam, e depois olharam pra mim de volta.

– Eu já sabia. É uma vergonha pra mim saber disso. – minha mãe disse, com um olhar de nojo pra mim. – Mas você faz da sua vida o que você quiser. Eu não me responsabilizo mais.

Eu fiquei parado no meu lugar, apenas escutando tudo. E ouvir aquilo não era nenhuma surpresa pra mim. Minha família toda sempre foi muito intolerante mesmo, todos eles. Mas decidi contar sobre mim pra tentar mudá-los, mas não adiantou, na verdade, as coisas só pioraram.

– Tu é uma vergonha mesmo. Eu não tenho filho viado. – Cláudio disse, enquanto se encaminhava para fora da sala, saindo do meu campo de visão. Ele não é meu pai mesmo, e eu sinto orgulho por não ter um pai assim.

Tudo que eu podia fazer era respirar fundo. Bom, pelo menos ainda estou vivo...

Naquela época os meus meio-irmãos eram iguaizinhos aos meus amorosos pais. Luciano e Pedro eram filhos de minha mãe com Cláudio. Ou seja, a nossa relação nunca foi o que se pode chamar de boa. E depois daquele dia, as coisas só pioraram. Todos na minha casa mal falavam comigo. Eu tive que me virar, saí para conseguir um emprego, terminei meus estudos e me tornei uma pessoa quase independente, ao não ser pelo fato de ainda precisar morar com gente que me evitava diariamente. Mas eu estava trabalhando duro para mudar isso. Bom, eu sempre tentei ser bem discreto, e acho que estava dando certo. Mas acho que às vezes alguns sinais apareciam, e eu não conseguia mais camuflar. Então, aconteceu.

Voltando para o presente, eu respiro fundo e abro a porta da sala de aula. Há poucas pessoas ainda, acho que cheguei cedo demais. Prefiro evitar encarar as pessoas na sala, e sigo em frente, procurando um lugar para sentar. Prefiro escolher uma mesa nos fundos da sala, já que os outros estão na frente. Me sento, e tiro os fones de ouvido. Jogo minha mochila em cima da mesa e tiro algumas coisas de lá, me preparando para fazer as primeiras anotações. Percebo que aos poucos mais pessoas começam a entrar na sala. Muitos me olham de um jeito estranho, como se eu fosse alguma ameaça. Tudo bem que eu não sou o cara mais bonito do mundo, mas eles me encaram como se eu não devesse estar ali. Começo a ficar incomodado com isso. Resolvo pegar os fones de ouvido de volta para me distrair, e deixar essa história besta pra lá. A sala já está quase lotada, a não ser pelas cadeiras perto de mim, que continuam vazias. Eu não me incomodo com isso, é normal. Nunca tive muitos amigos, talvez só alguns colegas de turma e meus companheiros do trabalho.

Quando parece que todos já estão na sala, vejo uma mulher alta de cabelos negros entrar na sala, carregando consigo muitos materiais. Deduzo imediatamente que ela é a professora. Ela se encaminha para a mesa grande em frente aos alunos e cumprimenta todos com um sonoro “boa noite”. Todos retribuem em coro, exceto eu. Detesto essas baboseiras de primeiro dia de aula. Começo a achar que a faculdade não vai ser muito diferente do ensino médio. A professora começa a montar uma apresentação e todos se acomodam para acompanhar. Quando ela termina, se volta para a classe e começa a discursar:

– Olá pessoal. Sejam muito bem vindos à Faculdade São Bento. Eu sou a professora Luciane Monteiro, e nós veremos juntos duas disciplinas do curso. - Todos acompanham a professora falar com muita animação, e eu também me animo um pouco. Luciane parece ser uma ótima professora.

– Bom, como hoje é o nosso primeiro dia, gostaria de conhecê-los. Quero que cada um se levante e venha até aqui na frente se apresentar e falar um pouco, por favor. Vamos lá? – ela diz, apontando para a primeira aluna que está sentada perto dela, e eu me sinto congelado. Ela tinha mesmo que fazer isso?

Um a um, os alunos vão se levantando e fazendo uma breve apresentação. Dessa forma eu percebo que há muita gente diferente de mim aqui. Todos parecem ser superiores, meninas bem vestidas, super maquiadas e um tanto esnobes. Meninos bonitos e prepotentes, eu me sinto entediado. Poucas exceções. Pela ordem dos alunos, eu serei o último a me apresentar, e agradeço por ter essa sorte.

– Boa noite pessoal. Me chamo Maurício, tenho 23 anos e estou no segundo ano aqui na faculdade. Eu fazia Administração ano passado, mas acabei mudando para Jornalismo, e é isso. Obrigado galera. – o garoto fala, e encerra sua apresentação com um grito animado de “U-hu!”. E um grupinho de alunos fazia festa para ele, que sem encaminhava de volta para o seu lugar. "Clube dos cuecas", eu penso em silêncio e bufo de tédio. E as apresentações seguiam... Até que chegou a minha vez. Senti minhas pernas travarem, mas o olhar da professora me fez levantar, com o coração palpitando. Nunca fui bom em encarar plateias, mas escolhi fazer Jornalismo para tentar vencer esse medo. Então, eu segui para a frente da turma. Quando finalmente cheguei, percebi que tinha mais gente do que parecia. Eu juntei as mãos suadas e olhei em volta. Muitos me encaravam com curiosidade, outros com desdém, me deixando mais nervoso:

– Boa noite. Meu nome é Bruno... Tenho 22 anos... E... Bom... Eu escolhi fazer Jornalismo por que gosto muito dessa área e... Acho que é isso... Obrigado. – quando eu terminei de falar, sentia um suor escorrer pelo meu rosto. Eu nunca fiquei tão gago antes, estava rindo muito de mim mesmo por dentro. Olhei para um grupo de alunos e percebi que eles cochichavam alguma coisa, enquanto olhavam pra mim e riam. Isso aqui está parecendo mais a oitava série.

– Ok. Obrigada Bruno. – a professora diz, e eu sigo de volta para o meu lugar no fundão da sala. Os outros alunos me encaram como se eu fosse algum estranho. Eu me sinto incomodado com isso, mas resolvo deixar pra lá.

A aula se passa lentamente pra mim, mas eu consigo acompanhar tudo que a professora diz, e concluo que vou gostar das aulas dela. Na hora do intervalo das aulas, todos saem da sala, provavelmente para as lanchonetes que tem ali perto. Eu penso em ficar sozinho na sala, mas resolvo sair para conhecer melhor o prédio da faculdade. Arrumo minhas coisas e saio. É difícil andar pelos corredores, pois há muita gente, andando para todos os lados, correndo pra lá e pra cá, alguns grupos em conversas animadas, gente de todo tipo. Mas eu não me animo em fazer amizade por aqui, pelo menos ainda não.

Caminhando pelas dependências da faculdade, vejo que tem muitas coisas legais aqui. Laboratórios, salas de informática, espaços de convivência, e uma biblioteca imensa, que eu vou adorar conhecer depois. Sinto um pouco de fome durante a pequena excursão e paro em uma das lanchonetes da faculdade para comprar alguma coisa. Ocupo minhas duas mãos com besteiras, tipo os doces que eu sou viciado, e me viro para ir embora, quando esbarro sem querer em alguém:

– Ai. Que droga, me desculpa. – eu me envergonho. Meu ombro atingido começa a doer. Sempre acho que essas coisas acontecem por culpa minha. Pra piorar, as coisas que eu carregava caem no chão. Agora eu sou o centro das atenções. Todos em volta estão olhando.

– Cara. Tá tudo bem, foi culpa minha. Me desculpa.– o garoto diz, enquanto olha pra mim e se agacha para me ajudar a pegar as coisas do chão. Estou vermelho igual um tomate, mas não consigo evitar olhar para ele também. É um cara um pouco mais alto que eu, mas com um nível de beleza milhões de vezes maior. O cabelo preto dele chama atenção, é meio arrepiado, e ele tem uma barba interessante, que o faz parecer ter alguns anos a mais. Os olhos parecem ser claros, mas evito encará-los demais. E ele é forte, seus músculos são bem visíveis na camiseta justa.

Sim, ele é um tipo bem interessante...

– Me desculpa. – eu digo, e caminho com pressa em direção a qualquer lugar, precisava fugir dali. Eu olho discretamente para trás, e vejo que o tal cara ainda está olhando pra mim. Eu resolvo esquecer isso, afinal um cara daquele nunca daria bola pra um simples calouro igual a mim. E eu também nunca tive sorte alguma com garotos. Nunca namorei. Nem ao menos beijei alguém. Penso que vou passar um bom tempo assim, sem conhecer certos prazeres da vida. Mas já faz tempo que me acostumei com essa ideia.

Chego a um lugar parecido com uma praça de alimentação. Há algumas mesas, rodeadas de cadeiras pretas, onde algumas pessoas estão sentadas, umas quietas, lendo, e outras muito animadas, falando alto e se divertindo. Escolho me sentar em uma mesa que não havia ninguém. Me acomodo e fico observando os outros, enquanto saboreio deliciosas calorias de uma barra de chocolate e outras daquelas porcarias que causam diabetes e aumentam os níveis de colesterol do ser humano.

Tenho sorte em ter um corpo normal, mesmo comendo esse tipo de coisa. Quando não há mais nada para comer, tomo uns goles da garrafa de água que comprei para matar a sede. Continuo olhando as outras pessoas e vejo o quanto eles estão animados, parece que vivem num mundo cor de rosa. Por que eu não animo assim também? Muitos alunos da faculdade também caminham por perto das mesas, indo para diferentes direções. Eu apenas observo o movimento. E é nessa observação toda que vejo o cara que esbarrou em mim, ou melhor, que EU esbarrei na lanchonete. Ele está acompanhado de alguns rapazes, e ele também me vê. Ele me encara, e eu viro resolvo olhar para o lado oposto. Pelo jeito arrumei encrenca no meu primeiro dia aqui. Que ótimo. O cara vai embora junto com o grupo, e eu decido correr para a sala, pois a aula vai continuar daqui a pouco.

...

Já são dez e meia da noite. A professora Luciane se despede e todos começam a sair apressados. Exceto eu, é claro. Arrumo minhas coisas com bastante calma, e depois que todos saem, eu me levanto para ir embora. O movimento pelos corredores ainda é intenso. Todos se apressam para ir embora, e eu sigo uma pequena multidão até o ponto de ônibus, que ficava quase em frente ao prédio. Há muita gente ao meu redor, muitas vozes misturadas, conversas aleatórias. Eu agradeço por ter meus fones de ouvido agora. Coloco as músicas no modo aleatório e sou presenteado com “Cool Kids”, do Echosmith.

Cerca de dez minutos se passam, até que a minha carruagem chega. Apenas algumas pessoas sobem no ônibus junto a mim, e eu me sinto um sortudo por conseguir um lugar para sentar. Essa atividade já faz parte da minha rotina, estou bem adaptado ao ônibus. E em ir sempre sozinho também.

Em meia hora, eu finalmente chego naquele lugar que eu deveria chamar de “minha casa”, mas não é bem assim. Pego minhas chaves na mochila e entro, a sala de estar está inabitada. Já é quase meia noite, então todos já devem estar em seus quartos. Como eu sou o único aqui que não tem quarto, monto um pequeno colchão na sala mesmo e durmo. Não estou reclamando, eu gosto muito de dormir assim. Mas é por pouco tempo. Desde os meus 18 anos eu venho juntando um dinheiro pra conseguir a minha sonhada liberdade. Em poucos dias vou conseguir morar sozinho. Afinal, aqui não é um lar pra mim. Desde que todos descobriram sobre minha sexualidade, eu virei quase um intruso, mas isso já acontecia há muito tempo, só piorou com a revelação. Ainda estou trocando de roupa, quando minha mãe aparece na sala:

– Ah... Você chegou? – ela me olha com certa desaprovação. – Boa noite. – ela diz, num tom ríspido. Outra coisa com que me acostumei foi esse tratamento da minha mãe. Dela e de todo o resto da “família”: meu padrasto e os meus meio-irmãos endiabrados.

– Sim, cheguei agora a pouco. – eu digo, forçando uma simpatia que não consigo. Ela simplesmente se vira e volta para seu quarto. Eu lamento muito que nossa relação seja assim, mas a intolerância da minha família sempre falou mais alto. Eles sentiam vergonha de mim, e isso me machucava muito. Mas eu conseguia buscar uma pontinha de esperança de ter uma vida melhor, mesmo que longe deles. Arrumo meu colchão e deito, pensando no dia infernal que tive. Mas me alegro em saber que amanhã vou poder sair para trabalhar bem cedo, é algo que eu gosto muito. Eu ensaio um sorriso e fecho os olhos, preciso dormir.

...

Eu acordo antes de todos. Só tenho tempo de tomar um banho e me vestir. Arrumo todas as coisas da faculdade e saio apressado. Depois do trabalho, preciso ir direto pra aula. O dia está frio como sempre, e já há várias pessoas no ponto de ônibus aguardando. Não demora muito e o maldito chega, e todos se apressam para subir. Pela manhã, sempre vou em pé no ônibus, pois sempre há muita gente. Mas os fones de ouvido salvadores da pátria sempre me ajudam a vencer essa tortura diária. Quando chego ao centro da cidade, faço sinal e desço da condução, junto a outras pessoas, que também estão apressadas. Eu me encaminho para a transportadora onde trabalho com calma. Os outros funcionários estão em frente, esperando o horário de o local abrir. Como eu trabalho na área administrativa da livraria, entro pela porta lateral da loja, e subo para o escritório. Lá, os meus colegas de trabalho já estão em suas mesas, os olhos fixados nos computadores e os copos de café na mão. Eu os cumprimento rapidamente e sigo para minha mesa, organizar alguns papeis. Às oito horas, o expediente inicia, e o trabalho me anima.

Sou o Assistente Administrativo da empresa. Além de mim, no escritório da empresa trabalham outras cinco pessoas. André, chefe de operações, e Mariana, que é gerente financeira, são os que mais conversam comigo. André também é gay, e desde que eu comecei a trabalhar aqui há dois anos, nós sempre conversávamos, e ele sempre soube de mim. É um cara muito legal, muito centrado. Não aparenta ser gay, muito pelo contrário. Além de ser um cara muito engraçado. Mariana é super inteligente, afinal lida com números, contas e dinheiro diariamente. Conversamos pouco, mas eles são pessoas muito agradáveis. É no horário de almoço que conseguimos conversar melhor:

– E aí Bruno, como foi o primeiro dia, ou melhor, primeira noite de aula do nosso futuro jornalista, hein? – André pergunta, enquanto nós caminhamos até o restaurante para almoçar.

– Ah eu também quero saber. Como foram as coisas por lá? – Mariana também entra na conversa.

– Foi legal. Agora eu tenho certeza que é isso que eu quero pra minha vida. – eu digo a eles, lembrando-me de como foi a aula na noite anterior, incluindo o mico que paguei na lanchonete.

– Que bom que você está certo no que quer meu amigo. Isso é muito importante. – Mariana diz, batendo levemente em meu ombro.

– É isso mesmo, foco na bancada do Jornal Nacional que você chega lá! – André fala, e nós caímos na risada. Ele sempre nos faz rir.

Jornalismo televisivo nem é meu foco ainda, mas quem sabe né? Chegamos ao restaurante e vamos direto nos servir com o que tem, e em seguida nos acomodamos na mesa de sempre. Ao sentar, olho para a mesa em frente e vejo uma figura um tanto familiar sentada sozinha: o cara que esbarrou em mim na faculdade. Qual é? Ele está me seguindo? Eu sinto que fico branco quando ele olha direto para mime sorri, de um jeito que me deixa desconcertado. André percebe e diz:

– Opa. Acho que alguém está sendo paquerado aqui.

– Viu Bruno? Eu já te falei milhões de vezes que você devia namorar. – Mariana afirma.

Eu tento disfarçar, mas meu olhar insiste em encontrar o cara na mesa da frente.

– Gente, é aquele cara que esbarrou em mim ontem. – eu digo, enquanto André e Mariana olham para o tal cara. Entre uma garfada e outra, a troca de olhares entre a gente se torna mais intensa. Eu desvio minha atenção para meus colegas, mas acabo ficando hipnotizado pelo cara. Ele se levanta e começa a vir em nossa direção. Meu coração acelera. Será que ele está com raiva de mim? Ah, fala sério. Foi só um encontrão de nada. Eu sou desastrado, pedi desculpas. O que ele quer?

– Oi. Boa tarde! – o cara diz, e sua voz firme me deixa assustado.

– Muito B.O.A tarde colega. – Mariana diz, animada.

– Mari, vamos até ali um minutinho comigo? – André diz, se levantando, e Mariana faz o mesmo. Que filhos da mãe. Querem me deixar sozinho aqui com um provável inimigo?

– Claro que sim amigo. Vamos lá. – eles e levantam e saem. O cara se aproxima mais e eu gelo.

– Oi. Então, eu acho que talvez você se lembre de mim né? A gente meio que se esbarrou ontem lá na lanchonete da faculdade, lembra? – ele enfatiza a palavra “esbarrou” num tom irônico.

– Pois é, olha me desculpa de novo. Foi culpa minha, eu sou muito estabanado. – eu digo, meio apressado.

– Ei. Tá tudo bem. Qual é o seu nome?

– É... Bruno. – eu digo. E sinto meu corpo travar de tanto constrangimento.

– Eu sou o Thiago. – ele estende a mão para me cumprimentar, e eu faço o mesmo. O que esse cara quer de mim afinal? Estou achando isso tudo muito estranho. Por que ele fica me olhando assim? Droga.

CONTINUA...

Comentários

Há 2 comentários.

Por kiim2 em 2016-10-12 22:24:56
Muito bom! Ansioso para os próximos capítulos!
Por ®red® em 2016-10-12 21:54:47
Gostei, parece promissor. Só quero pontuar uma coisa: não faça um clichê (bixa burra) de deixar o dinheiro que ele ta guardando dentro de casa, já faz tempo que existem contas bancarias. Ninguém e louco de guardar dinheiro perto dos inimigos, mesmo familia. Quero que continue.