Capítulo 4 - O Motel De Beira De Estrada

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

O incidente na estrada, graças á Deus, não me causou nenhum dano grave. Meu nariz só tinha sangrado pelo impacto da pancada, do braço incrivelmente gostoso do Wallace. No geral, nada de mais. Uma coisa vocês podem acreditar... O Wallace ficou tão preocupado comigo, que nem resolveu o problema do carro batido dele, que por via das dúvidas, tinha sofrido só um amasso no para-choque. Aliás, quem estava certo e errado naquele acidente? Nem eu conseguia deduzir.

Durante todo o processo em que o médico me examinava, Wallace ficou perto de mim... Olhava pra mim, como se ele mesmo quisesse me examinar. Segurando minha mão? Não! Aí já era demais né. Mas só a presença dele e o olhar de preocupação, de ter acontecido algo grave comigo, me confortava. Senti que algo tinha mudado na nossa relação ingloriosa... Ou seriam mais neuras da minha cabeça?

Eu tinha um histórico com o nome (Vê coisa onde não se tem), que era incrivelmente promissor. Perdi a conta de quantos casos foram arquivados nessa pasta. Seria aquele mais um caso? Basicamente, devia ser mesmo. Eu não tinha sorte...

Já passava de uma e meia da tarde de quarta-feira, quando saímos do hospital, que ficava numa pequena cidade perto do nosso destino. Wallace e eu andamos até o carro num silêncio que logo se quebrou. Eu já ia abrindo a porta do carro, quando ele se atravessou na minha frente e me impediu. Por que ele tinha que me fazer perder a cabeça, sempre que eu conseguia seguir em frente?

– Desculpa... Eu sei que todas as desculpas do mundo, não vão desmanchar o que eu fiz, mas eu vou te pedir desculpas quantas vezes forem necessárias. Sério mesmo! Eu tô mal pra caralho com isso... – admitiu ele.

Aí gente! Foi tão fofo o modo como ele falou isso, que eu senti uma queda ainda mais enorme por ele. Poxa! Eu estava me segurando para não abraçar aquele monumento... Mordi meus lábios e respirei fundo.

– Para de se culpar, Wallace... Eu é que eu fui um idiota, pensando que seguraria mesmo um cara da sua estrutura, como se não fosse sofrer nenhum dano... Relaxa! Deixa isso pra lá! Agora, olhando por um lado até que serviu pra alguma coisa né... Você parou de brigar! – falei, tentando tranquiliza-lo.

– Nem me fala... Eu ia perder a cabeça se não tivesse ninguém ali... Obrigado por isso! E mais uma vez me descul...

– Não! – interrompi. – Chega de desculpas! Já te desculpei... Tá tudo certo!

– Tem certeza que não vai ficar com mágoa de mim?

– Eu já disse... Esquece isso!

Era bem a minha cara mesmo, perdoar um cara, que tinha quase quebrado meu nariz... O que eu não faço por esse Wallace.

– Quero aproveitar esse momento, pra te pedir perdão, sobre o que eu falei no começo... De você não ser gay e tal... Eu viajei legal! – lembrou-me ele, com certa incerteza se devia ou não ter tocado no assunto.

– Agora você acredita em mim? O que te fez mudar de ideia tão repentinamente?

– Você mesmo! – disse ele, me encarando e logo em seguida desviando olha pra baixo.

Eu acho que ele já sabia que eu tinha quedinha por ele. Não era possível que ele fosse tão cego... Pois, eu acho que meus olhares me entregavam. Suei frio e gelei na hora. Não queria olhar pra ele. Estava me sentindo muito exposto... Recuei um passo e tentei não olhá-lo.

– Bom... Eu posso te perdoar por aquilo também... Mas apenas com uma condição? – falei, e dessa vez olhei pra ele.

– Qual? – amedrontou-se ele, que também tinha fixado seu olhar nos meus.

– Você me deve um sorvete de açaí! – respondi.

Eu tinha mesmo pedido aquilo? O que eu tinha na cabeça?

– Sério? Só isso? – surpreendeu-se ele.

– Por quê? Você pensou que eu pedir o quê? – falei, tentando pegar um atalho.

– Sei lá... Algo mais difícil... – objetou Wallace, me analisando perigosamente.

Quase caí. Será que ele poderia ceder? Não, é só imaginação minha. Ou não era?

– Como o quê? – indaguei sem jeito.

– Cara, eu não sei... Só pensei que fosse outra coisa...

– Eu ainda posso mudar de ideia se você quiser... – alertei.

– Melhor a gente ir comprar seu sorvete, antes que você mude mesmo de ideia. – disse ele, agora, seco.

– É melhor mesmo... Será que podemos ir agora? – falei desanimado.

– É pra já... Temos mais duas horas de viagem pela frente... Preparado?

– Absolutamente não... Mas acho que o pior já passou! – concluí.

E foi a gente entrar no carro, pra mais uma vez, acontecer o imprevisível. Ele girou a chave... Uma... Duas... Três... E nada! Algo estava errado. Que bom... Era mesmo sina. Do jeito que a gente estava indo... Não chegaríamos ao nosso destino nunca.

– É... Acho que a gente vai precisar de um mecânico. URGENTE. – disse ele furioso, dando um soco na direção.

Vi uma gota de suor, escorrer pela testa dele e descer lentamente até um machucado na pele... Nem dava para notar a pequena vermelhidão na bochecha direita. A barba cobria boa parte, mas era visível. Num impulso repentino, toquei seu rosto e falei.

– Tem uma marca vermelha na sua bochecha... Você mostrou isso ao médico? Pode ter fraturado alguma coisa... – observei desesperado.

Toquei seus pelos faciais e seu rosto era tão desenhado, que parecia ter sido esculpido em mármore. Ele afastou minhas mãos delicadamente e pegou seu celular, desmanchando um clima que eu mesmo tinha criado. Que bom... Fiquei no vácuo. Não foi por falta de aviso... Aí quer saber... Foi bom enquanto durou.

– Não esquenta! Eu coloquei gelo lá! Tá tudo bem! Mas valeu por ter se preocupado! Acho melhor eu perguntar, se alguém por aqui conhece algum mecânico! Fica aqui no carro... Vou procurar um contato e volto logo. – apressou-se ele.

Assenti com a cabeça e ele saiu do carro, me deixando na mais perfeita solidão. Caramba. Eu sentia uma ligação tão grande com ele naquelas poucas horas que tínhamos passado juntos, que até o carro ficava vazio sem ele na direção. Aí meu pai... Eu já estava mesmo fodido!

...

A gente estava almoçando num pequeno restaurante, enquanto o carro era concertado. Isso já por volta das duas e quinze da tarde. Tudo ia bem... Quer dizer, quase bem. Meu coração se adaptava e se acostumava cada vez mais, àquela presença na minha frente. E isso não era nada bom, pois eu conhecia bem essa peça no meio peito, e podem ter certeza, quando meu coração decidia ficar, ele ficava. E só saia na camisa de força. Tá! Vamos fingir que eu não disse que meu coração é louco.

– Você tem namorado? – perguntou ele, bebendo um gole de cerveja e fixando o olhar em mim.

Engasguei na mesma hora com a salada e tomei rapidamente um gole de coca.

– Por que você quer saber? – indaguei.

– Curiosidade... Apenas isso! – respondeu ele.

– Sei... Não! Não tenho! – admiti.

– E nunca teve? – insistiu ele.

– Claro que tive... – menti.

– Quantos?

– Você não acha que tá querendo saber de mais da minha vida? E você? É casado? Namora? A impressão que você dar é de ser muito solitário... – declarei.

Tinham duas garotas almoçando juntas, com roupa de trabalho, que não tiravam o olho da nossa mesa. E eu entendia bem por quê.

– Impressão sua... Eu já tive tantos relacionamentos garoto, que você ficaria surpreso com a quantidade exata...

– Hum... Garanhão! E não deram certo por quê?

– Na maioria das vezes por falta de amor... Já ouviu sobre a história do casal, onde sempre um ama mais que o outro? Pois é verdade... Eu ainda cheguei a ficar noivo... Mas acabou antes mesmo de começar. – declarou ele.

Fiquei pasmo. Wallace tinha sido noivo? Já era de se esperar. Era um milagre ele tá de bobeira, agora. Um solteirão daqueles... Aí como eu queria ter a sorte de um dia encontrar um cara como ele.

– Nossa! Então você foi noivo? O que aconteceu pra você não casar? Também se não quiser falar, eu vou entender. – digo.

– A vida! Tem coisas que são complicadas...

– Você a amava? – perguntei.

– Sim... E não era ela... Mas sim ele! – disse ele, analisando minha reação.

Paralisei completamente. ELE? NÃO ACREDITO! Era isso mesmo? Segurei-me pra não cantar e dançar, ali mesmo, na frente dele. Eu podia jurar que a escola de samba ia entrar naquele instante, só pra comemorar aquele marco.

– Você é gay também? – perguntei contagiante.

– Não do jeito que você pensa... Eu gosto de ficar com pessoas que eu me interesso... Não só com homens, mas mulheres também! – esclareceu ele.

Ele jogava para os dois lados... Eu bem que desconfiei. Mais um ponto pra mim.

– Bissexual, então? – indaguei.

– Não me caracterizo por rótulos... Apenas sou o que eu quero ser com quem gosto.

– Ainda não entendi sua forma de pensar... Você quer me dizer então, que não é nem uma coisa nem outra, é isso? – falei.

– Já falei... Não me denomino por classes ou definições...

– Eu provavelmente, nunca vou entender essa sua forma de pensar...

– Eu não quero que você me entenda... Apenas me aceite... – esbravejou ele se levantando da cadeira. – Eu vou ao banheiro, dá licença.

Wallace saiu e eu fiquei de estômago embrulhado. Nem consegui mais comer. Eu o tinha ofendido? Mas o que ele queria que eu dissesse?

Do outro lado da mesa, uma das garotas que estava olhando pra ele, se levantou da mesa e foi até ele. Eles conversaram por dois minutos. O tempo entre nós tinha fechado, mas com ela, nem parecia. Ele era todo sorriso para o lado dela. E ainda teve abraço. Ela falou mais alguma coisa, enquanto ele anotava no celular. Pronto. Meu dia nublou na mesma hora.

Quando ele voltou do banheiro não falou mais comigo. Sentou-se... Comeu de cabeça baixa... E nem olhou mais pra mim.

– Wallace... Eu não queria te ofender nem nada... Eu só...

O maldito celular dele tocou e ele logo atendeu. Querendo me ignorar mesmo.

– Ok! Tudo bem, senhor! Certo... Obrigado e até mais... – disse ele desligando. A frieza era evidente até de longe.

– O carro tá funcionando novamente? – perguntei, pensando que assim ele voltaria ao normal. Mas não voltou. Eu devia ter tocado numa ferida muito profunda, pra ele ficar daquele jeito, de repente.

– Não! Só vai ficar pronto ás oito da noite, infelizmente... Uma peça queimou e a droga do lugar não consegue arranjar nesse momento... Eu vou tentar arrumar um lugar pra gente passar á noite... Não dá pra viajar em segurança por essas estradas á noite. Fica aqui que eu vou tentar encontrar uma hospedaria! Só não sai daqui... Você já me fez perder tempo demais! – disse ele, ríspido e distante.

Eu me choquei e nem deu tempo de revidar, pois ele já tinha saído apressadamente por mim. Ele nem terminado de almoçar. Fodeu! Agora mais essa! Eu devia me benzer... Era carma, só podia. Tava tudo indo tão bem... Só que Wallace era difícil... Até entendia os motivos que o mantinham solteiro, naquela idade e com aquela beleza extraordinária. Saber caminhar com ele, era uma tarefa em desenvolvimento.

Terminei de almoçar, completamente sozinho e abandonado. Ficando na mesma hora, numa depressão desgastante. Já era de praxe meu...

...

Após ficar a tarde inteira sozinho, sentado na frente de um restaurante litorâneo, esperando por ele, que nunca voltava... Decidi que nunca mais, tentaria nada com ele. Pessoas indecisas e mal resolvidas deveriam ser evitadas. Pois, elas eram as que mais machucavam.

Já iam dar cinco e meia da tarde... O céu azulado e escurecendo, brilhavam com estrelas piscando. Quando eu já estava achando que ele tinha ido embora e me deixado ali no relento, o avistei ao longe. Minha fúria explodiu e eu fui até ele, com passos apressados e magoados.

– Pensei que tivesse ido embora... Onde você tava? Eu fiquei aqui a tarde inteira, esperando por você... Por você sempre faz isso hein? Qual é o teu problema? EU NÃO TIVE INTENÇÃO DE TE OFENDER. – berrei.

Ele veio a minha direção e ficou bem perto de me bater. Pois, num impulso involuntário, pegou meu queixo com uma de suas mãos grandiosas, e me fez olhar bem pra cara dele.

– Cala á boca! Eu não quero ouvir sua voz, nem agora e nem depois! Já tô de saco cheio, dessa sua ladainha! Não faça eu me arrepender de fazer algo estúpido depois! Não tente! Se você insistir em brigar comigo, eu te deixo aqui e que se dane o que a minha irmã vai pensar. Tô pouco me fodendo pra você. Eu me resolvo com ela. Não faz eu te odiar, mais do que eu já odiei, nessas últimas vinte e quatro horas... Entendeu? Agora me segue... Eu achei uma hospedaria pra gente ficar! – despejou ele, com toda sua fúria e ódio, em cima de mim.

Senti-me um lixo. Era deplorável minha cara naquele momento. Queria chorar. Morrer. Sumir. Tudo que você possa imaginar. Aquela foi à primeira vez, que eu deixei ele me acabar. Nem sei como eu ainda tinha tido coragem de enfrentar um homem daquela estatura. Não falei nada e nem protestei. Só queria me depreciar e esquecer que um dia, a gente tinha se conhecido. Caminhamos em silêncio e chegamos á tal “hospedaria”... Que na verdade, não era nenhuma hospedaria, como eu tinha imaginado.

– Esperai... É AQUI QUE A GENTE VAI FICAR? – perguntei surpreso.

– Foi o melhor que eu encontrei... Não vem reclamar! Tá tudo lotado nas redondezas... – rebateu ele, gelado.

– Mais isso aqui é um motel de beira de estrada, Wallace! – repreendi.

– Para de frescura... Aliás, você não tá pagando nada tá? Bem melhor aqui do que na rua... Eu já liguei pra Jennifer e expliquei tudo! Eles vão estar nos esperando amanhã de manhã... Agora, ENTRA! – disse ele andando do jeito despreocupado, que só ele andava.

Hesitei um pouco e no final o segui. A gente ia se hospedar num motel? Onde praticamente só se via casais indo transar?... Como se não se soubesse que tinham pessoas casadas ali, traindo uns e outros. Mas quem era eu mesmo pra julgar os outros? Ah é! Ninguém.

Pegamos a chave do nosso quarto na recepção. Uma mulher de meia idade nos olhou e fingiu não ter visto. Como se ela já não tivesse visto um casal de homens entrando ali. Wallace sorriu, pela primeira vez, ao caminhar por um corredor que levava ao nosso quarto. E eu percebi sua malícia. Aposto como aquilo era de propósito, outra vez. Esse cara ia acabar comigo.

Continua...

Comentários

Há 3 comentários.

Por Jeffs em 2017-02-13 10:36:46
So nao curti uma coisa o texto é nt curto.
Por LuhXli em 2016-03-05 01:19:20
Hahahaha Ótimo a parte do clima quebrado! Kkkkk E com o Wall só dando na cara deseje, não tem como ele não se apaixonar! Hahaha
Por Um alguém em 2016-03-04 01:30:33
Espero que o Alef seja super seco em resposta a essa atitude do Wallace, quero que o faça ficar arrependido a ponto de fazer ele se ajoelhar por perdão kk, já quero i próximo capítulo, muito bom!!