Capítulo 3 - Uma Longa Viagem

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

Era difícil decidir o que era pior naquela viagem cheia de momentos ao lado de Wallace, num carro pequeno... Se em si a presença dele... O cheiro maravilhoso daquele perfume... O silêncio que se estendia enquanto eu fixava minha cabeça no vidro da janela pra não ter que olhar pra cara dele... Ou se o calor que eu sentia, que nem o ar condicionado dava conta. E olha que nem estava tão quente lá fora.

Eu devia tá passando por uma provação, só podia ser isso. Não era possível que aquele ano maldito de 2015, onde nada aconteceu, fosse render tanto até os últimos minutos. Maldita hora em que eu fui aceitar esse convite. Devia tá na minha casa, dormindo e curtindo as férias da faculdade.

O espaço entre nós dois era de centímetros, e eu não queria nem me mexer pra não ter que tocar no braço dele. Estava imóvel feito uma estátua, de cara fechada, olhando para o nada.

– Coloca o cinto... – pediu ele, calmamente, após ter desacelerado o carro, quando já estávamos á alguns minutos longe da minha casa.

Fingi que não escutei e nem dei bola.

Ele parou num acostamento e puxou o cinto ao meu redor, encaixando-os logo em seguida. Senti um aperto e tentei me ajeitar, nossas mãos se tocaram sem querer... Eu recuei! Claro. Mas ele ignorou minha acidez e me aprumou no assento. As mãos deles seguravam tão firmemente que eu senti uma chama se acender no meu interior. Nem lutei. Só queria que a gente chegasse logo. Mudo estava. Mudo fiquei. Parecia até que tinham me dopado. Meus olhos sem foco. Eu o desprezaria, mesmo que por dentro, meu coração quisesse o contrário.

– Vai continuar de cara amarrada sem falar comigo? Eu consigo engolir aquela história... Já que você diz que é verdade... Por mais que não pareça... Desculpa tá legal! Satisfeito? – disse ele, tentando algum contato comigo. Não me mexi. Continuei marrento. – Sabem quantos quilômetros a gente tem pela frente? 320 km. Eu consigo suportar ficar sem ir ao banheiro... Sem beber água... Já você tem que me falar se não quiser se...

Interrompi na mesma hora. Cansado de escutar aquela voz maravilhosa no meu pé do ouvido.

– Olha... Não fala comigo! Eu só quero chegar logo! A gente não tem que conversar nem nada. Apenas dirija. Finja que eu não estou aqui... Quando eu precisar de algo, peço. Ok? – digo me virando pra janela novamente.

Ele me encarou por mais alguns minutos e virou o rosto, dando partida novamente. Pela cara dele eu o tinha deixado irritado. Que bom... Era isso que eu queria depois do episodio idiota de sequestro relâmpago que ele me fez sentir.

– Se importa se eu colocar uma música? – perguntou ele.

– Não! Á vontade! – falei secamente.

Ele ligou o som do carro e não falou mais nada. O único som que a gente ouvia era de uma música internacional que eu nunca tinha ouvido na vida. Meu coração batia mais que ensaio do Olodum. Eu até que tava segurando bem as pontas daquela situação, mesmo sabendo que não seguraria por tanto tempo. Era de praxe... Eu sei, sempre falo isso... Mas era mesmo... Uma hora eu ia ceder e já imaginava meu final nada feliz.

Não falamos nada... Mas eu tentava olhar de esguelha e me deparava com olhares furtivos que ele me passava e logo desviava. E olha que eu não estava louco, pois só tive mesmo a confirmação disso, quando ele parou num sinal fechado e o peguei me olhando pelo retrovisor entre nós dois. Desviei o olhar. Eu não iria ceder... Eu acho! Melhor ficar na minha! Continuamos em um silêncio constrangedor, por mais de meia hora, até chegarmos á um posto de gasolina e as coisas tomarem um rumo, de novo, inesperado.

...

Wallace desceu do carro para abastecer. Eu também... Já que tinha que ir ao banheiro.

– Eu vou ao banheiro... – falei bem paciente.

Ele olhou pra mim, levantou os óculos escuros e os pousou na cabeça. Olhos verdes claros. Foi como se eu me encantasse de novo. Fodeu né...

– Beleza... – disse ele, acenando com a cabeça.

Um vento ligeiro balançou alguns fios de seus cabelos. Suspirei e saí logo da vista dele, antes que tivesse mais um lapso de paixonite. Andei rapidamente até o banheiro masculino, sabendo que ele me olhava, acompanhando todos meus passos. O que ele queria afinal? Matar-me de tanto desejo? Já não bastavam as olhadas furtivas... Agora ele queria fazer isso na cara dura? Que bom... Nessa pouca estádia juntos e já me sentia em depressão ao me imaginar sem ele no final disso tudo. Ia ser difícil superar ele? É melhor nem pensar. Pois iria e muito.

Lavei as mãos e o rosto, após sair do reservado. Um espelho pequeno refletia o quanto eu estava abatido e tudo por causa dele. TUDO ERA POR CAUSA DELE. O efeito que ele causava em mim já poderia ser considerado inédito. Nunca ninguém antes, tinha me bombardeado tão devastadoramente, como Wallace tinha me atingido. Canalha filho da mãe!

E lá estava ele de novo na minha cola... Entrando no banheiro todo descolado e ainda mais gato. Ele abriu o zíper da bermuda tão dissimuladamente na minha frente, que eu quase reclamei, mas me segurei e me olhei no espelho ignorando-o. Detalhe: ele urinou á alguns metros de distância de mim... E eu só queria morrer.

Wallace fechou o zíper e olhou-se no espelho... Lavou as mãos e me encarou por alguns segundos, percebi. De cabeça baixa eu estava... De cabeça baixa fiquei... Fingindo que enxugava minha mão já enxuta com um papel toalha.

– Mais que merda... – reclamou ele.

Levantei o olhar para ver o que tinha acontecido e o vi todo molhado. A camisa verde colada tinha molhado bastante na barriga, como que de propósito, deduzi.

– Droga! Me molhei todo... – disse ele e olhou pra mim.

– Acontece... – falei condescendente. Ofereci um rolo de papel toalha, que ele pegou, mas logo dispensou.

– Não... Quer saber? Vou trocar... Tenho outra no carro. – falou ele e fez o que eu queria evitar ver.

Wallace tirou a camiseta de um jeito tão sensual, que eu fiquei completamente petrificado. O peitoral grande e avantajado, eram repletos de pelos pretinhos ao redor do peito e descendo pelo umbigo até mais embaixo. O tipo de peitoral másculo de um homem que não era sarado, mas não possuía barriga nenhuma. Um ursão mesmo... Um corpo saudável que dava 10 á zero em qualquer corpinho sarado de academia. Se eu entrei em choque? Eu tive foi uma síncope. Meu Deus... Era gostoso demais. Não tenho certeza, mas acho que o mundo meio que girou naquele momento.

Ele apoiou os brações peludos na lateral da pia e enxugou com pedaço de papel toalha, a barriga perfeita e peluda, massageando a região onde tinha ensopado. Um calor se apoderou do meu pescoço e eu me vi louco da vida naquele banheiro. Desviei logo o olhar e molhei minha mão, passando pelo pescoço.

– Acho melhor a gente ir... – pedi.

– Claro! Vamos sim... Lá dentro do carro eu visto outra blusa. – falou ele.

E quando eu achei que não podia piorar... Ele levantou o braço direito e inspecionou os pelos das axilas. Bem lisinhos, como se tivessem sido penteados. A pele branca da cor de uma folha de papel. Os músculos se mostravam ainda mais delineados. QUE BRAÇO... QUE TUDO DE HOMEM ERA ESSE SENHOR?

– Caramba eu tô suando pra caralho... Você não acha? – perguntou-me ele.

– Oh! Demais... O tempo tá mesmo uma brasa... – digo sem ar.

– Bom... Vamos embora? – chamou ele.

– Sim... Sim... – falei nervoso.

Eu não falava coisa com coisa. Tentava não olha-lo, não vê-lo, mas era complicado ignorar um tipão de homem daquela magnitude bem na minha frente e tão perto de mim.

A gente entrou no carro e ele pegou uma camisa de uma mala na traseira. Vestiu-a e eu só fazia me abanar com as mãos. A desculpa do meu calor era que o ar estava desligado. Só que não... Ele finalmente deu partida e nós fomos embora. Ainda bem... Se o objetivo era me amansar, ele tinha conseguido.

...

Nos minutos seguintes ao ocorrido no banheiro do posto... Ele foi se aproximando mais de mim e eu dele. Á começar, ele me perguntou se eu gostava de música e eu logo respondi que sim, ainda um pouco frio, mas quase derretendo a geleira que nos separava. Pensando melhor, essa geleira tinha derretido e fervido lá no banheiro, para ser bem sincero.

– Que tipo de música você curte? – começou ele.

– Ah... Meus gostos são um pouco bagunçados... Sei lá, acho que escuto o que sinto naquele momento. Uma música alegre para momentos felizes... Outra mais triste para quando fico na deprê... Bem desse jeito mesmo! – respondi.

– Legal! Gosto de fazer isso também... Meu humor é uma verdadeira montanha russa, mas eu disfarço bem de vez em quando... – falou ele.

Ele olhou para frente e eu o observei enquanto dirigia. Agora era eu que olhava e ele que me ignorava. Wallace parecia tão sereno e confiante, como se nada o atingisse. Sabe quando tudo que você queria era ter uma muralha protetora dessas á sua volta? Era uma pena que ele fosse hétero... De volta a minha janela, observei os coqueirais e florestas que direcionavam á praia adiante e refleti sobre minha vida. Bem nesse momento, Wallace olhou pra mim e eu retribuí o olhar mesmo sabendo que não era nada. Ele só queria conversar mesmo. Jogar papo fora. Se conhecer como dois colegas. Ele desviou o olhar para o display de musica e trocou a música. Nesse momento, nosso carro bateu na traseira de outro carro. Tomei um susto com o impacto. Ainda bem que nós dois estávamos com cinto. Não foi uma pancada forte, mas bateu.

– Ah não! Meu carro não! Porra! – disse Wallace desesperado.

Ele desceu do carro e foi rapidamente tirar satisfações com o outro motorista, que já estava vindo à nossa direção. Eu só via movimentos com a mão e uma discussão meio desnecessária demais. Até que as coisas degringolaram de vez. Wallace foi atingido por um murro no rosto, que ele logo revidou. Saí do carro às pressas... Não sabia como o seguraria, mas eu seguraria. Agarrei aquele grandalhão pela cintura, enquanto ele se debatia... Outras pessoas também seguraram o outro agressor. Gente... A força do Wallace era surreal... Eu tive que me esgueirar pra frente dele e o prender num abraço apertado. E que abraço... Que corpo... Aí meu Deus!

– Calma! Wallace... Fica calmo! – gritei exasperado.

Ele nem olhava pra mim, furioso do jeito que estava. A discussão se intensificava e eu tentava arrastá-lo para longe. Quando dei por mim, fui empurrado de lado com uma braçada. Aqueles braços fortes do Wallace me atingiram bem no nariz, que exalou sangue na mesma hora. Que bom... Era tudo que me faltava... Caí no chão com a mão no nariz e a cabeça zunindo.

– Te machuquei? – perguntou Wallace vindo ao meu socorro e esquecendo a briga.

– Sim... E acho que preciso me acostumar com isso... – esclareci.

– Acostumar? – disse ele sem entender.

– É... Você me machucando mesmo não querendo! – falei olhando bem nos olhos dele. Ele engoliu em seco, eu percebi.

Ouvindo bem baixinho, eu podia jurar que estava tocando em algum som de carro naquela estrada (Beyoncé – If I Were a Boy) ou seria coisa da minha cabeça zonza e delirante?... Pelo visto aquela seria uma longa viagem.

Continua...

Um muito obrigado a galera que comenta e tá gostando dessa história!! PedrãoC, Um alguém, Hp, Anjo perdido muito obrigado!! Espero que continuem acompanhando!Bjs!!

Comentários

Há 4 comentários.

Por Jeffs em 2017-02-13 10:19:52
É estranho ver qe as pessoas criam barreiras onde nao tem pra esconder seus sentimentos mas parece qe isso vai dar uma revira volta amando td nessa história.
Por Riyuuki em 2016-03-02 22:26:04
Ownnnnn, que história linda, me prendeu tanto que fiquei muito curioso com a continuação. O começo achei tão engraçado quando o Wallace estava duvidando de ele ser gay, foi uma situação que nunca tinha lido ou vivido, achei demais. kkkkkk Por favor continue com ele, eu achei muito fofo, quero lê-lo até o final. ;)
Por Anjo perdido em 2016-03-02 09:05:45
Bem eu tô e tô louco pela próxima parte
Por Um alguém em 2016-03-01 22:51:07
Já estou amando, ótimooo!! Só uma sugestão, aumenta um pouquinho os capítulos kk, gostando muito do seu conto, desde já agradecido e ansioso para o próximo capítulo!