Capítulo 2 - O Gato Dos Gatos

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

Então era ele? Não brinca comigo! Esse era o irmão da Jennifer? O mais velho? Eu não conseguia nem piscar, nos poucos segundos do avanço dele na minha direção. Meu Deus! Era uma miragem? Sabe quando você se encanta tanto com uma pessoa, que ela parece te levar do teu próprio corpo? Foi bem assim... Senti-me fora de órbita. O descontrole foi total. Meu queixo já estava no chão. Morri em questão de segundos, ao visualizá-lo e perceber todos os seus detalhes sórdidos!

Wallace aparentava atitude e abundância, como se calculasse cada passo com perfeição e deslumbramento. Aquele ser alto de 1,95 de altura, incrivelmente forte e belo, parecia um daqueles jogadores de vôlei da seleção brasileira. O canalha era ainda mais tentador do que eu imaginava. Seu estilo praiano, com uma camiseta verde que entonavam seu peitoral forte e uma bermuda de surfista bem folgada, esbanjavam destreza e sofisticação. Seus cabelos lisos e castanhos penteados de lado, num corte de modelo profissional, caracterizavam-no como “O GATO DOS GATOS”. Os óculos amarronzados constatavam, o quanto aquele homem era charmoso. Do tipo que conquista com apenas um aceno de cabeça. Não conseguia vê seus olhos, mas já imaginava as pedras preciosas que ali se escondiam. Os sapatos joviais revelavam que ele era um cara que não tinha nada de velho, e sim muito maduro. A pele branquinha, e até peluda com uma barba bem aparada e desenhada, faziam de Wallace “O CARA DOS SONHOS”! Eu podia passar horas e horas tentando descrevê-lo e sempre acharia um novo detalhe sobre ele.

Quando ele sorriu pra mim, eu morri uma segunda vez. E depois uma terceira, e mais uma quarta... Provavelmente morreria muitas vezes até ele finalmente falar comigo. Cara! Eu estava passado! Engomado! Guardado! Puta que pariu! ELE ERA MUITO LINDOOO!

Wallace foi andando até mim sem desviar sequer o olhar da minha direção. E aí meu amigo, eu simplesmente me senti em queda livre. Meu Deus... Eu estava fodido. Reprimi todo o caos interior e me mante neutro. Ele parou bem na minha frente.

– Oi... – disse ele sorrindo. Entrei em choque com aquele sorriso de ator de novela das nove. – Minha irmã deve ter te avisado que eu ia vim te pegar...

– Sim... Ela me disse... – respondi.

– Wallace... – se apresentou ele, estendendo a mão num cumprimento.

– Alef... – falei, sabendo que por dentro, todas as minhas estruturas estavam em total colapso.

Apertei sua mão. E que mão... OMG! Era quente, macia e segura. Um tipo de mão que aperta firme e te prende completamente. Gelei... Acho que ele percebeu meu nervosismo, pois logo soltou minha mão e recuou. Inspirei fundo e soltei o ar lentamente.

Wallace me examinava da cabeça aos pés. Pelo menos era essa a impressão que ele dava, logo de cara.

– Então você é o Alef? A Jennifer me falou muito de você sabia? – observou ele.

Eu ia matar a Jennifer... O que ela tinha falado de mim?... Eu nem queria imaginar...

– Ah... Espero que só coisas boas... – enfatizei, ainda em choque.

– Com toda certeza! Ela te falou sobre mim? – perguntou ele.

– Sim... Aliás, bem vindo de volta! – falei sorrindo sem jeito.

– Obrigado! – respondeu ele.

E foi aí que a gente ficou sem saber mais o que dizer e apenas nos olhávamos, parados um de frente pro outro. Wallace olhava pra mim e eu pra ele. Ninguém dizia nada. Só pra vocês terem uma ideia, o silêncio foi tão grande, que o canto do galo foi que interrompeu aquele momento de transe nosso. Eu me encontrava num estado de total imobilidade... Eu definitivamente estava fodido. E o pior é que eu acho que esse carma só acontecia mesmo comigo. Ele me encarava profundamente sem saber o que dizer, até que minha mãe apareceu atrás de mim e nos acordou pra vida real á nossa volta.

– Bom... Espero que vocês se divirtam muito lá! – disse minha mãe, quebrando o gelo.

– Obrigado, senhora! Um feliz ano novo pra senhora! – disse ele, indo até minha mãe.

– Ah pra você também! – disse ela, abraçando-o.

Que sorte á dela! Sentir aquele corpo, aquele cheiro e aquele calor, deveria ser tão bom não é? Melhor eu esquecer qualquer possibilidade disso acontecer comigo.

Eles se demoraram um pouco e eu senti ciúme. É... Nem sequer tinha conhecido direito o cara e já sentia ciúmes dele. Bem a minha cara.

– Bom... Podemos ir? – perguntou.

– Claro! – falei.

Ele passou por mim e saiu pela porta numa sutileza e desenvoltura impressionante. O tipo de macho alfa que desfila sem medo, como uma verdadeira metralhadora pronta para o ataque. Aí como eu queria que ele segurasse a minha mão e nós dois caminhássemos como um casal apaixonado... É melhor parar com esses pensamentos antes que der merda.

Despedi-me mais uma vez da minha mãe, enquanto ele entrava numa Toyota cinza e ligava o motor. Sabe quando parece que a gente tá andando sobre ovos... Pois foi desse jeito mesmo! Foi exatamente assim que eu me senti naquele momento. Como se á qualquer passo que eu desse, pudesse cair.

– Mais que gato hein Alef? – confidenciou minha mãe pra mim.

– É... Muito por sinal! – digo ainda hipnotizado.

– É com um desses que você devia namorar... Educado... Bonito... Cheiroso... O genro que toda sogra pediria á Deus... – discursou ela.

Eu me choquei na mesma hora. Como é que é?

– Mãe... Ele é hétero tá... E mesmo que fosse gay não ia querer nada comigo. E eu muito menos. Muito velho pra mim... – menti.

– Que velho que nada... – insistiu ela.

– Eu vou indo tá! Tchau! – falei rapidamente.

– Me engana que eu gosto! – falou ela, rindo no meu ouvido. Corri pra junto do carro. – Aproveitem! – gritou ela pelas minhas costas.

Ele abriu a porta do carona já dentro do carro e eu entrei.

O ar condicionado misturado com o cheiro de carro novo e o perfume dele, foi arrasador. Senti-me entrando num verdadeiro paraíso. Joguei minha mochila no banco de trás e coloquei o cinto de segurança; Ele me olhou, meio que aprovando minha iniciativa e deu partida. Olhei pela janela, ainda totalmente ruborizado, enquanto ele me levava para um destino longe pra caralho.

A gente mal tinha dobrado a esquina da minha rua, quando ele de repente parou o carro, desligou o motor e me encarou. Só que dessa vez, não era o olhar apaixonado que eu esperava, mas sim um olhar sério e detonador. Uma granada prestes á estourar... Destruidora e potente... Fiquei de novo estático.

– Há quanto tempo vocês tão juntos? – começou ele, num tom grave e acusador.

– O quê? – perguntei sem entender nada.

– Desembucha logo garoto... Pode ir falando... – insistiu ele.

– Eu não tô entendo... Como assim? – falei com a voz mais tremida possível.

– Você acha mesmo que eu vou acreditar nessa historinha que a Jennifer me contou? De que você é o melhor amigo dela e ainda por cima é gay? Enganem outro trouxa, por que esse daqui vocês não vão enganar. – esclareceu ele.

– Esperai... A Jennifer te contou tudo? Tipo... Minha ficha completa?... Eu não tô acreditando que ela fez isso... – digo desesperado.

– Ah! Então agora você admite... Vocês tão namorando há quanto tempo hein?

As coisas agora tinham tomado um rumo bem diferente do que eu imaginava.

– Namorando? Você tá ficando louco? EU NÃO TÔ NAMORANDO A SUA IRMÃ... A GENTE É SÓ AMIGOS... – falei aos berros.

– Vai continuar insistindo nisso cara? Conta outra... Você também vai dizer que é gay? Ah! Não me enche o saco garoto... Gay? Você? Nem jeito você tem... E só pra deixar bem evidente... Sua encenação não colou.

– Eu sou gay sim tá! E com muito orgulho... O quê que é? Por que você tem tanta certeza de que eu não sou gay? O que você acha? Que pra ser gay é preciso se vestir de mulher ou até mesmo ser um menino afeminado que simplesmente vai dar cima do primeiro que aparecer? É isso? Acho melhor você repensar sua noção de vida e mundo... E de fato você tá precisando mesmo de uma aulinha de cidadania.

– Vêm cá... Quem é você pra achar que pode falar comigo nesse tom sem nem me conhecer? – esbravejou ele.

– Eu que pergunto... QUEM É VOCÊ pra achar que sabe tudo sobre as pessoas? – rebati como um raio.

Encarávamo-nos bem de perto agora. Eu sentia a respiração dele exalando no meu rosto.

– Além de tudo é mal educado e pirracento! – exclamou ele.

– Grosso! Eu é que não vou ficar aqui ouvindo desaforo seu... Quer saber? Eu não vou viajar porcaria nenhuma! – falei tentando abrir a porta do carro, que pra minha má sorte estava trancada. – Droga! Abre que eu vou sair... – gritei.

– Não vai? Ah mais agora é que você vai mesmo... A Jennifer não me fez vim te buscar nesse fim de mundo, para você simplesmente resolver não ir...

– Fim de mundo? Ah! Mas é muito cara de pau mesmo... Você deveria se enojar desse seu pensamento hipócrita... Meu bairro não é fim de mundo não seu idiota! Você é que é um mimadinho que só por que voltou dos Estados Unidos, acha que é a última bolacha do pacote... Vai se ferrar... SERÁ QUE DÁ PRA ABRIR A DROGA DA PORTA? – falei empurrando á porta que se abriu na mesma hora.

Saí em disparada pelo meio da rua, querendo chorar... Bater em alguma coisa... Enfim... Tudo de ruim. Só que o desgraçado fez a volta no carro e me seguiu enquanto eu andava apressado pela avenida que levava para minha casa.

– Para de show e entra logo nesse carro garoto... Eu não tenho o dia inteiro...

– Vai pro inferno... – cantei.

– Tudo bem... Já que você quer assim... Eu vou embora, mas vou levar sua mochila pra mostrar pra Jennifer que a escolha foi totalmente sua... E não minha... Você que sabe? – falou ele despreocupadamente.

Aí que droga! A mochila... Minhas roupas para a virada... Meu celular... Meus fones... Meus documentos... Meu sapato novo... Todas as minhas coisas. Fodeu! Ele me tinha nas mãos... Filho da mãe! Parei de andar e olhei pra cara do canalha. Como ele estava dirigindo bem devagar, ainda tentei abrir a porta de trás, mas infelizmente estava trancada.

– Me entrega minha mochila, agora! – ordenei, sabendo que seria em vão.

– Vêm pegar então? È só entrar no carro e pegar! Tem medo de mim? – ironizou ele.

– Eu não tenho medo de você... – deixei claro.

Desisti da luta de egos e me dei por vencido. Fiz a volta e abri a porta da frente... E foi no momento exato em que eu entrei que ele me puxou e fechou á porta. Deu á partida no carro e dirigiu velozmente pela estrada, sem nem me deixar colocar os cintos de segurança. Segurei-me com todas as minhas forças com o impulso do carro e estanquei ali mesmo. Foi tudo tão rápido que eu não tive nem tempo de gritar. Agora eu entendi como é um sequestro de verdade...

– Pronto! Agora é só abrir á porta e sair... Só digo uma coisa: Não me responsabilizo por nenhum dano se você pular... E pode acreditar... Eu tô falando muito sério. – disse ele e voltou seu olhar para frente, com uma cara bem brava.

O carro saiu em disparada e eu só consegui me morder de ódio. Eu não poderia abrir a porta e pular. Não daria esse gostinho para esse idiota. Ele ia ver o que eu ia fazer com ele quando chegasse lá. Não existia mais encantamento e nem desejo. Só repulsa. Mesmo que lá no fundo, um tesão sem precedentes me corroesse vorazmente. Aí que inferno... Tudo que eu queria agora era poder ouvir nos últimos volumes possíveis (All That – Carly Rae Jepsen). E ainda tinha gente que duvidava de eu não ser gay com esse gosto musical... Mereço mesmo viu.

Continua...

Comentários

Há 4 comentários.

Por Jeffs em 2017-02-13 10:04:57
As vzs as aparências enganam.
Por Anjo perdido em 2016-03-01 17:05:14
Uma boa história de amir sempre tem uma pitada de ódio e a sua é justo bem no começo, ficou bem criativa e irônica a escolha
Por Um alguém em 2016-03-01 10:36:55
Kkkk que balde de água fria, kk, muito bom, continuaaa!!
Por Hp em 2016-03-01 09:25:46
Continua... muito bom , me diverti penkas kkkk 😂😂