Capítulo 17 - Do Céu Ao Inferno

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

Meus passos carregavam o peso da coragem que me faltava. Se Wallace não tivesse segurado minha mão, eu, provavelmente, daria pra trás. Mas, lá estava ele. Firme. Seguro. Determinado. Levando-me para o seu mundo. Eu sabia no que estava me metendo... E não podia tropeçar... Muito menos desistir. Esse era o preço de tê-lo. O cara da minha vida vinha com uma bagagem, que eu teria que aceitar, se quisesse amá-lo. Eu queria tanto ter alguém... Amar alguém... Ser correspondido por alguém... E agora, finalmente, tinha conseguido realizar esse sonho. Só não seria tão fácil, como eu esperava que fosse. Até pra ter um relacionamento, com quem quer que seja, tem lá os seus imprevistos.

As portas do grande casarão se abriram e nós dois entramos. Wallace e eu, mesmo apreensivos, nos jogamos no que quer que fosse ser o nosso destino. O medo não podia transparecer. Nem iria.

– Mãe? Pai? Jennifer? – chamou ele, caminhando pelas salas, comigo do lado.

Meu coração só faltava sair pela boca. Já imaginava a cara que eles fariam, ao me vê de mãos dadas com Wallace. Da cozinha, uma voz feminina, respondeu:

– Aqui, seu Wallace.

Ao chegarmos à cozinha, encontramos a empregada, cozinhando em várias panelas ao mesmo tempo. Ela aparentava ter uns cinquenta e poucos anos. Era uma senhora baixinha, morena, de cabelos cacheados e sorriso simpático.

– Bom dia, Nena! Cadê todo mundo? – perguntou Wallace, soltando-me pela primeira vez, e destampando as panelas. O aroma me deixou com a barriga roncando.

– Seus pais, foram pra cidade. Já seus irmãos, estão na praia. Acabaram de sair. – disse ela, sorridente.

– Ótimo. Então, temos a casa só pra gente. – disse ele, piscando pra mim.

– Olá! Você é o garoto que se acidentou, não é? Está tudo bem com você? – perguntou-me Nena.

– Sim... Obrigada. – respondi.

– Alef, acabou de sair do hospital. Tá meio zonzo ainda... Mas vai ficar melhor. – disse ele, piscando pra mim, fixando seu olhar no meu na frente de Nena. Sorri sem graça.

– Com fome? – preocupou-se ela.

– Um pouco... – menti.

– Mentira! Ele só tá sendo modesto. Deve tá morrendo de fome... A comida daquele hospital, não era nada legal. – disse Wallace, sarcástico.

– Wallace! – repreendi-o.

– Mas pode deixar comigo, Nena. EU vou fazer um café da manhã especial pro meu futuro namorado. – disse ele, abrindo a geladeira.

Fiquei branco. Ele estava sendo incrível á cada momento das nossas primeiras horas juntos. Eu queria beijá-lo, mas me contive. Nena abriu a boca, chocada. Amiga, não era só você. Eu também estava. Aquele dia tinha começado triste, e olha só pra agora.

– Bom... Você não podia ficar em melhores mãos. – disse Nena, sorrindo pra mim e voltando para o fogão.

– É... Eu sei. – falei.

A música (Lost On You - LP) começou a tocar no meu inconsciente. Sentei numa cadeira e o observei cozinhando. Wallace pegava coisas e mais coisas, dominando muito bem o que ele fazia de melhor. Ele amava cozinhar. Nunca esqueci a sobremesa que ele fez pra mim, logo no primeiro dia aqui. O mais engraçado era que enquanto ele fazia meu café da manhã... Olhava de esguelha pra mim... Depois olhava nos meus olhos e desviava... Sorria... Os olhares furtivos continuavam... Ele fazia de novo... Eu sorria... E não conseguia tirar os olhos dele... Nem por um segundo. Sabe quando você gosta tanto de alguém, que ela simplesmente, te hipnotiza. Foi bem assim.

– Eu não vou conseguir me concentrar, com você me olhando, Alef. Cara, você me desconcentra. – disse ele, sorrindo sem jeito.

– O problema é que você é lindo demais. Não dá pra resistir. Mas, se isso te incomoda... – digo levantando-me. – Será que eu podia tomar um banho, antes?

– Claro, só que suas coisas estão no meu quarto... – disse ele.

– No seu quarto? Por quê? – pergunto surpreso. – Será que não seria melhor eu... – começo, mas sou interrompido.

– Como vou cuidar de você, de agora em diante, você fica no meu quarto. A não ser que você queira ficar sozinho... Sem mim. – disse ele, baixando o olhar.

– Não. Acho que posso me acostumar a essa ideia.

– Então, fechou. – disse ele, alegrando-se.

– Ainda sabe o caminho, não é? – pergunta ele, malicioso.

Aceno com a cabeça e no momento em que me viro pra sair, ele aparece por trás de mim e me toma nos braços.

– Me espera lá! – sussurra ele, dando um beijo molhado na minha nunca, e voltando para o fogão.

Esquentei.

...

As salas e cômodos da casa estavam vazios. Tudo era silencioso. Subi todo sorridente e caminhei para o quarto dele, no segundo andar. Ao chegar à sua porta, parei. Lembrando-me de uma coisa. Quando cheguei aqui, a primeira porta que bati foi a dele, achando que era o quarto da Jennifer. Olha só agora. Eu estava entrando no quarto de Wallace, não por engano, mas sim, por vontade. E pra ficar. Abri a maçaneta e logo senti seu cheiro maravilhoso. Olhei ao redor. Ele dormia ali. Deitava ali. Era mágico estar num lugar aonde alguém que a gente amava vivia. Todo detalhe era uma surpresa. Saber como ele dormia... O que tinha no quarto dele... Eram perguntas que eu sempre me fazia. Você aí? Será que não se pergunta como é o mundo da pessoa que você ama? Como ele se veste... Se ele é bagunceiro ou arrumado... Como são suas coisas. Pois é. Eu estava realizando esse sonho: Conhecendo o mundo de Wallace.

A cama dele era enorme. Estava forrada e cheia de travesseiros. Uma janela, com vista pra praia, dava claridade ao ambiente. Existia uma cadeira estofada, com algumas roupas dele, jogadas. Sapatos e chinelos, esparramados no chão. Um ipod e um livro surrado, na mesinha de cabeceira. Alguns comprimidos e uma jarra de água.

Num canto, perto do guarda-roupa, tinha uma mesinha, com alguns papeis cheios de anotações pessoais. Não li nada. Não seria um bisbilhoteiro. Sabe, ele parecia normal. Normal demais. Às vezes, a gente cria toda uma ilusão em cima de uma pessoa... Para no final, descobrir que ele é só uma pessoa, e não a imagem que a gente cria. Muitas vezes, nossas fantasias nos levam longe.

Encontro minha mochila e meus pertences, em cima do armário de roupas. Fecho a porta e sigo para o banheiro. Ele tinha um banheiro só pra ele. Limpo e bem espaçoso. Tiro minha roupa. Abro o Box de vidro e ligo o chuveiro. Fico debaixo daquela água quente e esqueço o tempo. Tendo cuidado com minha cabeça, deixo a água lavar meu rosto e levar todas as minhas inseguranças e medos.

...

Ao sair do chuveiro, enrolo-me numa toalha, e enxugo-me. De repente, ouço uma música, bem baixinho. Não reconheci a melodia, que um dia se tornaria nossa música, mas descobri logo depois. Tocava (Fall In Love - Barcelona) no ipod de Wallace. Abri a porta do banheiro e para minha surpresa, já o encontro á minha espera. Wallace está deitado na cama dele, totalmente nu, com uma bandeja recheada de comidas no colo. Sabe aquelas fotos de deuses gregos despedidos... Era ele. Ok. Eu não estava preparado para isso, agora. Mas... Só a visão daquele arcanjo na minha cama, me faz perder todos os sentidos. Ele olha pra mim, dos pés a cabeça, e levanta uma sobrancelha. Coça o queixo e avalia-me. Eu apenas fico parado. Estaticamente.

– Uau! Wallace, o que é isso? – pergunto, pasmado com tudo aquilo. Cheguei a ficar tonto. Juro.

– Gostou? Tudo pra você! Só acho que seria melhor, você começar por essa bandeja. Eu posso esperar. Quando eu começar, vai ser difícil parar, então. É bom você se alimentar. Nós temos um longo dia, Lef. – disse ele, chamando-me por um apelido carinhoso.

Aproximo-me devagar, apreciando sua surpresa. Engulo em seco.

– Caramba. Você fez tudo isso pra mim? – indago, estagnado com tudo aquilo.

– Sim. E farei muito mais... – disse ele, tentando entender minha expressão. – Achou exagerado? Poxa... Eu exagerei, né? – desculpou-se ele.

– Não. Ei... Tá perfeito! Tudo isso... Obrigado. De verdade. – afirmo emocionado.

Cara! Eu estava vivendo mesmo esse momento? Como eu poderia ter tanta sorte?

– Ei... Não precisa me agradecer. Só de ter você aqui, já é motivo pra eu agradecer e não você. Agora, senta aí e devora tudo. Quero você bem alimentado. – disse ele.

Ele afasta a bandeja, pega minha cintura, e me faz sentar no colo dele. Um calor me envolve e começo á suar. Ele não estava excitado, mas eu estava começando a ficar. Tentando mudar o clima, falo:

– Esperai... É tudo pra mim? Você tá maluco. Eu não vou comer tudo isso, Wallace.

Olho para meu cardápio. Torradas, panquecas, presunto, queijo, geleia, uma xícara de café com leite, suco de laranja e uma tigela de salada de frutas. Sem falar na pequena decoração, com talheres, lenços e um lindo vaso de flores amarelas. Cara. Era tudo perfeito. Eu amo aquele cara. Com força.

– Não seja por isso... Eu te ajudo a comer. – diz ele, pegando uma torrada com geleia e comendo. Ele coloca a mesma na minha boca e nós dois sorrimos, devorando cada especialidade daquela bandeja.

...

Estou sentado, confortavelmente, no meio das pernas cabeludas de Wallace. Dá pra ter noção? Ele me observa, enquanto eu como. Sem graça, tampo seus olhos, só que ele pega minha mão e começa a morder meus dedos. Como um animal feroz e rabugento. Sorrio com medo do meu devorador. Suas mãos grandes e lisas fazem uma bela massagem nos meus ombros. O calor do corpo dele emana no meu. Ele está quente. Muito por sinal. Bebo um pouco mais do suco de laranja, quando de repente, Wallace começa a chupar meu pescoço... Suspirando... Provocando... Mordendo-me levemente... Suas mãos descem pela minha barriga e apertam minha virilha... Massageando... Incitando-me... Até que chegam ao meu pênis, e não param por aí... Ele desce mais fundo e os arrepios me explodem... Estremeço com sua ousadia... Seus dedos são ágeis e fugazes... Atiçando... Fazendo uma cosquinha gostosa... Ele quer me abrir... E eu deixo... Sua língua passa pela minha orelha e sua boca se fecha nela... Ele sussurra: “Morde meu braço... Me chupa... Eu quero sentir tua boca...”, pede ele. Obedeço e mordo seus músculos de ursão. Quando dou por mim, estou fervendo. A boca dele começa a invadir meu queixo. Viro-me pra ele. Prendendo minhas pernas no seu quadril. Fico por cima dele. Passo os braços pelo seu pescoço e encosto meu tronco no seu peitoral encorpado. Ele fixa seu olhar em mim e me faz suspirar, com seus dedos na minha região genital... Gemo de prazer... Wallace invade minha boca, numa fúria descontrolada. Agarro seus cabelos perfeitos e o puxo pra mim com mais força. Minha toalha some. Estou completamente exposto. E ele mais ainda.

O beijo se intensifica. Ele movimenta seu corpo no meu... Esfregando... Bruscamente, o jogo na cama e começo a chupar seu pescoço, enquanto minha mão desce ao seu pênis... O seguro com força. Ele se surpreende e geme. Puxo e aperto. Ele geme e pega na minha bunda com uma só mão. Sua pegada é forte o bastante para me tirar do eixo. Grito. Ele acaricia minha bunda... Minha boca puxa o bico do seu peito... Mordo... E mais uma vez ele geme. Desço meus lábios... Com seus pelos pubianos, roçando na minha língua. Se ele queria ficar molhado... Eu o deixei ensopado.

Wallace me pegou com força e dessa vez ficou por cima de mim... Na posição papai e mamãe, ele esmagou seu corpo no meu, preparadíssimo, para uma penetração profunda.

– Você vai com calma. – digo.

– Sempre! – disse ele, pegando a camisinha e rasgando o envelope, rapidamente.

Ele estava ansioso. Eu mais ainda. Só que ele me provocou. Colocou a camisinha e ficou me pressionando contra ele. Beijando-me com selvageria... Até que eu pedi:

– Agora... Por favor! – peço.

– Eu não prometo parar... – avisa-me ele.

– Não quero que pare... Só quero senti-lo... AGORA. – murmuro em transe.

Na sua boca, sinto seu hálito quente, com o gosto de um café adocicado e fresquinho. Ele não me tortura mais naquele vai e vem, e acaba entrando com tudo. Agarro suas largas costas e cravo minhas unhas na sua pele. Ele grita. Sorrio em êxtase. Tanto por ele, quanto por mim. Wallace se aprofunda cada vez mais no meu corpo... E eu só quero que ele continue. Se ele quer mergulhar no meu interior, que venha.

...

Algumas horas depois... Acordei nos braços de Wallace. Seus braços me prendiam. Eu poderia ficar assim, mas o calor daquela tarde estava de matar. Estávamos tão suados e pegajosos, que o lençol se ensopou. Acordei-o, alisando sua orelha. Beijando seu queixo. Quando finalmente abriu os olhos, fechou-os de novo e gemeu, me abraçando, preguiçosamente.

– O que, Lef?

– Que tal um banho? – pergunto.

– Não... Eu não quero levantar agora... – disse ele, manhosamente.

– Nem eu... Adoraria ficar aqui pra sempre, mas precisamos fazer isso agora. Tá muito calor aqui. – declaro.

– Liga o ar... Abre as janelas, sei lá... – responde ele.

– A gente tá suado, Wallace. Isso tá me incomodando... Parece que caímos numa tigela de doces... Tá pegajoso. – falo.

– Tá... Ok. Você venceu. Mas, só porque hoje eu tô muito feliz e bonzinho... Vêm. Vamo tomar um banho juntinho. Eu sei que era isso que você queria. – disse ele.

– Quero mesmo!

Levanto-me da cama e ele fica. Puxo suas cobertas e deixo sua bunda empinada á mostra. Ele bufa e joga um travesseiro em mim. Faço cócegas nos seus pés. Ele levanta-se bruscamente e caminha feroz na minha direção. Há muito tempo não o via tão bravo.

– É melhor você correr... Agora você me irritou. – rosnou ele.

Começo a rir. Corro para um lado. Mas a montanha me persegue. Grito assustado. Ele avança com tudo. Só seus braços já teriam me pegado, mas ele gostava do joguinho de ficar me perseguindo. Consigo correr para o banheiro e ele me pega por trás. Seus braços me fecham completamente, enquanto me debato. Eu estava adorando aquilo.

Wallace me arrasta para o chuveiro e o liga. Para meu descontentamento e até alívio, a água está geladíssima. Debato-me contra ele e o puxo comigo. Ele estremece. Aquele corpão de gigante, cheio de pelos, nem devia sentir frio.

– Eu não tenho medo de água gelada. Muito menos de você. – desafio-o.

– Ah não? Vamos ver se não vai ter agora. – vocifera ele.

Wallace começa a fazer cocegas na minha barriga. Grito, sorrindo... Canso e peço para ele parar... Na mesma hora, seus lábios se encaixam nos meus. Abraço-o e ficamos embaixo de uma água fria do caralho. Esquentando apenas, com o calor dos nossos corpos. Subo em cima dele e reacendemos nosso fogo.

...

Eram umas duas e meia da tarde, quando terminamos de almoçar, só nós dois, na grande mansão. Exausto, convidei-o para a rede, mas ele recusou.

– Preciso fazer uma coisa... Na cidade. – disse ele, quebrando nosso clima de (Casal em lua-de-mel).

– Agora? – indago.

– Sim...

– Posso ir junto? – pergunto.

– Hum... Não.

– Por que não?

Não que eu já quisesse virar um grude nele, mas sei lá, ficar sozinho, sem ele ali... Era torturante. Queria ficar com ele mais e mais, até enjoar... O que, de fato, nunca aconteceria.

– Surpresa é surpresa. Além do mais, acho melhor mesmo eu fazer isso agora, porque se eu me trancar com você naquele quarto de novo, não sei o que sou capaz de fazer e muito menos de que hora vou sair dele... Você, praticamente, me transforma num ninfomaníaco, sabia? – revelou-me ele.

– Ah tá! Você que pensa... Mas, sério? Tem mesmo que ser agora? – insisto.

– É rapidinho. Volto num pulo. Prometo. Vai ser por você.

– O que você vai fazer?

– No momento certo, você vai saber. Calminha aí. – responde ele, pegando o meu rosto entre suas mãos e me beijando ternamente.

Abracei-o e o beijei. Ele se despediu de mim e foi para a garagem. Seu carro saiu pelo portão. Ele buzinou e foi embora. Um vazio, já se instalava no meu peito, sem ele ali comigo. Caminhei para o terraço, perto da piscina, e me sentei na enorme rede. Uma brisa fresca fazia ondulações, na água azulada da piscina. Fechei os olhos e me balancei. Um barulho estranho na casa me fez abrir os olhos. Alguém, além dos poucos empregados, se encontrava ali. Quem, eu não sei. Ignorei e tentei cochilar. Esperava que Wallace não demorasse, mas, os minutos se arrastaram, até se transformarem em horas.

Horas se passaram... A tarde já estava quente como um forno. O sol estava de assar. E eu, completamente sozinho. Sentia-me abandonado... Até o instante, em que ouvi risadas e vozes ao longe. Olhei na direção da piscina e vi um grupo chegando da praia. Jennifer, Yumi e Otto me viram rapidamente.

– Finalmente! – exclamou Jennifer, indo na minha direção.

A minha melhor amiga, de cabelos roxos e góticos, me pegou pelo pescoço e me deu um grande abraço apertado. Tudo que eu precisava. Yumi e Otto se juntaram ao abraço. O abraço triplo foi apertado o suficiente, para me fazer gemer. Isso mesmo. GEMER.

– Gente... Calma, aí. Eu só fiquei ausente por dois dias. – falo, sem graça com aquele acolhimento repentino.

– Foi uma eternidade sem você, Alef! Parece que faz meses que a gente não se vê. – desabafa Jennifer, abraçando minha cintura. Você tá sozinho aqui? Cadê o Wallace?

– Ele precisou sair... – respondo, tentando parecer feliz.

– Fica triste, não. Ele volta. – consola-me Jennifer.

– Conquistou o bonitão, hein. – brinca Otto.

– Ontem á noite, Wallace deixou isso bem claro... – adianta Yumi, rindo.

– Muitos babados fortes rolaram depois que você foi para o hospital. – emenda Jennifer, levantando aquelas sobrancelhas de lápis.

– Imagino. – falo.

– Você fez falta pra caralho, viu. Nunca pensei que fosse sentir tanta tua falta. – diz Jennifer, me dando leves socos no braço.

– Sei bem... Mas valeu mesmo gente. Eu também senti falta de todos vocês. Foi uma loucura naquele dia na lancha... Desculpa por qualquer coisa. – falo.

– Que é isso, cara? Precisa de desculpa não! A galera aqui é meio esquentadinha mesmo. – disse Otto, condescendente.

– Foi um acidente. Mas que bom que você decidiu voltar. A gente tinha pensado que você ia voltar pra casa, por conta disso... – disse Yumi.

– Ele não estava nem louco de fazer isso. Eu falei pro Wallace: Se ele não vir, o traga amarrado. Aí, migo... O trauma que você passou, não foi em vão. Nós temos muita coisa pra te contar. Vamo subir? – pede Jennifer.

– Aí, credo. Deixa o garoto respirar. – reclama Yumi. Jennifer á cutuca.

– Que boné é esse? Tira isso pelo amor de... – diz Jennifer, retirando meu escudo e vendo minha catástrofe. Chocada, ela só faz olhar.

– Caralho! – espanta-se Otto.

– Aí meu Deus... – grita Yumi.

Pego o boné e o coloco de volta.

– Acho melhor isso ficar aqui. Não tá nada bonito aqui em cima. – alerto.

Um carro com um som um pouco alto chega pela garagem. Saulo e Alexandre (Meu agressor, menor de idade), saem animados do carro e nos encontram. Alexandre empalidece ao me vê.

– Oi, Alef. Espero que você fique bom logo. – diz ele, numa frieza aguda pra mim. Logo em seguida, se volta pro Otto. – E aí, Otto! Tá de pé aquela nossa partida, agora?

– Claro brother! Bom pessoal, a gente se fala mais tarde! – despede-se Otto. Dando umas tapinhas nas minhas costas e nas das meninas. “Mãos fortes da porra, hein, Otto”. Digo em pensamento.

Os dois correm para a sala de jogos e nos deixam.

Eu não esperaria amizade com o Alexandre, só porque ele me feriu gravemente. Na verdade, não esperava nada dele. Foi até um milagre ele ter dirigido a palavra pra mim. Tá! Que se foda! Era só um garoto de 14 anos que me odiava, por eu ser gay. Já tinha entendido muito bem o recado... Os pontos na minha cabeça latejaram nessa hora.

Saulo (O loiro oxigenado) avança em mim e põe a mão no meu ombro.

Surpreso. Apenas o encaro com desprezo.

– Desculpa qualquer coisa, cara. Sério mesmo. Foi mal. – diz ele, com um olhar entristecido e falso.

Tiro sua mão de mim e viro o rosto. Ele sai de perto de mim e corre até a piscina, aonde dá um pulo exagerado. Idiota. Ele estava pouco se lixando. Foda-se, Saulo e sua corja.

– Vem! Chega de clima tenso. – diz Jennifer, pegando a minha mão e a de Yumi, nos levando lá pra cima.

Subindo as escadas, falo:

– O Saulo é um idiota. Toda aquela briga, também foi por causa dele. E ele nem parece se importar.

– Aquele ali, não se importa nem consigo mesmo. Se ele se meter contigo de novo... Pode ter certeza. Segredos horrorosos serão expostos. Já o avisei. Ele pensa mesmo que eu não sei... Hum... Me aguarde. – diz Jennifer, misteriosa.

Eu e Yumi nos olhamos e ficamos calados. Quem porra ela sabia do Saulo? Que ele era gay, isso eu já sabia. Agora, o que mais tem?

– Só não vi uma pessoa. Cadê a garota que adora dá show? – pergunto, me referindo a Paty.

– A vaca tá presa no quarto, desde que você se acidentou. Não fala com ninguém e muito menos sai pra fora. – conta-me Jennifer, desprezando-a.

Os barulhos lá em cima. Era ela. Ainda bem que não tínhamos nos encontrado. Será que ela ouviu alguma coisa da minha manhã picante com Wallace?

– Também né amiga... O show que ela deu, berrando todas aquelas palavras. Atiçando ainda mais o acidente do Alef. O que você esperava? Ninguém iria querer papo com ela mesmo. Ela disse coisas horríveis na lancha. Deve está envergonhada. Mesquinha e fútil do jeito que é... Duvido muito que dê o braço á torcer. Ela nem pediu desculpas. – relata Yumi, enojada.

– Babaca. Aquela mal amada. Ela não tem nada haver com a vida do meu irmão. Você ouviu bem as coisas que ela disse? Eu quase esganei aquela sonsa. Quer saber... Que morra! – rebate Jennifer.

– Também não precisa de tanto né, Jennifer. – digo. – Eu só quero que ela fique longe de mim e do Wallace. Já é o suficiente.

– Tô com você, Alef. – diz Yumi, sorrindo.

– Ah, gente! Vocês gostam de fazer a linha “mocinha da história”. Eu sou realista. Ela foi mal. Cruel. Meu pai só não a mandou embora, em consideração. E se fosse, já ia tarde. Paty sempre foi maldosa. Aquela vaca me chama de gorda desde os meus quinze anos... Ah! Que se foda! – esbravejou Jennifer.

Rimos com sua ira inesperada e atravessamos o corredor, lá no segundo andar. Nesse momento, no meio do corredor, uma porta de abre. Uma garota sai do quarto. Paty. Os cabelos dela esvoaçam ao seu redor. Nós três, eu, Yumi e Jennifer, engolimos em seco. Paty estava pálida. Sem maquiagem alguma. Seca. Limpa. Os olhos inexpressivos. Ela não estava dormindo com frequência, percebi.

Paty engoliu em seco e sorriu. Sério? Não pode ser.

– Alef! – disse ela, correndo até mim e me dando um abraço.

Fiquei estático. O que porra ela estava fazendo? Gente! Aquela não era a Paty. Essa garota nunca me abraçaria. De jeito nenhum.

– Qual é a sua, garota? – pergunta Jennifer, fuzilando-a.

– Nossa! Eu sinto muito mesmo por tudo que eu te causei... Não queria que tivesse chegado á esse ponto. Você tá bem? Precisa de alguma coisa? Deve ter algo que eu possa te fazer. – oferece-se ela. Paty fazia gestos com as mãos, numa cara cheia de expressões desesperadas.

Choquei. Que jogo era aquele? Parou veado!

– Bom... Isso é novo. Paty, eu não preciso de nada que venha de você. Se você puder sair do meu caminho, por favor? – peço.

– Olha... Eu sei que eu pisei na bola, mas eu me arrependi. Sério! Não me importa o que você e o Wallace tiveram... Eu entendi. Não tá mais aqui quem falou. Eu só preciso do seu perdão... – diz ela, se ajoelhando na minha frente.

– Paty, para com isso! – digo horrorizado.

– Não! Eu preciso disso, Alef. ME PERDOA. POR FAVOR! – grita ela, fazendo o escândalo, que só ela consegue fazer.

– Perdoar você? Mas pelo o quê? Você não me deve nada. Para com isso... – falo, sabendo que ela me devia sim. Os transtornos da lancha não seriam esquecidos.

– Saí da nossa frente. AGORA! – exclama Jennifer.

– Ok! Isso tá estranho... – diz Yumi, perdida.

Paty começa a chorar bem alto e pronto. Fodeu!

– Vocês é testemunha da minha boa ação... Eu tô tentando mudar, caramba. Eu quero mudar. Mas antes, eu quero o seu perdão, Alef. Por favor! – berra Paty, segurando minhas pernas.

Wallace chega de supetão, carregando umas bolsas, mas ao ver aquela cena, solta tudo no chão e vêm até nós. Fodeu!

– O que tá acontecendo dessa vez? – pergunta ele, irritado.

– Wallace! Pede á ele o meu perdão! Só você pode fazê-lo mudar de ideia... – insiste Paty.

– Paty, o que você tá fazendo aí? Larga o Alef, AGORA! – ordena Wallace, segurando os braços dela, tentando tirá-la de cima de mim.

Paty se agarra e não me solta. É uma praga. Ela esperneia e chora. Jennifer grava o momento no celular. Já Yumi, se afasta assustada. Mais pessoas chegam para ver a cena. Os pais de Wallace (Dona Eliza e seu Eduardo) e a irmã mais velha dele (Érika). O circo estava armado. E mais uma vez, Paty dava show. Comigo, no centro de tudo.

– Que loucura é essa? – pergunta Eliza.

– Paty! Recomponha-se, pelo amor de Deus! – alerta Érika.

– Isso tá passando dos limites, Wallace. – esbraveja seu Eduardo. – Faça alguma coisa. Eu já estou cansado dessa novela. Agora mais essa? Inacreditável.

– PAI... – diz Wallace, fuzilando-o.

Seu pai sai furioso pelas escadas. Dona Eliza, balança a cabeça, contrariada e decepcionada com a atitude do marido.

– Por favor! Me perdoa! – grita Paty, enquanto Wallace á puxa.

Todo mundo me encara. Eu fico perdido. E agora? Falo rapidamente e acabo com isso:

– Tá! Tudo bem! Eu te perdoo Paty. Tá perdoado. Agora, para com isso. – falo, querendo me livrar dela.

– Você seria meu amigo? – pergunta ela, transtornada.

– O quê? – indago.

– Já chega! Vêm comigo, agora, Paty! – diz Wallace, finalmente, tirando-a de cima de mim.

Ela desmaia nos braços dele. Típico de Paty.

– Que louca! – diz Yumi.

– Vai pro Youtube, queridinha! – exclama Jennifer, animada.

– Leve-a pro quarto dela, Wallace. Agora! – pede Eliza.

Paty acorda e põe os braços ao redor do pescoço do Wallace. Que ótimo. Ela conseguiu o que queria. Wallace á leva nos braços e nos deixa. Mas não sem antes, olhar pra mim e fazer aquela cara de (O quê que eu vou fazer?). Segurei-me para não ter um acesso de ciúme. Aquela garota adorava fazer cena. Teria que ter cuidado.

– O quê que deu nela? – indago.

– Ciúmes. Aliás, bem vindo de volta, Alef. – disse Érika, piscando pra mim. Ela tinha os mesmos olhos de Wallace.

Ela e ele eram os irmãos mais velhos da turma. Sorri para ela e meio que me acalmei. Érika parecia ser legal.

– Será que você teria um momentinho pra falar comigo, Alef? – pergunta dona Eliza. Congelo. E agora? Fodeu de novo.

– C- Claro! Pode ser. – gaguejo.

– Jennifer... Eu preciso da sua ajuda! Vêm também, Yumi. Toda ajuda é necessária. – diz Érika, puxando as duas pela mão.

– Logo agora? – protesta Jennifer.

As três somem e eu fico á sós com minha futura sogra. Ela parece mais fria. Sinto isso, só pelo olhar dela. Aquela mulher que tinha me recebido tão amorosamente no começo, tinha sumido.

– Vamos para o terraço. É mais reservado. – convida-me Eliza.

Aceno com a cabeça e a sigo. Aí meu pai!

...

Sentei-me numa poltrona, de frente para ela, e tentei ficar o mais confortável possível. Mas não consegui. Sentia-me desconfortável com aqueles olhares dela. Eliza estava me desestabilizando, olhando-me da cabeça aos pés. Avaliando. Pensando. Até que ela começou:

– Você tá com medo de mim, Alef?

– Não senhora... Quer dizer, eu deveria ter? – pergunto.

– Não! Claro que não. Ei... Esqueceu que eu o conheço, desde a época em que eu achava que você namorava minha Jennifer? – diz ela, pegando minha mão. – Vocês dois não se desgrudavam, não é mesmo? Gostaria que as coisas tivessem dado certo pra vocês dois. É uma pena que não tenha funcionado.

Afasto minhas mãos dela.

– Dona Eliza... Eu e a Jennifer, nunca daríamos certos como dois namorados. Ela sempre foi como uma irmã pra mim. Eu gosto muito da sua filha e a respeito. Mas, é só isso. Sempre foi amizade. Nada mais.

– Entendo... Já o meu filho... Foi bem diferente, não é?

O que eu podia dizer?

– Olha... Eu não sei o que a senhora sabe sobre a gente, mas eu só quero dizer que eu gosto muito do seu filho. Na verdade, eu o amo. – declaro.

– Nossa! Isso emana nos seus olhos... Eu consigo ver isso no seu olhar. Se você queria me convencer, conseguiu. Você está apaixonado, não é?´- deduz ela.

– Como a senhora sabe?

– Já tive a sua idade... Sei muito bem o que você está sentindo... O calor no pescoço. A tremedeira sempre que ele está por perto. Isso sem falar no coração, quase saindo pela boca. Os olhares, Ah! Você sente tristeza, prazer e alegria ao mesmo tempo. Como se tudo se tratasse de vocês dois. O céu é o limite, não é? – perguntou-me ela.

Passado com suas descrições, apenas digo que sim. Ela sabia bem como eu me sentia. Seria isso um sinal positivo?

– É isso mesmo... Acho que até mais. – admito.

– Quantos anos você tem mesmo, Alef?

– 20.

– Hum... Ótima idade. E o que você faz? Cursando algum curso? Trabalhando? Vamos... Fale-me de você. – pediu ela.

Aquele momento em que você olha de lado, pensando: Fodeu. Ela quer minha ficha completa. E se eu não passar nessa avaliação oral? Gente, eu nem me preparei.

– Sim... Eu faço faculdade de jornalismo. Bom, foi minha segunda opção... Eu abandonei direito. – digo.

– Abandonou e foi para Jornalismo?

– Eu meio que encontrei o que eu realmente gostaria de fazer... Demorou um pouco, mas eu encontrei. – falei.

– Não atrapalhou suas metas? Planos?

– Não senhora. Muito pelo contrário. Aconteceu no momento certo. Eu me senti mais preparado. Acho que algumas escolhas tem tempo certo para serem feitas, sabe?

Ela levantou as sobrancelhas. Eu estava determinado á impressioná-la. Tentaria.

– Você é um garoto decidido, Alef. Gostei disso. Na hora de tomar uma decisão sensata, não dá pra trás. Meu sexto sentido estava certo sobre você. Foi por isso lhe chamei pra conversar... Diga-me... Você é assumido há muito tempo?

– Um bom tempo, sim... Por quê? – perguntei.

– E sua família? Como encara tudo isso?

– Minha mãe é uma mulher muito incrível. Ela ficou do meu lado, desde o começo. Nunca sofri nenhum preconceito dela.

– Seu pai? – quis saber ela.

– Eu... Eu não quero falar do meu pai... – respondi. – Dona Eliza... Aonde a senhora quer chegar?

– Wallace chegou pra mim ontem á noite, desesperado... Nunca o tinha visto daquele jeito... E ele me disse que estava gostando de alguém... No começo, eu pensei que fosse alguma nova namorada nos estados unidos... Até ele falar seu nome. Imagine o choque. Estávamos todos jantando. Eduardo quase enfartou. Já eu, nem me lembro de como saí da mesa. Foi uma surpresa... Inesquecível. Wallace gostando de VOCÊ. Ainda não acredito. Não sei. Meu filho é muito propenso á desastres. – disse ela. Tentei falar, mas ela não deixou. – O que estou querendo dizer, Alef, é que vocês dois juntos... Ainda é muito complicado de entender. Ok? Nada contra você. Mas, vamos combinar... Algo entre vocês dois, não bate, entende? Ele acabou de voltar pro Brasil. Nós estamos curtindo férias em família... Estamos nos acostumando à presença do nosso filho aqui conosco, após tanto tempo separados. E ter que aceitar isso, nesse momento, é muito difícil. Espero que você entenda a minha posição. E a do meu marido.

– Sim, eu entendi. Vocês não nos aceitam juntos. Tá bem claro, pra mim. – declarei tristonho.

– O que eu me pergunto é... Como poucos dias foram suficientes para vocês se encantarem tanto um com o outro? Se apaixonar em tão pouco tempo... Desculpe, mas acho que isso pode ser mais passageiro do que você pensa, Alef. Já me apaixonei antes... Amores de viagens, nunca dão certo. Essa chama apaga. Você é novo. Vai se formar, um dia. Conhecer lugares e pessoas. Viajar. Trabalhar. Acha mesmo que um romance desses... Pode ter futuro?

– Acredito em tudo, dona Eliza. Ninguém sabe de nada. A vida é uma surpresa. E daí, se eu tiver que viajar... Trabalhar... Se ele tiver que estar do meu lado, nesses breves momentos da minha vida, ele vai estar... A senhora acreditando ou não. Wallace é um cara sensacional... Tem seus defeitos, assim como eu tenho os meus, mas, eu não o vejo como uma aventura. Ele me ama. E eu o amo. – rebato.

A expressão dela fica fria. A pose gentil some. Um novo obstáculo estava surgindo. A mãe de Wallace. Pelo amor de Deus... Logo ela?

– Você acha que sabe tanto sobre ele... Será que ele te contou tudo sobre a vida dele? Já se perguntou isso? Wallace te contou tudo mesmo sobre a vida dele? Lá fora? Construindo sua vida... Seus sonhos. Você não sabe nada de nada, Alef. Você acredita demais na sua verdade e esquece o óbvio. Isso que você chama de amor e diz que “ama”, leva anos pra se construir e segundos pra se desfazer. Em que conto de fadas, você vive? Meu bem...

Levei uma... Duas... Três facadas com suas palavras.

– Eu não vou ficar aqui ouvindo isso... O que a senhora quer que eu faça, afinal? Deixe seu filho, por conta das suas “experiências falhas”. Eu não tenho culpa se não deu certo com a senhora... Sabe... Eu achei que a senhora fosse diferente. Pra seu governo, eu não vou ceder. A senhora acha que me falando isso, vai mudar o que eu sinto por ele? Está errada. Só aumentou ainda mais minha vontade de ficar com seu filho. – ataco.

– O que tu sente por ele? Qual o grau desse sentimento todo? Acorda rapaz. Há quantos dias vocês se conhecem? Três? Quatro? Como você pode ter certeza de que isso seja amor... Não se ama uma pessoa em tão pouco tempo. Conta outra. – contra-ataca ela.

– A senhora é que não sabe de nada... – falo, levantando-me da cadeira.

– Deixe essa casa... Vá embora! Eu tentei ser condescendente, mas parece que você está cego. Portanto, não quero você aqui. Já que você quer viver seu romancezinho patético e fake... Que viva na sua casa. Mas, na minha frente, nem pensar. Quantas pessoas você vai se apaixonar, na próxima vez que for á rua? Menino! Quem você quer enganar? Cresce. Te enxerga. – disse ela, enojada.

– Como é que é? Eu não sou esse tipo de pessoa que a senhora acha que eu sou... Quer saber? Acredita no que a senhora quiser. – falo.

– Interesseiro... Eu tenho nojo de pessoas da sua laia... Sonso mentiroso. Aproveitador! – gritou ela.

– A senhora não me conhece. Não pode me chamar dessas coisas... – advirto.

– Seu papinho de amor é só mais um golpe... FORA DA MINHA CASA! Você é um aproveitador... Conheço um de longe... Só que a mim você não engana. – esbraveja ela, empurrando-me fortemente.

Ela socou meu braço e me enxotou friamente. Era como se eu tivesse uma doença. Desequilibrei-me espantado com tudo aquilo. Como assim? Por que tanto ódio?

– Pare de me empurrar! – exclamo assustado. Além de insensível, ela era forte como um touro. Eu apenas deixei-me ser rebocado por ela. Não podia revidar isso. Nem em sonho.

– Fora da minha casa! – insistiu ela, jogando-me na grama do jardim.

Saulo veio correndo na nossa direção.

– O que tá acontecendo, Tia? – perguntou ele.

– Fora! Fora! Saia da minha casa ou eu chamo a polícia. – gritou ela furiosa.

– Você ouviu? Vaza! AGORA! Vai! – entoou Saulo, avançando, mas sem chegar perto.

Era impressionante a capacidade que a minha vida tinha de ir do céu ao inferno, quase que o tempo todo. Eu não podia ficar feliz, que a decepção sempre estava á minha espera. Parecia até uma corrida, para ver quem chegava primeiro... E pode acreditar quando eu digo que, felicidade e decepção, adoravam competir no quesito: Intensidade. Pra mim, mais uma vez, foi a gota d’agua.

O Arrasamento voltou. Meus olhos arderam... Eu olhava pra um lado... Olhava pro outro... Não conseguia rebater... Falar... Nem revidar á altura. Uma forte dor de cabeça se apoderava de mim, fazendo-me cambalear. Não escutei mais nada. Ela dizia coisas e mais coisas... Num xingamento eterno... Como se eu fosse a pior pessoa do planeta. Meu salvador não veio ao meu socorro... Afinal, não podemos ser salvos de tudo, não é mesmo? Quantas vezes eu interpretaria a donzela em perigo, esperando pelo seu herói? Chega um momento em que só nós, podemos nos salvar de nós mesmos. Pode ter certeza.

Valores, conceitos, sanidades e até seu próprio caráter serão postos á prova, a partir do momento que você entregar seu coração para alguém. Basta começar a gostar... Nós nos transformamos... Se antes você era frágil, se torna forte... Já os duros na queda, se tornam vulneráveis... Tudo muda... Tudo é um teste... E somente os mais capazes de suportar, vencem.

Enquanto eu andava zonzo pela grama do jardim, querendo ficar o mais longe possível dela... As lágrimas embaçaram minha visão... Mas continuei andando... O zunido no meu ouvido resvalou... Até que comecei a correr... Cheguei ao portão e o abri, saindo á passos pesados. A praia ficava logo depois da pista. Atravessei-a sem nem olhar para os lados. Ainda bem que nenhum carro passava, pois se eu tivesse que me acidentar de novo, aí já era pegadinha. Chego a areia da praia e começo a correr. Como se fugir fosse resolver alguma coisa. Bom, naquele momento resolveria. Detalhe: a praia estava deserta. Corri pela beira da praia, sem direção ou noção de onde estava indo. Apenas deixando o vento e a dor me levarem.

Continua...

Comentários

Há 2 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-02-25 23:07:41
Amado to bege com esse episódio...maravilhoso...esplêndido...estou apaixonada.😍😍😍😍😘😘😘😘
Por Depressivo em 2017-02-25 01:30:53
Poha lacrou com esse episodio