Capítulo 15 - Declarações

Conto de Sonhador Viajante como (Seguir)

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

“Um silêncio absoluto se estendeu... Minha visão, agora perdida e desfocada, anuviava-se numa poeira branca de fumaça... Queria abrir meus olhos... Ansiava por gritar... Mas estava preso... Trancado... Na eterna prisão do meu subconsciente. Tive a sensação de que fiquei assim, por mais ou menos uns mil anos... O vazio do nada torturava minha espera e me fazia perder as esperanças... Eu queria retornar, mas uma parte de mim, já tinha desistido... E eu não podia voltar pela metade... Precisava de mim inteiro... Completo! De repente, algo começou a inflar dentro de mim... E foi nesse momento, que eu senti minha sentença ser decretada... Meu corpo se encheu... Um peso desolador começou a me derrubar... Eu tentei resistir, mas não aguentei por muito tempo... A âncora do meu inconsciente puxou-me para baixo e afogou a única parte que ainda me restava... Entreguei-me e me tornei um eco.”

...

Caminhei confiante e determinado, por um longo corredor de mármore... Uma pressa absurda me fazia querer chegar logo... Aliás, eu estava perdendo a festa... Finalmente empurrei as largas portas de madeira, que davam vista á um lindo e espaçoso salão de dança... Por um momento, olhares de admiração me prestigiaram de todos os lados... A música (Promise – Ben Howard) tocava suavemente no ambiente... Vários casais deslumbrantes e bem vestidos dançavam apaixonados e agarradinhos... Por um momento me senti só... Olhei ao redor e todo mundo parecia estar acompanhado... O que eu estava fazendo ali, afinal? Não sabia ao certo... Mas eu queria estar ali... Resolvi zanzar ao redor do salão, para ver se encontrava alguém conhecido... E foi no meio de tantas pessoas desconhecidas, que o vi... Distraído e sozinho... A sensação voltou e junto com ela, minhas emoções.

Do outro lado do salão, Wallace esperava por alguém... É claro que não era eu... Um cara tão incrível e bonito daquele, nunca esperaria por mim... Quem seria sua amada? Onde estava sua sortuda... Pensei em ir lá falar com ele, mas me contive... Ele não falaria comigo... Balancei á cabeça conformado... De fato, ele nunca me veria no meio de tantas pessoas bonitas... Virei o rosto, após alguns segundos encarando um cara, que nem sequer tinha noção da minha presença... Quando ouvi um chamado... Paralisei e virei o rosto na direção da voz... Era ele... Que para minha surpresa, vinha até mim. Choquei... O que eu faria, agora? Não conseguia me controlar... Eu ia desmaiar.

– Alef... Você tá incrível! – exclamou ele.

– Obrigado! Você também tá muito bonito! – digo, olhando para baixo, ainda desacreditado que ele estava mesmo falando comigo.

– Eu estava esperando por você... – disse ele, cheio de expectativa.

– Por mim? Mas, por quê? – perguntei, estagnado.

– Porque eu quero dançar com você... Você me daria à honra? – oferece-se ele.

– Claro... Mas, você não se importa com as pessoas olhando?

– Porque me importaria? – perguntou ele, dando-me sua mão.

Peguei-a e deixei ele me levar para o centro do salão. Todos olhavam para nós e eu me sentia maravilhado... Eu ia dançar com o homem que eu amava... Era irreal demais. De frente um para o outro, ele colocou a mão na minha cintura e eu na dele... O globo de luzes, nas nossas cabeças girou, lançando luzes amarelas ao nosso redor.

– Eu acho que não sei dançar... – falei, com medo. – Você tem certeza de que quer mesmo dançar comigo?

Ele segurou minha mão com força e eu senti tudo se juntar... Apertei sua mão e ele sorriu. Ele era minha segurança... Minha força... Era como se todos meus pedaços se juntassem.

– Eu te ensino... – disse ele, começando a me abraçar e deixando nossos pés deslizarem pelo salão.

Dançamos por muitas horas... Eu me sentia num sonho bom demais, que para minha sorte, eu não acordava...

– Você precisa voltar... – sussurrou ele.

– Mas eu já estou aqui... Você tá aqui... Pra onde eu tenho que voltar? – indaguei confuso.

– Pra mim... Você tem que voltar... Volta... VOLTA! – disse ele, agora histérico e assustado.

Suas mãos me soltaram e ele saiu correndo pela multidão... Corri atrás dele, mas ele era mais rápido... O perdi e me desesperei... Eu não queria perde-lo... Por favor! Corri pelos corredores que me trouxeram ali e não o encontrei... Comecei a chorar e caí no chão... Uma dor lancinante abateu-se sobre minha cabeça e eu me vi gritando... Agonia... Dor... Desespero... E vazio... Trouxeram-me de volta.

...

Acordei com o som de vozes sendo sussurradas... Abri meus olhos, piscando e absorvendo a claridade de um quarto branco... De uma janela fechada, vi o dia clareando... Totalmente sem noção, tentei me mexer, mas as dores no estômago e na cabeça me fizeram parar. Deitado numa cama alta, apenas de pijama, encontrei-me num estado de entorpecimento. Aí meu Deus? O que tinha acontecido? Como eu vim parar ali? Senti uma pontada no braço e vi o pingo do soro do lado. Olhei ao redor e vi duas pessoas conversando de costas... Um homem alto e robusto ouvia atentamente, as palavras do outro estranho, que se encontrava de jaleco. Wallace e o médico. Ao vê-lo, não me contive de felicidade e chamei seu nome, ainda fraco:

– Wallace!

Ele se virou automaticamente, vindo à minha direção. Nossos olhares fixaram-se um no outro e meus olhos se encheram de lágrimas. Sua expressão de alívio e alegria era estampada, num rosto cansado e cheio de olheiras. Sua palidez demonstrava que ele provavelmente, não tinha dormido. Eu queria abraçá-lo... E desejava mais que tudo, beijá-lo. Mesmo com a aparência cansada, ele ainda conseguia ser mais bonito que o jovem doutor. Meu coração, de repente acordou e encontrou a chama, que sempre lhe aquecia. Suas mãos, macias e quentes, envolveram as minhas. Tentei me levantar, mas ele não deixou.

– Calma! Tá achando que vai aonde, hein? Pode ficar quietinho aí... – ordenou ele, autoritário e mandão.

Sorri, achando sua atitude fofa e um tanto protetora. Como eu ansiei ouvir aquela voz...

– Que lugar é esse? – pergunto confuso.

– Um hospital... Você se machucou e foi preciso vim pra cá! – responde Wallace.

– Nossa! Foi tão grave assim? – indago assustado.

– Sim, foi! Você ficou desacordado, Alef!

– Que dia é hoje? E que horas são?

– Domingo... São exatamente, seis e quinze da manhã. – respondeu ele.

– Como você se sente, meu jovem? – perguntou o doutor, interrompendo nossa conexão.

– Bem... Na verdade, inteiro! – digo, olhando fixamente para Wallace.

O doutor me examinou por alguns segundos e me fez umas perguntas básicas... Como meu nome, idade, onde eu morava... Entre outras coisas, que eu conseguia lembrar e dizer. Durante todo esse processo, Wallace não saiu de perto de mim, um só segundo, sempre segurando minhas mãos. Eu não via medo ou receio da parte dele... Ele não se importava com os olhares do médico, o vendo acariciar minha mão... Apenas se mantinha próximo e do meu lado.

– O que aconteceu? – perguntei, de repente.

– Você bateu á cabeça! Foi um corte pequeno, mas te fez perder a consciência por horas... Cara, eu fiquei maluco te vendo naquele estado! Mas graças á Deus, tá tudo bem agora e você vai se recuperar, está bem? – tranquilizou-me Wallace, acariciando minha bochecha.

Os toques dele se tornavam cada vez mais sinceros e carinhosos... Sua atitude era surpreendente... Onde estava aquele Wallace distante, que sempre ficava longe de mim, na frente dos outros? Pelo visto tinha ido embora, pois aquele ali era o Wallace de verdade... Aquele que não se escondia... E que sempre me via no meio da multidão... Esse era o original!

– Eu só me lembro de cair... E tudo ficar escuro. – digo, sentindo um enjoo repentino.

– Isso é um tanto normal... Suas memorias voltaram mais claras logo, logo! – disse o doutor.

– É! Vai ficar tudo bem, agora! O Dr. Leandro só quer que você fique em observação, por mais dois dias... – observou Wallace.

– De repouso absoluto, viu? – completou o doutor.

– Pode deixar doutor! Ele não vai á lugar algum... Eu não vou deixar! Nesses dois dias eu serei seu guarda-costas! – disse Wallace.

– Ah, não! Wallace, eu não vou querer dá trabalho á você... – falo.

– Só se eu tivesse louco de te deixar aqui, sozinho! Nem pensar! Eu vou cuidar de você, querendo ou não! – disse ele, muito convicto do que queria.

– Tem certeza? Eu vou entender se você não quiser ficar...

Ele balançou a cabeça, inconformado, e pegou meu rosto entre suas mãos. Senti sua intensidade e seus olhos ficaram á centímetros dos meus. Toda vez que eu ficava tão perto dele, sentia-me como se estivesse numa ilha, sem nada e nem ninguém a nossa volta.

– Você não tem ideia de como eu fiquei preocupado contigo... Nunca pensei que fosse querer tanto, olhar de novo para esses olhinhos inocentes... Alef! Foram as horas mais difíceis de toda minha vida! Eu não quero e nem vou me afastar de você! Entendeu? – admitiu ele, com os olhos brilhando.

Chocado com suas palavras, comecei a chorar de novo e ele me abraçou. O médico já tinha se afastado da cama e anotava algo num papel.

– Desculpa... Desculpa! Eu não queria que isso acontecesse... – disse Wallace.

– A culpa foi minha... Você não teve culpa, tá legal... Eu que fui um burro de... – digo, rapidamente e ele me interrompe.

– Ei... Não se culpe! Ouviu? As coisas saíram de controle e aconteceu... Eu sou o culpado, porque eu te meti nessa roubada... Foi por minha causa! Se eu não tivesse te chamado pra aquele passeio, isso nunca teria te acontecido... – disse ele.

– E se você se prejudicar? A Paty e o Alê, contaram alguma coisa? – perguntei.

– Não! EU CONTEI... Já devia ter feito isso há muito tempo. – revelou-me ele.

– Por quê? Eu pensei que...

– Por sua causa! Eu não vou esconder mais o que eu sinto por você, Alef. Eles vão ter que entender. Que se dane o resto! Tudo que importa tá aqui na minha frente... E é você! Só você! – revelou ele, fixando um olhar penetrante para mim. – Eu vou te beijar na frente do médico e não tô nem aí... Posso?

– Por favor! – pedi, extasiado de amor.

Ele beijou delicadamente minha boca, que se encontrava com um pequeno corte nos lábios. O beijo foi tão delicado, que eu mais parecia um ser frágil demais. Na verdade, eu era... Sempre tinha sido.

...

Eu tinha levado três pontos na cabeça, sofrido um corte no lábio e uns pequenos machucões na barriga. Mas no geral, eu estava muito bem! Ficaria no hospital durante dois dias... E nesse tempo todo, Wallace, tinha se transformado no namorado que eu sempre sonhei ter. Os comentários, entre os enfermeiros, eram de que ele era meu anjo da guarda. E era mesmo!

Wallace tinha feito questão de pagar todas as despesas, remédios e tudo o mais de que eu precisasse. Só a companhia dele já dispensava todo e qualquer tipo de remédio. Toda vez que a porta do quarto abria, eu ficava curado, pois era sempre ele... Eu e Wallace, estávamos mais próximos do que nunca... Numa sintonia mágica e incrível demais para ser verdade. Eu ainda suspeitava que estivesse sonhando.

Minha mãe tomou um susto, quando ligaram para ela... Veio me ver no domingo de manhã aos prantos, mas assim que viu o guarda-costas do meu lado, ela tinha ficado mais aliviada. Abracei-a com força e até chorei... Se tivesse acontecido algo grave comigo, ela ficaria arrasada.

Jennifer, Yumi, Otto, Saulo, os pais do Wallace e até o Alexandre, vieram me ver pela tarde, daquele mesmo dia.

– Aí amigo! Eu fiquei louca quando te vi desacordado... Pensei que você tivesse morrido! – disse Jennifer, dando três batidinhas na parede.

– O Wallace ficou muito mais... O cara te tirou da água num desespero só! – disse Otto.

Olhei para Wallace, que estava conversando com seus pais, perto da janela. O meu homão, vestia uma jaqueta marrom, com uma camisa branca por baixo. Ele parecia um modelo pronto para desfilar. A calça jeans escura, um pouco apertada, definia a bunda maravilhosa no seu corpo. Os cabelos molhados, penteados para trás e o rostinho de bebê lisinho e barbeado, deixavam-no com um ar angelical. Como eu amava aquele cara... Acho que me apaixono por ele toda hora... É normal, isso?

– Verdade! Todo mundo enlouqueceu... Ainda bem que foi só um susto, né? – disse Yumi, abraçada no Otto.

Alexandre tinha me pedido desculpas, formalmente, na frente de todo mundo. Wallace o encarava com desprezo, e eu o repreendi por isso... Afinal, era só um garoto e ainda por cima irmão dele.

Os pais dele me trataram muito formais e educados, e eu até estranhei, pois esperava ser apedrejado ou pior. Mas nem parecia que eles sabiam de alguma coisa... Ninguém se sequer tocou no assunto. Ainda bem! Já os irmãos, Saulo e Paty, foram bem objetivos e não vieram me visitar, graças á Deus!

Depois de todas as conversas e palavras gentis, todo mundo foi embora... Anoiteceu lá fora e finalmente ficamos sozinhos. Wallace deitou na cama, e me abraçou pelas costas... Aconcheguei-me á ele e senti seu cheiro maravilhoso. Ele cheirava á colônia, que sempre me fazia delirar. Passando o braço pela minha cintura, estávamos prontos para dormir de conchinhas. Pousei a cabeça no seu ombro e me senti o cara mais feliz do mundo. Seu queixo, sem pelos, acariciava meu pescoço.

– Gosto quando você fica sem barba... É tudo tão lisinho e não faz cócegas. – enfatizo, sentindo sua pele cheirosa.

– Ah, é? Quer dizer então que você tem cócegas... – disse ele, beijando meu pescoço levemente e acarinhando-me com sensualidade.

– Adoro esse seu perfume, sabia? Desde que a gente se conheceu... Acho que me apaixonei pelo seu cheiro. – digo sorrindo e ele rir também.

Sua risada é doce, pura demais para ser humana... Ele me aperta ainda mais nos seus braços e eu sinto um calor gostoso no corpo.

– Antes da gente se conhecer... Eu acho que já te vi... Uma vez. – sussurra ele, no meu ouvido.

– Onde? – espantei-me, virando meu corpo e ficando de frente para ele.

– Você não me viu, mas eu te vi... Eu lembro... Você era bem diferente. – disse ele, erguendo as sobrancelhas.

– Tá me chamando de velho? – pergunto, estreitando os olhos. Ele rir da piada.

– Não velho, mas mais inocente... Não sei... Naquele dia, eu vi pureza no seu rosto... Como se você nunca tivesse amadurecido, entende? Sou meio louco, eu sei! – envergonha-se ele.

– Como assim?

– Ok! Entenda dessa forma: Antes, eu te vi como um garoto e hoje eu te vejo como um garoto, só que com olhar de homem!

– Olhar de homem? – indago.

– Tipo isso: A pureza de antes sofreu seu amadurecimento de hoje... Como se você enxergasse não só esse pontinho, mas muito mais além... E até mais verdadeiro! – disse ele.

– É assim que você me vê? – pergunto, fascinado com sua analogia.

– Toda vez que eu te olho, eu sempre vejo verdade em você... Isso é raro nas pessoas, mas em você é normalmente explícito... Esse é um dos fatores que me faz ser 100% eu, quando estou contigo! – declara ele.

– Sério? Que bom que eu te faço ser você! – digo emocionado. – Ninguém nunca me descreveu dessa forma... Quando foi que você me viu? Me diz? Aonde foi isso?

Eu estava tão encantado com suas declarações, que por um momento me imaginei casando com ele. Surreal, não é?

– Você alguma vez já foi fazer trabalho escolar, no quarto da Jennifer?

– Duas ou três vezes, sim...

– Eu não lembro que dia ou mês era, mas uma vez eu liguei pra Jennifer, numa chamada de vídeo pelo Skype... Lembro perfeitamente que ela atendeu na mesma hora... Ela estava deitada na cama, enquanto você estava sentado numa mesa, de cabeça baixa, rodeado por mais duas meninas... Vocês deviam tá no primeiro ano... Quando eu vi que tinha ligado na hora errada, as duas meninas acenaram pra mim, enquanto a Jennifer explicava que vocês estavam fazendo um trabalho de química ou era geografia? Não sei... Você foi o único que não levantou á cabeça... Parecia concentrado e dedicado... Não dei bola... Conversei por dois minutos com a Jennifer e já no final da chamada, você levantou e trouxe uns papeis para Jennifer ver... Foi quando eu te vi... No momento em que você chegou perto da Jennifer, nossa chamada encerrou... – relatou ele.

Horrorizado com sua revelação... Senti-me entorpecer... Como assim? Gente! Ele já tinha me visto... Lembrei-me daquela época... Cara! Parecia até que tinha sido ontem... Eu ainda não tinha me assumido... Era tímido e fechado... Sério demais para ser simpático... Um tempo complicado, mas também, revelador. Por que eu não tinha olhado para ele? Eu era muito besta mesmo.

– Caramba... Eu me lembro desse dia... As meninas só falavam no “irmão da Jennifer”... Eu nem te achava lá essas coisas... Só tinha visto uma foto tua, num porta retratos e você devia ter o quê? Dezessete ou dezoito anos... Poxa! Nunca iria me lembrar disso... E também nunca pensei que você tivesse chegado á me vê. – admito abismado.

– Quem diria que um dia, eu iria gostar logo daquele menininho magrinho e ranzinza, que não fazia questão alguma de levantar a cabeça pra me cumprimentar, né? – disse ele, dando o sorriso mais lindo do mundo.

Eu fiquei vermelho de vergonha e ele percebeu, pois beijou meus lábios longamente.

– O destino e suas tramas... Tô começando á acreditar no acaso. – digo entre suspiros.

– Ás vezes a gente cruza com uma pessoa e não tem ideia, de que um dia, vai ficar com ela... Estranho, não é? – disse ele, voltando ao ponto onde paramos.

...

Na segunda-feira, Wallace fez questão de me trazer bombons e até um filme, que a gente assistiu juntinho, no notebook dele. Minha mãe sempre nos dava privacidade, mas quando tinha de ficar, sempre inventava que estava dormindo numa poltrona... Tudo parecia tão perfeito... Eu estava vivendo um sonho bom demais pra ser verdade. Tinha medo de aquilo acabar... Olha, não é que o barraco tinha servido mesmo pra alguma coisa... Pois é! Foi um dos começos de semana, mais felizes de toda minha vida... E olha que eu detesto segundas-feiras, mas com ele, tudo parecia ser perfeito.

Seria um começo de namoro? A forma como ele me beijava e falava comigo era tão intensa e verdadeira que eu já estava começando á acreditar no nosso relacionamento sério. Não queria viajar nas ideias, mas eu sentia que as coisas tinham encontrado seus rumos. Naquela tarde, choveu e esfriou um pouco. Wallace estava sentado numa poltrona, ao lado da minha cama, lendo um livro, enquanto eu comia chocolate e assistia mais um episódio da série (Reign). Parecíamos até um casal, curtindo uma tarde chuvosa. Como eu era sonhador...

Quando o episodio acabou, abri uma pasta de musicas e coloquei para tocar a primeira que vi, (Run - Hozier). A playlist de Wallace era recheada de canções internacionais antigas... Olhei para ele concentrado e o vi se remexer ao som da música. Ele usava uns óculos de grau, parecendo um nerd, mas só que maduro. Achei engraçado e fiquei admirando-o. Após alguns instantes, ele tirou os olhos das páginas do livro e me pegou encarando-o.

– O que é? – perguntou ele, com aquele olhar sedutor e safado.

– Nada... Só acho bonito você lendo! – falei, desviando o olhar.

– Fetiche, né? Cara, eu não vejo á hora de te darem alta... Você não tem noção das coisas que eu me imagino fazendo com você! – admite ele.

– Tá me deixando sem graça...

– É bom ficar mesmo... Tá um tédio isso aqui! – disse ele, dando um meio sorriso.

– Você não está fazendo isso por pena, está? – pergunto inseguro.

Wallace se levantou e sentou na beirada da cama... Segurou meu pé e me atacou com cócegas.

– Isso sim é por pena! – disse ele, pegando-me de jeito e me fazendo rir loucamente.

Até que fomos interrompidos, pela chegada repentina da minha mãe.

– Desculpa atrapalhar vocês dois... Mas, tem um rapaz que gostaria muito de te ver... O coitado está aí fora há séculos, só que não o deixaram entrar... Ele disse que te conhecia, Alef! – disse ela.

– Quem é? – perguntou Wallace, sério.

– Qual é o nome dele, mãe?

– Plínio!

– Ah... Sim, pode o mandar entrar! – respondo automaticamente.

Minha mãe saiu e nos deixou.

– Tinha que ser... Cara não desgruda de ti? Quem foi que falou pra ele que tu tava aqui, hein? – disse Wallace, chateado e ciumento.

– Não sei... Mas acho bom você se controlar... O Plínio é um cara bacana! Não seja idiota com ele, por favor! – pedi.

Quando eu acabei de dizer isso, a porta se abriu de novo e ele apareceu. Radiante e sorridente. Plínio estava com seus dreads presos, num coque longo e bem amarrado. Vestindo um suéter verde escuro e uma calça preta, ele emanava descontração no seu jeito de andar. Fiquei feliz ao vê-lo.

– Alef! – disse ele, sorrindo e me abraçando.

– Plínio! Que bom você por aqui... – falei, abraçando-o.

Wallace virou o rosto com a cara fechada. De braços cruzados, ele caminhou até a janela e lá ficou.

– Se eu não te conhecesse antes, correria de você... Cara, tua pele tá pálida demais! Você parece um vampiro... O que aconteceu? – dispara Plínio, arrancando-me sorrisos.

– É uma longa história... Mas e aí? Como você soube que eu estava aqui? – perguntei.

– A Jennifer, sua amiga, me disse, quando eu fui lá ontem á noite!

– O que porra você estava fazendo lá? Pensei que tivesse deixado claro naquela manhã... Queria o que com ele? – disparou Wallace, possesso, se virando e fuzilando Plínio.

Fodeu! Aí meu Deus... De novo não!

– Alef, queria falar comigo... Parece que sua história, tinha sido mesmo uma mentira! Vocês não estavam namorando, não é? – revela Plínio.

– Não é da sua conta! Ele tá comigo, agora! – disse Wallace.

– Mais uma ficada? Quanto tempo até você dispensá-lo de novo?

– Seu moleque... Fica na sua! O que você sabe sobre a gente? – responde Wallace.

– Sei o suficiente... Pra dizer que você não presta! – rebate Plínio.

– E um drogado como você presta? – perguntou Wallace.

– Você não me conhece! – dispara Plínio, avançando mais uma casa, nesse jogo de xadrez.

Os dois se encararam e bateram de frente. Gelei. Outra briga? De novo? Dessa vez eu morreria!

– Vocês não vão brigar! Para! Os dois! – falei enraivecido.

– Acho melhor você escolher com cuidado seus amiguinhos, Alef! – alertou Wallace, encarando com ferocidade seu oponente.

– De fato! Tem muitas pessoas com máscaras por aí... Sempre prontas para vesti-las e enganar os distraídos. – rebateu Plínio, tranquilamente.

– Drogadinho de merda... Eu vou te colocar pra fora desse quarto, AGORA! – disse Wallace, enfurecido, pegando Plínio pelo braço.

Levantei-me da cama no mesmo minuto e o peguei pelo braço.

– Solta o braço dele, Wallace! AGORA MESMO! – gritei.

Plínio puxou seu braço e se soltou dele. Wallace olhou pra mim, com uma fúria contida.

– Vai ficar do lado dele? É sério isso? – indignou-se Wallace.

– Eu não estou do lado de nenhum dos dois... Eu só quero evitar algo pior! Você viu no que deu da última vez... E eu não quero outro desfecho horrível de novo! Por favor! – suplico, olhando ternamente pra ele.

– Tudo bem! Sou o vilão da história... Desculpem... Vou me retirar para que vocês possam ficar á vontade! – empertigou-se Wallace, destilando ódio puro.

– Não foi isso que eu quis dizer... – defendo-me.

– Beleza! Deixa ele achar que tem chance com você... – disse Wallace, se virando para mim. – Á não ser que você esteja gostando dele...

– Cara, eu não sei como eu pude um dia ter sido teu amigo... – admitiu Plínio.

– Cala essa boca, seu babaca! Nós nunca fomos amigos de verdade! – enfureceu-se Wallace, fuzilando-o novamente.

– Saí! Wallace! Agora sou eu que tô pedindo! – exclamei, cansado daquele clima.

O último olhar dele pra mim foi arrasador... Ele balançou a cabeça e saiu velozmente, fechando á porta com força.

– Você tá bem, Alef?

– Estou um pouco cansado!

– Desculpa! Ele começou... Eu não podia ficar calado!

– Eu te entendo... O Wallace, ás vezes, é muito possessivo. – digo.

– Deu pra perceber... Eu te liguei, mas você não me atendia.

– Descarregou... Foi sorte ele ter ficado no assento do barco, quando eu caí na água... Se tivesse ficado no meu bolso, eu provavelmente precisaria de outro celular. – admiti.

– Que história louca é essa? Não entendi direito quando a Jennifer me contou... – comentou ele, confuso.

Contei para ele, desde á minha aventura com o Wallace, até o show que a Paty deu. Ele ouviu á tudo pensativo e atencioso... Quando terminei, a primeira coisa que ele me perguntou foi:

– Vocês tão juntos?

Dei de ombros e ele meio que ficou aliviado, não sei por quê.

– Não oficialmente... Mas a gente tá se conhecendo e ficando, sabe? – respondi.

– Tem certeza de quer mesmo ele na tua vida? – questionou-me ele.

– Eu o amo!

– E ele te ama?

– Não sei... – falei desviando o olhar.

Plínio se aproximou de mim e pegou minha mão.

– Plínio, eu tô apaixonado por ele.

– Tenho medo de ele te machucar de novo? Esse filho da mãe tá sempre te machucando... Você é bom demais pra ele! O pilantra não sabe a sorte que tem de te ter... – diz ele, pegando meu rosto, entre suas mãos.

Suas mãos magrinhas, tomada por anéis e pulseiras coloridas, roçaram nas minhas covinhas. Fixei meu olhar nas tatuagens do seu braço direito e falei:

– Plínio, para! Por favor? Eu gosto da nossa amizade e não quero estragar isso...

– Eu não quero a sua amizade! Você sabe o que eu quero... Sempre soube. Deixei claro isso desde nosso primeiro encontro e nada mudou até aqui! Eu tenho certeza plena do que eu quero... Diferente dele que não se decide... Alef, se você me desse uma chance, eu te faria esquecê-lo pra sempre! Te faria tão feliz... Seria teu namorado, amigo e até esposo! Seja meu companheiro e eu te prometo nunca machucá-lo! – declara ele, chegando bem perto do meu rosto.

Fiquei tão chocado com suas declarações, que paralisei sem reação. Ele avançou mais um pouco, deixando a barba grande e castanha, roçar no meu queixo. Suspirei e tentei me afastar. Só que Plínio puxou meu braço e colou seu corpo ao meu. Seus olhos faiscaram num dourado penetrante. Estremeci!

– Eu preciso fazer isso... Desculpa! – disse ele, me dando um beijão na boca.

Tentei me soltar, mas sua boca invadia a minha sem escrúpulos. Sua língua, macia e desnaturada, encontrava a minha, numa acalorada e forçada união. Plínio sabia beijar pra caralho! Isso eu tinha que admitir... Que boca era aquela? Debati-me nos seus braços, enquanto sua boca agia perfeitamente. Chutei sua canela e ele finalmente me soltou.

– Aí meu Deus... Eu juro que não queria fazer isso! – falei desesperado.

Plínio pulou gritando de dor.

– Caraca... Você é bom em chutar canelas, hein? Porra, Alef! – disse ele, guinchando.

Se ele soubesse as outras coisas que eu tinha chutado, sem serem canelas... Melhor deixar em Off.

– Você provocou isso! Acho melhor você ir embora... Por favor, de novo! Vai! – peço.

– Tá bem... Só quero deixar claro pra você: Foi bom pra caralho! Devia ter feito isso há muito tempo, desculpa não ter feito antes... – desculpou-se ele, palhaço como sempre.

– Louco! – exclamo.

– A gente se vê por aí... Pensa em mim que eu penso em você! – disse ele, sorrindo e saindo do quarto mancando.

– Se cuida tá! Bota gelo nisso! – digo, pensando no estrago que eu tinha feito.

– Amei sua preocupação comigo... Vou voltar e te beijar, só pra você me chutar de novo e ficar preocupado... – ironiza ele.

– Tchau, Plínio!

– Melhor não... Doeu muito! Deixa pra uma próxima...

– Não vai ter uma próxima... – aviso.

– Será?

Ele saiu e fechou a porta. Sorri com suas trapalhadas e me sentei na cama. Plínio sempre estava me fazendo rir, mesmo eu não querendo... O beijo roubado do dele tinha sido nosso primeiro beijo... E também seria o último. Ele era legal e incrivelmente palhaço, mas só outro conseguia fazer meu coração saltar... Pensei no Wallace e não o vi mais naquele dia... Ele simplesmente desapareceu. Passei á noite sozinho... Com o gosto do Plínio na boca e o cheiro do Wallace na cama.

Continua...

Oi gente! O que acharam dessas declarações? Pra quem vocês torcem? #Walef ou #Plíalef #TeamWallace ou #TeamPlínio Mais uma vez, um muito obrigado a galera que comenta e sempre opina <3 Edu, Anjo Perdido, Hp, valeu mesmo!!! Novos comentaristas Josha, Will, Fofaum, Bem vindos! E obrigado também!! Galera que apenas ler, valeu pela força, eu sei que vocês tão sempre por aqui! E vamo que vamo né? No próximo capítulo, muita gente vai querer me matar... Bjs!

Comentários

Há 6 comentários.

Por em 2016-05-28 04:37:19
Quero muito que o Alef e o Wallace fiquem bem juntos, eles foram feitos um para o outro ❤️
Por dfc em 2016-05-17 12:00:53
Nossaaaaaaaaa perfeitooooooo continua .
Por Hp em 2016-05-17 11:38:37
#Walef #TeamWallace muito bom o capítulo, deu uma ótima caminhada de emoções e acontecimentos, continue assim 😆
Por will em 2016-05-15 19:17:49
#Walef con certeza,sem duvidas to torcendo deis do incio pro wallace ficar com o alef eu quero que eles terminem juntos........amando a serie......💙💙💙
Por Anjo perdido em 2016-05-14 22:02:03
Óbvio que ele contou. Se não eu entro no team Plínio agora, mas acho que todos sabem o que explicaria a estadia dele lá. Próximo cap por favor
Por Nando martinez em 2016-05-14 20:58:46
TeamPlinio o Wallace e um babacão sem noção do que adianta ter beleza mas n ter caráter,serio e eu acho que ele não contou porra nenhuma pra ngm