Capítulo 11 - O Vídeo

Parte da série As Férias Dos Meus Sonhos (Baseada Numa História Real)

O dia amanhecia resplandecente, iluminando brilhantemente todas as extremidades daquela região praiana. Tudo parecia se renovar naquela primeira manhã de 2016. Revelando expectativas e sentimentos para o novo ano, que estava apenas começando. Eu devia estar naquele clima de paz e renovação, atraindo só coisas boas para minha vida, mas não, eu definitivamente não estava. E nem sei se estaria se continuasse a viver, àquele drama atemporal de verão.

Wallace tinha desabado na minha cama e no instante seguinte, dormido profundamente. Esparramado e espaçoso, como só ele conseguia ser com todo aquele corpo monumental, a cama ficou tomada por suas grandes pernas e seus fortes braços abertos. Minha vontade era de pegar o filho da mãe e o abraçá-lo bem apertado.

O jeito que ele dormia, respirando pacificamente... Lindo e suave... Tão vulnerável e desprotegido... Aí meu pai! Meus pensamentos ainda continuavam indecisos entre esquecê-lo ou não. Quando eu conseguiria de fato seguir em frente?

Jennifer me encarava de forma superficial e entonada, esperando uma resposta plausível da minha parte.

– Meu irmão tá te comendo e você não me fala nada? Eu não tô acreditando que você fez isso comigo? Quer dizer, com ele! – embaralha-se ela. – Alef, eu te perguntei como tinha sido sua vinda pra cá e você não me falou porcaria nenhuma de noite num motel... O que vocês estão tendo? Responde! – pede ela enfurecida.

Ela estava muito fula da vida e eu até a entendia... Mas será que não estava exagerando demais? O tom de voz dela era quase cortante... Como se quisesse me matar.

– Jennifer, calma aí tá legal? Eu ia te contar tudo, só não tinha encontrado um jeito certo pra te dizer... – comecei e fui interrompido por um chilique, digno de barraco.

– Traidor! Eu tô chocada com a tua falta de consideração comigo... Logo eu que sempre te deu á maior força nos teus lances... Poxa! Custava me dizer do teu envolvimento com meu irmão? Você não tem ideia de como eu fiquei, ao saber disso pela boca dele, ainda bêbado por sinal... Onde você estava afinal? – perguntou-me ela.

– Eu saí com um cara... Aquele que você mesmo queria me apresentar. Lembra? E diferente do seu irmão, que só queria me fazer de fantoche... O Plínio queria mesmo me conhecer! – respondi.

– Wallace, quase colocou á boca no trombone por sua causa, e você vem me dizer que ele só queria te usar? Ah! Para com isso... Não foi isso que ele deu á entender... A sorte dele é que nossos pais já tinham se retirado, porque se eles vissem a cena, eu não queria nem tá aqui!

– O que foi que te ele falou? – perguntei atônito.

– Muitas coisas...

– Ah é? O quê, por exemplo?

– O motel onde vocês ficaram... Ou vai dizer que é mentira?

– Claro que eu não vou negar! A gente ficou sim num motel... Rolou tá legal? Nem tudo se pode evitar! Mas foi apenas isso... Wallace e eu não temos nada! Ele deixou isso bem claro, ontem á noite... Depois da forma como ele me tratou na festa... Deu pra entender perfeitamente, que ele nunca quis mesmo, nada comigo... Eu fui muito burro de cair na lábia dele, mas agora eu aprendi tá! – respondo.

– Minha nossa senhora! Então os babados estavam mais quentes do que eu imaginava... Tudo rolando nas minhas costas e eu sem saber da missa a metade! Agora, uma coisa eu não entendo... Esperai... Como você pode dizer que ele não queria nada com você, se a madrugada se resumiu á ele falando de você? – indagou Jennifer, ainda mais absorta. – Se isso é só uma ficada barata de vocês dois... O que você me diz disso?

Jennifer pegou o celular e começou a mexer nele rapidamente. Algo começou a aparecer na tela e ela me entregou o celular, que mostrava um vídeo da festa, ainda de madrugada e cheia de gente dançando e bebendo, inclusive ela. O vídeo tinha dez minutos de duração e ia circulando por todos os lugares do jardim, mostrando os convidados alterados e se beijando, á cada close. Tudo ia normal, até que... Alguém gritando chamou a atenção da cinegrafista... A câmara começou a tremer com os movimentos da Jennifer, correndo para tentar capturar os gritos ouvidos ao longe. Uma roda de pessoas rodeava um cara totalmente descontrolado, em cima de uma mesa... Era Wallace, com uma garrafa de champanhe na mão, chamando meu nome por todos os lugares.

– Alef! ALEF! – gritou Wallace, para todos os lados. – Ei você viu o Alef? Cara eu quero muito falar com ele... Eu quero não... Eu preciso! Por favor! A-L-E-F!

Ele parecia desconsolado... Mais bêbado do que nunca... Tentando se equilibrar, mas sendo segurado por outras tantas outras pessoas. Fiquei mal na mesma hora... O jeito como ele se sentia deveria me fazer ficar satisfeito, mas não, eu estava mesmo era comovido. Uma culpa arrasadora assolou á minha alma... Como se ele estivesse sofrendo apenas por minha causa.

– Wallace, o que você tá fazendo? Ficou louco? Desce daí agora! – ordena Jennifer. – Pra quê esse escândalo todo? O que tá acontecendo?

As imagens foram desviadas para o chão, mas o som era bem sonoro e claro.

– Jennifer! Onde tá o Alef? Você deve saber onde ele tá? Me diz, por favor! – implorou ele, com uma voz triste e fanhosa.

– Eu não sei! Ele deve tá por aí... O que você quer com ele? Vêm cá! – disse ela, pegando a mão dele e o fazendo descer da mesa. – Você tá exagerando muito na bebida... O que deu em você hein?

– Eu preciso do Alef... A gente nem se abraçou! – lamentou-se ele, quase chorando.

Os dois caminharam pelo gramado e entraram num cômodo da casa que eu supus ser a cozinha. Ele sentou numa cadeira e Jennifer colocou o celular ainda filmando em cima da mesa, mostrando apenas metade do rosto de Wallace. Ele estava acabado... Mas ainda continuava lindo pra caralho... Aquele homem poderia ficar velho e ainda assim, continuaria com aquela beleza maravilhosa e estonteante. Era fato!

– Ele não tá me evitando? – perguntou ele.

– Não! Por que ele te evitaria? Não tô entendendo essa sua conversa... – disse Jennifer, perdida.

– Droga! Eu gosto dele! Gosto de verdade! Só que é difícil pra mim, entende? Eu gosto dele pra caralho... Mas, sei lá! Eu não quero tornar isso sério demais, sabe? Eu não sei o que fazer! Uma hora dá vontade de apenas beijá-lo e abraçá-lo, até não poder mais... Já outras vezes, eu só quero transar e esquecer o mundo á minha volta... – admitiu ele, aparentando uma sinceridade notória.

– Como é que é? Você tá gostando do Alef? Tá de sacanagem comigo? – empertigou-se ela.

– Caralho, Jennifer! Eu tô com ele aqui ô... 24 horas por dia, como um vídeo dando replay... Cara, eu tô ficando louco! – diz ele, apontando para a cabeça. – Eu não devia tá dizendo isso... PORRA! – grita ele, jogando a garrafa no chão.

O barulho ecoa pelo ambiente e faz Jennifer dá um pulo de susto.

– Tá na hora de você me contar direitinho, o que tá acontecendo entre vocês dois! – dispara Jennifer, agora, furiosa e ainda mais surpresa.

O vídeo acaba e eu fico pasmado. Entrego á ela o celular e ando em direção á janela do quarto. Constrangido e tocado pela revelação, que definitivamente tinha balançado de novo, meu coração por ele.

De repente, Wallace acorda e começa á me chamar... Desespero-me e vou até ele na cama. Sento-me perto dele e seguro sua mão, acariciando-a e confortando-o. Ele volta á dormir e se acalma, segurando á minha mão. Algo dentro de mim esquenta e eu me entrego àquele sentimento.

Então, Wallace sentia coisas verdadeiras por mim mesmo que não demonstrasse? Nossa ficada no motel, não tinha apenas acarretado na minha enxurrada de sentimentos, mas na dele também? Caramba... E se ele pudesse gostar mesmo de mim? Virei-me para encarar Jennifer... Ela estava abismada. Sua expressão não era mais de raiva... Mas sim, de surpresa.

– Amigo... Quando ele acordar, eu acho bom você ter uma conversa séria com ele! – pediu ela.

– E eu vou ter... Pode ter certeza que sim! – confirmo convicto e determinado.

– Posso até pensar em apoiar vocês dois... Mas só se você começar á me contar detalhe por detalhe dessa história, AGORA! – ordenou ela, pegando minha mão e me levando para o outro lado do quarto, onde nos sentamos no chão e tivemos uma conversa que era sempre interrompida pelo Wallace chamando meu nome.

...

Eu contei tudo para Jennifer... Desde a saída de casa, até a nossa estadia num motel. Falei das nossas brigas... A desconfiança boba dele em relação a minha amizade com ela... A sedução explícita... O desejo crescente entre nós dois... E o bolo que ele tinha me dado na festa... Tratando-me como se eu fosse um nada.

Ela ouviu tudo atentamente, colocando sua opinião nos momentos certos e me dando uma força, sempre que eu me entristecia. Ela não era contra e não se importava que a gente pudesse ter alguma coisa... Até estava torcendo pela gente! O que me surpreendeu, pois eu tinha medo de que ela fosse condenar-me por isso. O problema da Jennifer era que ela sempre queria ser a primeira á saber de tudo. Se eu não contava á ela, eu a traía. Era sempre assim.

As horas passaram... Quando dei por mim, já era mais de nove horas da manhã. Jennifer chamou uns colegas, para levarem o Wallace para o quarto dele... O que não foi tão difícil... Após eles saírem, levando o cara que eu já deveria ter superado... Resolvi tomar um banho e me deitar. E foi o que fiz... Não queria pensar nele e nem nas palavras dele. Só queria dormir um sono pesado e profundo, onde eu descansasse todo aquele peso de sentimentos na minha cabeça.

Adormeci rapidamente ao cair na cama... Dormindo por horas e sonhei com Wallace correndo... E claro, eu corria atrás dele... Não medindo esforços para alcançá-lo... Só que quanto mais eu me aproximava dele, mas ele fugia de mim... Até que em certo ponto do sonho... Ele desapareceu e eu fiquei sozinho. Como sempre!

Continua...

Voltando aos poucos!!! Ao leitores desse conto, tô aqui vendo os comentários de vocês e fico feliz que estejam gostando!!! Abraços á todos e volto logo logo! Não demorarei tanto dessa vez.