Cap. 37,1:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

- O seu papai Bader...

Emocionada, a Millena tentava explicar ao Rodrigo.

- Ele... Precisou fazer uma viagem...

- E quando ele volta?... To com saudade...

- O papai Bader não vai voltar...

O que parecia ser um simples entendimento, acabou se tornando triste quando o

Rodrigo começou a chorar:

- Por quê?... Eu quero meu pai... Eu quero...

- O ... O papai Bader foi pro céu...

- Eu quero meu papai Bader... Tia Ro... Liga pra ele... Fala que eu tô com saudade...

Diz que eu amo ele...

- Ah meu anjo... Lá não tem telefone...

- Eu quero meu pai...

Ele saiu correndo pro quarto e deitou em sua caminha chorando, talvez ele nem

estava entendendo muito bem o que acontecia, mas saber que nunca mais voltaria a ver o “papai Bader” já foi o suficiente para entristecê-lo.

No começo da madrugada levaram meu corpo para velar, toda minha família já

estava no local aguardando minha chegada, sob efeito de calmantes o Daniel descansava

deitado no colo da minha mãe, aquele mesmo colo que servia de consolo para meus

momentos de tristezas, medos e carência.

Quando o carro funerário chegou ao local começou uma movimentação fazendo

com que o Daniel acordasse:

- O quê está acontecendo?

- O corpo chegou?

Bastou o zelador do local dizer “o corpo” que o Daniel entrou em pânico, a Milena

já começou a chorar, minha mãe abraçou o Daniel para tentar conforta-lo, embora ela

também estivesse chorando muito, já meu pai foi forte, conteve a emoção de ver seu filho chegando dentro de um caixão carregado por pessoas nunca vistas na vida:

- Dona Vivian... Não é verdade...

- Calma, filho.

- Você não quer ir pra casa, Daniel?

- Não seu Felipe, não posso deixar meu petit aqui sozinho.

O Daniel passou a madrugada inteira sem dormir, perto de mim. Às vezes ele ia

tomar uma água e voltava, só deixava a sala do velório para ir ao banheiro, de hora em hora ele se aproximava do caixão e conversava comigo, mas impedido de me tocar, pois o caixão foi lacrado, sendo assim, ele só conseguia me ver através de um pequeno vidro que só mostrava meu rosto, impedido de me tocar, para sempre.

- Amor... Por que você me deixou? Você tinha me prometido que nunca me

deixaria... O que vai ser da minha vida sem você?

- Vem tomar um café para se acalmar...

- Eu não quero café nenhum, eu quero o meu petit de volta... Petit... Volta pra casa...

“-Namorado?

- É. Por que o espanto?

- Nada não, é estranho ver um cara chamando outro cara de namorado...”

- Eu e a Dani estamos sentindo sua falta... A gente ficou noivo, precisamos dar uma

festa...

“- É necessário, você já bebeu demais.

- Ah... É por causa da bebida? Deixa que eu pago então, seu pão duro.”

- Petit... Fala comigo amor... Por que separaram a gente com esse vidro?...

“- Petit, eu te amo tanto que às vezes chega até a doer meu peito.

- Só de pensar em ficar longe de você um dia eu tremo, não consigo mais

viver minha vida sem você, meu futuro é você comigo.”

A pior hora foi quando vieram fechar a tampa. O Daniel abraçou o caixão de uma

tal maneira que ninguém conseguia tira-lo de cima.

- É hora de fechar o caixão.

- Não... Não... Não levem ele de mim, por favor...

“- Está vendo aquelas estrelas no céu?

- Sim.

- Quando eu era pequeno, meu pai dizia que as estrelas do céu eram reis, faraós e

todas as pessoas boas que viveram na terra e continuavam a reinar no céu, só que olhando e

cuidando daqueles que precisam aqui na Terra.”

- Daniel, por favor, deixe...

“- Nossa... Nunca recebi uma declaração dessa...

- Se você me permitir te amar, te farei uma pessoa muito feliz...”

- Eles querem tirar o único amor da minha vida... Bader...

“- Diz pra eu ficar mudo, faz cara de mistério, tira essa bermuda que eu quero você

sério...

- Te amo, Daniel.”

- Bad... O Rodrigo, a Dani e eu estamos esperando você melhorar pra morarmos

juntos como uma família de verdade...

“- Nossa...

- O que foi?

- Não acha que tem malas demais?

- Você disse que lá vai estar frio...”

- Por favor, senhor, precisamos levá-lo...

“- Do que você está rindo?

- Nada majestade...

- Quer ir para o calabouço?

- Não, não...”

Dando socos no caixão o Daniel gritava:

- Você prometeu que nunca iria me deixar... E agora você me abandona... Por quê?

O quê vai ser de mim sem você agora?

- Por favor, Daniel, deixe eles fecharem o caixão.

- Mas Rodrigo, meu petit não pode ir assim... Não é justo...

“- Essas dançarinas não dançavam sem calcinha?

- Não acredito que você vai ficar reparando se elas usam calcinha ou não...

- Desculpa amor, foi só um comentário bobo.”

- Deus, por que o senhor fez isso comigo? Petit... Bader...

Minha mãe desmaiou, meu pai e a Millena a levaram para fora da sala, meu pai

preferiu nem ver seu filho partindo pra sempre, meu irmão teve que segurar o Daniel, pois ele não queria deixar que os agentes funerais o fizessem, acabou causando um tumulto no local. Todos que estavam presentes ficaram comovidos, pois o Daniel queria me tirar do caixão à força.

- Me larga... Me solta... Por favor, petit diga pra eles que você só está dormindo...

Vocês não podem fazer isso comigo... Bader... Vocês vão machuca-lo, tirem a mão dele...

Amor, não me deixa sozinho, me leve com você... Bader... Você prometeu nunca me

deixar... Bader... Bader... Pelo amor de Deus, não tirem ele de mim... Amor... Bader...

Com a ajuda de três homens conseguiram afastar o Daniel de perto do caixão,

possibilitando assim colocar a tampa, e ali se fechou o ciclo da vida.

Um ano se passou. Nesse período após algumas investigações do Daniel,

descobriram que o Carlos, síndico do prédio, junto com o zelador estavam desviando o

dinheiro do condomínio. Os dois passaram 6 meses presos e estão respondendo processo na justiça. Nunca mais tiveram notícias do Bruno. A última vez que falei com ele foi antes de atirar o telefone no meio da rua. Provavelmente ele deve estar à uma hora dessas se metendo em confusão, preso ou até morto, pelo rumo que sua vida estava tomando.

O Daniel deu continuidade aos projetos que eu tinha iniciado, um deles foi o antigo

Lar do céu. Hoje se tornou a “Fundação Bader Pires”, cujo nome foi escolhido pelo próprio Daniel em homenagem a mim, no qual cuida de 60 crianças soropositivas entre 0 e 15 anos.

Minha mãe se mudou para São Paulo e ajuda o Daniel na administração do dinheiro

que deixei e da Fundação. A adoção do Rodrigo está quase saindo, em breve o Daniel se

tornará legalmente pai do Rodrigo, no apartamento onde eu morava o quarto dele já está

pronto, cheio de brinquedos só esperando ele chegar.

Depois daquele episódio com sua mãe, Daniel nunca mais a viu, evitando sempre de

falar nela, pois até hoje acha que ela foi a maior culpada de eu ter adoecido tomando chuva forte.

Semana passada a Millena ligou para minha mãe dando a notícia de que estava

grávida, foi uma festa em Campinas, tamanha era a alegria daquela casa com a chegada de um novo membro, nem preciso contar que o Rodrigo tomou um porre com os amigos, mas era por uma causa nobre.

Depois que parti, o Daniel demorou para se envolver com alguém, rolou um affair

com a Débora, psicóloga que cuida das crianças da Fundação Bader Pires, ela é uma mulher muito bonita, morena de olhos verdes, cabelos lisos repicado. Minha mãe torcia pelos dois, pois faziam um lindo casal, mas o namoro não durou muito tempo, eu ainda estava presente nas lembranças do Daniel, mesmo separados pelo destino ele ainda continuava me amando cada vez mais, embora o relacionamento não tenha dado certo eles continuam amigos e trabalhando juntos em prol das crianças.

Todos os dias o Daniel assiste os vídeos que fizemos em Paris, as fotos que tiramos

no decorrer do nosso relacionamento e chora ao ver nossas lembranças tão vivas em suas mãos e pensamentos, além dessas deixamos mais uma marca de nosso amor, é um coração e dentro dele nossas iniciais desenhadas em uma árvore no Parque do Ibirapuera, todas essas lembranças que levamos em nossa memória são algo que ninguém nunca poderá nos tirar. As flores que ele me deu na noite de noivado continuam vivas, decorando a mesa da sala, eu cuido delas todos os dias e não as deixo murchar. Sinto muita saudade de todos, principalmente do meu petit, mas de vez em quando nós matamos a saudade no sonho, onde nos encontramos e aproveitamos os poucos momentos que nos dão, embora ele não se lembre depois que acorda. Quanto à promessa que havia feito ao Daniel estou cumprindo, todas as noites quando ele se deita pra dormir eu me deito ao seu lado, como o prometido ainda em vida, junto comigo eu trouxe a aliança que ele me deu, como prova de nosso amor eterno.

Ontem, arrumando as gavetas o Daniel encontrou um papel com algumas coisas que

eu havia escrito na semana em que adoeci, mas na verdade não era uma simples bobagem, e sim um pressentimento do que iria acontecer. A saudade aumenta a cada dia, mas o nosso amor permanece eterno.

Comentários

Há 4 comentários.

Por ®red® em 2016-09-22 03:04:10
o core não guenta!!! Ta muito real a dor e palpável.
Por CacoSanth em 2016-09-20 21:23:27
Estou mega triste, com à morte do Bader!
Por Salém em 2016-09-20 09:43:25
Nao perca a carta deixada por Bader. logo, logo!!!
Por Salém em 2016-09-20 09:43:17
Nao perca a carda deixada por Bader. logo, logo!!!