Cap. 31:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

Descemos até o estacionamento. Dentro do carro o Daniel já nos esperava, abri a

porta de trás e coloquei a mochila do Rodrigo no canto do banco e depois ele entrou, prendi nele o cinto de segurança e travei a porta, entrei dentro do carro e seguimos para o Lar do céu.

No caminho liguei do celular do Daniel para o um chaveiro ir trocar as trancas da

porta, pois eu não me sentia mais seguro dentro da minha própria casa. Enquanto isso o

Rodrigo foi brincando com o aviãozinho que eu havia dado pra ele, enquanto eu e o Daniel conversávamos sobre o ocorrido:

- Falou com o chaveiro?

- Sim, dentro de uma hora mais ou menos ele passa lá em casa pra trocar as

fechaduras e colocar mais duas para reforçar.

- Que absurdo...

- Você acredita que eu não posso saber quem entrou no meu apartamento porque o

circuito interno de segurança não tem gravador?

- E por que não providenciaram ainda?

- Eu também gostaria de saber. O que o Carlos faz com o dinheiro dos condôminos

já que não investe no condomínio?...

Paramos no farol e ao lado do Daniel havia uma loja de autos, que tinha uma moto

mais linda que a outra, apaixonado por motos como ele era ficou de olho em uma verde

muito bonita, muito cara também:

- Olha aquela moto...

- Bonita...

- Demais... Mas olha só o preço?

- Caramba...

- É a moto dos meus sonhos...

- Pelo preço também, né?

- Acho que vou vender o meu carro...

- Pra quê?

- Olha o preço dela? Não tenho esse dinheiro à vista...

- Compre a prestações...

- Prefiro vender o carro e comprar à vista... No momento não poderei pagar uma

prestação de moto que no mínimo vai sair mais de dois mil.

- O farol abriu...

Chegamos ao Lar do céu e não havia nenhuma criança na rua, tudo parecia estar na

santa paz, abri o portão e bati na porta, não demorou muito e veio a Roberta atender a porta:

- Seu Bader... Que prazer...

- Boa tarde, Roberta! Vim devolver o Rodrigo pra você...

Entregando a mochila para ela:

- Oi Ro...

- Oi Tiaaaaaaaaaaaa...

- Como foi lá na casa do Bader?

- Muito legal... Comi bolo, "sopa", fui no "xopis", joguei bola, fui ao parquinho...

- Roberta, cadê as crianças?

- Estão tudo lá no quarto vendo TV...

- Bom, preciso voltar agora, adorei ter passado esses dias com o Rodrigo...

- Muito obrigado, seu Bader!

- Eu é que agradeço, Roberta. Tchau Rodrigo...

- Tchau papai Bader... Tchau papai Daniel...

- Tchau.

Deixamos o Rodrigo aos cuidados da Roberta e voltamos para casa, quando cheguei

fui direto tomar um banho pra tirar o stress, do banheiro escutei o interfone tocando, logo depois o Daniel foi até o banheiro me avisar que o chaveiro havia chego:

- Bader, o porteiro interfonou dizendo que o chaveiro está lá na portaria, eu vou

descer lá pra checar e subo com ele.

- Tudo bem, eu já estou terminando aqui...

- Já volto.

Enquanto ele foi buscar o chaveiro eu sai do banho e fui me vestir. Coloquei uma

bermuda sem cueca mesmo, uma camiseta de manga e um chinelo de dedo. Sentei no sofá da sala e fiquei aguardando o Daniel junto com o chaveiro. Não demorou muito e a porta se abriu, os dois entraram na sala e assim eu expliquei o que havia acontecido:

- Boa tarde!

- Boa tarde!

- O que aconteceu com a fechadura?

- Não sei o que houve de fato, alguém conseguiu abrir e entrar aqui dentro de casa.

- Vamos ver... Ela foi aberta com algum material de ponta... Um canivete, grampo...

- Por favor, eu quero que troque e adicione mais duas trancas nessa porta e na da

área de serviço também.

- Tudo bem...

Acompanhei as trocas das trancas, fiz questão de guardar as velhas para mostrar

para o Carlos depois, porque com certeza ele quem iria pagar pelos gastos que eu estava

tendo:

- Já está pronto.

- Ótimo, quanto é?

- R$150,00...

- Vou buscar, você pode me dar um recibo?

- Claro...

- Obrigado.

Enquanto o Daniel acompanhou o chaveiro até a portaria eu desci até o 3º andar e

fui falar com o Carlos, toquei a campainha e o Flávio quem atendeu a porta:

- Oi Bader.

- Quero falar com seu pai.

- Ele não está, viajou com minha mãe...

- Quando eles voltam?

- Acho que a semana que vem...

- Foram pra tão longe assim?

- Sim... Foram para o Maranhão e Ilhéus...

-Engraçado, com o salário que ele ganha não dá pra viajar assim... Tudo bem que

isso não é da minha conta, mas se for o que eu estou pensando é muito além da minha

conta, é caso de polícia.

- Do que você está falando?

- De nada, entregue isso aqui pro seu pai e diga que preciso falar com ele o quanto

antes.

- Tudo bem...

- Antes que eu me esqueça... Sabe quem estava descendo no elevador junto comigo?

- Quem?

- Aquele rapaz que vive desfilando sem camisa por aí, eu acho que ele estava

descendo pra piscina, dê uma passada lá depois...

- Valeu...

- Hahaha... Divirta-se.

Entreguei as fechaduras retiradas da porta junto com o recibo do chaveiro para o Flávio e voltei pro elevador. Chegando em casa o Daniel estava na cozinha comendo iogurte, tranquei a porta da sala e deixei a chave em cima da mesa:

- Petit, vou tomar banho... Vem comigo?

- Eu acabei de tomar...

- Não tem problema, você toma outro.

- Hummm...

Ele jogou o pote vazio no lixo, olhou pra mim com aquela cara de safado, deixou a

colher dentro da pia e veio me abraçando e me beijando, no meio de seus braços eu me

rendi a seus encantos, assim fomos até o banheiro, onde tiramos nossas roupas e fizemos amor antes de ligar o chuveiro. Tomamos banho gostoso como sempre fazíamos, depois fomos para o quarto, dormir abraçadinhos.

No outro dia fui acordado pelo Daniel quebrando um copo, levantei e fui até a

cozinha ver o que tinha acontecido, lá estava ele varrendo os cacos do chão:

- Te acordei, petit?

- Uhum...

- Desculpa...

- Tudo bem, já está quase na hora de trabalhar.

- Quer um pouco de leite de soja?

- Eu quero, está quente?

- Não, mas eu esquento no microondas pra você.

- Obrigado.

Sentei-me à mesa da cozinha e ficamos ali conversando um pouco:

- Acredita que ontem fui falar com o Carlos e ele não estava? O salafrário foi

viajar...

- E...?

- E... Que eu desconfio que o dinheiro que ele está gastando viajando pelo Brasil é o

dos moradores do prédio.

- Será?

- Com certeza, ele e o zelador são muito amigos, deve estar rolando uma parceria

brava entre os dois, eles devem arrecadar por mês do prédio todo uns 150 mil...

- Caralho...

- Cada morador pagando em média 2 mil de condomínio... Você já viu o carro da

mulher do zelador?

- Não...

- Depois te mostro, não custa menos que 40 mil.

- Caramba...

- Mas vou investigar mais a fundo, deixa ele voltar... Pega uma laranja pra mim?

- Toma...

- Obrigado.

- Já colocou comida pra Dani?

- Ainda não.

- Não deixe ela sem comer, tadinha...

- Vou colocar agora.

- Eu liguei para a doutora Eliete e marquei uma consulta pra Dani.

- Ainda não levou ela na veterinária?

- Não tive tempo, Daniel...

- Você fica tão gostoso quando faz essa carinha de bravo...

- Pára...

- Olha que tesão...

Chupando a laranja deixei que o caldo vazasse pelo canto da boca:

- Hum...

- Deixa eu te ajudar a chupar essa laranja...

Ele se aproximou de mim e tirou a laranja da minha boca, segurando na minha mão

ele foi beijando minha boca, lambendo meus lábios, quando me dei conta já estávamos em pé encostados na parede nos amando ali na cozinha mesmo:

- Ah... Eu não resisto quando vejo você... (Mordendo minha orelha).

- Não me provoque, Daniel...

- Você que fica me provocando com essa cara de safado...

- Não quero chegar atrasado na produtora...

Fomos para o quarto, o Daniel trancou a porta e ascendeu a luz, só de bermuda sem

cueca e sem camisa, se aproximou de mim e encostou seu corpo no meu de uma tal forma que quase gozei naquela hora, eu consegui sentir que sua barraca estava armada juntamente com a minha.

- Você me deixa louco, Bader...

- Ai Daniel... Eu vou me atrasar...

Ele tapou minha boca com sua boca, não permitindo que eu falasse mais nada,

apenas me entregasse ao clima de amor que envolveu nós dois dentro daquele quarto, o que começou com uma simples brincadeira terminou em um orgasmo profundo:

- Daniel...

- O quê?

- Olha que horas são!

Corri pro banheiro, tomei um banho bem rápido e me arrumei:

- Você pode me dar uma carona até a produtora?

- Claro...

No caminho fomos conversando sobre seu aniversário que estava próximo, a cada

vez que ele trocava de marcha ele dava uma passada de mão na minha perna e me olhava com cara de desejo.

- Meu aniversário está chegando, vamos viajar pra comemorar?

- Pra onde você quer ir?

- Podemos ir pra Fernando de Noronha... Ilha Bela... Angra dos Reis...

- Faz muito calor, você sabe que eu detesto o calor.

- Pra onde você quer ir então?

- Poderíamos pensar nisso depois, quem sabe para Campos de Jordão que nessa

época é bem frio...

- Hum... Fazer amor em frente a uma lareira...

- Já pensou?

- Ótima idéia.

Cheguei à produtora, me despedi do Daniel com um beijo e entrei no prédio, mas

antes de subir fiquei olhando ele sair com o carro, ele ficava um tesão dirigindo com

aqueles óculos escuros e boné vermelho virado pra trás. Eu já era bem grandinho para ficar paparicando tanto aquele marmanjo, mas o que eu poderia fazer? Não adiantava, eu iria paparicá-lo todos os dias, todas as horas, porque ele era o sonho que todo mundo gostaria de viver, o homem que toda mulher gostaria de ter.

Eu estava na minha sala selecionando algumas modelos através dos book’s para

uma nova propaganda, sobre minha mesa havia um amontoado de fotos de várias modelos, uma mais linda que a outra, mas nenhuma tinha a beleza de que eu precisava. Enquanto parei pra beber uma água, recebi um telefone de uma multinacional querendo que eu fizesse uma publicidade de impressionar o país, o representante disse que fui indicado por um colega cujo havia adorado o meu trabalho, fiquei todo feliz e marcamos uma reunião para aquele dia mesmo.

À tarde o Gerente de Marketing da empresa foi até a agência para acertarmos o

contrato e expor as idéias de que se poderia fazer com a propaganda do produto e os pontos de venda. Conversamos por um bom tempo, sugeri criar um slogan que virasse uma mania nacional.

O jingle era muito importante, pois dele que surgiria todo o resto. O gerente adorou

a idéia, ele só não adorou, como fez um contrato de um ano com a nossa agência. Eu mal pude acreditar, minha carreira estava tomando um rumo fabuloso, não via a hora de chegar em casa e contar a novidade para o Daniel. Nessas horas é muito bom estar namorando, ter alguém para dividir seus momentos de felicidade, era ótimo.

Cheguei em casa todo feliz. As luzes estavam apagadas, sinal que o Daniel ainda

não havia chegado. Fui tomar um banho bem rapidinho pra tirar o suor. Coloquei a comida no microondas para ir aquecendo enquanto ele não chegava. Deitei no sofá depois do banho e fiquei vendo TV, acabei adormecendo.

Acordei com o barulho da televisão quando passava um trailer de filme. Levantei

para ver que horas eram e já passava das 3h. O Daniel ainda não havia chego e meu coração começou a ficar apertado, angustiado. Liguei para seu celular e deu caixa postal. Liguei pra casa de sua mãe, mas ele não havia passado por lá, então liguei para o sócio do Daniel.

- Alô...

- Jeferson, sou eu, Bader.

- Beleza, Bader?

- Desculpa estar te ligando uma hora dessas... É que estou preocupado com o

Daniel...

- Hoje eu tentei falar com ele, mas ninguém atendeu ao celular.

- Vocês não se viram na academia hoje?

- Hoje? O Daniel não foi trabalhar hoje.

- Nossa... Bom, se você souber de alguma coisa, por favor, entre em contato

comigo.

- Pode deixar.

- Valeu e desculpa.

- Que isso.

Comecei a me preocupar. Sai pela rua procurando por ele desesperadamente. Não

era possível que ele tinha sumido sem que ninguém soubesse onde estaria. Rodei com o

carro pelo bairro, mas não encontrei nada.

O desespero tomou conta de mim. Fui até a delegacia dar queixa sobre o seu

desaparecimento, mas como ainda não tinha feito 24 horas pediram pra eu esperar.

Eu sentia que algo de errado havia acontecido. Já que a polícia ainda não podia me

ajudar, fui procura-lo por conta própria. Comecei pelos hospitais, corri por vários na

cidade, mas nem sinal. Então fui procurá-lo no IML, tentativa sem sucesso. Já eram quase 11 horas do outro dia, passei as características do Daniel e o legista disse que havia um corpo com as descrições. Na hora eu gelei, comecei a chorar e tremer, o mundo parecia que iria acabar para mim.

Acompanhei um funcionário por um corredor comprido até uma sala fria, cheia de

gavetas. Duas mesas de inox no centro da sala estavam rodeadas por moscas. Um cheiro

horrível vinha de toda parte. O que mais me impressionou foi ver o corpo de uma mulher preso a um gancho na parede, costurado do pescoço até o umbigo. Tão jovem e tão bonita, cheia de marcas por todo o corpo.

- Como... Vocês conseguem... Trabalhar normalmente... Num ambiente assim?

- Pois é meu jovem... Já estamos acostumados...

- Essa... Moça...

- Humpft... Bonita a moça, né?... Acidente de carro... Voltando da faculdade...

- Meu Deus...

- Isso não é nada perto do que vemos todos os dias...

A cena era horrível, parecia uma peça de açougue esperando pelo corte. Eu sabia

que uma autópsia abria o corpo, mas entre saber e ver eu preferia ficar só no saber, porque ver é realmente traumatizante.

Quando o rapaz abriu uma das gavetas e puxou um corpo dizendo que era o suspeito

eu travei. Minhas pernas amoleceram, comecei a tremer, pensei 2 vezes se ia olhar o

cadáver.

- O corpo é esse aqui... Você vem ver ou não?

- Estou tentando...

Cheguei até a gaveta e com muito esforço abri os olhos. A pessoa já havia passado

pela autopsia, pois também estava todo aberto. Ele parecia com o meu Daniel, mas não era graças a Deus.

- Não... Não é ele... Obrigado.

Saí daquele lugar aliviado por não ter encontrado meu amor naquela situação, mas

ao mesmo tempo eu estava preocupado, sem qualquer pista de onde estaria o meu petit. Eu havia ficado sem dormir à noite inteira. Procurei pelo Daniel na cidade inteira. Já havia feito 24 horas de seu desaparecimento, então segui até a delegacia e prestar queixa.

Não fui muito bem atendido pelo delegado, mas pelo menos ele disse que iria cuidar

do caso desde então. Meus olhos estavam ardendo de sono.

Fui para casa descansar um pouco e quando cheguei havia um recado na secretaria

eletrônica, era a mãe do Daniel perguntando por ele, mas o que eu iria dizer? “Dona

Marisa, seu filho sumiu.” Eu não poderia fazer isso, preferi aguardar a polícia investigar o caso ao invés de me precipitar.

Continuei minha rotina de sempre, mas a minha cabeça estava longe, o tempo todo

pensando no Daniel. Já havia se passado 3 dias e nenhum sinal dele. Meu coração estava partido, todos os dias quando chegava do trabalho eu pegava nossas fotos e ficava olhando, matando a saudade. Rezava por ele todas as noites, ficava tentando imaginar onde estaria, será que estava dormindo? Se alimentando bem? E se estivesse passando frio? Com sede?

Seu desaparecimento estava me deixando louco. Eu já não dormia direito, tinha

pesadelos, chorava ao relembrar nossos momentos de alegria, deixei de viver literalmente.

Na manhã do 4º dia acordei com o telefone tocando. Levantei correndo para atender

na esperança de ser o meu Daniel. Com o coração quase pulando pela boca, corri até a sala esbarrando em tudo que cruzava no caminho.

- Alô?

- Alô, eu quero falar com a Carla...

- Aqui não tem ninguém com esse nome.

- Desculpe, foi engano.

- Tudo bem.

Desliguei o telefone decepcionado. Esperava que fosse o Daniel ligando para dar

notícias, mas infelizmente não era. Voltei pro quarto triste, decepcionado, deitei na cama, abracei o travesseiro de encontro ao peito, as lágrimas insistiam em descer dos meus olhos, aproximei os joelhos da cabeça e fiquei assim por um bom tempo, até ser interrompido novamente pelo telefone tocando. Achei que o rapaz que ligou por engano estava insistindo outra vez, fui atender ao telefone puto da vida:

- Alô...

- Bom dia, senhor Bader?

- Sou eu, quem é?

- Aqui é o delegado Valter.

- Bom dia, alguma notícia do Daniel, doutor?

- Por enquanto não temos notícia do senhor Daniel, mas temos uma pista...

- Graças a Deus, qual?

- Encontramos o carro dele em um terreno baldio na Zona Sul, estava todo aberto e

intacto...

- Mas e o Daniel?

- Do carro não levaram nada, mas o Daniel, nem pistas... Tudo indica que seu amigo

Daniel foi seqüestrado.

Comentários

Há 2 comentários.

Por em 2016-08-09 21:38:28
poxa posta logo o próximo capitulo por favor ?
Por em 2016-08-09 21:36:18
poxa posat logo o proximo cpitulo por favor ?