Cap. 23:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

Dentro do pacote havia um Jardim Zen, com areia, pedrinhas e garfo pra espalhar a

areia, muito bonitinho e de bom gosto, aposto que foi idéia da Millena, ela que adorava

essas coisas, nisso tínhamos em comum, gosto por coisas orientais. No caminho o Daniel foi dirigindo, eu fui dormindo no banco do passageiro, pois estava muito cansado e com um pouco de dor de cabeça, quando acordei já estávamos no estacionamento do prédio, nem vi o tempo passar. Deixamos o carro na garagem e subimos.

- Não via a hora de chegar em casa...

- Eu também...

- Beijar essa sua boca... Tocar nesse corpo gostoso...

Fomos nos beijando ali na sala mesmo, era tão bom quando isso acontecia, o Daniel

tinha um fogo insaciável, uma vontade de sexo que despertava com um simples toque na perna, uma piscada de olho, até mesmo com o aroma do perfume. Ele me abraçou e foi me beijando, ao mesmo tempo caminhando de encontro à parede me tornando seu refém, me arrepiei quando minhas costas peladas encostaram naquela parede gelada, ele adorava me prender na parede com seu corpo definido e pesado. Suas mãos passavam pelo meu corpo como um trem sobre trilhos, beijos ardentes, calorosos, selvagens, em pouco tempo já estávamos nus na sala, completamente despidos, ele me pegou no colo e me levou para o quarto onde demos continuidade de onde havíamos parado.

O Daniel era muito paciente, carinhoso e muito bom de cama, fazia sexo como ninguém, todas as noites que estávamos juntos nós fazíamos, à tarde, de manhã, não tinha hora para nos amarmos, mas o mais importante disso tudo era o amor que sentíamos um pelo outro.

Antes de ir tomar banho vesti uma cueca, fui até a área de serviço ver a Dani, estranhei que ela não havia ido até a sala me ver quando eu e Daniel chegamos. Ascendi a

luz da cozinha e vi que o chão estava todo vomitado, passei pela cozinha na ponta dos pés e fui até a caminha da Dani, notei que ela estava deitadinha com a língua pra fora e

respirando com dificuldade, na hora gritei pelo Daniel que veio correndo ver o que estava acontecendo, nunca a vi daquele jeito, já comecei a chorar de desespero e medo de perder minha melhor amiga:

- Daniel... Daniel... Corre aqui...

- O que foi, Bader?

- Olha a Dani... O que ela tem?

- Ela está estranha...

- Dani... Fala com o papai... Dani, olha pra mim... Ela não olha pra mim, Daniel...

Dani... Não faz isso comigo Dani, não morre filha... Reage Dani...

- Calma Bader...

- Ela está morrendo, Daniel...

- Vou vestir uma calça e uma camisa, pega ela e vai descendo até o carro, vamos

levá-la até um veterinário...

- A essa hora?

- Eu tenho um amigo veterinário, vamos até a casa dele...

- Vou colocar uma roupa, não posso sair só de cueca.

Corri até o quarto e vesti uma roupa, na verdade eu vesti qualquer coisa que vi na

frente, não queria perder tempo com detalhes, pois era a vida da minha cachorra que estava em risco. Descemos até o estacionamento, eu segurava a Dani nos braços e chorava de medo de perde-la, ela estava molinha, cabeça um pouco caída, respirando muito pouco, um pouco suja de vômito, o Daniel abriu a porta de trás do carro pra mim, entrei no carro e fui no banco de trás mesmo, com a Dani deitadinha no meu colo, às vezes ela gemia e aí eu já ficava histérico.

- Calma bebê... Papai vai cuidar de você... Agüenta mais um pouco... Já ta

chegando?

- Estamos quase.

- Não faz isso comigo, Dani...

Teve uma hora que ela virou a cabecinha e olhou pra mim, uma lágrima desceu de

seu olhinho e eu comecei a armar um "berreiro" dentro do carro, pensei que estava

perdendo minha cachorra.

- Não... Não morre Dani... Papai te ama... Não faz isso comigo pelo amor de Deus...

- Chegamos, Bader.

Chegamos à casa do amigo do Daniel, estava tudo escuro pelo que pude ver de

dentro do carro, o rapaz deveria estar dormindo, mas veio nos atender com a maior boa

vontade, ele era muito educado e atencioso, estava de pijama sem camisa, entramos dentro de sua casa, ele levou a Dani até a cozinha, sobre a mesa ele forrou uma toalha e a deitou, eu não agüentei e fiquei na sala, pois não agüentei ver minha bebê sofrendo daquele jeito, junto comigo ficou sua esposa tentando me acalmar, uma mulher muito simpática e bonita.

Não demorou muito e o rapaz veio até a sala conversar comigo:

- Você deu alguma coisa estragada pra ela?

- Não... Ela só come ração...

- Ela sofreu um envenenamento, eu já dei uma medicação pra ela e logo vai

melhorar, vou te receitar um remédio pra ela e recomendo que você leve-a ao veterinário que ela costuma passar.

- Mas ela vai ficar bem?

- Vai sim, a quantidade de veneno não foi suficiente pra matar rapidamente, mas se

você não trouxesse logo ela poderia morrer agonizando...

- Muito obrigado, doutor. Quanto é?

- Que isso, o Daniel é meu amigo, fiz isso pela nossa amizade... Fique tranqüilo.

- Muito obrigado.

- Valeu cara.

- Falou, Daniel.

Só de saber que minha cachorra não iria morrer me deixou bem melhor, fiquei mais

calmo, fui o caminho todo pra casa abraçado com ela, notei que sua respiração já havia

voltado ao normal e seu olhinho já brilhava mais.

Quando chegamos em casa fui correndo dar um banho na Dani, enquanto isso o

Daniel limpava o chão da cozinha que estava sujo de vômito, depois de tomar seu banho

troquei o cobertor dela e coloquei sua caminha ao lado da minha no meu quarto, pra poder vigia-la o tempo todo, só assim conseguiria dormir.

- Calma que o papai já está acabando...

- Terminei de limpar o chão da cozinha. Viu como ela já está melhor?

- É... Mas ainda continua um pouco debilitada.

- Sim, vai ter que repousar por uns dias... Como será que ela se envenenou assim?

Você usa veneno pra matar barata aqui?

- Não, aqui dentro não tem barata nem rato, sempre faço de tudo pra manter esse

apartamento limpo, desde que mudei pra cá não contratei empregada pra limpar, fiz tudo sozinho...

- Muito estranho.

- Demais. Agora que ela já está pronta pra dormir eu vou tomar meu banho e depois

cair na cama, estou muito cansado, morrendo de sono.

- Então vamos.

O tratamento anti-HIV que eu estava fazendo me causavam alguns efeitos

colaterais, eu sentia enjôo com freqüência, manchas roxas apareciam em meu corpo, às

vezes uma ou outra unha aparecia preta, sentia também muita falta de ar, foi assim que

acordei em uma linda manhã ensolarada de Maio. O Daniel ainda dormia, levantei e fui

preparar o café da manhã, mas antes fui vesti um roupão, pois estava pelado na hora que

levantei. Abri a geladeira e peguei uma caixinha de suco de soja, comecei a beber enquanto abria um pacote de torradas que tinha no armário, tirei um saco de pão de queijo do freezer e coloquei para assar, eu adorava pão de queijo bem quentinho com manteiga no meio, era tudo de bom.

Comecei a montar a mesa na sala, procurei o pote de patê e não encontrei, olhei

atrás das garrafas, olhei dentro das gavetas, mas não achei, o Daniel adorava patê com

torrada e deveria ter comido tudo.

- Bom dia, amore!

- Já acordou?

- Está mais que na hora...

Ele veio e me abraçou, seguido do abraço recebi um delicioso beijo de bom dia, até

deixei cair a caixa de suco que segurava na mão esquerda, na melhor parte fomos

interrompidos pelo celular dele tocando.

- Seu celular está tocando.

- Vou lá atender... Cadê?... Inferno...

- O que foi?

- Cadê ele?

- Não está no quarto?

- É mesmo...

Enquanto ele foi atender o celular eu passei o café da cafeteira para a garrafa

térmica e coloquei sobre a mesa, levei também a cesta com frutas frescas.

- Nossa...

- O que foi?

- O Caio me ligou agora.

- Quem é Caio?

- É um colega meu, ele disse que pintou uma luta aí...

- Que luta?

- De jiu-jitsu, eu disputava campeonato, já fui Campeão Paulista de jiu-jitsu...

- E por que você não vai disputar dessa vez?

- Sei lá, faz muito tempo que eu não luto.

- Nada que um treino não resolva...

- É... Vou falar com meu antigo treinador. Já está pronto o café?

- Quase tudo pronto, só falta terminar de assar o pão de queijo, você vai querer

salada de frutas?

- Não, quero só um suco de laranja, depois vou aproveitar o tempo bom e tomar um

banho de piscina, estou precisando pegar uma cor.

- Tem biscoitos amanteigados dentro do vidro no armário.

- Pega uma faca pra mim?

- Calma, deixa eu tirar o pão de queijo do forno antes que queime... Hum...

- O cheiro está bom...

- Quer um?

- Depois eu pego, cadê a faca?

- Ah, é... Tá aqui...

Sentei-me à mesa ao seu lado, colocando caldo de laranja na salada de frutas acabei

derrubando na toalha branca da mesa. Eu sempre fui um pouco estabanado mesmo,

principalmente na hora de comer, sempre acabava derrubando alguma coisa, claro que em jantar de negócios eu tomava o maior cuidado para que isso não acontecesse.

- Eeeeeeeeeee...

- Que droga... Hahaha...

- Vou descer até a piscina, você vem?

- Depois eu vou, deixa eu terminar meu café.

- Tá bom.

Ele foi até o quarto, vestiu uma sunga preta que eu adorava vê-lo usar, era um

fetiche ver ele com aquela sunga escrito na frente: "Entra sem bater", era realmente ousada e safada, o volume que fazia também era de tirar o fôlego. Com um vidro de bronzeador na mão direita, óculos escuros na testa e uma toalha na mão esquerda ele passou pela sala, abriu a porta quando eu o interrompi:

- Estou descendo...

- Petit, vá pelo elevador de serviço...

- Por quê?

- Porque você está com traje de banho, não pode descer pelo elevador social...

- Mas que putaria é essa?

- São normas do condomínio, portando animais, trajes de banho, entre outros deve

usar o elevador de serviço.

- Tudo bem, te espero lá embaixo.

Enquanto isso eu fui tomando meu café da manhã, graças a Deus meu enjôo e a dor

de cabeça já tinham passado, então eu comi bastante, abusei dos doces. Depois do café eu fui até meu quarto, espiei como a Dani estava. Suspirei fundo quando a vi dormindo

tranqüilinha. Peguei minha sunga branca escrito "Paulista" atrás e fui vestir no banheiro.

Depois peguei meus óculos escuros, passei um protetor solar fator 35 no corpo inteiro.

Peguei uma toalha branca e segui para o hall de serviço. Fechei a porta e fiquei aguardando o elevador chegar.

Desde que me mudei para o novo apartamento em Higienópolis, eu ainda não tinha

utilizado quase nada da área de lazer, seria a primeira vez que eu ia entrar na piscina.

Quando entrei no elevador havia um aviso bem de frente para a porta: "Não é permitido atos obscenos dentro deste local". Com certeza aquele aviso foi colocado pelo

síndico depois da confusão que ele armou comigo e com o Daniel quando presenciou nosso beijo no elevador, só não entendi o por que do "obsceno" no aviso, será que ele considerava um beijo carinhoso como obsceno? Ou o fato de ser dois homens se beijando seria obsceno? Atitude totalmente ridícula, preconceituosa, o que ele queria era encher o saco.

Quando o elevador parou no térreo cruzei com dona Lídia no térreo, na mão direita ela

segurava um jornal e na esquerda estava com um carrinho cheio de coisas, deveria estar

voltando da feira.

- Bom dia, Bader!

- Bom dia, dona Lídia.

- Vai passear?

- Pois é, vou ao velório de um amigo.

- Mas trajado assim?

- É que ele era naturista. Tenha um bom dia.

Deixei ela falando, nunca vi uma pessoa tão fofoqueira e curiosa como ela, adorava

cuidar da vida dos outros, é obvio que me vendo de sunga, chinelo, óculos e toalha na mão imagina-se que vou no mínimo tomar sol na piscina, mas a intenção dela era querer puxar assunto e saber mais da minha vida, já cortei logo de início.

Saindo do hall do elevador, tinha um corredor que saia em uma sala, onde havia três

portas, uma que dava para a sauna a vapor, outra “bate-volta” que dava acesso à academia e uma porta de vidro basculante que dava acesso à piscina. Quando cheguei ao final do corredor eu vi o Flavio, filho do síndico, olhando através da porta pra piscina, pelo jeito ele parecia estar ali há um bom tempo.

- Por que você não põe uma bermuda e vem tomar sol?

- Ai que susto...

- Nossa... Desculpa, é que te vi olhando com tanto desejo pela porta que achei você

interessado em alguma coisa lá fora...

- Não tô a fim de tomar sol.

- Se o seu interesse lá fora não é pelo sol...

Cheguei próximo da porta e vi que só tinha o Daniel tomando sol no deck da piscina

deitado em uma das cadeiras.

- Não acredito...

- O que foi?

- Você estava espiando o Daniel tomando sol?...

Comentários

Há 2 comentários.

Por fofaum em 2016-07-22 02:56:30
lindaaa a série
Por em 2016-07-15 12:54:42
gente cade o proximo