Cap. 19:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

Na manhã seguinte o Daniel acordou primeiro que eu. Tomou banho, colocou uns

pães de queijo para assar no forno e foi arrumando a mesa do café. Enquanto isso eu dormia até ser acordado pelo barulho de seu celular tocando:

- Alô? Daqui a pouco eu to chegando... Não esquece de pegar a nota fiscal... Falou.

- Bom dia!

- Bom dia, meu gato.

Ele veio de encontro a mim e me deu um beijo melado, gostoso e safado, como só

ele sabia fazer.

- Você vai sair?

- Vou, compramos equipamentos novos para a academia e preciso estar lá na hora

da entrega, quero conferir tudo de perto.

- Ah, tá.

- Mas eu volto logo, vou de moto.

- Tome cuidado, petit.

- Pode deixar. Agora preciso ir, mas antes quero outro beijo do meu gatinho.

- Você volta tarde?

- Não, volto pra almoçar com você.

- Hum... Então vou fazer um almoço bem gostoso...

- Mais gostoso que você? Impossível. Vem aqui...

Demos um selinho bem molhado, um abraço quentinho. Seu olho entregava sua

vontade de me consumir como o pão que assava no forno. Aquela boca dando um sorriso safado de canto me fazia perder a cabeça. Eu não conseguia resistir, que homem era aquele que me fazia esquecer até meu nome?

- Te amo!

- Eu também.

- Até mais tarde.

Ele saiu pra resolver os problemas da academia. Eu fiquei na cozinha de olho nos

pães de queijo no forno. Enquanto eles não ficavam prontos eu abri o armário atrás de mim, peguei uma caixa de chá de camomila que ainda estava fechada. Eu tinha uma raiva de ficar abrindo aqueles plásticos que embalavam as caixas de chá, não tinha paciência, me dava aflição, então eu peguei uma faca para rasgar aquele plástico estúpido quando por um descuido acabei cortando meu dedo. Na hora eu nem senti, consegui abrir a caixa e tirar um sache de chá. Guardei a caixa de volta no armário e coloquei o sache dentro de uma xícara com água e deixei esquentar por 1 minuto no microondas. Enquanto isso, peguei o pote com os biscoitos amanteigados e levei até a mesa da sala.

Fui tirar os pães de queijo do forno e o chá do microondas. Levei os dois para a

mesa quando notei que o pote de biscoitos estava sujo de sangue. Foi aí que reparei o corte no meu dedo. Começou a sangrar muito e eu entrei em pânico.

Corri para o banheiro tapando o corte com a outra mão para não pingar nenhuma

gota de sangue na casa. Abri a torneira da pia e deixei o dedo embaixo da água até lavar

todo o sangue, depois passei sabão, limpei com papel e passei um remédio para não

infeccionar, fiz um curativo com esparadrapo e voltei para tomar meu café.

Depois que eu soube da minha doença meus cuidados foram redobrados. O medo de

contaminar outra pessoa era constante. Quando eu via sangue já entrava em pânico, o que eu não queria pra mim eu não desejava aos outros, se alguém se contaminasse por causa docontato com meu sangue eu ficaria louco, me sentiria culpado pra vida toda.

Sentei à mesa e tomei meu café da manhã, com biscoitos amanteigados de vários

tipos, com goiabada, chocolate, coco, um mais gostoso que o outro. Também tinha os pães de queijo, o chá de camomila, torradas e muitas outras mais.

Enquanto eu comia, a Dani ficava sentada ao meu lado esperando eu dar algo pra

ela, a coitada ainda não havia comido nada, mas também nem estava na hora dela comer, iater que esperar a hora certa pra não ficar mal acostumada.

- Você está com fome, bebê? Papai já vai dar seu papá.

Terminei de tomar meu café tranqüilamente, ainda com o dedo doendo um pouco

fui dar comida para a Dani se não ela ia me deixar maluco, mal coloquei a comida no pote e ela já foi devorando, parecia que ela não comia há meses, voltei para a sala e comecei a arrumar a mesa, coloquei toda a louça pra lavar na máquina, guardei os biscoitos que sobraram, mas antes limpei com álcool o sangue que havia sujado.

Eu sempre tive mania de encher a mesa com um monte de coisas gostosas, desde

criança sempre fui comilão, adorava doces e detestava verduras, conforme eu fui crescendo passei a gostar de vegetais, mas continuava preferindo um bom pedaço de bolo de chocolate. Depois de tudo limpo e arrumado fui vestir uma roupa, pois desde a hora que havia acordado fiquei de samba canção, mas antes de vestir uma roupa eu tomei um banho bem quentinho, fiquei com o dedo machucado pra fora da água, pois estava doendo ainda e eu havia acabado de passar remédio, com o rádio do quarto ligado eu acompanhava a música do chuveiro, eu adorava cantar e dançar no chuveiro, eu sempre achei que o banho é muito importante pra todo mundo, pois é em contato com a água caindo sobre nós que renovamos nossas energias e mandamos o stress embora.

Saindo do banho, enrolei a toalha na cintura e fui escovar os dentes, abri a tampa da

pasta com o dente pra não machucar meu dedo, mais do que já estava. No rádio as músicas ainda tocavam, em frente ao espelho da pia eu escovava os dentes e dançava seguindo o ritmo da música até ouvir o telefone tocar, deveria estar tocando ha algum tempo já, ainda com a boca cheia de espuma enxagüei rapidamente e corri para atender:

- Alô?

- Petit...

- Oi...

- Vou chegar um pouco tarde em casa...

- Por quê?

- Porque roubaram minha moto.

- O quê? Como foi isso?

- Eu acho que os caras já estavam de olho nela há algum tempo, pois logo quando

parei em frente à academia fui abordado por dois caras armados...

- Caramba... Mas você está bem?

- Eu tô, mas minha moto já era...

- Você não tinha seguro?

- Da moto não, só do carro...

- Puts...

- Agora eu tô aqui na delegacia registrando ocorrência, não sei que horas vou sair

daqui...

- Quer que eu vá até aí?

- Não, fica aí mesmo, não quero você nesse ambiente de delegacia.

- Amor, eu tô preocupado...

- Fica tranqüilo, eu vou ficar bem, daqui a pouco eu to em casa.

- Humpft.

- Te amo!

- Eu também.

Desliguei o telefone com o coração apertado, ainda bem que não aconteceu nada

com o meu petit, a violência parecia ter fugido do controle, eu já não me sentia mais seguro andando sozinho pelas ruas de São Paulo, mas não adiantava eu querer culpar só São Paulo, pois esse tipo de coisas acontecia no mundo inteiro, e a tendência era piorar.

Voltei até o banheiro e terminei de escovar os dentes, aproveitei e fiz a barba também que já estava me incomodando. Fui até o quarto vestir uma roupa, voltei ao banheiro e procurei pelo meu relógio de pulso, mas não encontrei, comecei a vasculhar o

criado mudo quando em um amontoado de papeis deixei cair a carteirinha de vacinação da Dani, eu havia esquecido completamente que faltava ela tomar uma vacina e já estava atrasada. Coloquei um tênis, passei um pouco de gel no cabelo e fui até a cozinha buscar a coleira da Dani que ficava dentro da ultima gaveta do armário, no caminho lembrei que havia deixado o relógio sobre a mesa da sala.

- Dani... Dani... Vamos passear com o papai...

Coloquei a coleira nela, peguei o celular, coloquei o óculos escuro e saímos pela

área de serviço, pois não podia andar com animais nas áreas sociais do condomínio.

Quando chegamos à portaria o porteiro estava recebendo um pacote dos Correios, mas

aquela mula esqueceu que o portão era automático e trancava ao bater e acabou ficando pro lado de fora.

- Bom dia seu Bader!

- Bom dia, Douglas.

- Seu Bader, faz um favor pra mim?

- Qual?

- Abra o portão que acabou trancando?

- Hahaha... Onde que abre?

- Tem um botão verde ao lado do teclado dentro da guarita...

Sobrou pra mim, tive que abrir o portão para poder sair e ele entrar, até que foi uma

cena engraçada, mas eu ia expor isso na reunião de condomínio, pois era a segurança dos condôminos que estava em jogo, se fosse um ladrão teria o abordado e entrado no

condomínio com muita facilidade.

Eu e a Dani vínhamos caminhando tranqüilamente pela calçada até que um gato

vira-lata passou em nossa frente, a Dani começou a querer correr atrás do gato e eu

tentando segurá-la, a fúria dela era tanta que não demorou muito e a coleira se desprendeu de seu corpo, e eu com o dedo machucado não consegui segura-la, nunca vi a Dani correr tanto na minha vida, eu também nunca havia corrido tanto até então, o gato cinza conseguiu escapar sem nenhum arranhão, subindo na árvore da calçada, eu já não agüentava mais correr, comecei a sentir falta de ar e mal estar, o gato eu consegui achar, mas a Dani eu a perdi de vista quando ela dobrou a esquina. Comecei a entrar em pânico, não era possível que um basset ia sumir assim tão fácil, corri pela Avenida Higienópolis quase morrendo sem ar e quando cheguei ao cruzamento com a Avenida Angélica avistei o Daniel atravessando a rua, vindo de encontro a mim com a Dani em seu colo, de calça jeans comuns detalhes rasgados, meia caidinha aparecendo a cuequinha como eu gostava, camisa baby look preta, óculos escuros e cabelo todo espetadinho, um tesão de homem:

- Ela tá fugindo de você? Hahaha... Cansou do Bader, Dani...?

- Ai que sustou você me deu...

- Eu?

- A Dani. Você também.

- O que aconteceu pra ela sair correndo desse jeito?

- Ela viu um gato correndo na rua e começou a correr atrás...

- Mas você deixou ela andar solta pela rua?

- Claro que não, você não está vendo ela de coleira arrebentada?

- Calma amor, eu tô vendo...

- Desculpa, é que fiquei nervoso...

Comecei a chorar e tremer, o medo de perder minha companheira de tanto tempo

me fez perder o controle, e os sarros do Daniel me deixaram mais puto ainda.

- Pega ela aqui...

- Você nunca mais faça isso com o papai.

- Petit... Você reparou que foi nesse cruzamento que nos conhecemos?

- É verdade...

- Pra onde você estava indo?

- Vou levar a Dani pra tomar vacina na veterinária...

- Eu vou com você.

Fomos caminhando e conversando até a veterinária que ficava ali perto, levei a Dani

no colo para não correr o risco dela escapar outra vez, no caminho eu e o Daniel íamos

conversando.

- Daniel, fiquei preocupado com aquela história de assalto...

- Ah... Deixa pra lá...

- Amor, você me deixou com o coração apertado.

- Mas eu to aqui, perto de você, te amando como sempre...

- Hum... Você fez o boletim de ocorrência?

- Fiz, mas tenho quase certeza que não vai dar em nada.

- Por quê?

- Você acha que vão encontrar minha moto? A uma hora dessas ela deve estar em

outra cidade, estado...

- E por que você não colocou no seguro?

- Não tinha grana pra isso, agora que montei a academia tive que economizar ao

máximo, dei preferência ao carro que custa mais...

- E por que você não me pediu?

- Não acho justo...

- Se estamos juntos, é também para dividir os problemas... Um deve ajudar o outro.

- Desculpa amor... E também como eu ia saber que você tinha grana?

- Se perguntasse saberia...

- Que mal lhe pergunte, mas quanto você ganha, Bader?

- Eu não tenho salário fixo, eu ganho por contrato...

- Como assim?

- Eu não tenho uma renda fixa, eu fecho um contrato com uma empresa para

produzir a publicidade dela e ganho um valor pelo trabalho, pode durar um mês ou um ano, não tem tempo estipulado.

- E isso equivale a quanto?

- Meu último contrato eu fechei em 800 mil...

- Quê?

- Sim...

- Caralho... Também queria um emprego desses... Ganhar 800 pau por mês.

- Não é por mês, é por contrato. Fechei o contrato por dois anos com essa empresa e

vou ganhar 800 mil por esses dois anos...

- Ah... Mesmo assim, é muita grana...

- Nada vale ter todo esse dinheiro e não ter você ao meu lado.

- Se você soubesse o quanto minha vida mudou depois que te conheci...

- Mudou em que sentido?

- Em todos... Você tem uma maneira de me fazer feliz que ninguém tem, um

encanto no olhar, uma sedução oculta...

- Pare com isso...

Comentários

Há 2 comentários.

Por Hartz em 2016-06-30 03:11:06
Quero mais ... PF 😭😭😭😭😭
Por joão em 2016-06-30 02:09:13
❤️❤️😭 amo tanto ler este conto.. ✨