Cap. 11,2:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

Vários estudos têm sugerido que nos pacientes com AIDS, a solidão e isolamento

aumentam a morbidez psiquiátrica, particularmente a depressão. A prevalência de

depressão é maior na população HIV positiva é em torno de dez vezes maior do que na

população geral e está dentro da variação encontrada em outras doenças crônicas 5 a 8%.

Eu já não tinha mais vontade de viver, só chorava, minha vida se tornou um

pesadelo, tinha dores no corpo, me sentia carente com muita freqüência, não tinha fome,

não saia de casa e muito menos atendia telefone. Passei um mês em casa, isolado do mundo e da realidade. Às vezes eu conectava a internet para limpar a caixa de e-mail e fazer algumas pesquisas sobre o vírus do HIV, por mais que as pesquisas diziam que um portador sadio pode viver o resto da vida sem a doença se manifestar eu ainda me sentia um doente, apesar de somente ser portador do vírus e não ter a doença manifestada. Um dia levantei para enviar um e-mail pra produtora, quando olhei minha caixa de e-mail lotada havia um que me chamou atenção, foi um e-mail que conseguiu resgatar minha vida outra vez.

Em uma manhã ensolarada, acordei muito mal, triste, carente, havia passado a madrugada inteira em claro, sem vontade de fazer nada, às vezes dava aquela vontade de chorar, tive até febre.

Fui limpar minha caixa de e-mail e fui excluindo todos, exceto um que me chamou

atenção, era um texto onde dizia que tudo dependia só de mim:

TUDO DEPENDE SÓ DE MIM - Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite.

É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.

Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição.

Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar

minhas finanças, evitando o desperdício.

Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.

Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou

posso ser grato por ter nascido.

Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho.

Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus por ter teto

para morar.

Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de

fazer novas amizades.

Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para

recomeçar.

O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.

E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.

Tudo depende só de mim.

(Charles Chaplin).

E por que eu teria que ficar trancado em casa lamentando? Será que isso me ajudaria? Resolveria meu problema? Só dependia de mim, foi pensando assim que desliguei

o computador, fui tomar um banho bem gostoso como eu fazia antes, enchi a banheira com sais que havia trazido da França, passei uma hora tomando banho de espuma e ouvindo minhas músicas favoritas, depois arrumei minha mochila para voltar pra academia, mas antes de sair de casa eu dei comida pra Dani, liguei na produtora onde eu trabalhava e avisei que no outro dia estaria voltando com toda força, o bom de trabalhar naquela produtora era que eu ganhava pelo que eu produzia, tinha vezes que eu ficava meses sem trabalhar, pois cada trabalho publicitário que eu fechava me rendia no mínimo cinquenta mil, quando era com grandes empresas eu chegava a ganhar duzentos mil em média, sendo assim eu trabalhava quando eu queria.

Peguei o elevador e desci até o S1, joguei a mochila no banco de trás do carro, abri

o porta-luva, peguei meu estojo de CD’s, escolhi um e fui escutando e cantando no trânsito, claro que dessa vez eu tomei o cuidado pra não bater no carro de mais ninguém.

Cheguei à academia e não havia muita gente, as televisões em frente à esteira

estavam ligadas, cinco televisões, cada uma em um canal diferente, pra variar havia

esquecido minhas luvas para levantar peso, segui em direção ao vestiário, quando olhei pra esquerda avistei o Daniel auxiliando uma senhora na esteira, meu coração disparou, eu estava de óculos escuros por causa das olheiras e também havia chorado a semana inteira. Passei por ele e o cumprimentei com um “bom dia”, na hora reparei que ele ficou desconsertado e ao mesmo tempo surpreso por me ver ali, já que por um mês eu sumi do mundo. Fui até o vestiário e deixei minha mochila no armário 08 como sempre fazia, voltei para a sala de treino e fui fazer um pouco de esteira, comecei a caminhar devagar, somente para fazer circular o sangue, o Daniel veio até mim para colocar presença na minha ficha:

- Tudo bem com você?

- Na medida do possível sim, e com você?

- Eu poderia estar melhor se estivesse ao seu lado...

- E sua mãe, como está?

- Está bem, amanhã ela volta de Londres, foi passear na casa da minha tia.

- Que legal, tô pensando em conhecer Londres.

- Eu adoraria te acompanhar...

Ele ia falando e se aproximando de mim como se fosse me beijar, eu ia aumentando

a velocidade da esteira na tentativa de dificultar sua aproximação, mas ele vinha se

aproximando cada vez mais, tentei me esquivar com a esteira ligada e acabei me

desequilibrando, quando ia caindo da esteira o Daniel me segurou com um abraço bem

apertado, trazendo meu corpo pra junto do seu, ficamos ali olhando um para o outro com a respiração ofegante, olho no olho, o desejo e a vontade de tê-lo novamente era mais forte que eu, aos poucos nossas bocas iam se aproximando e quando íamos nos beijar, eu me afastei.

- Melhor não.

- Não faz isso comigo... Volta pra mim, vai?

- Prefiro não entrar nesse assunto...

- Eu só queria entender o porquê!

- Porque eu não te amo mais.

- É mentira... Você não consegue falar isso olhando nos meus olhos...

Saí de perto dele e fui pro vestiário, tremendo, nervoso, se ele continuasse com

aquela conversa eu acabaria não resistindo, entrei no vestiário e encostei a porta, eu estava suando, tirei a camisa, respirei fundo, deitei no banco de madeira que ficava no centro do vestiário e fiquei olhando pro teto, em meio aquele silêncio, só se ouvia o barulho de um chuveiro pingando, provavelmente alguém não havia fechado direito, logo em seguida o Daniel entrou abrindo a porta com tudo, o barulho me assustou fazendo com que me levantasse, fiquei olhando ele trancar a porta e ir até mim, pegando pelo meu braço, encostou na parede, abriu suas pernas e me puxou pra junto dele, colando barriga com barriga, minhas pernas entre as dele fizeram o encaixe perfeito, seu braço direito passou por baixo da minha axila cruzando minhas costas até sua mão encostar no meu ombro direito, sem que eu pudesse impedir ele começou a me beijar à força, meu coração disparou, fui pego de surpresa, tentei resistir no começo, me debati, o empurrei, mas foi inútil resistir aquele braço forte laçando meu corpo seminu, sentindo novamente sua pele junto da minha, me deixei envolver pelo clima de amor que pairava sobre nós, era um beijo selvagem, caloroso, um beijo que matava a saudade dos velhos tempos, sentir sua mão na minha nuca outra vez, o ritmo da sua respiração fungando na minha orelha, as batidas do seu coração que palpitada a cada carícia minha, naquele momento eu fui feliz, sendo possuído pelo amor da minha vida, entregue de corpo e alma à paixão, ele me beijava e perguntava com carinho:

- E agora... Você ainda insiste em dizer que não me ama?

- Pára...

Nesse momento eu recebia suas chupadas em meu pescoço.

- Por que parar, se podemos ser felizes juntos como sempre fomos?

- É melhor cada um pro seu lado...

- Chega. Eu quero você e vou ficar com você.

- Eu te amo!

- Repete...

- Te amo...

- Hum... Deixa eu sentir novamente esse corpo junto ao meu...

- Chega.

- Agora não... Olha o estado que você me deixou!

Realmente, o volume que ficou era notável à distância, até eu ficaria com vergonha

de sair dali naquele estado, pensei duas vezes se deveria “ajuda-lo”, mas pensando bem era melhor não cair em tentação.

- Desculpa, mas você que provocou.

- Volta pra mim?

- Me dê um tempo?

- Um tempo pra quê?

- Pra pensar, ver se é isso mesmo que eu quero pra mim...

- Tudo bem, eu espero, por você eu espero a vida toda.

Mais um pouco que ele insistisse, eu não teria resistido e me entregaria à paixão, não é fácil resistir quando se ama alguém como eu amava o Daniel. A dor que eu sentia no

meu coração era enorme, sem ele minha vida se tornou vazia, sem sentido, eu estava

vivendo somente por viver, enganando a mim mesmo quando dizia que não o amava, na

verdade eu queria olhar em seus olhos e dizer que ele era tudo pra mim, queria dormir e

acordar ao lado dele, tê-lo pra sempre comigo.

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