Cap. 02:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série Uma História de Amor

CAPITULO 2

- Eu acho que você me odeia, cara...

- Foi mal... O quê você faz aqui?

- Eu trabalho aqui, e você?

- Eu treino aqui.

- Se não me engano, eu havia te contado que era professor de Educação Física...

- Ah... É verdade... Que coincidência...

- Pois é, não pense que eu esqueci da balada.

- É verdade, é só marcar...

- Que estilo de música você curte?

- Eletrônica, rock...

- Eu adoro música eletrônica...

- Eu conheço uma balada que toca umas legais.

- Fechado. Sábado está bom pra você?

- Pode ser.

- Falou.

Já não me senti bem encontrando o Daniel pela segunda vez dando-lhe umapancada, desse jeito ele ia me achar um atraso de vida, se é que já não me achava. Depoisde pagar minha divida com ele não pretendia o ver nunca mais, tamanha era a vergonha quehavia ficado, o pior de tudo era que ele dava aula na mesma academia que eu malhava,pensando bem, até que faz sentido quando bati em seu carro, estávamos próximos doshopping... Ele deveria estar saindo da academia na hora do acidente.

Na terça-feira cheguei um pouco mais cedo na academia, pois não consegui dormir

com os latidos da Dani por causa do gato da vizinha, ao entrar na academia notei que o

Daniel já estava lá, um pouco triste.Fui até o vestiário deixar minha mochila e trocar de roupa, depois peguei minhaficha nos arquivos e fui fazer esteira, programei a esteira como sempre fazia e comecei acaminhar, o Daniel se aproximou de mim para colocar presença na ficha:

- Bom dia!

- Bom dia, Daniel! Tudo bem com você?

- Humpft... Estou um pouco deprê...

- Aconteceu algo?

- Mano... A vida é tão cruel cara...

- Olha, se você precisar desabafar, quiser trocar uma idéia, pode contar comigo,

bele?

- Você se importa se eu te alugar um pouco?

- Relaxa, se precisar estamos ae.

- O quê você vai fazer depois daqui?

- Vou pra casa, por quê?

- Está a fim de dar um rolê?

- Só se você dirigir...

- Beleza.

Depois do treino, fui até o vestiário tomar um banho pra tirar o suor, passeidesodorante para não ficar transpirando igual uma torneira, Daniel já me esperava noestacionamento da academia, entrei no carro e seguimos sem rumo, sem destino.

- Alguma vez você já se sentiu culpado pela tristeza de alguém?

- Isso acontece às vezes...

-É assim que estou me sentindo, um lixo.

Daniel estacionou o carro em uma vaga de zona azul e fomos conversando ecaminhando pelo Centro de São Paulo. Nenhum ser humano é livre de problemas, todos

temos problemas e quando achamos que estamos livres de um, aparece outro, seguido deoutro e mais outro. Paramos no Vale do Anhangabaú e ficamos sentados conversando, emfrente ao Municipal.

- Lembra daquele namoro que eu te falei que havia terminado?

- Sim, lembro.

- Pois é, ela tentou se matar por isso.

- Caramba...

- E o pior de tudo é que ela estava grávida, esperando um filho meu...

- É complicado, mas pense que você não é culpado...

- Claro que sou...

- Claro que não, você sabia que ela estava grávida?

- Não, fiquei sabendo hoje.

- Então, você não deve se achar culpado por algo que não cometeu, se vocêterminou um relacionamento é porque não estava mais afim, ela teria que ser adulta osuficiente de entender isso, pra mim não passa de infantilidade.

- Eu fiquei triste...

- Eu compreendo que você tenha ficado triste, mas você não deve ficar guardandouma culpa que não é sua, ficar carregando fardo dos outros.

- Mas era meu filho...

- Sim, era uma vida inocente que pagou pela irresponsabilidade da mãe.

- Não agüento mais pressão em cima de mim.

- Você precisa se distrair, ocupar sua cabeça com outras coisas.

- É... Mas não tenho amigos que curtam umas loucuras...

- Agora você tem a mim.

- Da hora cara, pra onde vamos então?

- Agora?

- Demorô...

- Já sei.

Saímos do Centro e fomos para um parque de diversões aqui mesmo em São Paulo,fazia tempo que eu não ia a um lugar desses. Não estava muito cheio, o dia estavaensolarado, ainda bem que eu estava de boné, se não iria ficar todo queimado de sol.

- Nossaaaaaaaaaaaaa... Bader você é o cara... Faz muito tempo que eu nãovenho num lugar desses...

- Então vamos aproveitar.

- Com CER-TE-ZA.

- Vamos começar pelo SkyCoaster?

- Só se for agora.

SkyCoaster era uma espécie de rede que era segurada por alguns cabos e erguida até

o topo de uma torre, onde era dado um sinal e nós puxávamos uma corda onde liberava adescida.Colocamos a rede com a ajuda dos instrutores, no começo me deu um frio na

barriga, só de pensar em despencar lá do alto segurado apenas por dois cabos me deixavade perna bamba, mas o Daniel me encorajou.

- Vamos lá... Uhuuu.

- Será que tem como voltar atrás?

- Agora já não, vai ter que pular...

- Parem isso...

- Não adianta, ninguém vai ouvir, pra descer daqui só puxando essa cordinha...

- Ai caramba... Eu to com medooooooo.

- Haha, segura firme na minha mão...

Ele pegou na minha mão e segurou forte, na tentativa de me confortar e me deixarmais à vontade, confesso que me confortou, mas não tirou meu medo totalmente.

- Olha isso...

- Não vou olhar nada...

- Abre o olho e olha como os carros na Marginal parecem formigas...

- Pára que já estou quase em pânico.

- No 3, hein?

- Ah meu Deus...

- 1... 2... 3... Uhuuuuuuuuuu.

- Ahhhhhhhh.

- Que demais... Uhuuuuu... Mais um... Mais um...

- Chega, pelo amor de Deus...

- Já acabou... Que demais cara.

- Quase morri.

- Haha, foi da hora.

- Agora tem que pegar a fita do nosso sobrevôo...

- É verdade, deixa eles descerem a gente daqui...

Depois de tirarmos todo o equipamento fomos buscar o certificado de coragem epegar a fita onde gravaram nossa descida, claro que eu devo ter pagado o maior mico, poisfiquei o tempo todo de olho fechado.Pegamos o certificado e a fita, depois fomos andar na montanha russa, ficamos 40minutos na fila esperando para andar no brinquedo:

- E ai, Daniel, está gostando?

- Estou me divertindo muito, e você?

- Eu também...

Demos risada pela situação, eu estava era morrendo de medo, na verdade eu estavaera traumatizado com o SkyCoaster, temendo os outros brinquedos. Chegou nossa hora de

andar no brinquedo, eu e Daniel fomos um do lado do outro, à nossa frente foi um pessoalzoeiro, fazendo a maior zona:

- Está com medo?

- Claro que não.

- Sei... Haha...

- Pára...

Começamos a subir, no começo estava tranqüilo até que paramos lá no topo, respirei

fundo e fechei os olhos, começamos a descer com tudo, nem consegui gritar, fiquei imóvel,o Daniel só dava risada, pra ele estava sendo uma festa, pra mim estava sendo um martírio,o pior de tudo é que fui eu quem deu a idéia.

- Nossa cara... Que demais...

- É mesmo, né?

Comecei a concordar com ele, tive receio dele me achar um chato, nunca se sabe oquê se passa pela cabeça das pessoas. Deixamos a montanha russa e fomos dar uma volta

pelo parque, eu estava adorando me distrair um pouco, já que há tempos eu não fazia umprograma divertido desses, e o Bruno nunca que iria comigo se eu pedisse, paramos umpouco para comer e conversar na lanchonete, estávamos desde a academia sem comer nada,já era hora de forrar o estômago:

- Vamos parar aqui?

- Sim, estou morrendo de fome.

- Eu também...

- Vou pedir um suco...

- Nossa... Bader...

- O quê?

- Estou adorando passar essa tarde com você...

- Sério?

- Sim, estou me divertindo pra caramba.

- Eu também.

Eu nunca tive um “melhor amigo”, sempre me relacionei com “melhores amigas”,

pois achava que garotos tinham umas brincadeiras idiotas, mas nunca fui afeminado,

ninguém dizia que eu era gay ou parecesse um.Mesmo com meu braço imobilizado, deu para brincar nos brinquedos, por um bomtempo esqueci dos problemas, foi ótimo.

- Esse suco está sem açúcar...

- Eu pedi com adoçante...

- Eu também, mas parece que não colocaram nada...

- Chame a garota do caixa...

- Deixa pra lá, não está tão ruim assim.

- Eu já ia atirando essa bolinha de papel nela...

- Você tem boa pontaria?

- Antes de ferir meu braço eu tinha.

- Haha... DU-VI-DO.

- Mas eu falo sério.

- Vamos ver então, topa fazer uma aposta?

- Que aposta?

- Tiro ao alvo, quem conseguir derrubar todas as latinhas da pirâmide ganha a

aposta.

- E o que você quer apostar?

- Se eu ganhar, amanhã você vai ter que ocupar meu dia assim como hoje.

- Tá certo, e se eu ganhar não precisarei mais pagar a balada de sábado e não

precisarei olhar nunca mais pra sua cara...

- Hahahaha... Fechado.

Fomos até o quiosque onde tinha o tiro ao alvo, varias latinhas empilhadas e um

garoto fazendo as apostas, a cada latinha derrubada o prêmio ia ficando mais sofisticado.

- Começa você, Bader.

- Tudo bem...

Mirei bem no meio, respirei fundo por três vezes, contei até cinco e atirei, todas as

latinhas começaram a cair, mas a última tremeu, tremeu, e não caiu, ou seja, não derrubeitodas. O quê tinha a fazer agora era torcer para que o Daniel não derrubasse nenhuma,porque aí eu não teria que passar o dia com ele outra vez.O problema não era passar o dia com ele, pois o Daniel era uma companhia muitoagradável, eu só não queria correr o risco de “acertar” o Daniel mais uma vez.

- Agora é minha vez...

Ele mirou na pirâmide, ficou imóvel olhando a pilha de latas, quando eu menosesperava, ele atirou, derrubando toda a pilha de latas, foi inacreditável, mas ele conseguiuderrubar todas as latas, claro que eu não gostei muito da idéia, mas o que poderia fazer...

- Ganhei... Terei companhia pra amanhã... Uhuuuu...

- Pois é.

Depois pegamos os prêmios e seguimos para casa, não vou dizer que odiei passar o

dia no parque com o Daniel, pois na verdade eu adorei, fazia muito tempo que eu não medivertia assim.

- Bader... Muito obrigado.

- Pelo quê?

- Pela companhia, fazia muito tempo que eu não me divertia assim em umacompanhia agradável...

- Você me deixa sem graça...

- Muito obrigado mesmo...

- Relaxa, eu também me diverti muito, pode ter certeza.

- Eu achei que você não gostou muito da idéia de passar o dia comigo amanhã...

- Mas...

- Cara, não vou te forçar a nada, se você não estiver afim, não tem problema, não

quero te forçar a fazer o que não estiver a fim.

- Sem problemas, vamos cumprir as promessas feitas, promessa é divida.

- Eu quero saber se você está a fim, está?

- Claro.

- Então beleza. Vou te deixar em casa agora.

- Firmeza.

Gostei do jeito que ele levou a conversa, me deixando escolher se iria ou não, só por

causa disso eu decidi cumprir a promessa de passar o dia com ele, no caminho ele foi mecontando sobre sua vida profissional, suas experiências em outros empregos, muito

interessante e inteligente.No outro dia fomos ao parque do Ibirapuera correr um pouco, andamos de bicicleta,foi muito divertido apostar uma corrida com o Daniel, ele corria muito e acabei perdendooutra vez, tive que pagar um sorvete pra ele.Depois de brincarmos bastante, sentamos embaixo de uma árvore e ficamosdescansando, conversando, até que o Daniel levou uma bolada na cabeça, atrás de nós tinha

uma quadra onde havia uns moleques jogando futebol, Daniel pegou a bola, olhou feio paraos garotos e disse:

- Quem foi que jogou?

- Desculpa aê mano...

- Desculpa o caralho, vamos ver quem é bom aqui.

- Devolve a bola deles, Daniel.

- Calma... Vamos fazer uma aposta, desafio vocês 6 a jogar um contra...

- Tá beleza. Você e mais quem?

- Eu e meu amigo aqui, contra vocês 6.

- Firmeza.

- Mas Daniel, eu não sei jogar futebol...

- Deixa comigo...

Começamos a disputar uma partida de futebol contra os garotos da quadra, acabeime arriscando no futebol que eu nem sabia jogar, até que não jogava muito mal, já o Daniel

jogava muito bem, deu um show, driblou três garotos e marcou um gol. Os garotos não

gostaram muito.O Daniel veio correndo de encontro a mim e me deu um abraço de felicidade.Aquele abraço mexeu comigo. Aquele corpo suado sem camisa encostando-se ao meu,fiquei sem reação, senti um arrepio, um frio na barriga. No fim da tarde cada um foi pra suacasa, Daniel me deu uma carona até em casa, ele nem quis subir pra tomar um suco, estavacom pressa, pois ia buscar sua mãe na casa de uma amiga.

Cheguei em casa e fui tomar um banho de hidromassagem, coloquei meu MP3 efechei os olhos pra relaxar um pouco. Fiquei pensando naquele abraço que o Daniel medeu, naquele sorriso, ele não saia da minha cabeça.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Fla Morenna em 2016-04-23 10:35:28
show
Por ®red® em 2016-03-23 02:10:07
Agora sim. tamanho nota10, conto nota 10, risadas nota1000. cara to rindo ate agora, atestado de coragem com olho fechado, ate vovó chica.kkkk. muito bom.
Por Um alguém em 2016-03-19 14:11:40
Muito bom!
Por dodo em 2016-03-19 10:38:41
Muito.Bom Continua