Cap. 04:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série OS FILHOS DA LUA

Jacob acordou com a sensação de ser tocado levemente na barriga. Era um toque delicado, sem pressa, e ele sorriu ao reconhecer o perfume de Isac.

- Jacob...

Ele ouviu o soluço que ele tentava sufocar com a mão sobre a boca. As lágrimas pingavam sobre sua face confirmando a impressão.

- Porque está chorando meu pequeno?

Ele abriu os olhos e viu os hematomas em seu rosto. Tudo voltou de repente. Jacob sentou-se na cama, olhando em volta e tentando puxa-lo para trás do corpo. Reconhecia aquele quarto. Estava na casa de Noah.

- Você está bem?

Isac assentiu e expôs o pescoço marcado. Agora havia apenas um sinal avermelhado onde a lâmina deixara um rastro de seis centímetros, aproximadamente, mas o efeito era o mesmo.

Jacob a abraçou, ameaçando esmaga-lo contra o peito. A respiração ofegante por medo e ultraje. Alguém ousara ferir seu Isac! Pior, bem embaixo do seu nariz. E, por uma questão de lógica, supunha que ele o salvara da ameaça sombria. Outra vez.

- Isac, estamos bem. Nada nos ameaça aqui. O bastardo feiticeiro nunca vai ter uma chance contra meu adorável Defensor, não é?

- Pensei que ele o mataria. Havia tanto sangue! Em mim, no quarto, em você...

- Acabou – ele disse, revendo todo o incidente pelas memórias de Isac. – você foi corajoso, e estamos vivos por isso. Foi mais forte do que eu.

- Não, Jacob! O bastardo o atacou pelas costas! Não foi sua culpa.

- Eu devia ter sentido alguma coisa. O cheiro, o movimento, qualquer coisa. Quando penso no que poderia ter acontecido com você... .

- Chega! Mesmo sendo um Defensor, você não é infalível. Um dia ruim, um sujeito mais determinado... Acontece, Jacob.

- Isso não é desculpa.

- Quem precisa de desculpas? É assim e pronto! Se não estivesse comigo naquele galpão, eu não estaria vivo agora.

- Se eu não houvesse feito você ir até lá? É isso que você quer dizer?

- Escute, Jacob. Estou farto disso. Não quero mais ouvir você se depreciando, e também não vou permitir que os outros o depreciem. Você executa as leis, pune os que as desrespeitam e destrói criminosos que devem ser destruídos. Às vezes você vence, às vezes precisa de ajuda, e às vezes... . oh, estou muito feliz por ter estado lá para impedir essa parte do “às vezes você perde”, porque não sei o que faria se... se...

- Eu estou aqui. Vivo e inteiro.

- Eu sei. E quero que saiba que, se vou mesmo me tornar um desses Demônios, algumas coisas vão ter de mudar por aqui. Estou farto de como seu povo o trata, e estou cheio de ser chamado de “o humano” no mesmo tom que algumas pessoas dizem “o sarampo”. Seu povo é composto por um punhado de esnobes preconceituosos e estagnados, e eles precisam de algumas boas lições de educação.

- Entendo - ele respondeu com tom debochado.

- O que é que você entende?- ele disparou, cruzando os braços sobre o peito.

- Entendo quando dizem que você é lindo quando fica zangado.

- Ah, isso...

- E isso.

Ele o beijou. Isac suspirou e correspondeu, relaxando imediatamente. Sua confiança nele era implícita, evidente.

- Sabe de uma coisa?

- O que, meu pequeno?

Acho que estou começando a gostar de ter você aqui, dentro da minha cabeça.

Só dentro da cabeça?

- Jacob! Não estamos na sua casa!

Ele se abaixou para beijar o pescoço do menor:

- Jacob... e Noah?

- Ele vai encontrar alguém. Recuso-me a dividir... – Jacob o virou com um movimento ágil e repentino, deitando-o de costas na cama. – Um corpo tão pequeno e tão perfeito! Suave, suculento e saboroso...

Ele o beijou no pescoço, no peito e nas pernas...

- Você nunca fica somente de roupa intima... sempre todo coberto.!

- Bem, desculpe, mas não tenho tempo de ir em casa buscar meu guarda-roupa. Tenho sorte por Noah ter me emprestado algumas peças, ou não estaria tão feliz com a minha companhia. Agora, para de me atormentar e volte ao beijo... .

Jacob riu.

- Está me dando ordens desde que nos conhecemos!

- Bem se houvesse me escutado, eu não teria sido obrigado a dar ordens.

- Vou mostrar que posso tomar algumas decisões sozinho.

Jacob voltou a acariciá-lo e a beija-lo, preparando-o para o momento da posse.

Isac estava na mente de Jacob, por isso sabia como seu gosto e o seu cheiro aguçavam as necessidades que nele habitavam. As novas sensações iam ganhando força em seu corpo. Esse prazer... era parecido com o que já havia conhecido, mas diferente. A euforia dentro dele era como um felino preparando o bote. Metade de seu ser queria gritar e exigir que ele parasse, mas a outra metade pedia mais e mais.

Sentia-se mais selvagem sob aquelas mãos. Contorcia-se, emitindo sons primitivos como a excitação que o dominava. Jacob invadia sua mente, adicionando o mental ao físico, despejando imagens eróticas das lembranças do primeiro encontro, da primeira vez, de como havia sido senti-lo e encontrar satisfação em seu corpo, uma experiência que nenhum outro poderia rivalizar.

Isac ardia. Arqueando as costas, ele sofreu um longo e inconcebível espasmo. O grito anunciou a explosão que fez para o tempo naquele instante mágico. Ele ainda vivia o clímax quando Jacob o seguiu. Os dois ficaram caídos sobre a cama, entorpecidos e arfantes, juntos. Jacob mantinha o rosto aninhado na curva do pescoço de Isac, que se tornara um segundo lar para ele. Ali compreendia o que significava ser completo. Queria rir, gritar e chorar. A mistura de impulsos era tão variada que ele riu, embora ofegante. Mas depois de um minuto ou dois, o riso tornou-se mais fácil e forte, até se transformar em poderosas gargalhadas.

O chão tremeu sob as botas de Elijah. Era o único aviso da chegada de Jacob. Ele olhou para o nigromante acorrentado à parede com os braços em cruz e sorriu.

- Oh-oh, disse ao sentir o segundo tremor.

Um pedaço do teto caiu sobre a cabeça do nigromante. Elijah sentou-se e sorrindo, pôs os pés sobre a mesa diante dele, cruzando as pernas na altura dos tornozelos e balançando a cadeira para trás.

Elijah sentiu uma profunda admiração por Jacob pela entrada dramática. O piso sujo da masmorra explodiu como um vulcão, trazendo à tona um furioso Demônio. Depois, cada partícula da terra voltou ao seu lugar e o chão se fechou como se nada houvesse acontecido.

Jacob flutuava a pouco mais de meio metro do solo, os olhos ameaçadores e sombrios, o poder de sua presença alterando a pressão atmosférica na masmorra. O olhar que lançou para Elijah indicava que ele já havia notado alguma coisa.

Elijah adivinhou o pensamento do Defensor: esse não era o mesmo nigromante que Jacob vira no galpão.

Mas nem por isso estava menos encrencado.

- Essa é a criatura que ousou pôr as mãos em minha parceira?

- Sim, é ele mesmo. Ainda não o castiguei, porque sabia que você tem o direito de cuidar dele.

- E ncontrou a arma com que ele me atingiu?

- Ainda não.

- Nem vai encontrar – disse o feiticeiro.

- Não importa. Jacob riu. Você não vai ter outra oportunidade de usá-la.

- Palavras corajosas, considerando que é um covarde que teme me enfrentar de igual para igual.

Jacob aproximou-se e rosnou no rosto do nigromante, exibindo um par de presas raramente vistas.

- Coragem estúpida, considerando que foi um covarde a ponto de usar alguém que amo para me atingir. Sabe o que os seres da minha raça fazem com quem ameaça algo que nos é tão precioso?

- Tudo que os monstros podem fazer. Não saberia determinar o quê. Vocês assumem a nossa aparência, mas não enganam mais ninguém. Já vi que aparência têm quando despem o disfarce.

Elijah levantou-se de repente. O movimento brusco e furioso do gigante fez o feiticeiro se encolher, apesar da bravata.

- Gostaria de explicar como obteve essa rara visão? Jacob sugeriu sorrindo.

- Já vi muitas coisas, - continuou o feiticeiro. Vampiros queimados pelo sol, um lobisomem explodir perfurado por uma bala de prata, demônios escravizados, babando dentro de um simples pentagrama riscado no chão... Esse disfarces humano que todos usam se dissolve rapidamente depois de serem intimados.

- Na verdade, agora que vamos matar você, não tem importância o que sabe. As informações morrerão com você.

- Faça como quiser, mas nunca destruirá todos nós. Nós nos preparamos para algumas prisões e mortes.

- Entendo. Então estamos diante de algum tipo de associação? Jacob sorriu exibindo suas presas. – Tenho seis séculos de vida, nigromante. Vi sua raça ir e vir dezenas de vezes. O Demônio aqui ao meu lado já viu mais maneiras de derrotar um humano que você pode imaginar. E mesmo assim, com toda essa longevidade e todo esse poder, não ameaçamos outras raças, a menos que um indivíduo ou uma sociedade nos dê motivo para isso. Mas gente como você, que tenta perverter nosso poder para uso próprio... E, pelo que disse, não é só a minha raça que persegue e destrói com malícia e sem motivo. E agora, nigromante? Qual de nós é o monstro?

- Quer um motivo? Pense em você mesmo, em como o encontrei! Diz que não destrói, mas e quanto ao terremoto em Dover que me levou até você? Sim, sabemos do que é capaz, e sabemos que alguns desastres naturais não são tão naturais assim. Sempre que há um terremoto, um tsunami, uma tempestade particularmente violenta, uma praga ou um incêndio, sabemos que existe grande possibilidade de um dos seus estar no epicentro. São tão fáceis de rastrear, que nem imaginam! - O feiticeiro gargalhou. Seiscentos anos se passaram! A tecnologia os superou. Não podem mais se esconder. Tem ideia de quantas propriedades danificou com aquele tremor de terra? Quantos foram feridos? Quantas mortes? Esse último foi pequeno, mas e os outros, os terremotos que destroem nações inteiras? Por que faz isso? Para se divertir? Para mostrar poder ao seu amante?

Elijah conteve Jacob. Sabia que a ofensa a Isac teria sido suficiente para provocar uma agressão.

- Isso é tão tipicamente humano... - Jacob comentou. - Julgar as pessoas só porque são diferentes. Não pára para tentar entendê-las. Considera-as uma ameaça só porque tem um pouco mais de poder ou porque são um pouco mais inteligentes. Ignorância e medo são os ingredientes que despertam os opressores de sua espécie desde o início dos tempos. Dessa vez não vai conseguir. Não conosco. E eu cuidarei para que não consiga atingir nenhuma outra raça do mundo noturno. De hoje em diante, gente como você não terá mais segurança. Acha que e fácil nos rastrear? Sabe que seu cheiro pode ser sentido por muitas milhas? Nós podemos sentir seu cheiro, nigromante. Isso os toma vulneráveis, porque é algo que não podem disfarçar ou esconder. Quantas vezes pegou um de nós com sua fabulosa tecnologia? Uma? Duas? Porque, acidentalmente, um de nós cometeu o raro engano de perder o foco, ou porque um dos nossos, ainda muito jovem, não aprendeu a controlar o poder que a natureza nos dá?

- Não é só isso, Demônio. Mais um segundo, e aquela aberração com quem se deita teria gritado seu nome aos quatro ventos, fazendo de você uma presa fácil e eterna para nós, nigromantes.

Dessa vez Elijah não teve tempo de conter Jacob. Ele girou numa nuvem de poeira e materializou-se bem na frente do feiticeiro, segurando-o pelo pescoço e batendo sua cabeça contra a parede.

- Ele não sabe qual é o meu nome, nigromante! Ninguém sabe. Especialmente nossos parceiros, exatamente por essa razão. E juro que vai responder pelo mal que causou a ele. Enquanto eu viver, você vai ficar acorrentado a essa parede pagando pelo que fez! Cada vez que respirar, se respirar, será somente porque eu decidi assim. Lembre-se disso na próxima vez em que pensar em falar do meu parceiro.

Jacob soltou o nigromante e desapareceu num funil de poeira, causando um tremor de terra que fez desabar o teto sobre a cabeça do feiticeiro.

Isac acordou sozinho. Jacob não estava na cama. Ele abriu os olhos, mas teve de protegê-los da luz solar que penetrava no aposento.

- Vejo que já se habituou aos hábitos noturnos - disse uma voz dentro do quarto.

Assustado, se sentou na cama e olhou na direção da voz, puxando o lençol sobre o corpo nu para proteger-se do olhar penetrante de Gideon.

- O que esta fazendo aqui?

- Um Demônio do corpo pode estar onde quiser. E não adianta tentar sentir minha presença, porque estou longe demais para isso.

- Longe? Você está bem aqui! Sentado na cadeira, dentro do quarto...

- Isso é uma projeção astral. É assim que nós, da espécie do corpo viajamos. Separamos alma e corpo e podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo. E mesmo nesse estado, posso tocar, cheirar e sentir qualquer outro corpo físico.

- Isso não explica o que esta fazendo aqui.

- Precisava encontrá-lo. Sei que Noah e os outros logo vão me pedir que o examine.

- E tinha de ser agora, na privacidade do meu quarto, enquanto eu dormia? Não estou vestido para receber visitantes. Além do mais sua ousadia não vai contribuir muito para reaproximá-lo de Jacob.

- Ele disse alguma coisa sobre nosso... estranhamento?

- Não. Você disse.

- Eu?

Comentários

Há 1 comentários.

Por Garoto Secreto em 2016-07-09 10:53:01
Muito bom posta logo...