Cap. 02:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série OS FILHOS DA LUA

Isac abriu os olhos, piscando rapidamente para afastar o sono e ganhar foco.

Ele se sentou de repente, a cabeça latejava, e a urgência de se deitar e dormir novamente era quase irresistível.

Então se lembrou. Tudo. Num pânico súbito, olhou em volta procurando por Jacob, apavorado por tê-lo abandonado, por ter permitido que os dois invasores o ferissem ou prejudicassem de alguma forma. Ele o viu do outro lado do espaçoso salão de paredes de pedra, a figura alta e elegante parada ao lado de uma lareira que criava um padrão de luzes douradas e sombras. Isac suspirou aliviado, feliz por ele parecer tão saudável quanto antes.

O Defensor olhou por cima de um ombro e o viu sentado, olhando em sua direção. Dessa vez, estava menos surpreso por ele despertar prematuramente, por resistir a outra tentativa de sedação pela remoção de sua energia física. Sim, a reação ainda causava espanto, especialmente por saber que, Noah estava por trás do esforço. Jacob pôs as mãos nos bolsos e cerrou os punhos com força. Só então começou a caminhar na direção do menor, sabendo que tinha de encará-lo, mesmo depois de tudo que fizera, mesmo levando no coração o arrependimento e uma profunda tristeza. Seus passos eram firmes. Estava envergonhado, mas era forte o bastante para admitir um erro e enfrentar as conseqüências.

Isac o viu se aproximar, identificando propósito e determinação nos passos elegantes. Seu coração batia acelerado, resultado das lembranças do contato físico. Ainda podia sentir as mãos em seu corpo, o abraço envolvente, os beijos sensuais e inebriantes. Recordava como havia sido fácil para ele seduzi-lo, como os dedos o submeteram sem nenhum esforço ou violência, apenas com um desejo evidente e incontrolável.

Jacob parou. Ainda havia entre eles metade do comprimento do salão, mas, de maneira inexplicável, sentia-se perturbado por suas recordações dos momentos de intimidade física. As lembranças projetavam imagens que o atingiam diretamente. Tudo era muito real nessas recordações, quase como se ainda as vivesse. Todo o seu corpo ficou tenso em resposta ao que estava ocorrendo. A veia em seu pescoço pulsava freneticamente enquanto, com ar sonhador, Isac lembrava suas caricias e seus beijos.

Jacob não era telepata. Também não tinha o dom da empatia, a capacidade de sentir as emoções alheias. Então, como podia captar pensamentos e sentimentos dessa humana? E mais, sentia que ela também estava muito próxima de sua mente, tomando o intercambio rico e muito intimo. Devia se sentir desconcertado com a idéia, mas outra coisa chamou sua atenção.

De repente ele percebeu que não havia medo nas memórias desse homem. Nem mesmo quando ele questionava o próprio abandono, quando pensava em como tudo havia sido inusitado e incoerente com sua conduta habitual, não havia arrependimento. De fato, ela agia com uma resignação assustadora. Estava curiosa, intrigada, e ate se permitia imaginar como seria ser novamente tocado por ele, beijado por sua boca. Jacob estremeceu, o corpo todo respondendo ao encanto de sereia representado pelo conjunto de pensamento: e estimulo visual.

- Jacob...

Seu nome era usado como um aviso, e o chamado serviu para quebrar o encanto, trazer de volta sua atenção ao ambiente. Dois homens entravam no salão. Isac também olhou para os recém-chegados, reconhecendo os dois desconhecidos que haviam invadido a casa de Jacob. Ele se levantou, adotando uma postura defensiva ao colocar-se entre eles e Jacob.

Dessa vez eles se faziam acompanhar por uma mulher.

Isac teve certeza de que jamais vira criatura mais bela em toda a sua vida. Ela era alta, com pernas longas e cabelos cor de café que desciam como uma cascata de caracóis por toda a extensão de seu corpo. O vestido branco lembrava uma toga, exceto pelo detalhe de uma faixa grossa que se ajustava sob os seios. O modelo realçava a pele bronzeada e acetinada, acentuando o verde de seus olhos. Ela transmitia uma serenidade que fazia Isac0 pensar numa deusa, mas o sorriso agradável e doce que iluminava seu rosto a tomava mais acessível do que todos os homens ali presentes. A desconhecida parecia pairar como um anjo sobre seres de temperamento volátil e perigoso.

- Em meu nome e em nome de meu irmão, eu lhe dou as boas-vindas a nossa casa, Isac - ela disse com voz cativante e um acento exótico, com uma modulação sofisticada. - Não tenha medo, ninguém aqui vai machucá-lo ou permitir que seja ferido de alguma forma. Meu nome e Magdalegna. Meus amigos me chamam de Legna, e você pode me tratar assim, se quiser.

- Onde estou? Quem são essas pessoas? - Adotando um tom mais firme e acusador, Isac disparou: - Por que atacaram Jacob?

Os três outros o observavam com interesse, notando que o pequeno humano dava mais um passo na direção de Jacob com a evidente intenção de protegê-lo. A idéia de uma criatura tão frágil protegendo um Defensor os divertia.

- Não foi um ataque contra Jacob. Elijah interferiu para proteger você. Quando ele chegou e viu aquela cena, teve me do de que Jacob o ferisse - Legna explicou.

- Bem... - Isac pôs as mãos na cintura e ergueu o queixo num gesto visivelmente irritado. - Considero essa intervenção bastante presunçosa, e sei que vão concordar comigo. Nos só estávamos... - Ele ficou vermelho ao lembrar com nitidez em que circunstancias haviam sido surpreendidos. - Ele estava... - A frustração cresceu quando ele notou que todos tentavam conter o riso. Jacob teve a ousadia de tossir para disfarçar o som de uma risada debochada. Bem, não creio que seja da conta de ninguém o que estávamos fazendo!

- Está enganado. E vai compreender porque é da nossa conta quando souber de tudo.

Isac sentiu-se invadido pelo pânico. Centenas de possibilidades passavam por sua cabeça enquanto ela tentava encaixar no panorama geral uma explicação lógica para a inquietação daquelas pessoas.

- Você é casado! - exclamou, girando sobre os calcanhares para olhar para Jacob.

- Não. Não sou casado - ele respondeu com um toque de humor. - Não pensou na estranheza do ataque que sofri? Em nenhum momento considerou que todos os eventos das ultimas horas são um pouco... estranhos?

A pergunta o fez hesitar. Lembrava-se do vento, do poder que se abatera sobre eles e os arrancara do chão como se fossem folhas secas. Aquele que chamavam de Noah dera um passo em sua direção e, depois disso, não lembrava de mais nada. Ele erguera a mão, e no instante seguinte ele havia acordado ali, no sofá. E antes disso, quando caíra da janela de seu apartamento no quinto andar, Jacob a pegara no ar. E haviam lutado juntos contra uma terrível criatura que ele dissera ter sido seu amigo no passado.

- Tudo bem, que diabo esta acontecendo aqui? - ele disparou. Não sentia medo. Nascera com uma insaciável necessidade de informação, uma busca que superava qualquer tipo de pavor que pudesse experimentar ao se ver cercada de tais peculiaridades. De repente percebia que estivera ignorando por completo algumas estranhas ocorrências.

-Antes, quero lembrá-lo de que não corre nenhum perigo conosco - disse Noah.

- Ei, eu quebrei o nariz do nosso Arnold Schwarzenegger, ali. Não esqueçam. Não tenho medo de nenhum de vocês. Isac inclinava a cabeça na direção de Elijah, cujo rosto estava ligeiramente corado pelo constrangimento.

- Isac - Legna começou com tom gentil, mas seguro. Somos muito parecidos fisicamente com você e outros de sua espécie, mas somos... Diferentes.

- Espécie? O que vocês são? Aliens, talvez?

- Não - respondeu Jacob. - Somos nativos da Terra.

Isac virou-se ao ouvir a voz dele, certa de que, qualquer que fosse a revelação que pretendiam fazer, preferia ouvi-la dele.

- Ah, por favor! Será que podem ser mais claros?

- Muito bem. - Jacob respirou fundo e aproximou-se dele, desejando poder tocá-lo. - o folclore humano e repleto de mitos e lendas sobre criaturas que vagam na noite. Vocês as chamam de monstros. Para nós, são só outras espécies. Eles existem, como nos existimos, como a raça humana existe. Os Nightwalkers. As culturas das Trevas. Somos nós, os que vivemos melhor nos ciclos escuros da Terra.

Isac inclinou a cabeça para o lado, como se tentasse absorver essa informação. Jacob podia sentir seus pensamentos rápidos enquanto ele tentava encaixar dados captados anteriormente. Ele era tão inteligente, tão perspicaz, que o funcionamento de sua mente o fascinava.

- Ah... - Ele balançou a cabeça. - O que está me dizendo? Vocês são vampiros? A idéia dava novas implicações ao encontro com Jacob, fazendo seu corpo estremecer e a mente vibrar. O conceito poderia explicar por que os outros acreditavam que ele corria perigo com Jacob. Por outro lado, essa gente toda não era bronzeada demais para alguém que se esconde do sol?

- Não, não somos, embora eles existam - Legna respondeu.

- Ah, existem? Francamente! Estão brincando comigo ele protestou com um sorriso incrédulo.

- Existem muito mais coisas no Universo do que o homem pode conhecer.

- Sim, mas criaturas que nunca morrem e sugam o sangue alheio?

Jacob riu, aproximando-se e tocando seu rosto com delicadeza quase reverente.

- Os Vampiros se ofendem com esse tipo de descrição.

Além de algumas habilidades especiais, da fraqueza e da necessidade por sangue, muitos Vampiros não são diferentes de qualquer pessoa que você conheça. Você pode ate conhecer um ou dois sem saber.

- Ei! Daqui a pouco vão dizer que existe coelho da Páscoa e lobisomem! - Isac exclamou.

- Bem, não posso afirmar nada sobre o coelho da Páscoa, mas Licantropos definitivamente existem, embora nem sempre como lobos.

Isac olhou para Jacob como se ele tivesse criado asas. - Então - murmurou com voz fraca, hesitante -, se você não e nenhuma dessas coisas, o que está dizendo que e?

- Eu vou responder, Isac, mas lembre-se... - Jacob afagou seu rosto mais uma vez, tentando acalmá-lo. - Uma palavra tem terríveis implicações em uma determinada mitologia, a sua, nesse caso, mas nem sempre essas implicações correspondem a realidade.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Andrômeda- chan em 2016-06-01 20:28:55
Eu to adorando o seu conto.
Por Anjinho Sonhador em 2016-06-01 01:40:40
nossa, amando seu conto.