Cap. III,I:

Conto de Salém como (Seguir)

Parte da série DESEJO DE SANGUE

- Eu não sei onde você mora?

- Eu te mando o endereço por mensagem!

- Mas ...- o outro o interrompe.

- Te espero antes do escurecer – e entra na delegacia.

Já estava chegando ao endereço que Fernando lhe enviará por mensagem a tarde, era uma casa muito bonita, ficava em meio a arvores, era quase um santuário natural, a última casa que vira já fazia uns 5km, as árvores eram imensas e com certeza muito antigas, a casa parecia ser grande, era toda de madeira com janelas de vidro, uma varanda grande com mesas e cadeiras postas, ele parrou o carro próximo a entrada, saiu e se dirigiu a casa, bateu na porta, não tendo resposta chamou por Fernando, continuava sem resposta, resolveu dar a volta na casa, nos fundo encontrou um lago grande que cobria boa parte do terreno, no fundo mais árvores, ao que parecia ser uma floresta, mas nem sinal de Fernando. Já estava se preocupando, quando ouviu um carro chegando, andou de volta para a frente, a ponto de ver Fernando saindo do carro, continuava sério, mas sorriu ao ver Miguel:

- Pelo visto já viu meu quintal!

- É lindo!

- Mas você é mais! – Fernando se aproxima lhe dando um selinho, logo vai em direção a casa – agora venha conhecer por dentro.

- Fernando eu preciso ir, logo vai escurecer, eu preciso me acorrentar.

- Venha Miguel – ele grita de dentro, Miguel entra contraditório, por dentro era ainda mais encantadora, moveis planejados bem disposto, uma lareira no canto e no outro lado ficava a cozinha onde vira Fernando largando o que trouxera na mão. – Me siga – Fernando entra mais para dentro da casa, Miguel o segue, indo parar em um quarto, no meio uma cama de casal imensa, na lateral um armário de roupas, uma escrivaninha, uma janela grande, e no chão, seus olhos pararam ao ver correntes de prata largadas no chão, com cadeados e chaves da mesma prata – Assim você pode vir qualquer noite do mês!

Miguel olha pela janela e vê a lua se aproximando do céu, ele então se senta no chão e Fernando o acorrenta, prendendo os cadeados e guardando as chaves. Então se sentou na cama e ficou olhando para Miguel, o mesmo se acomodou como pode, logo sentiu a luz de prata da lua lhe penetrando, percorrendo seu sangue, suas entranhas, sentiu seu organismo se revirar e seus sentidos aguçar, ouviu ao longe um uivo, ai a escuridão o dominou e o lobo surgiu.

Por mais que já tivesse visto a transformação antes, cada vez que ela acontecia a sua frente era como se o mundo parasse ao seu redor, era quase inacreditável, estava em sua frente, aos seus olhos, mas mesmo assim era algo surpreendente. O lobo cinza surgiu a sua frente, olhava para a janela e uivava, mas logo Fernando ouviu outro uivo vindo da floresta atrás de sua casa, se assombrou, e o lobo cinza ouviu também, suas orelhas levantaram em direção a janela, Fernando foi até lá, olhou para fora e não conseguia acreditar, por mais que ter um homem se transformando em lobo na sua frente já era fora do normal, ver ali, em seu quintal, ao lado do lago, o lobo negro que vira a quase um mês na casa de Miguel, isso era inconcebível, sendo que Miguel havia dito que o lobo não havia aparecido novamente.

O lobo cinza acorrentado uivava para a lua, e o lobo negro do lado de fora uivava na mesma direção, então veio vindo em direção a casa, Fernando olhou para o Miguel transformado, ele temia por Miguel, mas já o vira lutando, e ele já ganhara do lobo negro uma vez, mas tinha medo de correr o risco novamente. O lobo negro se aproximou, estava prestes a atravessar a janela, quando novamente o lobo cinza uivou, mas desta vez foi um uivo de terror, até mesmo Fernando se arrepiou, olhou para Miguel, e o lobo estava tentando se libertar das correntes, e estas já estavam cravando em sua pele a queimando, Fernando se aproximou com medo, o lobo então o cheirou por um instante, logo soltou mais um uivo, que fez Fernando cair para trás, ele então pegou as chaves e abriu os cadeados libertando o lobo cinza, o lobo se aproximou dele, mostrou os dentes, mas seu focinho foi guiado para outro canto da casa, o lobo então foi em direção, Fernando se levantou e correu atrás a tempo de ver o lobo negro em sua sala e o lobo cinza pulando sobre ele, logo o lobo negro correu para fora rumo a floresta, o lobo cinza foi atrás, Fernando gritou por ele, mas sem resultado, tinha medo do que poderia acontecer a Miguel, ou ao lobo cinza em seu corpo no caso, Fernando conhecia a floresta e sabia que caçadores colocavam armadilhas para animais, foi pensando nisso, que pegou sua arma e uma lanterna e começou a correr por onde vira Miguel correndo, foi em direção aos uivos, já não eram apenas dois, eram vários, com tonalidades e timbres diferentes, com certeza haviam mais lobos na floresta, e Miguel era só um contra, com certeza, o bando do qual não queria fazer parte.

Fernando foi seguindo os sons, mas do nada tudo parou, um silencio pairou sobre a mata, e isso não era bom, ele aprendera com seu avô, que “quando a mata fica em silencio, é porque o perigo está perto”. Ele girava a lanterna para todos os lados, em direção a cada ruído que pudesse ouvir, a lua brilhava forte e grande no centro do céu, sua luz por si só já iluminava tudo, de repente Fernando é atingido, ele salta longe em direção a uma árvore, com o tombo ele perde a lanterna, e arma cai de sua cintura, ele então passa a procurar a arma e a lanterna, quando o lobo que o atingiu volta lhe mostrando os dentes; Esse era maior e mais forte que o lobo negro, era prateado, como a luz que a lua emanava, olhos vermelhos, e dentes afiados e brancos, estes prestes a atacar Fernando, suas orelhas estavam erguidas, mas mesmo assim ele não sentiu, e foi atingido por outro lobo, um lobo cinza, era Miguel, que o atingiu em cheio, o arremessando para longe, outro lobo surgiu, esse também era prateado, mas tinha manchas negras em seu pelo e era menor, e o lobo cinza pulou neste outro, cravando- lhe os dentes no pescoço, arrancando sangue do lobo, o mesmo se transformou em homem, na verdade um menino, devia ter uns 16 anos, seus braços eram fraquinhos, sua pele branca, e em seu pescoço o sangue já escondia a mordida que Miguel dera, o outro lobo prateado, que fora arremessado, já não estava mais ali, Fernando nem havia percebido que ele se fora, então se levantou e foi em direção ao menino, tentar ajuda-lo, mas então o lobo cinza avançou contra ele, mostrando os dentes, vindo em sua direção, Fernando ainda clamou por Miguel, mas este não ouvia, foi quando o lobo pulou contra ele o arremessando longe, e caindo sobre uma armadilha, os dentes da armadilha ficaram cravados nas patas do lobo, que gania de dor, o sangue jorrava, Fernando se aproximou, e o lobo uivou para a lua, seu uivo era de angustia. Fernando se aproximou mais, e viu o lobo se transformando em homem, e vira Miguel a sua frente, seu pé continuava preso na armadilha, e o sangue jorrava em quantidade, Fernando se aproximou, fez força para abrir a armadilha, e depois de muito tentar conseguiu libertar o pé do outro, que deu um grito quando se fez, Fernando o pegou no colo, em uma mão agarrou a lanterna e voltou em direção sua casa, lá chegando colocou Miguel no sofá, pegou o telefone e ligou para Samanta, pedindo para que fosse em sua casa com urgência, então voltou a Miguel, seu pé ainda jorrava sangue, pegou então uma toalha a molhou e enrolou no pé de Miguel, depois voltou a seu quarto, pegou seu lençol, voltou a sala e cobriu o corpo do outro, Miguel continuava desacordado. Fernando ligou novamente para sua irmã, mas esta já estava a caminho.

Demorou alguns minutos ela chegou, viu Miguel estirado no sofá, com um lençol cobrindo seu corpo, mas por entre ele via arranhões, no peito, cortes nas mãos, e uma toalha encharcada de sangue enrolada no pé direito, olhou para Fernando, o mesmo estava com olhos vermelhos, mostrou o pé ferido para ela e apenas disse:

- Foi uma armadilha de pegar lobos na floresta, por favor o ajude, depois eu te explico!

-Claro maninho, sem problema, mas teremos de leva-lo ao hospital.

- Não, ele não pode ir ao hospital, você é enfermeira, sabe o que fazer, por favor, o ajude.

Ela olha para ele entre dúvida e preocupação. Mas resolve agir, busca um kit de primeiros socorros em seu carro.

Depois de pronto ela fala a Fernando antes de sair:

- Olha, o que eu fiz foi limpar e impedir a infecção, mas ele precisa ir a um médico, foram cortes profundos, provavelmente precisara de pontos, não sei o que aconteceu, nem sei se quero saber – ela olha para Miguel deitado no sofá – ele é lindo mano, eu sei, mas cuidado para não se machucar, não de novo – ela dá um beijo na face de Fernando, e sai porta a fora, entra no carro e sai.

Fernando volta para dentro, olha Miguel deitado no sofá, Samanta havia limpado os arranhões, e enfaixado seu pé, agora ele apenas dormia sob efeito dos calmantes que ela dera, Fernando se aproximou, sentando no chão ao lado do sofá, colocou eu braço sobre Miguel, e ali ficou.

Já era de manhã quando sente Miguel se mexer no sofá, ele se levanta, havia dormido sentado, no chão de sua sala, ao lado do sofá, Miguel ainda dormia, Fernando então foi até a cozinha, preparou o café da manhã, arrumou a mesa e voltou a sala, neste tempo, Miguel já havia acordado, estava sentado no sofá, olha seu pé, quando Fernando chegou, seus olhos eram de dúvida, a que Fernando respondeu:

- Por onde começo, pelo fato do lobo negro aparecer na minha casa, ou por eu ter soltado você das correntes, ou por você ter seguido o lobo pela floresta, daí eu te segui, onde apareceu mais um lobo branco, que me atacou, daí você atacou ele, apareceu mais um que você deu uma bocada no pescoço, daí quando eu fui ajudar você veio para cima de mim, ou começo pelo fato de que você me empurrou e caiu em cima de uma armadilha de caçador – Fernando olha para Miguel que estava atônito – daí você voltou a ser você, eu te trouxe pra casa e chamei minha irmã...

- Você chamou sua irmã? – Miguel o interrompe preocupado.

- Sim, ela cuidou de você, mas não se preocupe, eu não falei nada.

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