É apenas a vida

Parte da série Um amor que só nós conhecemos

Bonjur chicas e chicos. Ká estoys qui quierendo tus seu muchachos lindxs.

Depois desse francês-espanhol-alemão-anglicano (pré-medieval) estou aqui de volta com o penúltimo capítulo da série “Só nós conhecemos”, mais conhecida pelos leitores como “Só nós conhecemos o sofrimento que é esperar tanto por um capitulo novo”.

Peço perdão a deus pelos meus pecados (que não são poucos)(diga-se de passagem) e para vocês também. Faculdade é uma bosta, fim de semestre é uma bosta, mas agora aproveitem porque EU TÔ DE FÉRIAS SUAS LOUCAS !!!! Aguarde muitas novidades (nenhuma na verdade)(estou pobre em novidades no momento)(e rico nos usos de parêteses)(ninguém me segura).

Falando sério agora (ou nem tanto). Tá acabando a série de vez. O último capítulo já está praticamente pronto (falta uns detalhes e uns rabiscos ali e aqui) e é bem lindo (mesmo sem CEDRIGO)(eles só irão ter um filho juntos)(SPOILER) ASHUAHUAUSHUAHS

Como todos os penultimos capítulos, este também tem música... coloquem lá para tocar e sejam feliz com essa experiência lunática.

https://www.youtube.com/watch?v=fweNLKBCh5A

Agora vamos aos comentários dos maravilhosos companheiros que se eu pudesse, beijaria na boca cada um deles #VemQueTem.

“Klaus” – eu quase te fiz chorar? Acho que não estou trabalhando diretiro u.u ashuahsuhaushua valeu lindo, beijão pra ti seu safadão <3

“SafadinhoGostoso” – Ai que lindo, muito obrigado por ler, por comentar e por chorar... só tenho a agradecer <3

“ CarolSilva” – Só espero que o próximo não demore tanto... vish... vish... pelo jeito demorou né? ? ? Desculpa de novo Cá, eu sou bem babaquinha, qlq coisa leia de novo aí que eu te ajudo a se situar hahahahah muito obrigado linda <3

“diegocampos” – “quase chorou”, não trabalho com “quases” hahahahahhahaha zoeira deiegão, fico feliz por vc ter curtido, obrigado lindo <3

“fran” – literalmente quem destruí foi você lindão... amei seu comentário e fico muito grato por você sempre estar por aqui curtindo (e lá no wattpad tb)... só tenho a agradecer por tudo... beijão <3

“Mr.Kurt” – Aceita que Cedrigo já foi hahahahahah (nem eu aceito né) muito obrigado por tudo, é bom saber que as pessoas se emocionam assim com minha história, espero que continue assim. Valeu por tudo cara, abraço e beijos pra ti <3

“Felipe Fernandes” – COMO ASSIM? ? ? SÓ CRIOU VERGONHA NA CARA AGORA? Pode tratar de começar a comentar todos os capítulos menininho hahahahahahahahahhahah zoas, seja bem-vindo Fê e manda as coisas por mim lá no wattpad “CesarFNeto” ... eu até tenho e-mail, mas é bem difícil de eu entrar “cesar.neto2@outlook.com”, mas manda lá que qlq coisa tamo junto... muito obrigado por tudo e até mais, beijão <3

“PAULOGABRIEL” – AHHAHAHHAHAHAHAH escrevendo com os pés foi a melhor!!! Mas foi a Val-Val mesmo que morreu #perdido kkkkkk e o São João foi muita paçoca, muita barraca do beijo e muitos “olha a cobra” (essa última parte é mentira) hahahahha valeu Paulo e um beijo pra ti gatão <3

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X – É apenas a vida

Era apenas uma carta.

Guardada em um envelope laranja, a única parte que eu tive coragem de ler foi o destinatário onde estava escrito, em uma letra de mão redonda e caprichada “De: Diretora Valéria; Para: Cesar Frederico Neto”.

Aquelas eram as últimas palavras que a professora Val-Va havia deixado para mim. Ela escrevera na noite da sua morte o que me fazia sentir-se um pouco culpado com aquilo tudo. Mas porque eu ainda tinha medo? Era apenas uma maldita carta para a homenagem de formatura!

Passei uma semana inteira pensando sobre se deveria ler ou não o pedaço de papel. Uma semana bem conturbada como qualquer outra da minha vida. Muitos foram os motivos que me fizeram tomar a decisão de agora. Abrir essa carta era de extrema necessidade para mim, e eu não deixaria medo nenhum me impedir agora.

Mas para você entender um pouco mais disso tudo, terei que voltar uma semana atrás. No que eu gosto de chamar de “A pior segunda-feira da minha vida”.

Velório, tristeza, enterro... tudo isso caiu sobre a minha cabeça de uma hora para outra. Eu não lembro o que eu comi, com que pessoas eu falei, como eu fui, como eu voltei. Nada parecia realidade. Perder uma pessoa tão especial é algo que eu não desejo a ninguém. Sentir na pele essa dor é pior ainda.

Eu não acreditava que ela tinha partido. Os médicos disseram que tinha sido um infarto, eu não acreditei. Meus amigos disseram que ela morreu na diretoria da escola, eu não acreditei. Rodrigo veio até a mim e me abraçou e disse que ela estaria num lugar melhor, eu também não acreditei.

E na manhã de segunda-feira eu acreditei. Quando eu entrei na escola na esperança de que era um dia normal de aula, na esperança de manter o mesmo sorriso e viver as minhas palhaçadas como eu fiz por três anos consecutivos atazanando a vida daquela mulher. Sentir a sua falta naquele ambiente me fez acreditar.

Sai no meio da aula e corri até a quadra. Passei pelo pequeno corredor e entrei na salinha e lá fiquei trancado. Chorei tudo o que eu não havia chorado o domingo inteiro.

Uma eternidade se passou até que bateram na porta da salinha.

- Achamos essa carta na sala da diretora! – meu professor de biologia entrou e ficou constrangido por me ver naquele estado – ela é dedicada a você, então... se precisar de algo, é só falar, ok?

E então ele deixou a carta em cima da mesa. E lá ela havia ficado por uma longa semana...

“É apenas uma carta”, pensei. “São apenas palavras”...

É apenas a vida.

“Morto no mundo, você foi encurralado por um desejo natural

Você quer pular junto da multidão atordoada com a vida

Mas como vai aprender a dirigir se está destruindo todas as engrenagens?

Você tem falado por horas,

Você tem dito que o tempo vai enxaguar cada torre para o mar.

E agora você tem essa ansiedade no peito...”

...

- Cesar! – escutei meu nome sendo chamado – Preciso falar com você!

“Preciso falar com você”, essas palavras eu ainda escutaria muitas vezes naquela semana.

Depois que Val-Val faleceu, eu dei uma afastada de todo mundo. Deixei a carta em cima da mesinha do nosso escritório e fui embora para casa. O restante da semana eu me ausentei da escola. Às vezes eu ia até o ponto de ônibus, mas com medo de encarar aquele lugar, eu ficava vagando pelo bairro. Outras vezes eu não conseguia nem levantar da cama direito. Parei de responder as mensagens de todo mundo. Bia e Felipe até tentaram ir em casa, mas minha madrasta destilou o seu “amor” em cima deles, dizendo que eu estava mal e não poderia receber visitas.

Passei a semana inteira estudando para o vestibular que eu faria no fim de semana. Aprendi sozinho, metade dos conteúdos do ano, me perdia em palavras, fórmulas matemáticas, livros de literatura, tudo menos a química.

E então naquela sexta-feira eu fui para a aula e a primeira pessoa que eu encontrei foi Bia.

- Oi, primeiramente, estou bem – disse com um sorriso sem graça no rosto – o que você precisa conversar.

- Ah desculpa – ela disse envergonhada – eu precisava falar urgentemente com você. As coisas nessa escola estão uma loucura. Onde você estava menino? Fizemos uma homenagem para a diretora na terça-feira, foi lindo! Você está bem?

- Sim – respondi – só precisava de um tempo para encarar essa realidade, eu não conseguiria encarar tudo isso.

Bia me abraçou e eu me senti muito melhor.

- Semana que vem é nossa última semana na escola, você está pronto?

- Estou bem mais que pronto! Temos que arrumar as coisas do baile não é não?

- Sim, vamos fazer uma reunião na segunda-feira com a comissão! Terá que ser o melhor baile de todos os tempos que essa escola já viu. – Bia falou entusiasmada.

- Conte comigo para tudo heim – disse me virando – agora eu vou passar entregar os atestados das minhas faltas, deixa eu ir lá.

Andei alguns passos até que Bia falou atrás de mim:

- Cesar! Estamos bem né? Quer dizer... você está bem?

Como resposta eu acenei a cabeça e mandei um beijinho para ela.

Segui andando até a secretaria para entregar os atestados médicos que eu havia arrumado e logo depois o sino tocou para a primeira aula da manhã.

Resolvi primeiro procurar o Rodrigo. Talvez ele estivesse magoado por eu não ter respondido suas mensagens a semana inteira e no mínimo eu devia algumas desculpas a ele. Corri em direção a sua sala de aula quando sinto alguém me puxando pelo braço.

- Ow Cesar! Tudo bem?

Tomei um baita susto quando cruzei com Otávio no corredor. Ele estava com uma expressão interrogativa no olhar. Lembrei-me pela primeira vez que ele e Rodrigo haviam terminado, eu tinha beijado o Rodrigo na frente de várias pessoas e, mesmo que eu tenha conseguido contornar o imprevisto todo, Otávio já sabia a verdade.

- E aí cara, beleza? – cumprimentei-o com um aperto de mão.

- Tudo sim – ele respondeu me encarando com aqueles olhos verdes – Precisava conversar um pouco com você.

- Agora? – eu perguntei já pensando em uma desculpa para sair dali o mais rápido possível.

- É meio urgente sabe? – ele disse – mas não vai demorar nem um segundinho direito.

Concordei e ficando parado na sua frente esperando ele falar algo. Otávio me observava e eu fiquei reparando o como ele tinha mudado um pouco. Sua pele estava pálida, seus cabelos perderam um pouco a cor, e as olheiras no seu rosto denunciava que ele não dormia fazia um bom tempo.

- Você e o Rodrigo voltaram né? – ele perguntou direto.

- Mais ou menos – respondi direto também – preciso conversar direito com ele, com tudo isso que aconteceu... estou meio confuso, sabe?

- Sei – ele me encarou em silêncio – mas esqueça, não é sobre isso que eu queria falar com você.

- Não? – suspirei aliviado.

- Na verdade eu precisava mais de um favor seu – Otávio disse me fazendo sentir um frio na barriga – Rodrigo terminou comigo porque eu terei que voltar para a minha cidade.

E então Otávio me explicou toda a história. Seus pais haviam se divorciado. Seu pai era um escroto e traia sua mãe. Agora ele tinha saído de casa e deixado a esposa e a filha pequena sozinhas na casa. Otávio ao saber disso, decidiu voltar para ajudar a mãe e a irmã.

- E ela está bem com o fato de você ser gay? – interrompi-o para perguntar.

- Acho que sim, ela só tinha medo de confrontar o machista do meu pai.

- E Rodrigo não sabe de nada dessa história?

- Bem por aí... eu não contei nada a ele. Você conhece o Rodrigo, ele tentaria ajudar, mas ele não entende esse tipo de coisa. Então ele me pressionou para dizer, e quando eu não tinha resposta nenhuma, ele pensou que eu o havia traído.

- Foi por causa disso que vocês terminaram? – perguntei sentindo pena de Otávio.

- Sim – ele respondeu meio entristecido – mas não é sobre isso o que eu quero te pedir.

- Então desembucha – apressei-o.

- Você pode ir amanhã comigo até a minha cidade? Vai ser bem rapidinho. É que eu preciso conversar com meu pai, ele está se negando a pagar pensão para minha mãe e ela não tem ninguém para recorrer...

- Calma lá – cortei-o rindo – eu não sou nenhum tipo de advogado cara, como eu vou ajudar?

Otávio sorriu com malícia e disse:

- Qualé Cesar! Seu jeito de fazer justiça é o mais eficaz de todos os tempos.

Bem, ele tinha um pouco de razão, e eu nunca recusava a ajudar um amigo, até mesmo o amigo que roubou meu namorado.

- Me encontre amanhã cedo na rodoviária – respondi – e daremos um jeito nesse seu pai.

...

- Preciso falar com você também!

Abri os olhos e me deparei com a professora Val-Val do lado esquerdo da minha cama.

- Mas que diabos você está fazendo aqui! – taquei um travesseiro nela que só ficou mais brava ainda.

- Isso lá é hora de acordar menino? – ela disse mais brava do que o normal – você esqueceu que amanhã você terá a prova que definirá o seu futuro?

- Me deixa dormir só mais cinco minutinhos... – respondi puxando o cobertor e voltando a fechar os olhos.

Levei um tapa na orelha que me fez pular da cama.

- Sempre quis te bater desse jeito menino e agora eu tenho essa oportunidade.

Com medo, levantei da cama e sai correndo da professora Val-Val. Abri caminho pela cozinha, abri a geladeira e tomei um suco de tangerina e continuei a correr. Parei de escutar a sua voz, e quando eu estava saindo pelo portão de casa, esbarro em um senhor de idade avançada.

- Platão? O que você está fazendo aqui? – perguntei surpreso.

Como resposta ele me deu um soco na cara.

- VOCÊ É RETARDADO MENINO? VOCÊ VAI IR AJUDAR O MENINO QUE ROUBOU SEU NAMORADO? VOCÊ TEM UMA PUTA PROVA AMANHÃ E VAI FICAR AJUDANDO O GAROTO QUE FEZ VOCÊ PERDER O AMOR VERDADEIRO.

Cocei meu rosto. O velho tinha dado uma pancada forte na minha cara, mas aonde mais doía era no coração. A dor da verdade atingiu-me em cheio. Estaria eu ajudando Otávio para ele mais tarde voltar com o Rodrigo? Aquelas palavras me deixaram refletindo por um bom tempo.

- Você está preparado para a prova de amanhã? – Val-Val perguntou atrás de mim.

Virei-me e a encarei por um instante. Nessa altura do campeonato eu já tinha percebido que aquilo tudo era um sonho. Suspirei um pouco e respondi, ainda fingindo que era real, na esperança de que fosse:

- Eu estou! – respondi.

- ESTÁ PORRA NENHUMA! – Val-Val gritou comigo – não vi você estudar química nenhuma vez sequer essa semana. O que aconteceu em? Não vai surgir nenhum novo diretor na escola para te oferecer um emprego! Então levanta essa bunda da cama e já para o s livros.

E então eu acordei.

Abri os olhos meio perdido. Olhei o relógio e já eram dez da manhã, tinha combinado com o Otávio de encontra-lo as onze na rodoviária. Pensei e repensei naquilo tudo até que eu tomei a decisão.

Liguei para o Otávio e confirmei a minha ida até a sua cidade.

Liguei o celular e a música ainda tocava. Tinha dormido pensando naquela música e o quanto ela fazia sentido nesse momento da minha vida.

Bem, eu acho que é apenas a vida, é apenas o natural,

Todos nós sofremos um pouco ao descer pelo buraco do coelho.

As coisas que te ensinaram, vão fazer fila para te assombrar,

Você tem as costas pressionadas contra a parede.

Estão te chamando ao telefone, não vai atender?

- Alô? – atendi o celular com surpresa.

- Como você está Cesar? – Rodrigo perguntou – esqueceu que eu existo?

Meu coração gelou por um instante. Pensei seriamente em tudo o que havia acontecido entre mim/Rodrigo/Otávio e nessa pensada toda, decidi que o certo era esquecer um lado e focar em outro, caso contrário acabaria louco.

- Que isso, me desculpa cara – respondi rápido – eu estou bem e você?

- Estou bem magoado, você acha que foi o único que sofreu com tudo isso? As outras pessoas também ficam tristes, também sofrem...

- Me perdoa... eu precisei dar uma afastada de tudo e de todos mesmo. Não foi nada pessoal.

Silêncio no outro lado da linha.

- Escuta – disse tentando achar as palavras – hoje a noite a gente pode se encontrar? Preciso falar com você, mas antes tenho que resolver vários problemas, hoje a noite aqui em casa, pode ser?

- Ok – foi a sua única resposta – Até lá!

- Ei! – tentei segura-lo na linha – Eu te amo.

Mas foi tarde de mais. Ele já havia desligado.

Corri até a rodoviária, pois já estava mais que atrasado. Fiz o ônibus parar no meio da esquina para eu entrar. O motorista me mostrou a cara mais semelhante de cu que eu já vi no mundo, mas mesmo assim me deixou entrar.

- Pensei que tinha desistido... – Otávio disse quando eu sentei no banco ao seu lado.

- Desistir? Você está falando com Cesar Neto cara... eu não sou de desistir.

E por um momento, quando o ônibus estava saindo da cidade, eu gostaria de desistir de tudo.

...

A única coisa que eu fiz de fato foi destrancar a porta do bordel em que o pai de Otávio estava hospedado. Como menino das “travessuras” como eu era conhecido, aprender a abrir portas com clips era fichinha para mim.

Daí para frente ficou tudo na mão de Otávio.

Jogado em uma caminha de solteiro com a fronha toda bagunçada, o pai de Otávio estava dormindo junto com uma moça, diga-se de passagem, bem caprichada. Os dois dormiam agarradinhos numa conchinha meio embaraçada. Ao ver a cena, Otávio se emputeceu e começou a berrar com o pai.

Seria engraçado, se não fosse trágico. O pai do menino, antes um senhor que se dizia “religioso e de moral”, acordou meio confuso e deu um salto da cama. A mulher, sua acompanhante (prostituta se vocês ainda não entenderam) observava o barraco inteiro.

Otávio mandou todo um discurso. Discurso esse que não vale ser registrado aqui, pois se não eu teria que digitar mil vezes as palavras “hipócrita”, ”nojento”, “covarde” e tudo aquilo que vocês podem imaginar. Para vocês não ficarem chateados, eu colocarei aqui a minha parte preferida do barraco.

- Você não venha me ensinar a ser homem de verdade seu veado de merda! – o pai de Otávio não tinha argumento e repetia essa frase a cada minuto. Até levaria ele a sério, mas no caso ele dizia isso de cueca bege (que só pra provocar, não deixava nenhuma marquinha interessante)(pelo jeito a garota brincou com os dedos).

- Homem? Você ainda se diz homem? – Otávio explodiu – VOCÊ EXPULSOU SEU FILHO DE CASA E ABANDONOU A FAMÍLIA PRA FICAR VAGABUNDIANDO POR AÍ, ISSO É SER HOMEM?

- Pelo menos eu não sou um marica como você, está vendo essa delicia aqui? Eu como buceta e é isso que você nunca vai fazer nessa vida!

E aí a garota mandou a melhor resposta de todas:

- Você nem conseguiu me comer na verdade, você brochou de bêbado e seu pipi nem ficou duro.

Soltei uma risada abafada, mas na hora não teve graça. Otávio apontou o dedo para o pai e disse:

- Foda-se o que você faz com sua vida. O negócio é o seguinte: você vai pagar pensão para a mãe e para a Suelen (irmãzinha dele) ou se não vamos te tacar na justiça, está entendendo?

Otávio apontou o celular para o pai e tirou uma única foto da cena toda.

- Você é que escolhe! – Otávio virou as costas e foi embora.

Fiquei parado, observando ainda a cara de raiva do pai dele. Olhei de novo para a menina e tive um pouquinho de compaixão.

- Eu não sei a quantia que vocês combinaram – tirei uma nota de vinte reais do bolso – mas aceite esse dinheiro como forma de desculpas, ok?

E então nós dois saímos do bordel e voltamos até a rodoviária.

- Você não vai querer ver a sua mãe? – perguntei puxando assunto.

- Não – ele respondeu – vou voltar amanhã.

- E agora, o que você vai fazer? – perguntei meio intrometido.

Otávio sentou-se no primeiro banquinho que viu e suspirou. Tentei me imaginar no lugar dele, minha família não fazia ideia de que eu era homossexual, pensar nisso me fazia estremecer. Admirei mais uma vez Otávio, ele era um grande amigo, porém...

- Eu vou ajudar minha família, porém eu ainda não sei como – Otávio respirou fundo e continuou – e ainda tem a questão com o Rodrigo.

Tocar no nome do Rodrigo não foi uma boa ideia. O silêncio constrangedor instaurou-se sobre nós dois até que ele teve coragem de quebra-lo.

- Você ainda o ama? – Otávio perguntou.

- Amo – respondi – você não vai desistir dele né?

Otávio concordou.

- Você deveria ter me deixado morrer pelo escorpião – falei com um sorriso.

- E você deveria ter me deixado apanhar dos homofóbicos – ele também sorriu.

Ele estendeu a mão para mim e me cumprimentou dizendo:

- Isso só ele vai poder responder.

- Então que vença o melhor! – falei competitivo.

Otávio tirou do bolso uma caixinha vermelha e a abriu. Dentro eu vi duas alianças douradas, ambas com uns detalhes verdes que preenchiam a circunferência dos anéis. Verdes como os olhos dos dois. Meu coração despedaçou-se na primeira vez que eu vi as alianças. Só depois eu entendi...

Ele iria pedir Rodrigo em casamento.

Como eu iria competir com isso?

...

Pela primeira vez na semana eu me senti confortável. E não é para menos dizer que eu estava nos braços de Rodrigo.

- E aí cara, o que você está a fim de fazer? – perguntei.

- Bia me contou que amanhã vocês tem vestibular! – Rodrigo fechou a cara – o que eu estou a fim de fazer? Eu quero é ver você estudando para amanhã seu lazarento.

E foi o que fizemos. Revisei grande parte da matéria com Rodrigo me dando uns toques ali e aqui. De vez em quando eu tirava a cara dos livros e estudava a linda anatomia de seu rosto. Ele me olhava sem graça e tentava concentrar-se na lição, eu me aproximava e dava um selinho de leve em sua boca.

Se toda vez que eu estudasse fosse dessa maneira... bem, eu não estaria tão encrencado agora.

- E se você passar? – Rodrigo perguntou – o que vai ser de nós dois?

- Eu vou para São Paulo. Mas eu posso voltar todo fim de semana e...

- Você não vai fazer isso – Rodrigo me cortou – é faculdade Cesar, você vai fazer novos amigos, conhecer novas pessoas...

Fiquei em silêncio digerindo a pergunta. E quando eu tinha a resposta, Rodrigo me deu outra patada na barriga:

- E você vai explicar como para seus pais que você está voltando apenas para me ver?

- Relaxa – respondi – você me conhece e sabe que eu sempre sou os meus jeitinhos.

- Cesar e os seus “jeitinhos”, coisa boa eu não espero viu. – Rodrigo falou balançando a cabeça.

- Você disse que não iria me pressionar – falei rindo.

- Não estou pressionando nimguém... – ele virou e me deu um beijo.

Estudamos até meia-noite. Depois disso nos deitamos na minha cama. Rodrigo ligou para a sua mãe e disse que dormiria em casa. Meu coração bateu mais forte quando eu escutei isso, mas Rodrigo foi logo me cortando com um beijinho de boa noite:

- Também estou com saudades – ele falou provocativo – mas eu quero você bem descansado para a prova de amanhã.

Não relutei. De fato estava bem cansado. Deitamos no que foi a melhor conchinha da minha vida.

- Eu te amo – falei – e nada vai mudar isso, independente do que acontecer.

- Duvido – Rodrigo respondeu – seria mais fácil de acreditar Cesar, mas temos o tempo contado no dedo para acabar.

Pensei em perguntar o porquê, mas ao invés disso, coloquei bem baixinho a música que dizia:

Eu estou na estrada que você está andando agora,

Ela não tem que ser tão escura e solitária.

Leva um tempo, mas podemos entender essa coisa,

E transforma-la de volta em como era...

...

- Podem começar a prova! – O fiscal falou e todos abriram seus cadernos de questões.

Abri o meu e já quis chorar. Eram no total, nove questões de química e elas estavam ali, já no começo da prova. Li a primeira questão e meus olhos encheram de lágrimas. Não entendi nada com nada. Reli novamente, continuei no zero. Senti minha mão tremer e meu coração acelerar. Pulei para a próxima questão, observei palavra por palavra, número por número, mas nada fazia sentido na minha cabeça. Porque eu estava ali? A quem eu estava tentando enganar?

Levantei a mão e pedi para o fiscal me deixar sair.

- Infelizmente você deverá esperar duas horas para sair da sala.

Colei a cara na prova novamente. Fui para a terceira questão. Aquele eu entendia! Sim, sim! Era sobre eletroquímica, eu me lembrava de quando a professora Val-Val me ensinou aquilo e eu ficava fazendo musiquinhas idiotas para guardar as formulas na cabeça. Eu me lembrava!

Resolvi o exercício e a resposta deu 17,8. Olhei para as alternativas e me decepcionei por inteiro.

A) -2

B) -1

C) 0

D) 1

E) 2

De raiva eu gritei. Chutei a carteira e me levantei. Os outros alunos me olhavam todos com surpresa, quando eu peguei a prova e rasguei-a na frente do fiscal. Meu coração batia forte e de medo eu sai de lá correndo o mais rápido possível.

Encontrei-me sentado na rua, desolado e destruído. Não conseguia acreditar no quão estupido eu era e sempre fui. Abaixei a cabeça na esperança de esquecer tudo aquilo, mas no meio da rua solitária, eu escuto uma voz:

- Eu não acredito que você desistiu!

Tomo um susto quando olho para cima e vejo a professora Val-Val novamente.

- Me desculpa – falei irônico – você sempre soube que eu iria falhar.

- Então me desculpa, mas eu acho que a única que falhou em algo aqui fui eu. Você é capaz Cesar, quantas vezes eu terei que te dizer isso?

- Agora é tarde de mais! – lembrei-a desse simples detalhe.

- Vai ser tarde de mais se você não acordar logo! Então vamos! Acorda pra essa vida moleque retardado.

E então eu acordei de mais um sonho.

A música ainda tocava bem baixinho no meu ouvido e aos poucos eu fui acordando e abrindo os olhos.

“ Você costumava ser como um leão

Antes de cair em prantos no meu colo

Você para quando pensa

Que não iria tão longe”

- Bom dia lindão – Rodrigo disse com um bocejo maravilhoso.

- Bom dia – falei ainda refletindo na letra da música.

Pensei um pouco no que eu deveria fazer. A prova de hoje definiria boa parte da minha vida. Se eu não passasse, teria que estudar um ano em cursinho e continuaria vivendo a minha vida com Rodrigo e todos meus amigos. Se eu passasse... seria um mundo novo, novas pessoas, novos conhecimentos... como Rodrigo mesmo disse, eu não conseguiria viver nesses dois mundos. E eu deveria tomar uma decisão.

- Você está bem? – Rodrigo perguntou ao me ver calado.

- Estou sim, só estava pensando em algumas coisas.

- Pensando o que? – Rodrigo insistiu.

- Sabe... se eu passar nessa vestibular hoje. Nós... nós... não iremos poder ficar juntos. E eu estava pensando se valia a pena mesmo eu levantar da cama e fazer essa maldita prova.

- Faça aquilo que você desejar, eu sempre te apoiarei e estarei aqui como seu amigo, ou como... – ele finalizou sua frase com um selinho na boca.

Desistir era uma opção tentadora, mas eu me lembrei que já tinha feito isso e havia me arrependido. Desisti de uma das melhores faculdades para ficar com o Gale e a única coisa que eu recebi de volta foi uma patada dele mesmo. E se eu desistisse novamente e Rodrigo fosse embora.

Tomei a decisão. Levantei da cama e fui me arrumar. Estava na hora de pensar um pouco mais no meu futuro. Eu iria fazer aquela maldita prova, passar, ir para a faculdade, me formar como o melhor professor de Educação Física, ganhar milhares de campeonatos de vôlei e nenhum amor, paixonete ou ficante iria me impedir disso.

Rodrigo me ajudou a arrumar as coisas e eu sai de casa rumo aquela prova. Preparei tudo e peguei meu celular que ainda tocava a mesma música sem parar:

Mas você acha que iria deixar uma porta aberta?

O futuro está chamando e eu sou a resposta

O círculo em movimento, eu nuca bebi essa sua poção

E eu sei que quebra seu coração

Agora abra o seu para-queda

Algo tem que te salvar dessa queda livre.

...

Era apenas uma maldita carta, e eu já estava prestes a abri-la.

- CESINHA? CESINHA? – Felipe entrou na salinha gritando – Ah você está aí!

- Fala aí seu Zé Ruela – respondi com a carta na mão – Como foi lá ontem na prova?

- Você nem acredita cara! – ele falou animado – Já saiu no site o número de pontos mínimos para passar em cada curso. E veja só... EU PASSEIIIIIIIIIIIII!

Fiquei mega feliz pelo Felipe. Fui até a sua direção e dei um abraço bem apertado nele. Felipe tinha prestado vestibular para Biologia e também iria para São Paulo caso eu passasse.

- E você? Conseguiu ver sua nota?

Depois de ter feito a prova, a primeira coisa que eu fiz foi ver o gabarito e corrigi-la. Acertei 45 questões de 90. A nota mínima era 47 para passar, eu não havia conseguido. Mas mesmo assim eu resolvi mentir para o Felipe para não deixar o clima meio chato entre nós.

- Vou esperar o resultado oficial – respondi deixando a carta da Val-Val em cima da mesa.

- O que é isso aí? – Felipe perguntou pegando a carta na mão e lendo o destinatário.

Esperei ele ler a parte da frente e de trás para poder explicar:

- É uma carta que a Val-Val me deixou.

Os olhos do Felipe se esbugalharam.

- E você ainda não abriu por quê? – ele disse incrédulo – ela não tinha parentes filhão, pode ser de herança essa carta.

- Cala boca otário! – falei com um sorriso – já estava abrindo, mas você chegou saltitando aqui dentro.

- Desculpa se eu te atrapalhei nesse momento tão intimo – ele disse zombando – te esperarei lá fora então.

- Pode ficar! Vai ser rapidão.

Abri o envelope com cuidado e com um certo receio. O papel de dentro do envelope era uma folha sulfite dobrada perfeitamente na metade. Puxei a folha e abri-a logo de uma vez. Na parte de baixo eu não encontrei nada, ela era curta. E na de cima eu vi um cabeçalho bem caprichado com a marca d’agua utilizada nos documentos formais da escola. Estranhei o fato da carta estar digitada, mas mesmo assim eu li:

Ao conselho de escola.

Gostaria de deixar claras as condições do aluno “Cesar Frederico Neto”. Seu rendimento em todo o ensino médio sempre foi muito duvidoso. Agora com a chegada final do ano, gostaria de lembra-los de uma certa dependência que ele possui na disciplina do segundo ano “Química”, a qual ele não foi aprovado. Com essa dependência esquecida, é inviável a sua formatura e por isso peço a reprovação do aluno.

Atenciosamente, Diretora Valéria.

- A QUENGA IRIA ME REPROVAR! – gritei desesperado.

- Como assim? – Felipe perguntou.

Expliquei a ele toda a situação. Eu havia repetido no ano passado em química, e essa matéria estava pendente. Como não tínhamos professor de química, essa dependência ficou esquecida e a Val-Val usaria ela para me reprovar.

- Cesinha? – Felipe perguntou – Você matou a véia só para não reprovar?

Deixei o Felipe rindo da minha cara enquanto eu ficava refletindo. Val-Val gostava tanto assim de mim que além de um emprego ela me daria aula de química para ajudar-me a estudar? Ou ela só queria minha caveira mesmo?

Eu sabia a resposta e sorri agradecendo pela melhor professora que já havia passado pela minha vida.

- Vocês dois estão aí? – Alguém entrou pela porta.

Rodrigo apareceu com os olhos brilhando no rosto. Ele estava lindo com os cabelos penteados e com um sorriso no rosto. Ao aproximar-se de mim, pode ver que seus olhos brilhavam mais, cada vez mais...

E quando ele veio para um abraço eu percebi que o brilho era devido as suas lágrimas.

- Parabéns! – ele disse enfiando a cara no meu peito e escondendo o choro – eu vi o resultado oficial. Você foi aprovado

- Pelo que? Eu não passei na prova! A nota mínima era 47, eu acertei 45.

- Cesinha seu burro! – Felipe gritou de alegria – ninguém te explicou que você estudou em escola pública a vida toda? Você tem umas porcentagens de cota. Sua nota sobre uns 3 ou 4 pontos.

Felipe se juntou a nós dois no abraço e lá ficamos. Felipe sorria de alegria, pois iriamos nós dois para São Paulo. Rodrigo afundava em meus braços, sabendo que eu iria embora e ele não poderia fazer nada. Eu fiquei lá parado tomando a minha escolha. E quando menos esperava o tempo já havia passado e eu ainda tinha dúvidas sobre essa decisão.

A decisão que mudou a minha vida. Ir para a faculdade foi um completo desafio. Por um lado eu cresci muito, mas por outro eu acabei perdendo o a melhor pessoa que eu havia conhecido.

Hoje faz sete meses longe do Rodrigo. Sete longos e demorados meses. Achei outros amores? Claro! Todos diferentes, mas nenhum amor foi maior do que o dele. A ficha demorou a cair e quando eu entendi já era tarde de mais. Eu havia perdido o amor da minha vida.

Mas deixa para lá. Foda-se.

Aliás. É apenas a vida.

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E acabou-se o que era doce.

Muito obrigado para quem leu e gostou. Muito obrigado a quem leu e não gostou. E um beijo na boca de quem leu e AMOU DE PAIXÃO.

O final pode chegar a qualquer momento mas só estará postado quando tivermos um número ideal de comentários, então caprichem seus lindos.

Agradeço mais uma vez antes de ir embora. Sigam lá no Wattpad (CesarFNeto) para saber demais novidades e tudo mais.

Beijão e fiquem com a sinopse do capítulo FINAL

X- “Quando você estiver despreparado” – A formatura chega, o baile chega, o fim chega... mas Cesar ainda se sente despreparado para o que virá na sua vida daqui para frente . No últimos suspiro será que toda essa série fará sentido? Chega-se o fim e teremos apenas a lembrança desse amor que só nós conhecemos.