Meu sobrinho, nosso banquete

Conto de nando couto como (Seguir)

Me chamo Paulo, tenho 47 anos e não estou nem um pouco assombrado com a minha aproximação de meio século de vida sobre a face dessa terra em que vivo.

Sim.

Viver.

Aproveitei bastante minha juventude, lá nos idos 80 e 90, aprontando muito e ainda mais depois que assumi minha homossexualidade, aos 19 anos, tardio, reconheço, mas com o pai militar que eu tinha, não poderia ser diferente.

Meus pais, infelizmente, se foram há alguns anos, me restando apenas como parente direto minha nobre irmã, Carlina, que é um pouco mais nova do que eu, mas com uma alma absurdamente envelhecida. Desde que fora abandonada pelo marido se tornou um ser humano arredio, desconfiado, criando muros ao seu redor e mergulhando de cabeça na religião a fim de amenizar ou tentar esconder a frustração que carrega consigo por ter sido preterida, e como se não bastasse, culpando todos os homens pelo seu infortúnio.

Sem que ela saiba, costumo tratá-la de uma maneira jocosa, Perpétua, mas Carlina faz por merecer essa alcunha porque é o protótipo da personagem criada pelo magistral Jorge Amado, esculpida em carrara, inclusive, no que diz respeito à criação do meu sobrinho, seu único filho, e que nos últimos anos vem tentando arrastar para a sua igreja, mas ele, Mateus, consegue, sempre que pode, escapar de suas garras, escorregando como quiabo, e muita das vezes tendo minha total cumplicidade para essas fugas.

Minha irmã e eu moramos no mesmo quintal. Ela na casa da frente e eu um pouco mais nos fundos. Raramente recebo sua visita, apesar de somente trinta passos separar a porta de minha casa da porta de sua cozinha, mas eu sei que essa reserva se dá pelo fato da minha orientação sexual. Nos meus áureos tempos, quando aprontava horrores, trazendo alguns amigos aqui pra casa, as reações de Carlina beiravam o insustentável, e o meu destino e de todos que frequentavam o meu espaço, certamente, seria o quinto dos infernos, onde queimaríamos por toda a eternidade. Nunca me preocupei com essa visão e julgamentos; na verdade sei que minha irmã me ama, que nos amamos, porém os estilos de vida que levamos não são compatíveis. Graças a Deus e aos anos que foram se passando, conseguimos estabelecer um tácito acordo de paz.

Nunca me envolvi diretamente com outro homem, no sentido de conviver, morar juntos, dividir o mesmo teto. Sempre vivi e sobrevivi aos meus romances e casos tendo plena consciência do que queria. Obviamente sofrendo entre uns e outros, mas sempre saindo de cabeça erguida e com a sensação de dever cumprido para com os meus parceiros. Infelizmente, não consegui manter a amizade de nenhum deles, por incrível que possa parecer.

Quando reencontro alguns o tratamento é sempre o mais cordial possível.

É engraçado ver aquela pessoa e você se tratando como se fossem dois desconhecidos, como se nunca tivessem compartilhando sequer qualquer instante de intimidade, e no meu caso, quando o assunto é cama, por favor, faço questão de seguir o clássico “barba-cabelo-bigode”. Se vamos fazer, que façamos bem feito, pra deixar saudades.

Nesse universo homossexual, as únicas amizades que consegui manter até hoje é a de Julio e a de Heitor, dois grandes super humanos e tão tarados por um cacete como eu. Por ironia nunca tivemos qualquer experiência sexual em comum, até mesmo nas vezes em que saímos para ir a uma sauna, nunca dividimos a carne que o outro está saboreando, apesar de nossas preferências serem bastante semelhantes: rapazes, jovens, lindinhos, carinhas de anjos, maiores de idade, certamente, mas nem por isso podemos ignorar o título que lhes cabe como uma luva: lolitos; características, aliás, que se encaixam perfeitamente ao meu único sobrinho, preciso reconhecer...

Mateus tem 19 anos, é um garoto relativamente tímido, um resultado direto da sufocante influência da minha irmã __ e não é preciso ser nenhum psicólogo para perceber isso.

O menino não pode fazer nada que aos olhos dela pareça mundano, o que inclui quase tudo sobre a face da terra. O pobre não pode nem sequer andar sem camisa, independente do verão infernal pelo qual estivermos passando. O coitado, claro, aprendeu a apelar para a minha cumplicidade na tentativa de conseguir viver um pouco de sua juventude sem o peso dessa sombra parental de autoridade exacerbada.

Já perdi a conta das vezes em que ele vem até aqui em casa para acessar a internet e navegar em sites de pornografia, salas de bate papo, trocando mensagens com um bando de meninas da sua idade, incrementando namoros virtuais... Se Perpétua souber disso, será o apocalipse, e se ela souber inclusive que Mateus passeia aqui dentro sem camisa, no auge do verão, seu miocárdio não irá resistir.

Claro que ver meu sobrinho, um meninote saracoteando aqui dentro de casa com o seu tórax desnudo, trajando uma bermuda tactel, e ainda assim conseguindo manter um quê de inocência em seu semblante, gerou diversos motivos para algumas viagens fantasiosas dentro dessa minha mente fértil, perigosa e um tanto pervertida, mas nada que um bom exercício solitário entre mim e minha mão esquerda não resolvesse... Preciso respeitar o laço consanguíneo que nos une, pelo menos era o que eu considerava até o último feriado da Páscoa...

Júlio e Heitor já estavam aqui em casa desde sexta à noite. Saíram de seus trabalhos e vieram para cá com a promessa de que iríamos nos divertir muito, beber bastante vinho, assistir filmes, alguns tradicionais e outros nem tanto, e jogar conversa fiada fora. Um programa a contento para três senhores gays, solteiros, melhores amigos e que estão a caminho da metade de um século de suas vidas. Júlio, assim como eu, tem 47 anos e Heitor é o mais velho dos três mosqueteiros: 49.

Já era noite de sábado e estávamos sentados em frente à tevê, nos deliciando com um filme pornô de homens mais velhos sendo seduzidos ou seduzindo ninfetos, histórias onde dads não resistem à virilidade de seus filhinhos, caindo de boca e de quatro diante das magistrais pikas novinhas, latejantes, desesperadas para esporrar, literalmente, todos os hormônios que pululam dentro dos corpos jovens de seus donos, aliás, os atores pornôs escolhidos para representarem esses meninos, pelo amor de Deus...

Enfim, entre taças de vinhos e alguns tira gostos, eu e meus dois amigos tecíamos comentários e fazíamos comparações diante das cenas mais quentes, rindo, imaginando um de nós substituindo o papazinho na tela, e sempre com a sugestiva promessa de que cuidaríamos muito melhor da criança e do brinquedinho armado no meio de suas pernas.

Mergulhados nessa sessão de puro deleite, no melhor estilo é o que tem pra hoje,

não vimos Mateus chegar; ele entrou usando a cópia da chave aqui de casa que de dei para ele e para minha irmã, para o caso de qualquer emergência, e também para liberar a entrada da empregada que vem limpar minha bagunça duas vezes na semana. O susto inevitável ao vê-lo parado sob o batente da entrada da sala foi unânime. Uma reação natural, tanto pela presença inesperada quanto pelo flagra do qual fomos vítimas, já que na parede atrás do sofá tenho um enorme espelho pendurado, onde as imagens da TV refletem, e não foi difícil perceber o desconforto de Mateus tentando desviar o olhar da cena que se projetava instantaneamente à sua frente, mesmo que de modo invertido, ao mesmo tempo em que nos olhava, surpreso.

Nessas horas a Lei de Murphy funciona com precisão. Busquei de todas as formas achar o controle remoto da TV ou do aparelho de DVD, mas parecia que eles haviam sido transportados para outra galáxia. Heitor e Júlio me seguiram na empreitada enquanto um silêncio incômodo pairava no ar, só encerrado quando meu sobrinho perguntou se podia tomar um banho, já que na casa dele a água do chuveiro, talvez devido à exposição demasiada da caixa d’água ao sol durante o dia, sem qualquer cobertura, não conseguia esfriar o suficiente para amainar o calor infernal daquele dia de verão.

__ Claro. Claro __ consegui responder, dando de ombros, enquanto me virava para encará-lo e ouvia Heitor, com sua voz um tanto afetada, informar que havia encontrado os controles.

O olhar de cumplicidade e desespero que trocamos imediatamente após a saída do meu sobrinho do nosso raio de visão foi decisivo: demos stop no filme e mudamos de canal. Chegamos a discutir se desligaríamos a TV, mas Júlio achou melhor agirmos com naturalidade, não deixando a situação ainda mais embaraçosa.

Uns quinze minutos se passaram até que Mateus voltou a surgir no batente da entrada da sala. A surpresa foi unanime ao vê-lo em pé, apenas com uma toalha em volta da sua cintura e com outra usando para enxugar os cabelos.

__ Tio, desculpa ter chegado assim de repente, mas é que eu estava realmente precisando de um banho e como disse pro senhor...

__ Imagina... __ respondi num esforço hercúleo ao mesmo tempo em que ensaiava um riso no canto dos lábios.

Júlio e Heitor, sentados cada um em uma ponta do sofá, pareciam hipnotizados diante da imagem de Mateus, sua pele alva brilhando sob os pingos que restavam da água do banho do qual ele havia acabado de tomar, da sua estrutura magra, porém definida, dos seus braços levantados, movimentando-se enquanto secavam o seu cabelo, destacando, com esse gesto, com esses movimentos, os discretos músculos de seu tórax, da sua barriga, ou melhor, da falta dela... Não podia condená-los, afinal, Mateus parecia uma escultura grega, impossível de ser ignorada e digna de ser reverenciada.

Um suspiro uníssono foi o que se fez ouvir de nossas bocas após recuperarmos o ar perdido. Endireite-me sobre o sofá, vesti o que restava do bom senso e busquei me controlar e também controlar os meus dois amigos, chamando-os de volta à realidade, afinal, mesmo diante da visão magnífica e perturbadora disposta à nossa frente, personificada no filho da minha irmã. Minha moral de tio precisava se manter intacta.

Um episódio um tanto inesperado havia acontecido duas semanas antes daquela noite de sábado e contribuiu ainda mais para que minhas fantasias incestuosas com o Mateus tomassem proporções estratosféricas dentro da minha mente, me fazendo constatar mais e mais, e quase sem arrependimentos, que se eu avançasse o sinal, correndo o risco que fosse necessário correr, certamente não me arrependeria.

Meu sobrinho estava aqui em casa, numa tarde, mergulhado na internet, quando ouvimos os gritos de minha irmã chamando por ele. Perpétua, mesmo contra a vontade, o deixa vir aqui em casa, acreditando que o menino vem tirar dúvidas sobre os estudos. Sou professor de Língua Portuguesa e Literatura e, portanto, privá-lo do privilégio da cultura seria injusto e graças aos céus minha nobre irmã não se deixou bitolar nesse aspecto...

Se ela soubesse a clandestinidade da qual sou cúmplice...

Mesmo sob os berros da mãe, Mateus não saiu do quarto, onde fica o meu computador. Preocupado, decidi ver o que estava acontecendo, pois nunca antes ele havia demorado em anteder um chamado daquela magnitude, e conhecendo a mãe que tem, ele sabia muito bem que ela não ia lhe dar descanso enquanto não o visse à sua frente.

Nem bem cheguei a sair da cozinha e me deparei com Mateus caminhando na direção da porta, cabisbaixo, as mãos na frente da bermuda, parecendo querer esconder algo. Era óbvio que ele estava de pau duro e não havia conseguido alcançar a paumolescência da qual tanto precisava. Percebi que ele não me encarou, passando por mim na velocidade de um foguete. Não consegui conter um riso de satisfação e surpresa, e também de curiosidade. Aquele gesto desesperado somado ao desconforto inerente à situação da qual fora obrigado a se meter, me despertou um tesão avassalador e corri para o banheiro, sem pestanejar, me imaginando na frente de meu sobrinho, impedindo sua passagem, que ele continuasse o seu caminho para atender à mãe; me imaginei fazendo-o tirar as mãos da frente da bermuda para me deparar com sua anatomia quase rasgando o tecido, desesperada para ver a luz do dia, para ser tocada, degustada... Me imaginei ajoelhado à sua frente, tirando sua pika provavelmente branquinha para fora, rindo de satisfação, de prazer e olhado para o alto, vendo-o surpreso, tremulo, a respiração entrecortada... Me imaginando abocanhando seu pênis, rígido, como um banquete à minha disposição, prestes a me empanturrar e ainda assim me incapaz de saciar minha fome...

Ali, na sala, ao lado de Heitor e Júlio e com Mateus enrolado à uma toalha, respirei aliviado por não ter contado aos meus amigos esse episódio. Conheço o meu gado, sei muito bem do que essas duas tias taradas são capazes. Já os vi atacando suas presas e se acaso tivessem tido acesso a essa história, possivelmente não estariam comportados sobre o sofá. Já estariam disparando piadinhas infames, risinhos cretinos... Sou um deles, por isso sei muito bem das suas reações depois de algumas taças de vinho ante um corpo jovem, com nada fora do lugar, exalando virilidade...

Jamais, nem nas minhas mais ousadas punhetas, pude vislumbrar o que estaria prestes a acontecer: meu sobrinho, no alto de seus 19 aninhos, se mostrando um garanhão puro sangue, dando conta sem pestanejar de três homens maduros, sedentos e esfomeados, disputando sua pika de um lado para o outro como se suas vidas dependessem daquilo.

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