Comum & Extraordinário - Capítulo 53

Parte da série Comum & Extraordinário

Boa Tarde...

Bem, eu havia pedido para o Jonathan responder os comentários dessa vez, de ambos os sites, mas ele se esqueceu e acabou fazendo de um só, então eu vou responder os daqui mesmo. Rsrsrs.

Sobre o conto, ele já está quase chegando ao fim, faltando cerca de oito capítulos para o final, e a cada um deles meu coração se aperta devido a futura saudade que eu vou ficar de todos vocês.

Como eu havia comentando, eu vou iniciar meu novo conto após o fim desse, e não postarei nada até tudo estiver pronto, então tenham paciência.

No mais, um beijão e um abração para todos.

- Jr.kbessao: Obrigado, sério, e eu espero que continue gostando até o final, mas se não gostar, não tem problema. Rsrsrs. Um abração.

- diegocampos: O Jonathan respondeu seu comentário na CDC, mas eu vou responder aqui. Rsrsrs. Eu amo o Matheus e o Caio juntos, mas confesso que no começo eu queria ele com o Jonathan, mas o Jonathan não quis, então ele ficou com o Matheus (Comigo no caso, já que os personagens da história são baseados em nós, rsrsrs). E eu quero muito que você leia a vingança, muito, muito mesmo... Um abração.

- Niss: Oi... Rsrsrs. Sim, foi isso que eu quis mostrar com o relacionamento dos dois, que essa de que “Não curto afeminados” é uma palhaçada quando se conhece a pessoa de verdade. No passado eu fazia isso, mas dei meu braço a torcer, paguei com a língua e voltei atrás, e eu acho que as pessoas deveriam parar de ter todo esse preconceito com quem não está dentro dos padrões aceitos pela sociedade gay, mas em fim... Obrigado pelo comentário. Um beijão.

- luan silva : Fico feliz que tenha chorado, porque eu também me emocionei com a declaração do Caio. Acho que o que ele disse é o que todo mundo gostaria de ouvir, que nada mais importa além da pessoa, só ela, não o seu comportamento e sua forma de se portar... E mais uma vez, obrigado.

- H.Thaumaturgo: Rsrsrs. Eu amo esses dois casais, muito mesmo... E sobre o Jonathan, espere mais um pouco e verá o que vai acontecer. Rsrsrsrs. Alguns não vão gostar, mas eu acho que você vai... Um abração para você também.

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Comum & Extraordinário - Capítulo 53

Todo mundo já tinha ido embora, e agora eu me encontrava sozinho em meu quarto, apenas comigo mesmo e meus pensamentos. Minha cama parecia tão chamativa, tão vistosa, que tudo o que eu queria fazer era me deita sobre ela e ficar ali por horas, olhando para o teto, mas o banho me chamava. Há meses eu não entrava debaixo do meu chuveiro, e só o pensamento de estar lá me deixava feliz, então o que fiz foi simplesmente tirar toda a minha roupa, entrar no banheiro e ligar o chuveiro. A água demorou um pouco para começar a esquentar, mas logo ficou muito quente, ao contrário dos banhos no hospital, que eram de morno para quase frio, então a diferença era gritante com o chuveiro aqui de casa.

Como minha pele ainda estava sensível por causa das cicatrizes e machucados, eu tive que usar um sabonete antibacteriano e hipoalergênico para não correr o risco de ter alergias ou vermelhidão. Eu então me ensaboei com cuidado a medida que a água quente caia sobre minha pele. Lavei meus cabelos com shampoo, coisa que eu não podia fazer no hospital, e depois passei um pouco de condicionador, pouco mesmo, já que meus cabelos estavam bem curtos. Depois de ter demorado cerca de uma hora ali, eu saí do banheiro enrolado na toalha e fui pegar uma cueca e meu pijama azul claro para ficar mais confortável. Depois que me vesti, liguei o computador para me atualizar um pouco, já que eu não mexia há meses. Baixei algumas músicas que saíram nesse tempo, alguns álbuns novos e comecei a baixar também algumas séries que eu havia perdido.

Lá pelas nove da noite meus pais entram no meu quarto, sorrindo e com uma sacola nas mãos. Eles se sentam na minha cama e eu vou até eles.

- Eu estou bem, é sério... - Eu digo, confirmando que eu estava realmente bem.

- Nós sabemos meu filho, só viemos te dar um presente. - Meu pai diz.

- Presente?

- Sim. Considere como um presente de aniversário atrasado. - Minha mãe sorri, e então me entrega uma sacola preta pequena.

Eu pego a sacola de papel escura e reluzente da mão dela e tiro o pequeno lacre que juntava as duas abas. Abro, tiro alguns papeis cortados que estavam lá dentro e pego a pequena caixa. Quando eu vejo o que é, um sorriso se forma no meu rosto rapidamente. Era um iPhone 6 Plus da Apple em uma cor cinza incrível. Eu abro a caixa e meus olhos brilham. Ele era muito lindo, grande, e provavelmente muito caro. Abro um sorriso ainda maior quando vejo os olhos dos meus pais brilhando em expectativa.

- Não precisava... - Eu quase chorava.

- O seu celular estava quebrado quando pegamos as suas coisas no hospital, e como a gente não tinha te dado um presente... - Meu pai diz.

- Você merece meu bem... - Minha mãe me abraça.

- Obrigado... - Eu começo a chorar junto com eles.

- Vai ficar tudo bem meu filho, você vai ver... - Meu pai me olha.

- Eu sei pai, obrigado por tudo. Você também mãe...

- Somos seus pais, é o nosso trabalho. - Minha mãe sorri.

- E caso esteja sem sono, até porque você dormiu por muito tempo, eu atualizei a sua conta no Netflix...

- Atualizou?

- Sim, e aquela série que você queria ver, acho que ‘Sense8’ está lá, esperando.

- Sério? - Eu sorrio.

- Sim. - Meu pai sorri.

- Eu não sabia mexer direito naquela coisa, mas eu acho que consegui comprar pra você, ou reservar, sei lá.

- Obrigado pai. - Eu dou outro abraço nele.

- De nada... - Ele e minha mãe se levantam. - Agora nós vamos dormir. Qualquer coisa me chama.

- Tudo bem... E obrigado de novo.

- Não precisa agradecer meu filho.

Depois que meus pais saíram do quarto, eu resolvi dar um jeito nas coisas. Eu estava com um pequeno problema de sono, ou seja, eu não estava sentindo. Comecei então a arrumar os meus livros novamente, porque não me lembro da última vez que fiz. Organizei todos na prateleira, que já estava bem cheia, e depois fui arrumar o meu guarda roupa, na verdade limpar, porque ele já estava arrumado. Passei um bom tempo ali, ajeitando as coisas, e quando acabei, resolvi deitar para ver se o sono vinha.

Eu estava na minha cama, com as luzes apagadas e coberto com o edredom, já que não fazia frio e eu não conseguia dormir direito se não tivesse algo me cobrindo. De uma hora para outra, tive uma sensação esquisita de que estava sendo observado, e logo o medo tomou conta de mim. Eu cobri a minha cabeça e comecei a tremer, e eu realmente estava com medo, e não sabia por que. Talvez seja pelo trauma, apesar de eu não me lembrar.

Os minutos foram se passando e eu continuei ali, debaixo do edredom, encolhido e engolindo seco. Algum tempo depois, eu resolvi, mesmo contra a minha vontade, me arrastar para fora da cama. Quando cheguei no chão, comecei a rastejar até a janela, e aos poucos eu fui me levantando. Quando olhei para fora, meu corpo se arrepiou todo. Eu jurei que eu tinha visto um cara de capuz preto perto de um carro olhando para minha janela. Eu jurei porque eu não tive certeza, já que eu me abaixei logo em seguida, quando ele olhou bem direto nos meus olhos e eu pensei ter visto um sorriso diabólico. Quando eu escuto algo batendo na minha janela, uma espécie de pedra, eu me levanto e abro a porta do quarto correndo, chorando de medo e indo para o quarto dos meus pais, mas eu paro, eu não prossigo com o meu caminho, porque eu não podia sentir medo, eu não queria, e se realmente for um dos caras que fez aquilo comigo, era isso que ele queria, que eu ficasse com medo, mas eu tinha que mudar isso, eu não iria ser um covarde que ficará com medo para sempre e que nunca mais sairá de casa. Eu não ia os deixar vencer.

Eu estava parado realmente na porta do quarto dos meus pais, com a mão na maçaneta, pronto para girar, mas eu dou meia volta. Eu não era um covarde, nunca fui um covarde, um medroso, nem mesmo quando eu era criança e os meninos mexiam comigo por eu não gostar das mesmas coisas que eles. Eu sempre os enfrentava, mesmo apanhando, mas eu os enfrentava porque eu não tinha medo deles, e eu não teria medo agora, eu me recusava. Sei que fui espancado, que fui estuprado, que passei por um trauma, mas foda-se o meu medo. Foda-se o meu medo de sair de casa. Foda-se o meu medo de ficar sozinho. Foda-se o meu medo de passar por tudo aquilo de novo, foda-se.

Eu começo a caminhar em direção ao meu quarto novamente, com sangue nos olhos, porque agora eu estava com raiva, agora que caiu a ficha de que tudo aquilo que me foi falado aconteceu comigo. Agora que eu percebi que eu fui uma vítima, e eu não queria ser uma vítima, não para aqueles três filhos de uma puta que eu nem sabia quem eram. Se eu ainda estava receoso? Sim. Se eu ainda tinha um pouco de medo? Com certeza. Mas eu iria vencer isso, e eu iria vencer isso agora.

Quando cheguei próximo a janela, simplesmente fui até ela e a abri. Ele ainda estava lá, longe, olhando para o interior do meu quarto. Aproximei o meu rosto e o encarei, praticamente bufando de ódio. Mesmo eu não me lembrando de nada, só o pensamento de que isso aconteceu comigo me causava náuseas, uma dor de cabeça terrível. E ele me encarou de volta, porque ele realmente estava lá, não era coisa da minha cabeça. Eu jurei que ele estava sorrindo em deboche para mim.

Do meu lado, em cima de uma mesa de canto, tinha um peso de papel de vidro maciço, ou seja, era bem pesado, cerca de um quilo ou mais. Eu peguei sem ele perceber e segurei o peso na minha mão. Quando ele sorriu de novo, eu arremessei, e arremessei com toda a força que eu tinha, com toda a força que agora eu conseguia usar, e eu acertei o meu alvo, eu acertei o vidro do carro em que eles estava escorado, e eu sorri quando eu consegui o fazer recuar, porque ele se assustou com a minha atitude e entrou em seu carro, mas ele olhou para mim de novo, e eu sabia que aquela não seria a última vez que o veria, e eu estava pouco me importando com isso, porque se ele realmente for quem fez isso comigo, se eu ficar frente a frente com ele, eu não vou responder por mim, não vou me acovardar e recuar, eu vou atacar com tudo o que tenho, nem que eu seja preso, nem que eu vá para a cadeia por causa do resultado, mas eu ia matar aquele desgraçado se algum dia eu descobrisse quem ele é.

Depois que ele saiu com o carro cantando pneu, eu ainda fiquei cerca de vinte minutos na janela, respirando fundo e me acalmando, porque eu estava cego de tanto ódio daquele homem que eu nem ao menos consegui ver o rosto, apesar de sua postura soar tão familiar para mim. Quando eu finalmente respirei fundo pela última vez, eu fui até a minha cama e a arrumei. Eu não estava conseguindo dormir mesmo, e depois desse meu último momento de estresse, eu tinha certeza que não conseguiria mesmo. Saio então do meu quarto e passo pelo corredor, frente a porta dos meus pais e desço as escadas. Vou lentamente até a cozinha, ignorando o medo que insistia em me assombrar e abro a geladeira. Pego uma jarra com água gelada que estava lá e coloco em cima da bancada. Meu próximo passo e pegar três maracujás que estavam na fruteira, os abrir e colocar a polpa no liquidificador, e em seguida colocar um pouco de açúcar e a água. Depois do suco pronto, faço um prato de brigadeiro para mim, e por último, estouro uma bacia de pipoca. Coloco tudo em uma bandeja e vou para a sala. Ligo a televisão, seleciono o que eu queria assistir e me esbaldo.

Eu tive uma pequena dificuldade de entender o começo de ‘Sense8’, e por isso descobri que minha cabeça ainda não estava boa, mas eu fui insistindo, vendo episódio por episódio até que parei no cinco para descansar um pouco minha visão. Eu estava fazendo uma maratona de uma das séries mais fodas que eu já vi na minha vida enquanto me enchia de porcaria. Eu já tinha estourado mais pipoca e devorado uma barra de chocolate que estava na geladeira, já que meu brigadeiro havia acabado. Tudo o que eu via era tão perfeito, tão incrível, que meus olhos se enchiam. No começo, nos primeiros minutos eu não havia gostado, eu tinha achado um saco, lento, arrastado e cheio de clichês raciais, mas com o passar das horas eu fui amando, amando e amando cada vez mais. As cenas de ação, as cenas de sexo, orgia, tudo tão bem feito e tão perfeito, que eu realmente bati palmas por volta do capítulo dez. Eu vi o último episódio por volta das dez da manhã do outro dia, no sábado no caso, e quando terminei, já queria a próxima temporada para ontem.

Assim que desliguei a televisão, arrumei toda a cozinha, porque eu tinha sujado muita vasilha, então organizei tudo e dei uma ajeitada no sofá da sala e nas almofadas. Meus pais ainda estavam dormindo, então eu evitei ao máximo de fazer algum barulho para os acordar, e consegui, felizmente. Eu estava tanto afobado e com tanto tempo e energia de sobra, que resolvi começar a preparar o almoço. Lavei o arroz, o afoguei, preparei uma salada verde com bastante azeitona, palmito, alface e presunto. Passei alguns bifes de peito de frango e piquei cebola neles, as cozinhando junto na mesma panela. Preparei outro suco, dessa vez de morango e o guardei na geladeira. Afoguei também o feijão que estava congelado na geladeira, e ele ficou pronto bem rápido até. Quando o relógio marcava meio dia em ponto, meus pais desceram as escadas, vindo diretamente para a cozinha. Eles se assustaram por eu já estar ali com o almoço praticamente pronto, mas depois sorriram.

Nos sentamos na mesa por volta das uma hora para almoçarmos, e comemos conversando, sorrindo um para o outro, e eu queria aproveitar cada segundo ao lado deles, porque eu estava morrendo de saudade.

Depois que comemos, arrumamos a cozinha também, e meus pais subiram para o quarto para tomarem banho porque teriam que sair para um evento beneficente mais tarde, então eu fiquei jogado no sofá, vendo clip em um canal enquanto tudo ao meu redor se acertava. Mudei de canal depois que o programa que eu assistia havia acabado e deixei em um canal de filme, onde passava ‘Doce Vingança’, um dos filmes mais fodas que eu já vi, e que eu nunca me cansaria de ver, e foi bem ali, naquela cena de estupro, que eu fiquei perturbado novamente. Eu não consegui assistir tudo sem deixar meus olhos lacrimejarem, e foi ali também que eu me lembrei também do que eu havia presenciado na usina abandonada. O médico realmente havia me dito que algumas coisas ou situações ficariam escondidas por um tempo, mas que voltariam a tona quando fosse despertadas por algum gatilho, e era o que estava acontecendo. Na parte em que eu vejo a mulher sendo espancada, sendo violentada, vejo uma imagem do que aconteceu, e foi quase como um borrão, mas eu conseguia me ver deitado no chão, cheio de sangue a minha volta, e isso me fez correr até a pia da cozinha, onde me debrucei e finalmente vomitei, duas vezes. Outra imagem aparece, e era o começo. Eu conseguia ver os três homens com máscaras pretas, nos encarando. Eu não me via, mas eu enxergava o Matheus a minha frente, brigando com eles e falando algo que eu não me lembrava. Essa imagem é então substituída por uma sensação horrível, por uma dor desumana em meu ânus. Eu não sentia a dor agora, nesse exato momento, mas eu conseguia me lembrar do que sentia na hora, do desespero que eu tive e do fato de eu não conseguir mais lutar contra o que acontecia, e a última coisa que veio em minha mente antes de eu vomitar de novo, foi quando eu senti que engoli dois dentes, meus dois sisos, coisa que eu vim a perceber depois.

Um tempo depois, quando terminei de lavar a pia, fui para a sala, com a cara feia e me sentei, tirando daquele filme que ainda passava e voltando para um canal onde passava ‘Game Of Thrones’, e por incrível que pareça, por ironia do destino, era uma cena de estupro, então eu rapidamente mudo de canal e começo a assistir ‘Incorrigible’, um stand Up do Chris D’Elia, e era disso que eu precisava, de rir, de rir muito, e foi o que aconteceu. Eu já havia acompanhado vários trabalhos dele, mas ele tão solto assim, fazendo e dizendo o que quer, é muito engraçado. Ri até meus olhos lacrimejarem, e eu estava feliz por estar conseguindo rir depois de tudo.

Por volta das três horas da tarde, uns vinte minutos depois que meus pais saíram, eu acabei tendo que subir as escadas correndo porque meu telefone estava chamando. Eu tropeço no tapete e quase caio, mas chego até o meu celular. Quando pego o aparelho, era o Carlos me ligando, e já tinha duas chamadas perdidas dele, que eu provavelmente não ouvi porque estava rindo tão alto que eu não conseguia ouvir nada a minha volta. Eu atendo o telefone.

- Me desculpa, eu não ouvi o telefone chamar... - Eu digo.

- Não tem problema Jonathan. - Ele estava sério.

- O que foi?

- Você havia me pedido para checar as filmagens... - Ele parecia não querer terminar a frase.

- Sim, eu me lembro disso.

- Você ainda quer assistir? - Ele me pergunta, cauteloso.

- Sim Carlos. Acho que isso pode me ajudar a lembrar do que aconteceu. Eu tive alguns lapsos hoje, vi algumas imagens, e eu consegui enxergar os três cara, mas eu não vi os rostos.

- Você se lembrou? - Ele se empolga.

- Eu me lembrei de poucas coisas, mas tudo ainda esta escuro, escondido...

- Não tente forçar, o médico te avisou que pode atrapalhar na sua recuperação.

- Mas eu já estou bem.

- Ele é o médico Jonathan, e se ele falou está falado.

- Tudo bem...

- Olha, mesmo eu não querendo te mostrar isso, eu vou mandar um policial te buscar em sua casa.

- Não precisa.

- Como é que é? É claro que precisa Jonathan.

- Não Carlos, eu vou de carro, sozinho. Eu não posso ficar preso dentro de casa com medo de sair na rua. Não sou covarde.

- Eu sei que você não é, mas...

- Mas nada Carlos. Eu sei que eles ainda estão soltos por aí, que podem me procurar novamente, mas eu não posso ter medo, eu me recuso a ter. Eu nunca fui medroso, nem mesmo quando criança. Eu sempre dormi no escuro e nunca fui correndo para o quarto dos meus pais, nunca, e hoje eu cheguei a fazer isso, e eu não quero fazer de novo. Eu não quero ter que ficar correndo de medo e me escondendo debaixo das cobertas como se eu tivesse acabado de ver um espírito que tenta me atormentar.

- Jonathan, você passou por uma experiência traumática.

- Exato, eu passei, mas eu não quero bancar o coitado, a vítima, enquanto eles estão rindo pelas minhas costas depois de tudo que fizeram. Se eles estão achando que eu vou ficar me cagando de medo dentro de casa eles estão enganados. Eu sei dos riscos, dos perigos e eu não sou burro. Não vou ficar perambulando por aí de noite, passando em ruas escuras e desertas, eu vou tomar cuidado. Não cometerei o mesmo erro duas vezes, porque seria burrice.

- Jonathan... - Eu o interrompo outra vez, mas sempre com educação.

- Carlos, por favor, eu preciso sair daqui sozinho, ou pelo menos tentar. Confie em mim que eu vou provar para você que eu posso.

- Jonathan...

- Por favor... Você mesmo me disse há um tempo atrás, eu me lembro... Você me disse que eu era corajoso, que eu não tinha medo, e eu preciso não ter de novo, por favor...

- Tudo bem Jonathan, mas qualquer coisa me liga.

- Tudo bem. Eu só vou tomar um banho, trocar de roupa e ir para aí.

- Vou te esperar.

Depois que encerramos a conversa, corro para o banheiro e tomo um rápido banho. Quando saio, visto uma cueca, uma calça jeans escura e uma camisa xadrez de tons claros. Calço meu tênis, pego minhas coisas e saio. Depois que chego na garagem e entro no carro, demoro um pouco a tomar coragem para ligar, mas eu o faço, eu precisava fazer aquilo. Abro então o portão da garagem e começo a dar ré, e então o fecho.

O caminho até a delegacia não foi longo, pelo menos não para mim, porque eu não percebi. Durante o trajeto, eu acabei tendo algumas dificuldades durante o transito. Me assustei com algumas buzinas e esqueci de dar algumas setas, o que ocasionou outras buzinas, me causando ainda mais sustos, mas no mais, foi tudo tranquilo.

Quando estaciono o carro em frente a delegacia, sou tomado pelo medo de novo, mas não como da última vez. Agora eu conseguia me controlar direito, ou pelo menos tentar me controlar. Eu então desço do carro e vou caminhando até a porta, a qual abro com cautela, porque eu não queria ter que dar de cara com o delegado, não agora, mas para a minha surpresa e alegria, ele não estava ali, na verdade poucos policiais estavam ali naquele momento. Dois estavam sentados em suas mesas, mexendo em alguns papeis, e tinha o Carlos, apenas eles. No momento em que ele me vê, me dá um abraço apertado. Vejo os outros dois homens nos olharem de canto de olho, mas não me importo.

Eu começo a o seguir pelos corredores da delegacia até ele parar frente a uma porta de madeira com um vidro na parte de cima, na altura da minha cabeça. Carlos a abre lentamente e me deixa passar, o que eu faço, receoso. Ele tranca a porta e depois caminha até uma mesa com alguns computadores, se sentando de frente a um deles. Puxo uma cadeira de rodinhas até me sentar ao seu lado e o deixo fazer seu trabalho. O vejo pensando a respeito do que estava prestes a fazer, e por isso tive que olhar para ele e dizer que eu ia ficar bem. Carlos finalmente coloca suas mãos no teclado, digita algumas coisas e aparece uma seleção de imagens congeladas. Ele rola a barra de ferramentas até chegar em uma com uma data que antecedia dois meses e com meu nome e do nome do Matheus. Vejo seus dedos clicarem em algo e um vídeo se abrir, me fazendo fixar os olhos na tela do computador.

Eu não conseguia ver nada a não ser o carro do Matheus ao longe e uma rua deserta. Tudo estava calmo, tranquilo de mais, até que um carro passa pela tela, e eu logo o identifiquei. Era o mesmo carro que estava parado perto da minha casa na última noite, me vigiando, mas eu me calo, eu queria ficar sozinho nessa e não que os outros achassem que eu precisava de proteção. Continuo assistindo ao vídeo até que três caras encapuzados aparecem. Eles ficaram escondidos atrás do carro do Matheus, mas eu conseguia ver o que eles faziam. Pareciam conversar, rir um com o outro, e eu não pude perceber o que falavam, nem mesmo tentar fazer leitura lábio devido a qualidade inferior das filmagens. Eu congelo quando eu vejo outras duas pessoas se aproximarem e uma delas parar, e eu sabia quem era. Matheus e eu tínhamos chegado ao carro, mas eu fiquei para trás por sentir medo, porque é a única coisa que iria me fazer parar naquela situação, e a partir daí, tudo começa. Eu tentava absorver todas as informações, tudo o que ocorria na minha frente, mas era rápido de mais. Eu vi o primeiro soco, o primeiro chute, eu consegui ver tudo o que aconteceu, e eu consegui sentir cada dor de novo, cada uma delas agora, em minha pele, e eu parecia estar queimando, sangrando de novo.

Minha respiração falha quando eu me vejo sendo levantado do chão e sendo arremessado contra o carro, e finalmente caindo sob minha poça de sangue. Eu conseguia ver a minha luta, a minha resistência, a minha tentativa de ser forte e pelo menos gritar. Por um leve momento eu pensei ter visto minha boca se mexer, tentando pedir socorro, mas eu não me lembrava, não me lembrava até agora, porque tudo estava voltando, assim como a minha falta de ar, e tudo piora quando eu vejo um dos caras tirar a minha roupa, me deixando nu e imóvel sobre aquela calçada suja, e então o vejo subindo em cima de mim, entrando em mim, então eu mesmo aperto pausa no vídeo e vou até a lixeira perto da porta, vomitando tudo o que eu havia comido no almoço. Coloquei tudo para fora, tudo, e alimentos que ainda nem havia sido digeridos direito. Acabo sujando um pouco o chão, mas eu não me deixo vencer, eu me levanto, mesmo com as pernas tremendo e me jogo na cadeira de novo. Carlos tenta me impedir de continuar, mas eu queria ver até o fim, e eu vi o momento em que enfiaram um taco em mim, e novamente eu consegui sentir toda aquela dor de novo, para então eu perder o ar. Eu estava com muita dificuldade de respirar, mas eu vi tudo até o momento em que dois homens chegaram para me salvar, para salvar o Matheus, e quando isso aconteceu, minha respiração pesou, minha garganta fechou. Eu estava tendo um ataque de pânico e não sabia como reagir, e Carlos também não. Ele me balançava enquanto eu escorregava da cadeira e ia para o chão, ficando de quatro, tentando respirar. Eu o vejo de relance saindo pela porta e voltando com um copo de água. Eu consegui o pegar, mas o deixei cair porque não estava tendo mais forças. Eu não chorava, eu não gritava ou me debatia, eu estava em pânico, amedrontado e me sentindo um fraco por não ter conseguido fazer nada, por eu não me lembrar de nada. E tudo estava piorando. Minha respiração pesou outra vez e eu comecei a fazer um barulho estranho, muito estranho, até que sinto meu corpo sendo levantado do chão pela gola da minha camisa e sinto um tapa no rosto, um tapa meio forte, e isso fez minha cabeça girar um pouco. Quando recebo o outro tapa, mais forte dessa vez, eu começo a respirar novamente e firmo minhas pernas no chão. Carlos havia me batido duas vezes, e pareceu pedir desculpas com os olhos quando eu finalmente consegui o encarar. Fui tateando a mesa até me sentar. Agora eu conseguia me lembrar de tudo, de cada detalhe, ou pelo menos de quase todos eles.

- É por isso que eu não queria que você assistisse essa merda Jonathan! Olha o que aconteceu...

- Eu estou bem... - Eu ainda tentava respirar direito.

- Bem o caralho! Você quase morreu na minha frente.

- É só um ataque de pânico, eu... - Eu abaixo minha cabeça, finalmente tomando o controle. - Eu estou bem agora... - Respiro fundo pela última vez.

- Jonathan...

- É sério Carlos, eu só tive um ataque de pânico... - Eu olho para ele. - Eu me lembrei de quase tudo ao ver aquelas imagens...

- Mas isso abalou você, eu sei.

- Abalou, mas eu estou bem agora, eu juro.

- Jonathan... - Ele se senta ao meu lado. - Você se lembra de alguma coisa que pode me ajudar?

- Infelizmente não. A única coisa que eu consigo sentir, que eu me lembrei de ter sentindo, é um perfume, um perfume forte e amadeirado, que fez meu nariz irritar...

- Só isso?

- Desculpa... - Eu olho para ele, e realmente era a única coisa que eu havia lembrado.

- Um perfume forte e amadeirado... - Carlos diz.

- Sim... - Eu penso no cheiro, me lembrando. - Se eu o sentir novamente, eu vou me lembrar.

- Jonathan, isso não prova nada contra ninguém.

- Mas ajuda... Eu só preciso sentir o cheiro novamente e ficar perto da pessoa, porque eu sei que vou conseguir me lembrar de tudo, de tudo mesmo.

- Eu espero que sim... - Carlos e eu nos levantamos.

- E Carlos, eu só quero resolver essa situação para que possamos enterrar o delegado de vez. Não ache que eu me esqueci de acabar com aquele desgraçado. - Eu digo, segurando a maçaneta da porta.

- Eu nunca achei que você tivesse esquecido. - Ele sorri.

- Nós vamos acabar com ele e fazer você tomar o lugar daquele estuprador.

- Mal vejo a hora disso acontecer. - Ele me dá um sorriso.

- Obrigado Carlos... - Eu digo, abrindo a porta.

- De nada... E Jonathan, o lixo. - Ele começa a rir.

- Merda. Eu tentei sair com dignidade. - Eu pego a lixeira cheia do meu vômito, rindo.

- Não foi dessa vez. - Ele ri. - Pode jogar no lixo. - Ele ri ainda mais.

- Pode deixar. - Faço posição de sentido para ele e saio.

Sabe, eu sei que eu deveria ter mencionado para ele o ocorrido na minha casa, mencionado o fato de que tinha algo vigiando minha casa, mas eu não o fiz. Não me ache topetudo, egocêntrico ou coisa do tipo. Não diga que eu fico me achando o corajoso, porque não é verdade. Eu estava com medo, eu realmente estava, mas eu tinha que aprender a cuidar de mim sozinho, porque algum dia eu vou precisar ter essa prática e me virar por mim mesmo, e por isso eu precisava ser corajoso. Por isso eu não podia sentir medo ou receio, porque o que estava prestes a acontecer exigiria muito de mim, e eu não poderia ficar em casa me fazendo de vítima, eu tinha que tomar uma atitude e enterrar aquele estuprador filho de uma puta de uma vez na cadeira, mas não antes de o Rodrigo finalmente se livrar da Rafaela e eu descobrir que foram os autores do que aconteceu comigo e com o Matheus, e eu iria descobrir, e para falar a verdade, alguma coisa me dizia que não ia demorar.

Comentários

Há 4 comentários.

Por H.Thaumaturgo em 2015-10-06 00:42:56
Aaaaaaah como eu amo vcs 😍😍😍😍😍Matheus e Jonathan vcs são os melhores hahahaha, amei esse capitulo e espero que o Jonathan deixe pedras no quarto dele pra quando o fdp ficar observando ele de noite de novo u.u .Abrçs Heitor.
Por luan silva em 2015-10-05 22:02:37
algo me diz q tem o dedinho podre do filhotinho de lucifer no meio de tudo e eu quero muito mais muito mesmo ver o jonathan acabar com o delegado o filho dele e a rafaela, seria legal uma doce vingança do jonathan hahaha(risada diabolica) parei... mas ate q seria legal... sobre o caio e o matheus foi muito lindo mesmo e realmente o q importa é a pessoa e que se dane o resto... cara já ta acabando?! :'( vai fazer muita falta...
Por Jr.kbessao em 2015-10-05 19:17:02
Cacilda, muito bom. Amei o Jonathan jogando o peso no cara. Torcendo muito pra ele se lembrar logo de tudo e acabar com a raça dessas bichas enrustida. É uma pena que tá acabando mais vai vir um próximo que tenho certeza que vai ser maravilhoso tb!
Por diegocampos em 2015-10-05 18:40:34
Gostei bastante admiro muito a coragem do Jonathan e espero que ele fique bem espero ansiosamente a vingança do Jonathan Muito triste que já está acabando a série rsrs .