Comum & Extraordinário - Capítulo 50

Parte da série Comum & Extraordinário

Boa Tarde

Eu queria agradecer a todos vocês pelos comentários no último capítulo. Sei que alguns não gostaram e que outros curtiram bastante, mas é isso mesmo, eu nem sempre consigo agradar todo mundo.

Eu tinha planejado um texto para hoje, para antes do capítulo, só que ando um pouco sem tempo, já que posto aqui do serviço, então não é sempre que encontro alguns minutos para escrever, mas eu queria agradecer mesmo por todos os comentários que recebi. Foi bom saber a opinião de vocês, mesmo que fossem contraria a minha. Rsrsrs. Tenho que aprender a ouvir sem debater, eu sei disso...

No mais, obrigado pelo incentivo... No próximo capítulo eu falo um pouco mais, escrevo o que eu escreveria hoje.

Fiquem bem e estejam sempre bem. Um abração e um beijão para todos.

- Smashing Girl: Eu amei você ter comentado no capítulo, como sempre, e seria um prazer fazer a discotecagem de sua festa de formatura. Rsrsrs.

- Bella & Alex: Obrigado pelos e-mails que estamos trocando. Rsrsrs.

- Nara M: No começo eu não tinha certeza se faria tudo isso ou não, mas eu pensei como você, eu achei necessário fazer isso acontecer no conto para tentar mostrar a todos que estamos sujeito a esse tipo de comportamento desumano de algumas pessoas... E eu não sei se estou preparado para ir além desse site. Ainda não me sinto pronto, não sei porque, mas obrigado pela força.

- diego campos: Obrigado por sempre estar comentando. Fico extremamente feliz. Rsrsrs.

- Lipe *_*: Eu vi o seu comentário, e pode deixar, chega de spoilers. Rsrsrs.

- Ru/Ruanito: Obrigado. Rsrsrs.

- adriannosmith: Um beijo para você e para o pessoal daí. Rsrsrs. Obrigado.

- isabela^^: A segunda já chegou. Rsrsrs. Obrigado por sempre estar por aqui.

- S2DrickaS2: Não vou dar mais spoilers, eu prometi. Rsrsrsrs. Mas origado meu bem.

- Arthurzinho: Ele não reagiu porque foi a primeira vez que ele realmente sentiu medo, um medo real... Um abração.

- Mrr. M: Obrigado pelos comentários... Eu sempre tento falar um pouco das músicas que gosto, então... Obrigado pelo comentário.

- Guiiinhooo: Bem, eu acho que não preciso falar quem foi, mas mesmo assim, você pode se surpreender depois... Rsrsrs.

- esperança: Infelizmente isso teve que acontecer... Obrigado...

- GabsSparks: Porque não gostou?

- jessih_love: Obrigado. Rsrsrs

- Belspie: Você vai descobrir agora. Rsrsrs.

- AnjoV: Obrigado pelo comentário, mesmo, e sobre o Matheus, aguarde um pouco, porque eu amo o personagem... Rsrsrs.

Obs: Me desculpem caso eu me esqueci de alguém.

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Comum & Extraordinário - Capítulo 50

Parecia que tinha sido ontem a primeira vez que o conheci. Era como se fosse tão recente, tudo tão novo, que eu ainda conseguia o sentir perto de mim, em cima de mim, dentro de mim. As imagens do seu rosto e corpo rondavam minha mente, me trazendo constantes lembranças de um passado tão novo, mas que parecia vir de tempos antigos.

Eu conseguia ver o seu rosto, o seu rosto branco e seus cabelos claros. Eu conseguia sentir seu cheiro, aquele que ele deixou impregnado em mim. Eu podia sentir também o toque de suas mãos, o calor emanado delas. A sensação de seus dedos enrolados aos meus eram acolhedora e amável. Meu corpo estava quente, estava quente não por o estar desejando, mas por eu me sentir febril, doente, e eu não sabia o porque.

Eu estava sentado em um local branco, onde havia apenas uma dadeira desconfortável e nada mais. Lembro que assim que eu havia chegado, me pediram para sentar e esperar. Aquele gentil cavalheiro com trajes azul celeste e um sorriso tão angelical pareceu se importar comigo, e as sua última ordem antes de me deixar ali por tanto tempo era que eu permanecesse sentado enquanto meu corpo descansava, mas eu não consegui. Eu me levantei e andei pele lugar completamente branco como as nuvens do céu em um dia ensolarado. Não havia portas, janelas, passagens secretas ou manchas de sujeira pelas vastas paredes que me cercavam. O que mais me marcou foi o único cheiro que eu sentia, o de chuva. Não ouvia nada, dizia nada, tocava nada ou falava algo, mas eu conseguia sentir o cheiro, como se a poeira estivesse se levantando a medida que os pingos de água a atingiam. Dizem que o orvalho da manhã tinha um cheiro semelhante, pelo menos foi o que o homem de vestimentas azuis me disse sem eu ao menos o perguntar o porquê do cheiro, alegando que sabia o que eu estava pensando, e que aqui, o único cheiro presente era esse.

Me sentei novamente, inquieto, a procura do que fazer naquele local tão isolado, mas eu não encontrei, então minha única saída foi ficar com meus próprios pensamentos, os quais não eram muitos, e quando eu me lembrava de alguns, minha cabeça doía muito, e isso me fez desistir de pensar a respeito de tudo sobre a minha vida. Ele então apareceu novamente, sorrindo como se estivesse tendo o dia mais feliz do mundo. Quando chega perto de mim, em minha frente, ele se senta em um banco que aparece ali, debaixo dele, e ele me encara.

- Como está se sentindo? - Ele cruza as pernas, mostrando suas cochas lisas e branquinhas.

- Bem, eu acho.

- Se lembra do que aconteceu? - Ele me pergunta, em expectativa.

- Não... O que aconteceu?

- Isso você irá descobrir depois. Você está aqui para descansar.

- E onde estou?

- No santuário das almas feridas. - Ele sorri novamente.

- É uma espécie de clínica? O que eu fiz para estar aqui? Eu não consigo me lembrar... - Minha cabeça volta a doer.

- Não, é apenas um santuário para cura de almas machucadas.

- Eu não estou entendendo...

- Quase ninguém compreende, mas não se assuste, está tudo bem.

- O que eu estou fazendo aqui?

- Curando sua alma enquanto seu corpo e mente, repousam em um lugar longínquo.

- Eu não... - Eu não conseguia processar nada.

- Você não precisa entender e tentar se explicar. A única coisa que lhe peço é que descanse, pois quando estiver pronto, vai voltar.

- Voltar para onde?

- Para o seu corpo, o seu lar.

- Eu estou morto? - Eu havia prestado bastante atenção em suas palavras e constatei que eu era a minha própria alma.

- Não, mas você quase faleceu.

- O que aconteceu comigo?

- Jonathan, sua mente não pode criar vínculos com esse lugar ou lembranças. Não é uma situação possível.

- E quem é você?

- Eu cuido do santuário.

- Há quanto tempo você faz isso?

- Há muito tempo...

- Mas quando eu vou poder ir embora?

- Eu não sei. Não tenho tempo aqui e não consigo te informar com convicção.

- Mas eu estou aqui há quanto tempo?

- Não sei, mas não se preocupe quanto a isso, você já vai voltar.

- Eu estou no céu? - Pergunto, ingenuamente.

- Não. - Ele sorri e me encara, como se eu tivesse falado um completo absurdo.

Ele se levanta e começa a caminhar pela imensidão branca, até seu corpo desaparecer por completo e eu não conseguir o ver novamente. Quando finalmente volto a mim mesmo, penso no que eu estava fazendo aqui, no que era realmente esse lugar, mas eu não consegui descobrir, e eu tentei, muito.

Depois de muito tempo sentado naquele mesmo lugar, eu começo a ficar inquieto novamente, mas não como da primeira vez. Minha inquietação era diferente, ela fazia meu corpo formigar, pinicar, mas não era uma sensação ruim. Meus pés são as primeiras partes do meu corpo a sentir. Eu olho para eles e fico abismado com o fato de eles estarem se transformando e uma espécie de nevoeiro azul. Eles se dissipavam, se desafaziam, e o pequeno nevoeiro ia se tornando ainda maior a medida que chegava nos meus tornozelos, minhas pernas, minhas coxas e minha cintura. Ele para ali um pouco, me deixando com medo, mas eu não conseguia me livrar dele, e ele então volta a subir novamente, tornando meu corpo parte de uma nuvem azul que parecia carregar um manancial chuvoso, e quando eu já não vejo mais meu corpo, sinto o comichão chegar em meu queixo, e em poucos segundos, eu não me sinto mais parte daquele lugar.

Eu lentamente abro os olhos, e a primeira coisa que eu consegui sentir foi a temperatura do ambiente. Olho para onde estava meu ponto fixo de visão e vejo uma lâmpada bastão azul fluorescente acesa sobre minha cabeça. Ela não piscava ou tilintava, apenas brilhava de mais, me fazendo desviar o olhar para outro lado. Vejo uma mão segurando a minha, e então percebo que eu não havia conseguido abrir totalmente meus olhos, porque estava tudo muito embaçado de novo. Tento forçar mais um pouco e sigo os pelos daquela mão quente, até que vejo braços com pelos, e a medida que vou subindo, vejo seu rosto.

Aquele homem parecia estar tão desconfortável naquela cadeira. Sua silhueta parecia torta, como se ele estivesse ali ele encontrasse conforto. Tento fixar meus olhos em seu rosto, mas tudo o que consegui ver foi uma barba um pouco grande, cobrindo seu rosto. Não estava enorme, era como se fosse uma barba crescida durante trinta dias seguidos. Olho novamente para minha mão e vejo que tinha um pequeno fio saindo dela, um fio fino, mas que transportava algo para o que estava debaixo do esparadrapo em minha pele.

A segunda sensação que eu tive foi completamente desconfortável. Algo incomodava minha garganta, muito, me deixando ao ponto de não conseguir engolir nada, mas eu não tinha forças para virar a minha cabeça e descobrir o que é, e isso me apavorou, fazendo com que a terceira coisa perceptível para mim fosse um ‘Bip’ que aumentava de intensidade a medida que meus nervos tomavam conta de mim, e quando o ‘Bip’ atinge a sua máxima potência, meu corpo começa a tremer sobre algo macio, e meus olhos finalmente se abrem.

Era ensurdecedor. Eu ouvia gritos, mas eu não sabia de onde viam ou se estavam próximos de mim. A sensação quente e extremamente confortável e familiar em minha mão não estava mais ali, sensitiva ao meu toque. O bolor em minha garganta começou a aumentar, me impossibilitando de respirar. Eu me sufocava em algo que eu não sabia o que era, e minha visão se torna ainda mais clara, assim como a sensação de ter meu corpo se debatendo em algo confortável. Eu então finalmente vi três pessoas no canto daquele lugar, e todas elas choravam. Fiz um esforço mental muito grande para tentar ver quem era, e minha cabeça pareceu explodir, mas eu consegui, eu vi quem era. Meu pai estava chorando abraçado a minha mãe, ambos no chão, aos prontos, e eu também consegui o ver, o dono da barba grande. Rodrigo chorava, e eu conseguia ver o quão triste e destruído ele estava apenas de olhar em seus olhos. Nenhum deles se continha, e nem mesmo eu sabia o que estava acontecendo.

Aos poucos meu corpo vai se acalmando, e era uma sensação estranha, como se eu estivesse indo dormir, mas não cheguei a isso. Parece que tudo parou de doer, inclusive minha cabeça. Uma sensação começa a se formar em meu âmago, bem no fundo, lá dentro de mim. Minha garganta parecia não querer mais o que quer que seja que a estava incomodando, e por isso aquilo estava sendo retirado. Eu sentia aquele tubo grosso passar por tudo lá dentro, pela minha garganta, me causando ânsia de vômito, inclusive pelo mal cheiro que vinha dela. A medida que ela ia saindo, eu me apavorava por causa do sangue em sua superfície, mas meu corpo estava calmo, era tudo apenas mentalmente, e quando ela finalmente sai, sinto minha cabeça sendo virada para fora do que presumi ser o colchão, e o vômito vem, ele chega com muita força, e eu vejo tudo saindo. Era uma mistura amarela com sangue e uma espécie de líquido mais grosso parecido com papa que dão a crianças pequenas. Fico cerca de meio minuto naquela posição, colocando tudo para fora, sentindo meu estômago se revirar por dentro, e por incrível que pareça, ficando melhor, me dando uma sensação de alívio. Quando eu termino de vomitar em uma espécie de bacia metálica que uma mulher de branco segurava perto do meu rosto, sou virado novamente e me encosto no colchão.

O ‘Bip’ agora tocava normalmente, e eu só percebi que monitorava os meus sinais vitais quando olhei para o lado e vi o monitor ao lado da minha cama, e então eu passei a notar tudo. Eu estava usando uma camisola branca de hospital e deitado em uma cama com lençóis brancos. Em minha mão direita havia realmente uma mangueira fina que levava soro para as minhas veias, um líquido amarelado, que agora eu conseguia o sentir invadindo o meu sistema. Olho para o outro lado e em meu braço esquerdo havia outra mangueirinha com soro, só que esse era transparente e pingava com uma lentidão agoniante. Tentei levantar meus braços, pelo menos um deles, mas só consegui mexer meus dedos. Tentei fazer o mesmo com minhas pernas, mas novamente, só consegui mover os meus dedos. Eu me sentia pesado, cansado, e ainda não havia juntado as peças do quebra cabeça. Minha mente não conseguia juntar informações que me explicassem o porque disso tudo, e depois de muito tempo tentar, resolvi deixar como está. Quando esfriei a cabeça e o corpo, eu senti um sono repentino chegar, e rapidamente apaguei, sem ao menos perceber.

Quando eu acordei e abri os olhos, eu já enxergava com clareza. A minha garganta ainda me incomodava por causa da retirada do tubo mais cedo, mas meu estômago estava melhor. Os dois soros que entravam pelas minhas veias ainda estavam na metade, mais lentos ainda do que a minha última observação direcionada a eles, mas parecia que eu estava em um lugar diferente agora, em um quarto diferente, porque as luzes desse estavam mais fracas, ou minha visão havia se acostumado com elas, ainda não sei. Eu finalmente direciono meus olhos para outro lugar, para o meu lado, onde eu vi meus pais. Eles estavam abraçados de lado, com lágrimas nos olhos, mas estavam sorrindo, e parecia de felicidade. Tento dar um sorriso para eles, mas meu rosto dói, então não o faço como eu gostaria.

- Oi... - Minha voz sai embargada e melodiosa, como se eu estivesse sobre o constante uso de medicamentos controlados.

- Oi meu filho... - Meu pai praticamente suplica por meu nome, mal se contendo de felicidade, e ainda sim, chorando.

- Você acordou... - Minha mãe se aproxima, e meu pai faz o mesmo. Ambos estavam agora ao lado da minha cama, segurando a minha mão direita com cuidado.

- Vocês estão bem... - Eu não consegui formular a pergunta, saiu como uma frase solta no meio da conversa.

- Estamos sim meu filho, estamos bem. - Meu pai sorri e chora ao mesmo tempo, apertando minha mão com o pouco mais de força, me machucando um pouco. - Me desculpa, me perdoa, por favor... - Ele suplica.

- Está tudo bem pai... - Eu pisco, e isso demora mais do que o esperado por mim. - Não machucou.

- Você está sentindo alguma dor meu bem? - Minha mãe pergunta, preocupada.

- Acho que... - Tomo um tempo para analisar tudo o que meu corpo sentia. Minha cabeça doía um pouco. Eu parecia estar engolindo grãos finos de areia. Minha garganta pinicava. Minhas costelas queimavam e minha cabeça doía bem pouco. - Um pouquinho... - Dessa vez eu consigo sorrir, mesmo causando dor na minha boca.

- Você está sorrindo... - Meu pai volta a chorar muito, fazendo a minha mãe também chorar.

- É claro que estou, vocês estão aqui comigo... - Eu aperto com a única força que eu tinha as suas mãos.

- Meu filho...

Meu pai é o primeiro a se aproximar ainda mais, colocando seu peito sobre o meu com o maior cuidado do mundo, como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Sinto seus lábios tocarem minha testa, assim como uma lágrima que molha o meu rosto. Ele se levanta e é a vez da minha mãe, que me dá um beijo no rosto, o limpando depois por causa do batom. Eles sorriam para mim, em expectativa.

- O que aconteceu? - Eu pergunto, tentando me lembrar, e isso faz os meus pais voltarem a chorar.

- Ô meu filho... - Meu pai começa a me encher de beijos, coisa que pais normais não faziam, mas ele sempre fez quando estava tentando me mimar. - O médico vai te contar depois, não se preocupe.

- Sim, ele disse para deixar você descansar um pouco. - Minha mãe tenta sorrir.

- Entendi... E a... - Eu tento me lembrar o nome dela, e com um pouco de dificuldade, consigo. - E a Carol?

- Ela está lá fora meu bem, ansiosa para te ver. O Caio também está lá com ela.

- O Ma... - Eu não estava conseguindo. - O Mathe... - Eu sabia o nome dele, mas eu não conseguia dizer.

- O Matheus? - Meu pai pergunta.

- Sim... - Eu dou um sorriso. - Ele está lá fora? - Eu pergunto e estranho o fato de meus pais negarem com a cabeça? - Onde ele... Onde ele está?

- Ele está na casa dos avós meu filho... - Minha mãe me explica.

- E porque ele não está lá com a Carol?

- Ele precisou viajar meu bem, mas ele disse que assim que você acordasse era para o avisar.

- Entendi... - Eu tento reunir forças para me sentar, mas não consigo.

- É para ficar de repouso meu filho. - Meu pai coloca sua mão em meu ombro. - Descansa um pouco...

- Tudo bem...

- Eu vou chamar o médico...

Meu pai sai pela porta do quarto e a fecha, me deixando apenas com minha mãe ali dentro. Ela me abraça outra vez, com muito cuidado, mas abraça. Todos eles tinham medo de me quebrar, de me machucar, e aquilo me incomodava um pouco, mesmo eu não conseguindo me lembrar direito do que havia acontecido. Quando meu pai entra no quarto com um homem de jaleco branco, minha mãe vai até eles, fazendo parte da conversa silenciosa que tinham. Meus pais então saem juntos do quarto, me deixando com o médico, que caminha calmamente em minha direção.

- Boa noite. - Ele diz, sorrindo para mim.

- Boa noite... - Eu também dou um sorriso para ele.

- Então, eu vou lhe fazer algumas perguntas e eu preciso que você me responda todas elas. Pode fazer isso?

- Posso.

- Vamos começar com a mais simples... - Ele abre abri a prancheta em suas mãos. - Qual o seu nome?

- Jonathan... - Eu digo, com um pouco de dificuldade.

- Você sabe a sua idade Jonathan? - Ele olha para mim.

- Dezessete...

- E quando faz aniversário?

- Dia... - Eu começo a forçar um pouco minha mente para me lembrar. - Dia vinte e oito de maio...

- Ótimo. - Ele parecia feliz por eu ter me lembrado. - E o nome dos seus pais, você se lembra?

- Fábio e... - Novamente eu tenho que pensar muito antes de o responder. Estava tudo tão confuso que me fez ter vontade de chorar ali mesmo.

- Não force Jonathan. Se você não se lembrar, não tem problema.

- Cristiane. - Eu comemoro com um sorriso quando me lembro. - Fábio e Cristiane.

- Muito bom... - Ele anota algumas coisas na sua prancheta. - Você se lembra do que aconteceu? E mais uma vez, não force a memória.

- Eu... - Eu tento me lembrar e responder a sua pergunta, mas eu não conseguia ver muita coisa, não conseguia formar imagens na minha cabeça. A única coisa que eu me lembrei foi do Matheus dançando comigo e sorrindo. - Eu não consigo...

- Não tem problema.

- Que dia é hoje?

- Dia 25 de julho... - Ele me encara, esperando alguma reação, o que não demorou.

- Mas, mas eu... - Minha cabeça começa a dar voltas novamente, e outra vez passa a doer.

- Se acalme Jonathan, está tudo bem.

- Mas... O meu aniversário... Eu queria... - Eu tento me lembrar a todo o custo do que aconteceu, mas minha cabeça doía muito.

- Jonathan, não tente se lembrar. Vai vir tudo com o tempo.

- Eu... O que aconteceu comigo... Eu lembro... Faltavam três semanas para o meu aniversário, e eu queria fazer... - Eu começo a chorar silenciosamente por não conseguir me lembrar.

- Jonathan, tenha calma... - Sua voz era tranquila e suave. - Você ficou em coma por dois meses.

- Eu... Eu fiquei o que? - Eu junto todas as minhas forças e finalmente consigo me colocar sentado na cama, fazendo com que a dor em minhas costelas aumente ainda mais, mas era uma dor que ia e voltava.

- Você ficou em coma por dois meses e vinte dias, e precisa descansar. Volte a se deitar, por favor.

- Eu não posso ter ficado... - Volto a forçar minha memória, mas era tudo em fragmentos.

- Qual o último acontecimento que ronda sua mente?

- O Matheus... - Eu paro um pouco para tentar raciocinar. - O Matheus e eu estávamos dançando. A gente ria um para o outro...

- Consegue me dar mais detalhes? A roupa que você usava, a música que você dançava...

- Eu acho... - Algumas peças começam a se juntar, mas eram muito poucas. - Eu estava vestindo uma camisa roxa, azul marinho, eu não me lembro direito... Mas elas tinham bolinhas brancas... E eu estava de calça preta...

- Sim... E o seu amigo? Lembra com qual roupa ele estava?

- Eu... - Eu tento lembrar e vejo a gente conversando dentro do carro, mas não consigo ver sua roupa. - Não me lembro...

- Tudo bem, não tem problema, isso não é um fator importante... - Ele fecha a prancheta e olha para mim, com a feição séria. - Agora eu preciso que tenha muita calma, que não force a sua mente. Tente se lembrar do que aconteceu depois que vocês estavam dançando, quando estavam indo embora. Tente se lembrar.

Eu faço o que ele pede. Respiro fundo, fecho os olhos e me acalmo por completo. Tento rodar a minha mente pelas lembranças do que aconteceu lá, mas eu não via muita coisa. Eu conseguia rever as danças, as músicas, as luzes piscando. Eu conseguia ver o meu passado, mesmo não sendo necessário no momento. Faço um pouco mais de esforço e me lembro de alguns homens, um deles tatuado. Consigo ver a gente transando dentro de um banheiro e me lembro também de eu estar com outros dois homens mais velhos do que eu. Aperto os meus olhos e me vejo saindo daquele banheiro e dando de cara com o Matheus sorrindo para mim, mas minha memória acaba aí. Tudo desse momento para frente é um escuro do qual não consigo enxergar nada.

- Se lembrou de muita coisa? Conseguiu ver o que aconteceu?

- Eu me lembrei do Matheus e eu dançando. Eu consegui me lembrar de... - Eu olho para ele. Não queria falar o que tinha acontecido no banheiro.

- Jonathan, eu preciso que você me diga.

- Eu transei com um cara no banheiro... - Eu olho para ele, mas ele se mantinha o mais formal possível.

- Sim. Você transou com ele por vontade própria ou foi forçado?

- Por vontade própria... - Eu estava um pouco envergonhado de ter que contar isso para um estranho.

- Jonathan, eu sou médico, não precisa ficar com vergonha de me contar as coisas.

- Tudo bem.

- Foi com apenas um? - Ele abre a prancheta.

- Não... Foram três... - Ele pareceu não se importar ou me acusar.

- Entendo. Também por vontade própria?

- Sim.

- Eles foram violentos, te machucaram, fizeram você sangrar... - Eu novamente forço minhas memórias e repasso tudo o que aconteceu na minha cabeça, constando que eu estava bem depois do ocorrido com os homens.

- Não, não foram, e eu não sangrei.

- Tem certeza?

- Sim, eu tenho... Porque está me perguntando isso? Pode me falar o que aconteceu? - Eu estava melhorando aos poucos, bem aos poucos mesmo.

- Jonathan... - Ele fecha a prancheta novamente. - Você foi vítima de agressão física seguida por estupro...

Ele ficou observando minhas expressões faciais, que eu nem ao menos sabia como as formular ou criar. No primeiro momento eu não consegui acreditar naquilo, eu me recusei a acreditar, mas ele foi tão sincero, tão direito comigo, que chegou a me machucar. Sou tomado por uma angústia enorme, por um medo, por um receio de tudo e acabo chorando. As lágrimas caiam pelo meu rosto e eu me sentia um inútil naquele momento por estar naquela situação horrível, naquela situação onde eu causaria pena nos outros.

Aquele famoso nó se forma na minha garganta quando o meu choro aumenta. Eu não me lembrava daquilo tudo, eu não me lembrava de ser agredido, de ser espancado, e muito menos de ser estuprado, e eu estava com raiva porque eu não conseguia ver. Eu estava chorando porque eu não conseguia me lembrar do que o médico havia jogado em cima de mim. Meu choro passa a ser ainda mais frequente, e eu não consigo o controlar, e eu nem tentava mais.

Não sei por quanto tempo fiquei naquele estado de choque, sem saber o que fazer, sem saber como agir ou como me comportar diante do que me foi dito. Eu realmente estava ferido. Eu podia ver, depois de levantar a camisola do hospital e mandar para o espaço a vergonha de o médico me ver nu, as marcas na minha costela, os pontos vermelhos e alguns cortes que já estavam cicatrizando. Eu coloquei as mãos no meu rosto e senti alguns pontos, principalmente perto da minha orelha e em meus lábios, e aquilo me fez ir aos prantos. Passo as mãos pela minha cabeça, e eu não tinha cabelo. Tudo estava cortado, raspado, e eu conseguia sentir uma linha que juntava minha pele ali em cima, outra cicatriz de ponto. Minha boca estava inchada. Eu não tinha mais dois sisos que estavam no fundo da minha boca. Por fim, apenas para me destruir por completo, eu toquei lá, e quando sentia, eu chorei ainda mais. Eu conseguia sentir uma espécie de pele, de músculo, como se minha hemorroidas tivesse saído, e aquilo me causou nojo, e meu desespero apenas cresceu, mas eu não me descontrolei, eu apenas me deixei chorar muito, chorar tudo o que eu tinha para chorar enquanto o médico pedia para eu ter calma, mas eu não conseguia.

Cerca de cinco minutos depois, meu choro começa a cessar, e aos poucos eu vou me acalmando, ainda sem me lembrar de tudo o que havia acontecido. Eu me deito depois de cobrir o meu corpo nu, que estava a mostra, e então passo o lençol por cima de mim, me escondendo do frio que de repente havia me consumido.

- Eu virei um monstro... - Lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, e minha agonia ainda sondava meu peito, me causando dor.

- Não Jonathan, você foi vítima de um milagre.

- Não... - Eu passava a mão pela minha cabeça, sentindo os pontos.

- Você chegou aqui praticamente morto. Você mal respirava. Quando eu te vi entrando na maca, pensei que seria mais um caso onde eu faria de tudo para o salvar, mas seriam em vão.

- Mas eu fiquei assim...

- Jonathan, o único corte que resultará em uma cicatriz permanente é do canto de sua orelha, que foi muito profundo. Todos os outros vão desaparecer com o tempo.

- Vão? - Eu olho para ele.

- Sim...

- E... - Eu o encaro, e ele sabia do que eu estava falando.

- Jonathan, por incrível que pareça, a situação da sua região anal não foi tão grave. Tivemos que dar cerca de dois ou três pontos devido a um corte de tamanho médio no local, mas esses pontos já caíram, graças a Deus. Quando a situação dele agora, é passageira. Com alguns remédios tudo volta ao normal... O que me alertou foram as suas costelas e as luxações em seu corpo. Você chegou aqui em estado gravíssimo. Tive que realizar uma cirurgia para remover o coágulo de sangue que havia se formado em seu cérebro devido aos chutes que você levou na cabeça, mas a situação se complicou, e isso resultou em seu coma. Mas analisando tudo de fora, você está ótimo.

- Graças a Deus... - Eu estava aliviado.

- Você realmente chamou a atenção dele. - Ele sorri.

- Só uma coisa... Eu estou tendo dificuldades em me lembrar de nomes...

- Isso é normal. Você levou muitos chutes na cabeça, então é comum, ainda mais depois da cirurgia, que você demore um pouco a recuperar a total consciência.

- Entendi...

- Eu queria te avisar... - Ele para e pensa um pouco. - Uma coisa de cada vez. Não quero lhe deixar preocupado atoa, ainda mais por a situação já estar resolvida.

- Fala. - Eu queria saber.

- Eu acho melhor...

- É alguma coisa com minha saúde?

- Não... - Ele se aproxima de mim novamente. - O seu amigo também foi agredido.

- O Matheus? - Minha vontade de chorar volta novamente, ainda mais forte. - O que aconteceu com ele? Ele está bem? Onde ele está? - Eu começo a fazer pergunta atrás de pergunta, e com isso percebo o ‘Bip’ do aparelho aumentar de velocidade.

- Calma, ele está bem. Ficou duas semanas aqui e já teve alta.

- Onde ele está? Ele está lá fora? - Eu pergunto, olhando para a janela com as persianas fechadas.

- Não... Infelizmente o trauma foi de mais para ele suportar. Seus pais me falaram que ele fez uma viagem para a casa da avó e que deve ficar lá por um tempo.

- O Matheus... - Eu começo a chorar novamente.

- Ele está bem Jonathan, só está assustado.

- Ele se lembrou do que aconteceu?

- Não. Ele me contou que havia bebido muito e que não se lembrava direito, apenas de ver três homens de capuz preto perto do carro dele.

- Mais nada?

- Não. Eu fiz o mesmo processo com ele, o das perguntas, o pedi para tentar se lembrar, e tudo o que consegui foi isso. Ele realmente não se lembra, e por isso que ficou assustado.

- Por não saber quem foi e por ter medo que eles façam novamente...

- Sim. Pelo que eu vejo você aos poucos está conseguindo formular frases consistentes.

- Estou sim. - Eu sorrio.

- Vou chamar seus pais e seus amigos agora. Tente não se esforçar viu, por favor. Pode fazer isso?

- Posso.

Depois que o médico sai, um monte de gente entra no meu quarto. Meus pais são os primeiros. Eles estavam sorrindo de orelha a orelha por eu também estar sorrindo. Depois deles entrou a Carol que chorava muito, e logo veio até mim, me enchendo de beijos no rosto. O Caio também apareceu, com os olhos vermelhos. Ele me deu um selinho nos lábios, muito de leve, e aquilo foi como um simples toque para mim, um simples gesto de carinho, e eu sorri depois que ele fez isso. Eles ficaram me mimando, rindo comigo, me fazendo sorrir. Caio via os meus machucados e meus pontos, falando que eu estava muito foda cheio de pontos, e apesar de ser um pouco triste para mim, eu sorri.

Quando ele aparece na porta, todos os quatro dentro do meu quarto olham para trás, o observando. Eu conseguia ver lágrimas nos seus olhos, e assim que os meus se fixaram nos dele, eu comecei a chorar. Todos eles então saíram, nos deixando sozinhos.

Rodrigo ainda estava longe, encostado na porta, me olhando como se estivesse suplicando por tudo o que já fez na vida. Seu rosto estava barbado, muito mais do que o normal dele, mas não muito grande. Ele usava uma calça clara e uma camisa vermelha, mas tudo o que eu vi foi o seu rosto triste, o seu rosto de dor, o seu olhar de sofrimento para comigo, e isso me fez chorar ainda mais, me fez chorar porque eu vi o quanto eu o amava e o quanto ele estava péssimo ao me ver daquele jeito.

- Me perdoa... - Sua voz fica ainda mais grave, como se ele estivesse fazendo o impossível para não se descontrolar. - Me perdoa, por favor... - Ele dá mais um passo em minha direção. - Eu sou um monstro, eu... - Outro passo em minha direção, e ver seus olhos tão vermelhos cortou o meu coração. - Pelo amor de Deus Jonathan, me perdoa! - Ele se descontrola quando se ajoelha ao lado da minha cama, e aquilo faz com que eu chore ainda mais.

- Rodrigo! - Eu aperto as suas mãos com toda a minha força. - Você me deixou!

- Eu sei... Me perdoa, pelo amor de Deus Jonathan, pelo amor de Deus! Eu nunca mais vou sair do seu lado, eu vou te proteger sempre, eu vou, eu juro!

- Rodrigo...

- Eu juro que vou!

- Por favor, me abraça! Eu preciso do seu abraço, eu preciso... - Eu começo a chorar ainda mais.

- Me perdoa...

Rodrigo estava completamente destruído. Ele parecia se sentir inferior, um lixo, ele estava acabado, e eu conseguia ver isso no seu olhar, e eu conseguia sentir o que ele estava sentindo naquele momento. Toda dor, toda tristeza e todo o rancor que havia, tinha ido embora em um piscar de olhos, porque ele estava agora deitado ao meu lado, não se importando com o meu estado deplorável, com as minhas cicatrizes, com o meu corpo machucado. Eu conseguia sentir seu arrependimento, sua dor, eu conseguia sentir tudo com ele ao meu lado, inclusive o medo, que não conseguia me abandonar mais, mas eu também me sentia protegido ali com ele ao meu lado, chorando junto comigo, me pedindo perdão inúmeras vezes, beijando cada cicatriz em minha pele, tocando os meus lábios, sentindo o meu calor, e eu sentia o dele. Eu nunca mais iria sair do lado daquele homem, porque ele iria me proteger de todo o mal desse mundo, e eu iria fazer o mesmo com ele, para sempre. E foi assim que dormimos juntos pela primeira vez depois de todo esse tempo, e eu não me importei de ele estar me machucando um pouco, de estar roçando em meus cortes. Eu não me incomodei em sentir um pouco de dor quando na verdade o que eu mais sentia naquele exato momento era todo o seu amor por mim.

Comentários

Há 7 comentários.

Por Niss em 2015-09-29 00:37:52
Genteeeee..... Que bom que ele ao menos acordou e que o Matheus melhorou!!! Confesso que eu pensei de o Matheus ter partido, mas ainda vem que nao, e que bom que os amigos dele estao por perto. Espero que o Rodrigo não faça burrada dessa vez.... E que de tudo certo.... Espero pelo próximo. Kisses Niss..
Por H.Thaumaturgo em 2015-09-29 00:04:16
Ppxa Matheus e Jonathan, esqueceram do meu comentário no capitulo anterior ;-; . Mas deixando isso de lado, eu amei esse novo capitulo e realmente só quero saber do Rodrigo e o Jonathan juntos ❤💜💚💘💛💝
Por luan silva em 2015-09-28 23:48:31
esqueceram de mim 5 hehe, que situação cara, tipo eu tô aqui não sei se é raiva, pena, admiração, não sei são muitas coisas que passam por minha cabecinha agora e nao tem como nao gostar de cada capitulo de comum e extraordinario e esse como todos os outros foi otimo e muito bem escrito... tio luan ta muito ansioso para o proximo.
Por Itak em 2015-09-28 20:39:23
Perfeito!!! Só teve um erro nesse capítulo: Fiquei com vontade de ler mais... Rss No mais, parabéns pela escrita, aliás, o conto em si é muito envolvente em todos os sentidos.
Por Jr.kbessao em 2015-09-28 18:44:08
Ahhhhhh caracaaaaa, esse final foi tudo de bom! Agora o Jonathan vai se vingar de todos que fizeram mal a ele!!!
Por diegocampos em 2015-09-28 18:18:55
Achei muito fofo esse final, que bom que o Jonathan vai ficar bem ele é o Rodrigo merecem ser felizes estou mega ansioso para o proximo
Por Matheus N & Jonathan S em 2015-09-28 18:16:35
Boa Noite... Eu queria me desculpar pelos agradecimentos que postei aqui nesse site. Eles foram escritos para o pessoal da CDC. Eu fiz um para vocês aqui do Romance Gay e na hora de postar acabei me atrapalhando. Copiei e colei sem trocar essa parte, então me desculpem. No próximo eu prometo que posto corretamente. No mais, muito obrigado. Rsrsrs.