Comum & Extraordinário - Capítulo 49

Parte da série Comum & Extraordinário

Boa Tarde...

Bem, o capítulo 49 chegou, e eu confesso que ainda estou um pouco receoso de postar essa parte em especial, mas não por eu não gostar do capítulo ou o considerar uma porcaria. O meu medo é por vocês não gostarem, e eu tenho certeza que muitos de vocês irão pensar dessa forma.

Para mim, esse capítulo é um dos mais bem escritos que eu já fiz, desde o começo, desde a primeira história, e isso é algo que eu percebi na hora que eu escrevi, a forma como eu descrevi as coisas. Confesso que eu senti um arrepio a medida que eu digitava certa parte desse capítulo, e vocês vão saber qual é.

Quero também já pedir perdão pelas prováveis reações, isso se eu não estiver exagerando de mais... Só espero que mais uma vez possam confiar em mim, no que eu planejei. E outra, caso culpem alguém, culpem a mim, porque o Jonathan não queria que isso acontecesse no conto, mas eu fui contra a vontade dele e fiz mesmo assim, até porque, como é um trabalho conjunto, a nossa obrigação é englobar nossas ideias em uma só, então deu no que deu.

No mais, eu só espero que possam continuar acompanhando o conto depois de hoje, porque ainda vai acontecer muita coisa e tudo vai ficar bem no final.

Fiquem bem e leiam esse capítulo de hoje com calma e com a mente aberta.

Um abração e um beijão para todos.

Obs 01: Não irá acontecer nada com o Carlos, podem ficar despreocupados.

Obs 02: Se não me engano, ainda faltam cerca de doze ou trezes capítulos para o final do conto. Já está quase acabando.

Obs 03: Como eu postei dois capítulos em dias seguidos, não irei postar esse final de semana, já que o capítulo 49 seria postado amanhã. Volto apenas na segunda feira.

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Comum & Extraordinário - Capítulo 49

Depois do episódio envolvendo o Thallison na praça de alimentação do Shopping, Matheus e eu resolvemos ir embora. Seguimos o caminho todo até minha casa em silêncio absoluto. Eu por estar com medo do que poderia acontecer e o Matheus por estar acreditando em sua vitória e não ter ouvido o que eu falei com ele, o proibindo de falar sobre o vídeo com qualquer pessoa que seja. Quando ele estaciona o carro, ele olha para mim.

- Eu preciso dançar hoje, esfriar a cabeça. - Matheus diz.

- E você vai esfriar a cabeça dançando? Não tem formas melhores de se fazer isso não?

- Não... Jonathan, a gente o venceu. O Thallison nunca mais vai provocar a gente.

- Não, mas ele pode fazer coisa pior.

- Ele pode ter problemas, mas não é doido a ponto de tentar algo contra a gente, porque sabe que se acontecer qualquer coisa com nós dois a gente libera o vídeo.

- Você não deveria ter falado sobre o vídeo...

- Mas eu falei, e agora não tem como voltar atrás. Você poderia me agradecer por eu ter me livrado dele.

- Matheus, coloca uma coisa nessa sua cabeça. - Eu bato meu dedo indicador várias vezes na testa dele, o fazendo sorrir. - O Thallison é como uma Leucemia, uma doença no sangue. Quando a gente pensa que finalmente se livrou dela, ela volta para sugar mais de nossa vida.

- Não exagera né Jonathan, o Thallison não é o Hannibal Lecter.

- Não, mas eu não me assustaria se ele se tornasse uma espécie de Jeffrey Dahmer no futuro.

- Quem?

- Jeffrey Dahmer, aquele Serial Killer que matou cerca de 20 homens entre 1980 e 1990... - Eu olho para o Matheus, mas ele não sabia quem era. - Ele ia a bares gays na época e atraia garotos até a sua fazenda, os torturando e depois matando.

- Que horror. Olha se isso é coisa que se fale.

- É a verdade. Ele provavelmente era um gay enrustido naquela época, e olha no que deu. Dezessete corpos enterrados naquele lugar, dezessete homens vítimas de estupro, necrofilia, canibalismo, e por aí vai...

- E como você sabe disso?

- Querida... - Eu olho para ele, com deboche e depois sorrio. - Eu sei das coisas, eu manjo dos paranauês.

- A senhora não é nem um pouco convencida né, sua palhaça. - Ele sorri.

- Nunca devemos subestimar o inimigo.

- Mas você está o colocando em um pedestal alto de mais, o Thallison não é capaz disso.

- A fruta podre nunca cai longe do pé. - Se o pai do Thallison cometeu tamanhas atrocidades, o filho seria capaz de fazer o mesmo.

- E o que você quis dizer com isso?

- Nada, é bobeira minha.

- Que bom... Mas quanto ao que eu quero agora...

- E o que você quer?

- Que você vá dançar comigo. A senhora ficou burra agora?

- Não, é porque a senhora não sabe se pronunciar corretamente. - Eu começo a rir.

- Mas que absurdo! Eu vou unhar sua cara rapariga.

- Estou me tremendo toda Rosana.

- Meu Deus! Eu criei uma monstra! - E nos dois caímos na risada.

- Mas a onde você quer ir? - Eu pergunto depois de ficar um minuto rindo.

- Tem um clube novo na cidade vizinha. A boate lá não é como essas de hoje em dia, que vive tocando porcaria e misturando as coisas.

- Como assim?

- O ambiente é alternativo, feito para bichas finas e sofisticadas como a gente. Não tem essa de pop bagaceiro e mal feito, como a maioria das músicas hoje em dia.

- Entendi.

- Não é um local tão cheio porque as bichas de hoje tudo tem mal gosto, mas dá para curtir bastante. Eu fui lá uma vez com o Caio e adoramos.

- E você pretende ir que dia?

- Hoje mesmo querida. Preciso dançar, rodar, rodopiar e me colocar naquele lugar.

- Tudo bem, eu vou.

- Ótimo. Só não espere que toque Britney, Rihanna e afins lá, porque não vai ter.

- Eu não estava esperando por isso, não se preocupe. Eu sou alternativa que nem a senhora.

- Palhaça. Agora saia do meu carro porque eu tenho que descansar e me recompor para mais tarde.

- Sua grossa. - Eu abro a porta do carro sorrindo.

- E querida, só um aviso, deixe a sua dignidade em casa, porque hoje você não vai precisar dela.

- A gente está indo em uma boate ou em uma orgia?

- Nunca se sabe né. A meia noite a carruagem da Cinderela virou abóbora...

- Que medo desse lugar. - Eu começo a rir.

- Amor, você é uma bicha fearless, não tem medo de nada.

- Vai nessa.

- Eu vou sim querida, agora. As oito eu passo aqui. Ainda tenho que ligar para o meu dono e comunicar a minha saída de casa com você para a ilha da perdição.

- Gente... - Começo a rir.

- Até daqui a pouco Rainha do Egito.

- Até daqui a pouco Meretriz da Babilônia.

- Assim a senhora me ofende. - Ele sorri.

- Isso é um elogio. - Rimos juntos outra vez.

Eu entro em casa e fecho a porta. Escuto um barulho vindo da cozinha e então vou lá. Meus pais estavam lavando a louça do almoço, juntos, como sempre faziam. Quando apareço, meu pai logo me vê e sorri.

- Aprovei o novo visual. - Ele diz ao passar a mão na minha cabeça.

- Pai, sua mão está suja de sabão.

- Depois você lava o cabelo meu filho.

- Ficou bem melhor assim meu bem. - Minha mãe sorri.

- Obrigado gente... - Eu dou um sorriso.

- O que tem nessa sacola? Roupa sexy? - Meu pai pega a sacola da minha mão.

- Pelo amor de Deus pai! Você está impossível! - Eu começo a rir.

- Foi só uma pergunta. - Ele começa a rir também. - Que blusa bonita. Será que me serve? - Meu pai tira ela da sacola e começa a vestir, só que meu pai é mais musculoso do que eu, então não passou nos braços. - Não serve.

- Não pai, não serve. - Eu dou outro sorriso.

- Finalmente você comprou alguma coisa para você. Eu já disse para gastar pelo menos um pouco do dinheiro que a gente te dá, porque daqui a pouco o banco começa a comer ele, e é melhor você gastar com suas coisas do que perder para aquele banco ladrão. - Minha mãe até hoje é revoltada com o fato de o banco ter consumido com mil reais da conta dela, e isso foi há dois anos.

- Até hoje mãe?

- Nunca se sabe né, nunca se sabe. - Ela diz balançando a cabeça.

- Aqui, eu vou sair com o Matheus hoje a noite.

- E vocês vão a onde? - Meu pai pergunta.

- Nos vamos a um clube na cidade vizinha.

- Em uma boate? - Minha mãe fala.

- Sim mãe, mas não precisa se preocupar, eu vou me cuidar e ter juízo.

- A gente sabe que você vai se cuidar meu filho, só toma cuidado lá viu. - Meu pai sempre foi cuidadoso.

- Pode deixar pai.

- E não chega bêbado em casa. Você nunca apanhou porque sempre se comportou, mas se chegar aqui cheirando a álcool e vomitando pela casa a fora, vou pegar o cinto do seu pai e dá uma nas suas pernas. - Minha mãe sempre muito motivadora e amável. Começo a rir.

- Mãe, eu não vou chegar bêbado, não se preocupe.

- Eu espero, espero mesmo.

- A gente o criou direito. - Meu pai parecia orgulhoso, e isso me fez ainda mais feliz.

- Eu sei, eu sei... - Minha mãe volta a lavar vasilha.

Depois que subo para o meu quarto, apenas tiro a roupa e deito na cama. Eu tinha que dormir um pouco e descansar para mais tarde porque se não eu não iria aguentar passar a noite inteira acordado naquele lugar. Colo meu celular para despertar, fecho as cortinas e a porta e então me deito debaixo das cobertas, pegando no sono mais rápido do que eu imaginei.

Eu acordo as seis e meia, e por ser horário de verão, ainda tinha sol e a chuva finalmente tinha acabado. Me levanto da cama com minhas forças renovadas e vou até a cozinha. Meus pais tinham saído, mas deixaram um bilhete falando que estavam em uma convenção sobre advocacia onde minha mãe trabalha e que eu poderia usar o carro caso quisesse.

Como eu estava com um pouco de fome, faço uma vitamina de mamão com banana para mim e como um sanduiche natural que minha mãe havia deixado na geladeira. Me alimento direito e acabo tendo que ir ao banheiro depois da vitamina forte que eu havia tomado, e já que tive que ir, resolvo fazer o enema também, porque como o Matheus disse, a meia noite a carruagem da Cinderela se transformou em abóbora. Sei que é um comentário desnecessário e que muita gente pode me julgar por isso, mas eu pouco me importo.

Eu tomo um longo banho outra vez, aproveitando a água caindo em cima de mim e massageando meu couro cabeludo. Tinha aumentado a pressão dos jatos de água, então o chuveiro estava praticamente me furando, mas era uma sensação ótima. Depois de ficar pelo menos uns vinte minutos ali, saio com uma toalha enrolada na cintura. Faço todo aquele processo que fiz mais cedo. Passo o desodorante, um creme nos braços, perfume, o meu melhor perfume e vou a escolha das roupas. Como eu não sabia o que poderia acontecer naquele lugar, eu decidi ir da melhor e mais apresentável forma possível. Resolvo usar uma cueca melhor dessa vez, não que eu não use cuecas boas, mas eu iria usar uma das melhores que eu tinha, uma que eu havia comprado especialmente para o Rodrigo, porque eu sabia que ele usava essa marca, então coloco uma da Calvin Klein na cor preta e ela se ajusta perfeitamente em mim. Depois disso eu procuro por uma calça mais justa, mas não tão justa. Acabo vestindo uma preta que eu tinha comprado há um tempo atrás. Por fim, visto uma camisa poá roxa com bolinhas brancas bem pequenas. Era a camisa mais bonita que eu tinha. Era com botões na parte da frente e de manga comprida. A gola dela por dentro era preta, então quando eu dobrava, ficava ainda mais bonita. Subo a manga dela e deixo dois botões da parte de cima abertos e coloco o cordão de novo, assim como a pulseira de couro. Depois disso calço meu coturno marrom, sapato que eu geralmente não usava, mas ele ainda me servia. Por fim, arrumo o meu cabelo, coisa que estava muito mais fácil agora.

Depois de estar completamente pronto, pego o meu celular e coloco no bolso. Faço o mesmo com minha carteira e finalmente desço as escadas a tempo de o Matheus buzinar na minha porta. Tranco toda a casa rapidamente e por fim tranco a porta da frente. Caminho lentamente até o carro e entro. Matheus novamente estava impecável, como sempre. Ele também vestia uma calça preta bem parecida com a minha, o mesmo coturno de mais cedo e uma camisa linda. A parte da frente dela era azul, um azul bem claro mesmo, e a parte de trás era preta. A gola não era comum, redonda ou v como a maioria, ela era quadrada, de modos que ela era reta na frente, reta nas laterais e reta atrás. Amei tanto a camisa dele que cheguei a perguntar onde ele tinha comprado.

- Eu mande fazer querida, porque eu posso, eu tenho status e condições. - Ele diz.

- Eu também querida.

- Você gostou mesmo? Eu que desenhei, arrisquei no modelo e mandei fazer com o pano mais caro da loja.

- Mas gente... - Eu começo a rir. - Eu realmente gostei.

- Vou mandar fazer uma para você então, de presente. - Ele olha para mim sorrindo.

- Eu vou amar ter uma igual. Pode ser amarelo com preto?

- Pode ser na cor que você quiser querida.

O caminho foi bem longo até a cidade vizinha. Demoramos cerca de cinquenta minutos a uma hora até chegarmos lá por causa do transito, que estava um caos, o que era estranho devido ao horário de pico já ter passado há horas. Encontrar um lugar para estacionar o carro perto do clube foi mais difícil ainda. Não tinha vaga em lugar nenhum, e mesmo o Matheus circulando pelos arredores, não encontramos um lugar que caiba o carro espaçoso dele. Ele acabou estacionando em uma rua deserta, pouco movimentada e bem escura, o que eu não queria e cheguei até a relutar, mas a gente já estava longe do lugar, e se fôssemos procurar outra vaga, seria ainda mais longe. Essa era a única que havíamos encontrado, então teria que ser essa mesmo.

Quando a gente desceu do carro, tivemos que andar cerca de quinze a vinte minutos a pé, isso para você ver o quão longe o estacionamento era. O bairro não era lá um dos mais confiáveis, mas ainda tinha gente na rua, fumando maconha, mas tinha. Eles não mexeram com a gente nem nada. O Matheus ficou meio encabulando com aquilo, mas eu deixei para lá. Eles estavam apenas ali curtindo a noite deles fazendo o que queriam sem incomodar ninguém e a gente ia fazer o mesmo.

Depois de todo esse trajeto a pé, finalmente chegamos ao lugar, e era lindo, simplesmente incrível. A fachada era enorme e em uma cor escura, uma cor que eu não consegui descobrir qual é de tão nova e diferente que era. O letreiro brilhava sobre nossas cabeças com a palavra “Marshall’s Club”, e só pelo nome de peso, o lugar tinha que ser obrigatoriamente foda.

A fila estava grande, grande até de mais pelo que o Matheus havia comentado comigo. Eu pensei que teríamos que ir para o fim da fila, mas eu segui o Matheus até o segurança, que assim que o viu, nos deixou entrar, causando um ódio em cadeia nas pessoas que ainda estavam na fila. Escutei o Matheus falando que era rica e que podia fazer tudo e ri da palhaçada dele.

Eu já gostei do lugar assim que entramos. Tocava 'Bettie' da Violet Chachki, uma Drag Queen famosa. Eu já conhecia a música e gostava bastante, mas eu nunca esperei escutar ela em lugar nenhum, e por isso a boa impressão inicial. Muita gente já estava na pista de dança, que era enorme. O chão era de vidro, realmente de vidro, e dele vinham luzes de varias cores, iluminando tudo. O ambiente era completamente psicodélico. A primeira coisa que o Matheus fez foi me puxar para lá, para dançarmos, e eu não hesitei. A música era gay, era incrível, era contagiante, e isso era tudo o que a gente precisava naquele momento. Quando a música acabou, começou um remix fantástico de ‘Beggin’ On Your Kness’ da Victoria Justice, e continuamos ali, dançando como se o dia fosse acabar a qualquer momento.

Eu dançava, olhava para todo o lugar, para as luzes que vinham do chão de vidro, para o Matheus que sorria e dançava muito, para os caras que estavam ali, inclusive os sem camisa. Tudo estava muito foda. Tinha casal hetero se beijando, casal gay se beijando, casal lésbico se beijando, era tudo tão normal, tão natural e tão comum naquele lugar, que eu simplesmente sorri. Fechei meus olhos e então deixei meu corpo se mover ao som de 'Emergency’ da Icona Pop. A batida era ao estilo cabaré, bem suja, bem feita, incrível para dançar. Mas foi com ‘TKO’ da Wynter Gordon que eu surtei. Essa era uma das músicas mais fodas que eu já tinha ouvido em toda a minha vida, e como ela é uma artista pouco conhecida, eu nunca esperei ouvir ela por aqui, então eu fui ainda mais além do que eu fazia. Eu dançava para mim mesmo, de olhos fechados, curtindo meu momento, meu corpo, minha companhia. Era tudo tão foda que eu nem podia acreditar que estava acontecendo.

Depois de ficarmos na pista por quase uma hora sem parar, Matheus e eu saímos para beber alguma coisa. Outro fato que chamou bastante a minha atenção foi os homens e mulheres que trabalhavam no bar. Nenhum deles era igual ou parecido. Um branco de cabelos negros. Uma branca de cabelos loiros. Uma morena de cabelos vermelhos. Uma negra linda usando afro. Um oriental com o sorriso perfeito. Um negro usando dreads. Eu achei aquilo tão incrível e diferenciado, que tive vontade de tirar foto, mas o Matheus não deixou alegando que era feio, então me contive. Eu acabei pedindo um suco natural de maracujá, já que eles não serviam apenas álcool ali. Eu era uma dessas pessoas que não precisava encher a cara para dançar, para se divertir, e o Matheus achava isso incrível em mim, mas ele também não precisava disso. Como eu sabia dirigir, e ele sabia disso, ele bebeu um pouco e voltamos a dançar.

A gente ficou junto boa parte do tempo, até que ele me deixou sozinho para ir ao banheiro, coisa que ele falava que precisava antes mesmo de entrarmos aqui, mas que com a bebida a vontade aumentou. Então eu fiquei ali, curtindo o momento, curtindo a música e aproveitando com tudo o que eu tinha direito. Eu acabo com lágrimas nos olhos, outra vez, quando começa a tocar ‘Carpe Jugular’ do The Hidden Cameras. Meus olhos não lacrimejaram de tristeza, e sim de felicidade. O clip dessa música é tão foda e poético para mim que eu me joguei ainda mais, mas eu dançava para mim com os olhos fechados. Meu corpo pedia por isso, pedia por mais, mas a música ainda estava nos primeiros segundos, e eu iria curtir todo o tempo dela, e quando eu abro os olhos depois dos primeiros segundos, havia um homem de cabelos escuros na minha frente. Ele dançava comigo, e eu sorri. Ele tinha cerca de trinta e cinco anos, e alguns dos seus cabelos já estavam grisalhos. Ele era a imagem da perfeição, parecendo um modelo, ou eram as luzes que estavam mexendo com a minha cabeça. Ele se aproxima ainda mais, me segurando pela cintura, e eu deixo que ele faça isso, mas ele não foi o único. Sinto alguém fazer o mesmo atrás de mim. Me viro de vagar e vejo um ruivo com uma barba impecável, também sorrindo para mim. Os dois homens me olhavam e se olhavam, e logo constatei que era um casal, mas eu não liguei. Eu fiquei no meio dos dois, curtindo uma das músicas que eu mais amava na face da terra.

O primeiro a me beijar foi o ruivo. Eu senti sua boca na minha de surpresa quando a música acabou e começou a tocar ‘Crow’ do 18+, um duo que eu era simplesmente apaixonado. Muita gente que ouvia essa música achava os barulhos dos corvos uma coisa tenebrosa, mas eu achava muito provocante, e isso me soltou ainda mais, me fazendo aproveitar aquele beijo e aquela barba ruiva roçando no meu pescoço. O seu namorado ou marido também me beijou, me beijou logo após que o ruivo me virou e me ofereceu para ele. Eu não estava me sentindo inferiorizado por causa disso, eu estava aproveitado, muito. Eles ficaram me beijando, me acariciando, mas não passaram dos limites, apenas me respeitaram, e eu gostei muito disso. Depois de me dividirem por mais duas músicas, eles sorriram para mim e foram embora, me deixando ali novamente, dançando comigo mesmo, como diz uma das músicas da Robyn.

O Matheus já tinha voltado do banheiro e me disse que poderia ter aparecido mais cedo, só que não veio porque eu estava ocupado. Eu sorri para ele e voltamos a dançar logo depois. Eu realmente estava apaixonado pelo lugar. Era tanta coisa misturada, tanta gente diferente que eu me senti em um documentário sobre as diferentes tribos espalhadas pelo mundo.

Quando começa a tocar ‘Real’ do Years & Years, o Matheus saí para buscar outra bebida e me deixa ali, e assim que ele sai, um urso aparece na minha frente. Ele era bem mais velho, por volta dos cinquenta anos, mas era muito gostoso. Eu nunca tinha visto um peito tão peludo quanto o dele, e tão suado, mas quando ele me pegou pela cintura e me puxou contra seu corpo molhado, eu não reclamei, e eu não reclamei mesmo quando ele chupou os meus lábios. Aquele gosto de álcool que eu senti de sua boca mexeu com meus hormônios, mas eu me controlei, e ele também. Ficamos nos beijando por um bom tempo. Sua barba roçava em mim, em meu pescoço, em minha nuca quando ele me virava de costas para ele... Tudo aquilo era surreal de mais. Era como se eu estivesse tendo meus últimos momentos de felicidade na terra, e eu estava aproveitando.

Um homem todo tatuado tinha se aproximado de mim e do Matheus, dançando com a gente, mas o Matheus se afastou por causa do Caio, mas eu não. Ele não reclamou, apenas se aproximou de mim e dançou comigo ao som de um remix extremamente sensual de ‘All Hands On Deck’ da Tinashe. Ele não me beijou, apenas ficou olhando para mim, sorrindo, aproveitando o momento, assim como eu. Ele era incrível, ainda mais o seu corpo todo tatuado. Eu quase não via pele nele, apenas tatuagem. Era raro alguns espaços sobrando para fazer alguma mais. Ele tinha o cabelo preso em um pequeno coque, penteado que muito homem estava usando agora, penteado que eu não achava bonito, mas nele estava incrível.

Quando dei por mim, ele estava me puxando, e eu fui com ele, sem pestanejar. Olhei para o Matheus e ele veio me seguindo de longe, para ver a onde iríamos. Quando chegamos na porta do banheiro, o cara me puxou para ele e já começou a me beijar, e eu deixei, eu quis deixar. Seu beijo era muito gostoso, e eu também sentia um pouco do gosto de álcool vindo do seu hálito, e outra vez, isso despertou minha libido. Eu nunca me imaginei fazendo a tão famosa pegação no banheiro, mas eu nunca critiquei ninguém que faz, então eu resolvi me dar a chance de ter essa experiência.

Quando entramos em uma das cabines do banheiro, ele foi logo desabotoando botão por botão da minha camisa, e ver ele fazendo isso com tamanho cuidado me causou um tesão incrível. Assim que ele abriu o último botão, passou as mãos pela minha cintura lentamente e me deu um puxão contra o seu corpo, fazendo com que suas costas se choquem contra o granito que separava as cabines. Ele volta a me beijar, ainda mais forte dessa vez enquanto arranhava de leve minhas costas. Ele parecia ter medo de minha reação caso ele fizesse algo errado, mas eu queria aquilo, muito, então coloquei suas mãos em minha bunda, e isso o desencanou por completo. Ele me apertou contra seu corpo e eu pude sentir seu pau pressionando o meu. A gente não conversou, a gente não trocou uma palavra sequer, a gente apenas se entregou.

No momento em que ele começou a abrir a calça, eu já me coloquei de joelhos, já que o chão estava impecável. Quando ele abriu o zíper, vi que ele estava sem cueca, e por isso eu consegui sentir tanto o pau dele. Quando o homem abaixou sua calça, tive a visão do seu membro, que não era grande, na verdade era um pouco menor do que o meu, mas eu não me importei, eu coloquei na boca e comecei a chupar. Ele fodia minha boca e abafava seus gemidos, mas acabava não conseguindo. Depois foi a minha vez. Eu me coloquei de pé e abaixei minha calça, junto com minha cueca, e ele abocanhou meu pau sem eu ter que pedir, e chupou com vontade, como se fosse a última coisa que ele faria nesse mundo.

Depois de me chupar, ele se levanta com um preservativo em mãos, e eu sorrio para ele. Me apoio no granito e abro minhas pernas, e rapidamente sinto sua língua em mim, tentando me invadir, e faço o que posso para segurar o gemido, que insistia em tentar sair. Olho para trás quando ele se levanta e o vejo colocar a camisinha. Ele me pega pelo pescoço e enfia de uma vez dentro de mim, fazendo minhas pernas tremerem. Ele me fodia forte, com muita força, do jeito que eu gostava, e eu não consegui segurar meus gemidos, mas os mantive baixos. Como era essa a única posição que poderíamos fazer nesse momento, acabamos gozando assim mesmo, ele dentro do preservativo e eu na divisória de granito.

Depois que nos limpamos, ele me deu outro beijo de língua e saiu da cabine, sorrindo para mim. Termino então de arrumar minha roupa e ajeitar tudo e então saio. Paro de frente a pia e ao espelho e lavo a minha boca com água e concerto o meu cabelo. Eu me assustou quando os dois aparecem novamente, olhando para mim, e eu me senti um devasso naquele momento por querer outra vez.

Eu estava em outra cabine com o homem de cabelos pretos meio grisalho e seu namorado. O ruivo apenas olhava enquanto sorria. Ele apertava o pau por cima da calça enquanto seu namorado me beijava com força e me apertava. Sou virado de costas e dessa vez o ruivo me ataca. Eu já estava morrendo de tesão novamente, mesmo tendo acabado de gozar, e chame isso de adolescência, porque meus hormônios estavam a flor da pele.

Eles me revezavam, me tocavam, me lambiam e chupavam os meus mamilos com vontade. Eu nem vi o momento em que eles abriram minha camisa, e eu não liguei para isso.

Estava de joelhos, olhando para ambos enquanto eles me encaravam, com um sorriso delicioso no rosto. Os vejo colocar seus paus para fora, com lentidão, me provocando, e naquele momento, minha boca já salivava. O primeiro a tirar a cueca é o de cabelos pretos. Seu pau era de tamanho médio e muito bonito, com poucas veias. Ele me fez chupar sem mesmo me deixar olhar por muito tempo, e eu consegui engolir tudo, com vontade. Chupei ele enquanto o ruivo havia pegado minha mão e levado ao seu pau, me fazendo bater uma para ele. Depois de alguns segundos eu troco, chupando o ruivo e batendo uma para o seu namorado. Ao contrário do membro do homem de cabelos pretos, o do ruivo tinha bastante veia, e o que me deu tesão, ainda mais, foram os pelos ruivos no seu saco. Aquilo era de mais para mim. Me sentia no paraíso fazendo tudo aquilo. Eu então tenho meu corpo levantado, e foi a minha vez de ser chupado por eles. Eles dividiam tudo. Enquanto um colocava todo o meu pau na boca, o outro lambia e chupava as minhas bolas, e era muito difícil segurar os gemidos com os dois fazendo tudo aquilo.

Eles me chuparam por vários minutos, mas não ficaram apenas no meu pau. Ter meu cu e meu pau sendo chupados ao mesmo tempo fez com que eu gozasse sem perceber. Eu temi de eles reclamarem que eu não avisei, mas o ruivo apenas sorriu e beijou o seu namorado, dividindo com ele o meu esperma. Eu sabia que eu estava limpo, mas eles não sabiam disso, o que foi perigoso para eles, mas minha mente foi apagada quando eles voltaram a me chupar ao mesmo tempo.

Eu vejo um deles pegar a camisinha e o outro sorrir. Eu sabia que eu seria o passivo, outra vez, mas você acha que eu me importei? Não mesmo. Me debrucei no granito outra vez e esperei, até que o ruivo veio primeiro. Ele me comia de vagar, com calma, enquanto beijava o namorado, que se masturbava ao ver tudo. Eles olham para mim, gemendo, assim como eu. O de cabelos pretos então coloca a camisinha e vem para mim, enfiando de uma vez, metendo rápido, com força, me fazendo arfar. Eles davam sorrisos safados um para o outro, e aquilo me enchia de tesão. O ruivo então abaixou a tampa do vaso e se sentou sobre ela. Eu me aproximei dele e me sentei em seu pau. O meu pulsava e pingava, e isso o fez olhar admirado para mim, e me beijando. Eu cavalgava em cima do seu pau enquanto eu chupava o outro, que metia em minha boca. Eu o vejo então pegando outra camisinha, e eu não tinha certeza se tinha coragem de fazer o que estava para acontecer naquele momento, não tinha mesmo, e o ruivo percebeu minha hesitação.

- Calma... - Ele olha para mim, e por incrível que pareça, seu olhar me transmite confiança. - Ele vai ter cuidado. Tenta relaxar. Respira fundo... - Ele diz e eu faço. - Você nunca fez isso antes né?

- Não... - Eu digo, respirando pesadamente.

- Não é um bicho de sete cabeças, basta você se acalmar, respirar fundo e não contrair. Pode fazer isso?

- Posso. - Digo depois de balança a cabeça.

O ruivo me puxa contra o seu peito e eu sinto seu namorado se sentar sobre suas pernas. O de cabelos vermelhos começa a me beijar enquanto o outro começa a enfiar seu pau dentro de mim. Sinto uma dor começar a tomar conta de mim, mas eu relaxo o meu corpo, como ele havia me falado, e então sinto o segundo pau começar a entrar, deslizando para dentro de mim. Solto um gemido de satisfação quando os pelos dele tocam minha bunda, mas a dor ainda não tinha passado.

- É só ter calma... - O de cabelos pretos diz ao beijar minha orelha e lamber minha nuca.

- Relaxa... - O ruivo diz. - Seu pau ainda está duro, sinal de que você ainda está sentindo tesão, estou certo?

- Sim... - Eu digo e solto um gemido quando o que estava atrás de mim faz seu primeiro movimento.

- Te ajudaria a relaxar mais se eu dissesse que eu e ele resolvemos abrir o nosso relacionamento ontem? - O de cabelos pretos fala no meu ouvido enquanto olha para o ruivo.

- Estamos juntos há cinco anos e você foi o primeiro que escolhemos para dividir... - O ruivo geme no meu ouvido e depois dá um beijo de língua no namorado.

- E fizemos a escolha certa. Ele é tão apertado, uma delícia... - Ele começa a gemer no meu ouvido.

Depois de iniciarem bem devagar, eles começam a se mover mais rápido dentro de mim, os dois, e meus gemidos vão aumentado. Aquilo realmente era muito bom. Eu ainda sentia um pouco de dor, mas era muito pouca comparado ao tesão que eu estava sentindo. Enquanto o ruivo tinha seu peito pressionado contra o meu, chupando os meus lábios, o seu namorado pressionava o peito contra as minhas costas, chupando minha orelha e minha nuca enquanto me masturbava, e não demorou para eu ter meu primeiro orgasmo com os dois dentro de mim. Cinco minutos depois, eu tive o segundo, ainda mais intenso que o primeiro, porque eu já não sentia mais dor, e o último que eu tive foi quando eu contemplei o ruivo tendo o dele, ainda dentro de mim. Ele soltou um gemido tão gostoso que acabou me fazendo chegar ao terceiro orgasmo, e então em cadeia, o de cabelos pretos também teve o dele.

Depois que nos três gozamos, ficamos parados mais um tempo e então o moreno saiu de dentro de mim, com muito cuidado, e então eu me levantei do ruivo, me desculpando por ter sujado todo o seu peito de esperma. Ele apenas sorriu e se limpou com um pedaço de papel higiênico.

- Você está sentindo alguma dor? - O ruivo pergunta depois de todos termos nos vestido.

- Bem pouca, mas eu estou bem.

- Tem certeza? - O de cabelos pretos pergunta.

- Sim. - Eu dou um sorriso.

- É, eu vou deixar o meu número com você... - O ruivo começa a dizer e olha para o seu namorado, que confirma com a cabeça sorrindo. - E caso queira nos encontrar de novo, é só ligar.

- Tudo bem. - Eu pego o cartão dele, onde dizia ‘Douglas Assunção, Designer Gráfico’.

- Eu me chamo Fernando Assunção. - O de cabelos negros e grisalhos sorri.

- Jonathan... - Eu digo sorrindo. - Vocês são casados? - Era uma pergunta óbvia.

- Sim, há quatro anos. - O ruivo diz sorrindo.

- Que lindo... - Eu digo. Fiquei bem com a naturalidade dos dois ao encararem o que aconteceu agora.

- Foi muito bom conhecer você Jonathan, e espero que possamos nos ver novamente. - O ruivo sorri outra vez para mim.

- Eu digo o mesmo. - Fernando aperta a minha mão, sorrindo.

- Foi um prazer conhecer vocês dois. - Eu digo sorrindo.

- O prazer foi nosso. - O de cabelos negros diz e o ruivo concorda. - E falamos sério quanto a nos ligar novamente, nós esperamos por isso, ou você pode nos passar o seu número...

- Claro.

Depois que eu passei meu número para eles, sem medo devido ao fato de eu ter percebido que eles eram boas pessoas, nos ajeitamos e saímos juntos do banheiro, cada um tomando um lado diferente. Eles foram para a pista e eu encontrei o Matheus na porta, me esperando com um enorme sorriso no rosto. Ele sabia o que tinha acontecido, ele tinha certeza disso, e o sorriso no meu rosto não me deixava mentir. Contei tudo para ele, sobre o cara tatuado e sobre os dois que entraram depois. Foi tão surreal que o Matheus falou que parecia coisa de filme pornô, e eu ri com o comentário.

Depois de tudo, ficamos mais um bom tempo dançando, queimando calorias e as energias que nos restavam, e quando deu por volta das quatro da manhã, resolvemos sair. Passamos no caixa e pagamos nossas comandas, onde eu acabei tendo que pagar para o Matheus porque ele havia deixado a carteira no carro, e então saímos.

Sabe quando você sente um aperto no coração sem motivo algum aparente? Foi essa sensação que tive assim que coloquei os pés para fora daquele lugar. Fui tomado por um sentimento estranho que fez meu coração acelerar, mas achei que era apenas causado pelo fato de eu ter ficado horas naquela boate dançando e colocando tudo para fora, então resolvi caminhar e espairecer. O Matheus estava um pouco alto, rindo quando o vento batia no seu rosto, e isso me distraiu um pouco do que rondava pela minha cabeça.

Não tinha uma alma sequer na rua, uma sequer, e aquilo voltou a me deixar estranho. Meu estômago começou a revirar um pouco, mas não era ânsia de vômito, era medo. Parecia que algo ruim ia acontecer, mas eu não conseguia saber o que é ou se isso era coisa da minha cabeça devido as ameaças do Thallison. O caminho até o nosso carro ainda estava pela metade, e enquanto o Matheus cantarolava pelo meio da rua, fazendo seu próprio musical coreografado, eu andava perto dele, preocupado. Eu começo a tremer, outra vez sem motivo, e eu fui tomado pelo medo, e isso me assustou, porque eu não era de ter esse tipo de sensação. Senti um pouco de gosto do vômito na minha boca, e a cada segundo que eu chegava perto do carro, esse sentimento aumentava. Era uma agonia sem fim, que só crescia. Quando finalmente chego perto do carro, tudo se torna tão real que eu não fui capaz de segurar a lágrima que caiu pelo meu rosto.

- Olha só o que temos aqui... - Três homens encapuzados saíram de trás do carro do Matheus. Um deles tinha um pedaço de pau nas mãos e os outros dois estavam de mãos vazias. - Se não são as duas bichinhas...

- Matheus, volta... - Minha voz saiu mais grave que o normal, e meu coração doeu quando o Matheus parou em frente aos homens.

- Eu tenho namorado, não quero vocês. - Ele diz, rindo.

- Matheus, volta para perto de mim... - Eu tinha parado assim que os vi, e novamente minha voz saiu em quase um sussurro.

- Por quê? Eu não quero... - Matheus diz, e assim que ele se cala, um dos caras dá um soco no rosto dele, o fazendo cair.

- Matheus! - Eu grito, e eu poderia fazer o que qualquer covarde faria naquele momento, que era correr, mas eu não conseguia, eu não podia deixar ele ali. - Deixe ele em paz, por favor... - Eu já chorava e sentia um nó completamente formado na minha garganta. - Deixa a gente em paz, eu te dou tudo o que eu tenho, eu te dou o carro... - Eu novamente sinto vontade de vomitar.

- O carro princesa? Eu não quero o carro... - Um deles se aproxima, e tudo o que eu conseguia ver era seus olhos negros como a noite. Eu dou um passo para trás. - Onde pensa que vai meu bem, volta aqui. - E quando eu dou outro passo para trás, ele corre até mim e me pega pelo pescoço. - Não foge, a gente só está começando.

Eu não consegui gritar, não consegui expressar todo o medo que eu estava sentindo, porque eu nunca havia sentido tamanho medo em toda a minha vida. Eu conseguia sentir meu corpo sendo arrastado pelo asfalto e conseguia ver minha calça rasgar na parte do joelho, mas eu não conseguia falar nada. Meu corpo tremia, eu sentia frio, minha cabeça doía, e eu não consegui ser homem o suficiente para me debater e me soltar dos três.

Eles nos levam para trás do carro e nos jogam. Sinto minhas costas se chorarem contra um dos pneus, e quando Matheus é jogado, ele começa a acordar.

- Jonathan, o que... - Matheus tenta falar, mas ele leva um tapa na cara.

- Calado sua putinha! - Um dos homens grita.

- Por favor, eu... - Matheus começa a chorar em segundos.

- Eu mandei calar a boca! - Ele leva outro tapa no rosto, ainda mais forte, o que faz ele cair. - É assim que eu gosto, aos meus pés, implorando...

- Por favor... - Eu consegui falar com o pouco de voz que eu tinha.

- Eu não mandei ninguém falar! - Eu não levo um tapa, mas sinto um punho fechado se chocar contra a pele de meu rosto, e logo começo a sentir aquele gosto de ferrugem na minha boca. Eu estava sangrando.

- Eu vi tudo o que você fez lá dentro, tudo... Você é mesmo uma putinha de quinta, uma vagabunda, um viado sujo e escroto! - Ele me dá outro soco, me fazendo outro corte na boca.

- Podem levar tudo, por favor... - Matheus diz. Quando eu olho para ele, seu lábio estava sangrando.

- Alguém cala esse filho da puta! - Ele grita outra vez, e um dos homens, o que estava com o pedaço de pau arredondado nas mãos, dá um soco no Matheus, o deixando meio desacordado, mais ainda de olhos abertos. - É só isso que você consegue fazer? Virou um viadinho também porra! Bate que nem macho, assim o, desse jeito! - O homem pega o Matheus pelos cabelos e o joga no chão, lhe dando dois chutes na barriga. - Bate que nem macho, se não quem leva porrada é tu! Você está me pagando para isso, então aja que nem macho porra!

Aquele homem vem até mim e me levanta do chão pelos cabelos, me abraçando por trás e me enforcando. Ele me obrigava a assistir a sessão de agressão que acontecia na minha frente. Me obriga a ouvir os gritos do Matheus, aos pedidos de socorro, e meu choro aumenta ainda mais, mas eu não conseguia gritar, eu não conseguia falar. Eu tentei pedir para pararem, mas o nó na minha garganta não deixava, eu não conseguia pedir, eu não conseguia clamar por socorro, e isso me fez desmoronar por completo. Eu não conseguia mais me manter em pé, e quando eu quase caí, o homem me segurou pelo pescoço, me fazendo debater contra o passeio.

- Eu pensei que você aguentava um braço te enforcando assim, e pensei que você gostava. - Eu conseguia sentir todo o ódio e nojo em sua voz, e isso fez com que eu vomitasse pela primeira vez. - Que porqueira! - Ele me joga no chão, em cima da minha própria poça de vômito. - Olha o que você fez comigo! Você vomitou na minha jaqueta seu viado filho da puta!

Ele então me pega pelos cabelos, me levanta, e me joga no chão outra vez, e agora eu passo a sentir tudo o que as pessoas normais sentiam, eu passo a sentir todo o pavor que assombra o mundo. Nesse momento eu conheci o medo, eu conheci o pavor, eu conheci o inferno em terra enquanto eu sentia tudo o que o Matheus sentiu antes de mim. Eu sentia os chutes no meu estômago, os chutes nos meus braços, nas minhas costelas e o sangue se acumular em minha boca, até que eu o cuspia enquanto eu recebia chute atrás de chute. Quando ele me levanta pelos cabelos outra vez, sem querer eu o sujo de sangue, e isso o fez ficar ainda mais agressivo. Recebo um soco tão forte no lado direito do rosto, que sinto um dente se quebrar lá no fundo e meu corpo se chocar contra o vidro das laterais do carro, e eu vou ao chão. Eu não conseguia mais sentir meu corpo, e foi em vão eu tentar me levantar, por que eu recebi outro chute nas costelas, e dessa vez eu soltei um grito de dor que doeu a minha alma.

- Isso, grita! Pede perdão por toda a safadeza que você já fez na vida! Porque Deus não vai te ouvir! Você vai morrer aqui! Seu corpo vai apodrecer aqui, e eu vou ver os urubus descerem e comerem seus olhos e depois bicar sua carne pobre sua bichinha do inferno! - E eu levo outra seção de chutes, seguidas por uma seção de socos na cara. - Isso é para vocês aprenderem a virarem machos, a comerem buceta. Seus viados de merda! Filhos do demônio!

Eu clamava por socorro, eu pedia a todas as forças que eu conhecia por ajuda, mas ninguém veio. Não conheci um salvador, não vi um anjo sequer e não escutei a voz de Deus me dizendo que tudo iria ficar bem. Eu não conseguia mais sentir dor daquela forma, sentir os socos no meu rosto, o gosto de sangue na minha boca. Eu não conseguia segurar o vômito, a ânsia que eu tinha e não conseguia suportar o fato de eu ter engolido dois dentes. Eu chorava, mas eu não conseguia me mexer, não conseguia juntar forças. Eu estava fraco, eu estava debilitado e tudo o que eu via ao meu redor era uma pequena poça de sangue e o Matheus desmaiado, ainda levando chutes. Deus não veio me ajudar, ninguém veio me ajudar, e eu não conseguia acreditar que um dia ele existiu. Eu passei a sentir tanta dor, que minha cabeça começou a latejar, com muita força, e um zumbido começou a se formar, e agora eu não conseguia ouvir nada direito.

- Você acha que acabou? - Ele me pega pelos cabelos outra vez e me levanta, me socando contra a lataria do carro. - Você ainda não viu nada. - Quando ele me solta, meu corpo vai de uma só vez até o chão, me fazendo cair em cima do meu braço, e é nítido o barulho dele se quebrando. - Você não queria ele? Agora é sua vez! - Olho para o lado e vejo um dos encapuzados vir em minha direção, o que estava com o pedaço de pau nas mãos.

Sinto meu corpo começar a ser arrastado para fora das poças de sangue e vômito em que eu me encontrava, e assim que eu sou virado de costas, o bolo em minha garganta aumenta três vezes mais, e eu não conseguia nem chorar. Sinto minha calça sendo abaixada e barulhos de uma fivela de cinto se abrindo. O frio toma conta do meu corpo quando eu percebo que estou nu, deitado na calçada suja e fedendo a urina. Levo outro chute na costela quando, com as últimas forças que eu tinha, tento me levantar, e quando isso aconteceu, eu desisti, desisti de ao menos pensar em resistir. Podem me chamar de covarde, mas eu não conseguia mais lutar, eu não conseguia mais ser o homem que eu deveria ser e ajudar meu amigo, e quando sinto um tapa muito forte na bunda, eu soube de fato o que iria acontecer.

- Finalmente você vai me sentir dentro de você... Eu esperei muito tempo Jonathan... – Seu sorriso era nojento. – Ver você todos os dias na escola e não poder fazer nada é um saco, mas agora você vai ser meu, e quando eu acabar, você não vai ser de mais ninguém.

Eu não consegui ouvir aquela voz com perfeição, apenas o seu cheiro e o seu pau entrando dentro de mim, me resgando. Eu já estava praticamente morto ali, na poça de minha própria nojeira e imundice, mas ele não parecia se importar. Eu conseguia ouvir seus gemidos na minha orelha. Eu conseguia sentir seu bafo de álcool invadir minhas narinas, e eu finalmente consigo chorar quando ele tira todo o seu pau de dentro de mim e enfia de novo, com muita força, com violência, dilacerando a minha alma e acabando de vez com ela. Ele faz isso repetidas vezes, e então eu também sinto o sangue escorrer pelas minhas pernas. Sinto cada filete daquele líquido vermelho escorrer entre minhas coxas, e meu choro silencioso cresce ainda mais.

- Eu tenho um presentinho para você... - Com meu último lapso de visão, eu consigo o ver pegar o pedaço de pau que havia jogado perto da gente. - Vou estourar seu cu agora seu viado filho de uma vadia leprosa. Vou dilacerar seu cu e você nunca mais vai usar ele. Eu vou ser o último, sempre o último, e você vai desejar nunca ter nascido.

- Não... - Foi tudo o que conseguir dizer, e depois disso, meu choro não foi mais silencioso.

Meu corpo é virado, colocado de lado. Sinto minhas pernas serem levantadas por ele. Eu estava exposto, com frio, machucado, eu estava praticamente morto, mas aquela dor eu ainda sentiria, eu ainda conseguiria sofrer, e quando ele enfiou aquele pedaço de pau em mim, tudo ficou completamente escuro, e quando ele o tirou e enfiou de novo, senti tudo dentro de mim se revirar, como se fosse a última sensação que eu sentiria em toda a minha vida. Eu não chorei, eu não grite, eu não pisquei, eu não consegui me mover, mexer minha boca ou qualquer parte do meu corpo, mas eu consegui ouvir minha última esperança.

- Douglas, chama a policia, agora! Agora! - Uma voz desesperada e agoniante gritou tão alto que aquilo fez com que eu não conseguisse ouvir mais nada. - Liga agora!

Depois daquilo tudo o que eu via foram lapsos de uma briga envolvendo cinco homens. Eles começaram a gritar, a se bater, e por fim, quando ao longe um grupo de homens vestindo um terno preto apareceu, os três homens que me mataram correram para a escuridão, me deixando sangrando e sem a minha alma, morto na calçada gelada e confortável. Eu não senti, eu não vi, eu não ouvi, não me lembro do gosto, não enxerguei, não pude sentir o cheiro e não consegui me lembrar de nada. Doía tanto que eu conseguia enxergar uma luz branca a minha frente, me chamando para ela. Eu tentei relutar, brigar, dizer que eu não queria ir, mas sua voz era tão calma, doce e angelical, que eu a segui, abandonando o meu corpo e finalmente ficando em paz com toda a dor e sofrimento que eu senti hoje. Eu fui em paz sabendo que nunca mais teria que sentir medo e receio. Eu a segui ao me lembrar que eu nunca mais teria que amar e sentir meu coração ser partido em mil pedaços. E por fim, eu fui sabendo que tudo ficaria bem.

Comentários

Há 10 comentários.

Por luan silva em 2015-09-28 01:14:21
O QUE FOI ISSO? muito bem escrito o capitulo parabens, mas foi muito forte, meu deus o jonathan e o matheus, eu estou muito fula da minha vida... jonathan volta aqui fio, não se vá pelo amor de jeóva, ai estou muito ansioso pelo proximo.
Por Itak em 2015-09-26 09:18:37
Esse capítulo foi muito bem escrito, assim como todos os outros Mal posso esperar para saber como será o processo de recuperação, se haverá traumas e qual será a chantagem que a vaca fez pro Rodrigo. Abraços!
Por Niss em 2015-09-26 01:27:49
Gente... Mano que raiva... Porque que eles fazem isso com a gente?? Porque nao nos deixam em paz? Nos só queremos ser felizes, porque eles não entendem isso? ? Será que é inveja? Só pode.... esse capítulo foi com certeza o mais triste, e eu fico mais ainda, sabendo que isso acontece na vida real. Espero que eles consigam...
Por diegocampos em 2015-09-25 21:06:04
Capitulo bem forte, infelizmente é nossa triste realidade espero que o Jonathan e o matheus fiquem bem
Por Jeeh_alves em 2015-09-25 19:48:47
Gente , esse cap. Foi forte demais estou tenho nem palavras .. Mas é realmente é a realidade .. A triste realidade para alguns .. Aguardo segunda ..
Por Nickkcesar em 2015-09-25 19:36:35
Meu deus , vei , que capítulo pesado , na verdade " forte " , é muito triste saber que existem pessoas assim , que não aceitam nossas diferenças e resolvem nos repreender de uma forma absurda e monstruosa 😭😭😭
Por H.Thaumaturgo em 2015-09-25 19:28:18
Aah mano não faz isso com a gente ;-; sério ai que capitulo "ruim", aquele nó na garganta quem está sentindo agora sou eu ;-;
Por Jr.kbessao em 2015-09-25 19:26:03
Como assim gente? Ele não pode morrer não. Quase informei aqui kkkkkk
Por BielRock em 2015-09-25 18:09:57
Meu Deus, esse foi um capítulo muito forte. Mas é oque muitos gays passam hoje em dia em pleno século 21. Não se preocupe pois não vou achar ruim o capítulo, ele foi ótimo, pois ele trata de uma violência que passamos muito. Tive muita pena dos meninos, fiquei com muita agonia na hora que ele quebrou o braço, espero que os meninos fiquem bem e peguem quem fez isso com ele. Beijos e até segunda 😘🌹
Por bielpassi em 2015-09-25 17:31:08
Aí que capítulo horrível o Jho morreu?? (Choros) e (lágrimas)