Comum & Extraordinário - Capítulo 35

Parte da série Comum & Extraordinário

Eu abro os olhos lentamente a medida que vou acordando aos poucos. Sinto o peito de Rodrigo nas minhas costas, me aquecendo, e eu desisto rapidamente de me levantar daquela cama. Seus pelos estavam tão macios que eu sentia como se aquela sensação fosse me matar a qualquer momento. Eu sorria para mim mesmo, feliz por estar aqui, com ele. Me aconchego ainda mais em seu corpo e novamente fecho os olhos, mas não durmo, apenas curto o momento que eu estava tendo sozinho com ele, que fazia meu mundo sumir só de me tocar por um milésimo de segundo. Sua respiração em meu pescoço se encarregava de fazer minha mente vagar nos lugares mais aconchegantes do mundo, fazendo com que eu me sentisse acolhido, protegido de tudo e de todas, e não tinha nada melhor do que aquilo. Seus braços fortes me seguravam contra o seu corpo, como se não quisesse me soltar nunca, e sua barba roçando minha nuca eu encontrava a perdição. Não sabia que horas eram ou se já deveríamos ter nos levantado, eu queria apenas ficar com ele mais um pouco, mesmo ele estando dormindo.

No momento em que me mexo um pouco, o escuto resmungar algo e me apertar ainda mais. Era como se ele fosse uma criança e eu o seu bicho de pelúcia favorito, e eu sorri ao fazer essa comparação doida, mas ao mesmo tempo tão majestosa, porque se eu realmente fosse sua pelúcia preferida, ele nunca iria deixar de dormir comigo em seus braços, porque eu lhe dava proteção, eu lhe deixava feliz, quente, e isso era incrível para mim.

Após ficar naquela posição por alguns minutos e aproveitar cada momento, sinto um singelo beijo no meu pescoço, ele havia acordado. Rodrigo roça sua barba em minha nuca e eu sinto seu sorriso no meu pescoço.

- Você está acordado há quanto tempo? - Ele pergunta, beijando minhas costas.

- Há uma hora ou mais, eu acho... - Eu sorrio e fecho os olhos quando ele me aperta um pouco mais contra o seu corpo.

- Está fazendo frio...

- Sim, o tempo está bem gostoso.

- Você também está gostoso, sempre está...

- Eu sei. - Sorrio.

- Convencido. - Ele se solta de mim e eu me viro de frente para ele. - É tão bom ter esse tempo só nosso, longe de tudo.

- Eu concordo. Eu sinto falta durante os dias da semana, quando não podemos ficar juntos e sozinhos.

- Pelo menos podemos nos ver todos os dias na escola.

- É verdade...

- Bem, já que estamos aqui, eu tenho duas coisas para te falar.

- Tem? - Eu acaricio seus pelos do peito.

- Sim...

- O que é?

- Bem, no final do ano eu estou pensando em fazer uma viajem de longa duração...

- Por quantos dias? - Eu pergunto, já pensando que eu ficaria sem ele durante essa viagem.

- Não dias, meses...

- Meses? - Eu me assusto e me sento na cama, o encarando.

- Calma meu bem, você não me deixou terminar...

- Você vai ficar meses fora? Meu Deus, o que eu vou fazer todo esse tempo longe de você?

- Jonathan...

- Rodrigo, vai ser muito tempo e eu... - Ele me interrompe.

- Eu quero que você venha comigo.

- Oi?

- É o seu último ano na escola e eu pensei de a gente conhecer uma parte do mundo, juntos. - Ele sorri. Eu mal estava acreditando naquilo.

- Sério?

- Sério... Eu nunca conheci a Europa, e antes de te conhecer eu tinha planejado fazer uma viagem para lá no fim do ano, mas agora você está aqui, ao meu lado, e eu quero conhecer com você, porque se eu for sozinho não vai ser a mesma coisa... Melhor, se você não for comigo, eu simplesmente não vou...

- Rodrigo...

- Você aceita meu convite? Quer conhecer a Europa comigo? - Ele pergunta em expectativa.

- Mas é claro que eu quero! - Eu respondo e dou um demorado beijo nele.

- Vamos ter as férias de nossas vidas lá, e sabe o que mais vamos fazer?

- O que?

- Foder em todos os países. - Ele gargalha. - Bem, pelo menos nos principais.

- Palhaço. - Eu sorrio. - Vou amar foder em toda a Europa.

- Eu sei que vai, safado.

- Foi você quem fez o convite. - Eu o beijo mais uma vez... - Mas e a segunda coisa que ia me falar?

- Bem, isso é um assunto um pouco mais complicado, mas não vai interferir em nossas vidas. Há um tempo eu venho pensando em como tocar nesse assunto, mas até agora não apareceu a oportunidade.

- Sim...

- Bem, é que... - Escuto alguém bater na porta. Era o Matheus.

- Vocês se esqueceram de que temos que sair cedo, criaturas do mundo mágico celestial!

- Não! - Eu grito da cama.

- Então andem depressa pombinhos devassos, só faltam vocês.

- Já vamos... - Rodrigo fala e se levanta.

- Depois a gente conversa? - Pergunto a ele.

- Sim, quando a gente chegar em casa. - Ele sorri, se aproxima e me dá um beijo.

Me levanto rapidamente e vou até o banheiro tomar um banho, enquanto o Rodrigo arruma as coisas dele. Quando saio enrolado na toalha e passo por ele, recebo um bom tapa na bunda, o que me faz sorrir, e então o vejo caminhar para o banheiro, fazendo com que seja a minha vez de arrumar minhas malas.

Depois de tudo pronto e arrumado, descemos as escadas e encontramos todos na mesa da cozinha, tomando o café da manhã. Nos juntamos a eles e comemos algumas coisas, em silencia, já que todo mundo parecia morto. Após terminarmos, Matheus e eu fomos até a pia para lavar as louças enquanto os outros iam para a sala.

- E ai, me conta o que aconteceu ontem. - Eu falo com ele, que não parava de sorrir.

- Querida do céu iluminado com aurora boreal, foi perfeito... Eu segui aquela trilha de pétalas de rosas e dei de cara com a porta do nosso quarto, e assim que entrei ele estava ajoelhado com uma caixinha em mãos. Eu nem esperei ele falar e já disse sim. - Ele sorri ainda mais.

- Eu escutei o seu grito. - Eu sorrio também.

- Espero que só esse. - Ele começa a gargalhar.

- Ainda bem que foi sua imoral. - Eu também começo a rir.

- Mas menina, foi perfeito. Acho ontem foi a primeira vez que não só fodemos sabe, foi especial transar em uma cama cheia de pétalas de rosas.

- Teve tudo isso?

- E muito mais querida devassa. Acho que já estou amando, mas não sei se falo primeiro ou deixo ele falar.

- Bem, acho que vocês dois se amam, então não custa nada a primeira palavra vir de você.

- A senhora está certa, vou pensar nisso... E falando na senhora, foi mijada de novo? - Ele ri.

- Não. - Eu começo a rir também. - Mas eu considero outra possibilidade, porque eu gostei.

- Quem diria hein, de virgem imaculada a meretriz da babilônia. - Ele ri ainda mais.

- Vai pegar uma onda Bruna. - Eu começo a rir.

- Ousada! - Ele ri mais uma vez. - E a senhor acha que vida de puta é daquele jeito? Porque se fosse querida, eu já tinha virado puta há muito tempo.

- Não sirvo para isso.

- Pois é, a vida é complicada para algumas pessoas. Eu bato palma para as putas, em pé ainda.

- Somos dois...

Quando terminamos de arrumar toda a cozinha, o restante do pessoal se juntou para organizar o restante do lugar antes de sairmos, e em pouco tempo já tínhamos fechado a casa e entrado no carro.

A pequena viagem pareceu ainda mais curta dessa vez, e realmente, a volta sempre parece menor que a ida. O caminho, pelo menos o meu e o do Rodrigo, seguiu com poucas palavras, e foi por isso que eu coloquei na cabeça que o assunto que ele tinha que tratar comigo era sério, mas não voltei a tocar no ponto que deixamos a conversa.

Assim que chegamos na entrada da nossa cidade, todos nos seis paramos para nos despedir momentaneamente e cada casal seguiu um rumo. Eu voltei a entrar no carro com o Rodrigo e fomos em direção a casa dele. Novamente, seguimos em silêncio, e apesar disso, eu não estava preocupado, eu acho.

No momento em que seu carro entrou na garagem, de uma forma estranha, meu coração apertou, como se eu tivesse pressentindo alguma coisa, não de um todo ruim, mas me incomodava.

Descemos então do veículo e o Rodrigo seguiu na minha frente até a porta de entrada, me deixando entrar primeiro. Quando passo pela porta, vejo seu pai sentado no sofá com roupas confortáveis, o que não era o usual de ser ver o prefeito da cidade. Ele se assusta inicialmente com minha presença, mas logo em seguida volta a prestar atenção na televisão, mas não por muito tempo.

- Sua mãe pediu para você ligar para ela. - Ele olha para o Rodrigo, que o encara. - Ela tentou falar com você nesses últimos dias, mas seu telefone só estava dando fora de área.

- Depois eu ligo para ela pai.

- É urgente. O quanto antes falar com ela é melhor.

- Meu bem, você me espera por aqui um pouco? Vou conversar com ela... - Rodrigo se vira para mim.

- Claro, tudo bem. - E então me dá um selinho.

Eu fiquei estático depois do pequeno beijo, já que o prefeito estava ali. Rodrigo então subiu as escadas e me deixou completamente sem graça diante aquela situação. Olho para os lados, procurando algum ponto para fixar meu olhar e me perder quando o prefeito fala comigo.

-Vai ficar aí plantado? O sofá está aqui para servir os outros... - Eu o encaro, e depois acabo me sentando.

- Desculpa...

- Pelo que?

- Pelo que aconteceu...

- O que aconteceu? - Ele provocava sem tirar os olhos da televisão.

- O senhor sabe.

- Não, eu não sei. Quer esclarecer para mim?

- Pelo beijo...

- Entendi... - Ele se vira para mim. - Olha, eu sempre esperei que meu filho namorasse uma mulher, mas depois que eu descobri que ele era gay, logo após suas aventuras heterossexuais para camuflar sua real sexualidade, almejei que ele namorasse um homem de pulso firme e ciente de suas próprias ações, e claro, da idade dele, mas ele namora você, e apesar de eu não ter ido com sua cara logo no começo e ter lhe julgado como um aproveitador, me acostumei com você, então não se desculpe. Seja grato por eu permitir que entre em minha casa quando quiser. Tudo o que eu quero é que meu filho seja feliz, e você o faz feliz, logo está tudo certo. - Ele me encara por poucos segundos, que pareceram horas, e então volta a olhar para a televisão.

Ficar sentado ali, esperando o Rodrigo aparecer, estava me deixando aflito. Eu sabia que o prefeito não se importava de eu estar aqui, do jeito dele, mas ele não se importava, mas apesar disso, algo estava me incomodando em toda essa situação. Não conseguia ao menos prestar atenção no que passava a minha frente, nem mesmo o nome do programa, e eu não sabia o por que. Resolvo tentar me distrair e tento assistir o que passava na televisão. Um repórter comentava sobre a onda de crimes sem solução na cidade em que ele estava. Ele dizia que alguns moradores da cidade culpavam os policiais corruptos, que alguns deles nem ao menos se importava quando alguém era assassinado ou vítima de abuso. Uma das moradoras disse que vários policiais aceitavam subornos dos traficantes para virar o rosto e fingir que nada aconteceu, e apesar de toda a história parecer fantasiosa, era a mais pura verdade, e eu passei a acreditar ainda mais nesses padrões políticos e sociais corruptos depois que tive o desprazer de achar todos aqueles vídeos do delegado da minha cidade, e aquilo me deu ânsia de vômito. Tentei não lembrar mais do ocorrido, mas não deu certo. Todas aquelas imagens voltaram com força na minha cabeça.

- Vou a cozinha beber água... - Eu comento ao me levantar do sofá.

- Sinta-se em casa... - Ele olha para mim e volta a prestar atenção na televisão.

Caminho rapidamente até a cozinha, e assim que avisto a pia, me debruço sobre ela e faço vômito. Geralmente eu tinha o estômago fraco para certos tipos de comidas e cheiros, mas as lembranças também estavam me incomodando com força, mais do que o cheiro da dobradinha que minha vizinha de lado fazia uma vez por semana.

Depois de limpar a pia com bastante detergente e lavar a minha boca com a água da torneira, pego um copo no armário e me sirvo um pouco de água gelada. Quando termino o primeiro copo, escuto a campainha tocar duas vezes e segundos depois, a porta se abrir. Tomo outros dois copos de água e depois o lavo, o guardando de volta no armário. Quando saio pelo portal da cozinha, vejo uma mulher de cabelos loiros meio arruivados de aparentes vinte e cinco anos. Seu corpo era bem definido e malhado, principalmente sua bunda. Paro onde eu estava para notar que ela tinha o menino ao lado dela. Ele devia ter na faixa de quatro ou cinco anos, e seus cabelos eram bem loiros e seus olhos claros, quase um azul profundo. Fico observando tudo, inclusive seu vestido vermelho colado ao corpo, quando ela me vê parado. Ela me encara por meros segundos e faz cara de nojo, voltando sua atenção para as malas que estavam sendo colocadas no canto da sala por um homem que vestia um terno escuro. Vejo o pequeno menino puxar a barra do seu vestido colado e ela tirando a mão da criança com ignorância e mandando o garoto ficar quieto. Vejo que o prefeito me olhava, como se quisesse falar algo, mas ele não diz nada, e assim que o Rodrigo aponta na escada, a mulher finalmente se pronuncia.

- Oi me bem... - Ela olha para o Rodrigo, sorrindo como uma vitoriosa, e então olha para o seu filho. - Vai dar um abraço no papai.

Ela diz, olhando para o Rodrigo, e sem seguida o menino corre, subindo alguns degraus e pedindo colo par aquele alto homem nas escadas. Rodrigo então se abaixa e pega o menino no colo, sorrindo, mas assim que ele me vê parado perto da cozinha, seu sorriso se perde rapidamente, como se nunca estivesse estado em seu rosto, e eu ainda estava parado ali, ainda no mesmo lugar, tentando me recompor de maneira estrondosa. Olho então mais uma vez para o Rodrigo enquanto ele descia as escadas com aquele pequeno menino no colo. Seu olhar era de súplica, e aquilo fez com que minha cabeça fosse a mil por hora. De repente eu estava me sentindo um intruso, um assaltante que invadiu uma casa e simplesmente não conseguiu encontrar nada de valor.

- Jonathan... - Ele finalmente diz o meu nome, e aquilo faz com que eu acordasse de meu transe.

Resolvo então me recompor de uma só vez e ir até a sala. Tento sorrir, mas não tenho certeza se o resultado seria agradável aos olhos dos outros. Me aproximo das quatro pessoas ali naquela sala e tento parecer agradável e confortável naquele lugar.

- Oi... - Eu digo, olhando para a mulher de cabelos claros e com cara de poucos amigos. - Meu nome é Jonathan...

- Rafaela. - Ela diz, sem fazer muita questão da minha presença. - Sou a esposa do Rodrigo, e você?

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Boa Noite...

Bem, antes de tudo, a história está encontrando um outro rumo, e como alguns leitores comentaram anteriormente, se está quieto e feliz de mais, é porque tem algo pela frente, e é verdade. Rsrsrsrs. Nos próximos capítulos a história muda um pouco, e depois toma outro rumo, e depois muda outra vez, e evolui novamente... Enfim, vocês vão ficar surpresos com o que Jonathan e eu preparamos para vocês, e eu garanto, vai ser muito bom.

No mais, espero que todos estejam bem... E para aqueles que me pediram algumas coisas para o conto, sinto muito em dizer, mas o conto já está pronto, ou seja, fica complicado alterar alguma coisa, porque vai interferir nos próximos capítulos, então me desculpem por isso, mesmo. Não gosto de começar a escrever e já ir postando, porque não é sempre que tenho um tempo livre para dedicar aos contos, então prefiro terminar tudo a que enrolar vocês por dias ou até semanas com um próximo capítulo...

Então, fiquem todos bem. Um abração e um beijão.

E-mail para contato: matheusn1992@hotmail.com

Comentários

Há 4 comentários.

Por Niss em 2015-08-30 02:26:50
Ai não acreditooooo... Como ele pôde?????? Meu Deus!!! Rodrigo!! Não acredito,aadgaudsgoaufgaouyfgoq que raiva... Quando ele disse que era ESPOSA do Rodrigo, meu sangue virou lava!!!! Quer só ver no que isso vai dar. Espero pelo proximo. PS: Acho que deveriamos ganhar o proximo capitulo nesse domingo pelo amor de Romeu e Julieta! Kisses, Niss.
Por luan silva em 2015-08-29 23:53:10
meu deus to puto aqui, e eu não fui nem um pouco com a cara dessa rafaela, tô super mega ansioso pelo proximo.
Por diegocampos em 2015-08-29 23:14:36
Não gostei dessa Rafaela muito ansioso para saber o que o Jonathan vai fazer .
Por Nickkcesar em 2015-08-29 23:06:12
Veiii como assim ... Vou matar essa bruxa , não gostei kkkkkkk