Comum & Extraordinário - Capítulo 08

Parte da série Comum & Extraordinário

A segunda feira havia chegando, e junto a ela, minha ressaca moral. Fui de garoto cordial e virgem a um puto sem escrúpulos em menos de uma semana. Definitivamente isso deveria estar no ‘Guinness Book’ na lista dos ‘Emputecimentos Mais Rápidos Da História’, bem a frente da Britney Spears e Miley Cyrus. Perdi metade da minha dignidade e estava de boa com isso, e esse fato era ainda pior. Fiz tudo o que fiz e não me arrependi nenhum um pouco. Transei com um homem que mal conhecia em uma festa regada a bebida alcoólica, e posteriormente esse homem veio a ser meu professor, e depois, logo depois, fiz bobeiras com um cara com o qual cresci, o qual considerava um irmão, e novamente, não me arrependi. Bem, se o que diz na Bíblia realmente for verdade, apesar de eu não acreditar muito, eu vou direto para o inferno, o que seria uma merda, já que moraria no mesmo ambiente que homens como Silas Malafaia e Marcus Feliciano habitariam, mas fazer o que, o que fiz já está feito.

Depois do meu monólogo durante meu banho e minha troca de roupas, desço as escadas rumo a cozinha. Minha mãe já estava pronta para sair, e ao me ver descendo as escadas, sorri para mim. Fico sem entender aquilo, porque minha mãe não combina com sorrisos logo de manhã, então me assustei um pouco.

- O que a senhora tem? - Pergunto ao me servir uma caneca de leite com café e biscoitos.

- Nada. Sua mãe não pode sorrir não?

- Não de manhã cedo...

- Bem, eu estou, e agora vou para o meu ganha pão... Tenha um ótimo dia na escola. Depois quero saber como é ter o Caio como professor. Um beijo meu filho. - Ela diz ao abrir a porta.

- Outro...

Vejo minha mãe saindo pela porta da sala e termino o meu café da manhã. Tá, eu confesso que não estava tão desesperado assim, tão apavorado, mas eu sabia que teria que encara a situação de frente, como um rapaz adulto que sou, só que não. Eu realmente estava lindamente ferrado. Você pode até pensar que estou exagerado, mas vamos aos fatos. Meus pais sempre acharam que eu era um santo, que eu nunca apronto, o que não é verdade. Não sou tão quieto assim e já tive os meus momentos em que extravasei tudo o que eu guardei dentro de mim. Outro fato importante é que o Caio me chupou, e eu gostei muito, mas eu já falei sobre isso, então vou parar de comentar a respeito. Enfim, são tantas coisas que minha mente chega a parar de funcionar um pouco, mas eu consigo, eu consigo encarar essa situação de frente.

Saio de casa e encontro a Carol sentada, me esperando, mas dessa vez ela sorria. O que está acontecendo com as pessoas? Me dirijo a ela e a mesma se levanta, me abraçando. Começamos a caminhar e eu deixo para ela dirigir a palavra a mim.

- Finalmente vou ter um cunhado.

- Carol, seu irmão e eu não estamos namorando.

- Mas vocês irão, pode ter certeza disso.

- Não, não vamos. Seria um pouco estranho. O Caio é como um irmão para mim...

- Bem, irmãos também fazem sexo. Nem todas as famílias são iguais. - Ela ri.

- Carol!

- O que? Você sabe que é verdade. A BelAmi está aí para bater na cara de todo mundo.

- Não sabia que a senhora era apreciadora de filmes adultos gays.

- Querida, acho que todas as mulheres devem assistir pornô gay. Eu gosto de homem, e dois homens se pegando me dá um fogo do caramba, então...

- Um... - Começo a rir dela.

- O que é? É bom de mais. Eu gosto, então foda-se.

- Tudo bem...

- Mas e ai, está toda ardida de ontem? - Ela começa a rir de novo.

- Meu Deus! Deixa o meu cu em paz. - Começo a rir também.

- Eu deixo, são seus professores que não... Esse cu deve ser de ouro viu, porque olha...

E assim chegamos na escola, com a Carol fazendo piadinhas sobre o meu cu. Assim que o Matheus nos vê chegando vem em nossa direção, também sorrindo. Ele abraça todo mundo e começamos a caminhar.

- Gente, nem conto... - Ele para a gente no meio do caminho.

- O que foi? - Pergunto.

- Eu vi o nosso novo professor de Educação Física... Porque não me contaram que era o Príncipe Caio Delícia?

- Meu Deus... - Eu ainda não estava acreditando.

- Jonathan está desmaiado. - Carol diz e logo começa a rir de novo.

- Aria, porque a senhora está branca? - Matheus olha para mim ao perceber minha expressão.

- Porque a dona Aria Montgomery pegou meu irmão ontem. - Carol fala naturalmente. Que vontade de dar nela.

- Oi? - Matheus coloca sua mão esquerda em seu ouvido e se faz de desentendido.

- Pois é viado. Se pegaram...

- Jonathan, Jonathan... Eu vou dar na sua cara viado. Como a senhora faz isso? Pegar dois professores ao mesmo tempo? Nem eu fiz isso. A senhora é uma puta. Que vontade de sambar na sua cara.

- Gente, não vamos falar sobre isso. Eu já estou fodido de mais... - Eu tento desconversar.

- Mas é claro que a senhora está fodida, até porque, dois né... Que inveja... Logo agora que eu estava disposto a me tornar cunhado da Carol corrimão...

- Olha o respeito mulher! - Carol se finge de brava, mas depois ri.

- Sua puta! - Matheus se vira para mim. - Vou dar na sua cara. Pegando todos os professores e não deixando nenhum para mim? Isso é coisa de amiga fazer, senhora Aria?

- Eu não sabia que ele seria nosso professor. Eu cresci com ele...

- Bem, a senhora é sortuda, porque aquele ali é bem dotado, disso eu tenho certeza. Na verdade seus dois machos são... Aí que ódio. Que vontade de arranhar sua cara.

- Bem, vamos parar com a putaria e ir para a sala, porque a aula já vai começar...

Carol nos arrasta até a sala de aula e entramos. Assim que passamos pela porta Matheus para e olha odiosamente para um aluno. Ele usava um boné virado para trás e um brinco em cada orelha. Eu ainda não o havia visto na semana passada, e provavelmente ele chegou hoje, mas a minha surpresa é que o Matheus pareceu não gostar nenhum um pouco dele, e para falar a verdade, a minha primeira impressão também não foi legal. Ele tinha um sorriso estranho nos lábios, e assim que nos viu, seu sorriso aumentou ainda mais. Nos sentamos perto um do outro e logo tratamos de perguntar ao Matheus o que estava acontecendo.

- Quem é aquele? - Pergunto.

- Aquela indigna de habitar o universo se chama Thallison. A bicha que mais odeio na face da terra, e olha que eu não gosto de muitas... - Ele mal se continha.

- Mas o que aconteceu? - Carol estava muito interessada no assunto.

- Há um tempo ele me chamou para sair, mas como as críticas que ouvi sobre eles não me soaram boas, não aceitei o convite. Na época eu ainda não era assumido... Sim, eu sempre fui bicha assim mesmo, mas nunca contei a ninguém, e a puta fez questão de espalhar por aí, inclusive para meus pais. Ela fez um inferno na minha vida. Chegou a contar para meu homem na época que eu tinha AIDS... É por essas e outras que eu odeio ela.

- Senhor Jesus... - Eu estava abismado com o que ouvi.

- Pois é. Aquela ali é maligna, mafiosa, e além de tudo, enrustida. Nada contra quem queira ficar dentro do armário, sério, mas não ofenda as assumidas e não se finja de comedora de bucetas na minha frente, porque rola tapa e voadora. Posso falar muito, me impor, não dar a cara para bater, mas nunca atrapalhei a vida de ninguém, e olha que já saí com muito homem casado... - Ele olha para nossa cara de surpresa. - O que foi? Eu sou livre e desimpedido. Se o cara quer me comer e eu estou a fim de dar, dou mesmo. Ele que resolva os problemas com a mulher dele, porque eu não tenho nada a ver com isso.

- Está mais que certa bicha. - Carol diz, sorrindo.

- A única diferença entre vocês dois é o sexo, porque olha... - Eu digo para eles... - São a mesma coisa. - Eu sorrio.

- Obrigada amore. - Carol manda um beijinho para mim.

- Mas é sério. Fiquem longe daquele ser das profundezas, principalmente você Jonathan. Eu posso ser má, mas aquela ali é a reencarnação do Capiroto.

- O que você vai fazer ela ele vier conversar com você? - Carol pergunta.

- Só não vou unhar a cara dela porque hoje eu estou digna e quero preservar minha imagem para o professor delícia, mas se eu encontrar na rua, eu viro uma travesti e parto para cima, porque sou dessas. Sou que nem uma cobra peçonhenta. Fico quieta no meu canto, não incomodo ninguém, mas se eu me sentir ameaçado eu me levanto e dou o bote. Meu veneno é perigoso querido.

- Que horror. - Eu começo a rir.

- É sério. Se aquela Meretriz da Babilônia aprontar comigo de novo, não respondo por mim. Dou na cara dela na frente do todo mundo, e eu sou uma bicha ninja toda trabalha nos golpes de Karatê. Faço a Bruce Lee lindamente. - Ele joga um beijo para gente, o que faz com que Carol e eu caiamos na risada.

A primeira etapa das aulas passa rapidamente. Não seria hoje que teríamos aula de Educação Física, e confesso que isso me deixou mais aliviado. Quando o sinal para o intervalo toca, Matheus, Carol e eu arrumamos nossas coisas e saímos da sala. Fomos diretamente para a cantina, compramos um lanche e nos sentamos. Matheus a toda hora olhava para os lados, tentando notar onde Thallison estava. Eu comecei a ficar um pouco preocupado com aquilo. Se ele realmente for como o Matheus disse, tenho que tomar cuidado. Não que eu seja um rapaz de clichês, frágil, quieto, que ama logo de cara, muito pelo contrário, mas eu não me preocupei muito, afinal, eu sabia muito bem me defender, e eu estava preparado para qualquer coisa. Quando desperto de meu diálogo interno, Thallison se senta ao lado de Carol e de frente para o Matheus, que larga seu iogurte na mesma hora.

- Olha quem está aqui... Eu não sabia que essa mesa era para bichas e putas. - Ele diz tão naturalmente que meu queixo vai ao chão.

- Querida rainha das trevas. - Matheus fala calmamente. - Seria uma ofensa se me chamasse de comedora de bucetas, coisa que a senhora finge fazer todos os dias.

- Esse veneno todo é porque eu não quis comer seu cu de AIDS? - Eu estava completamente abismado com aquilo, assim como a Carol.

- Primeiramente, eu sou limpa e transparente como um Diamante, e segundo, eu nunca iria para cama com você. Eu me sentiria suja, indigna e porca, assim como a senhora.

- Porca é seu futuro... - Ele olha para mim. - E esse aí? É sua nova putinha? Não sabia que você gostava de magrinho. Geralmente prefere homens másculos, como eu...

- Querida, ele é meu amigo, coisa que você nunca irá ter na sua vida, e mais, eu prefiro me deitar com o capeta a que tocar você.

- Eu vou fazer você e seus amiguinhos chorarem. - Ele realmente era ruim.

- Querida, eu só chorei quando nasci. - Eu digo na maior naturalidade possível, deixando apenas o Matheus surpreso, já que a Carol me conhece desde sempre. - Então porque você não tira esse teu cu sujo da nossa frente e vá para o quinto dos infernos, lugar de onde você nunca deveria ter saído.

- Como é que é? - Ele parecia ter tomado ódio de mim.

- Olha, se você pensa que eu vou ficar me ofendendo com o que você diz, que vou me importar com alguma coisa que você faça, está muito enganado. Eu muito menos vou chorar por sua causa, porque eu não dou a mínima para você. Não sou um garotinho covarde e frágil com o qual você pode brincar de gato e rato. Se você aprontar comigo, vai levar outra ainda maior de volta. - Meu tom de voz muda. - Eu sou uma boa pessoa. Sou quieto, calmo, sorridente, um excelente ser humano, mas não acenda meu pavio, porque se eu estourar, eu causo estrago.

- Eu vou fazer da sua vida um inferno. - Ele se levanta com raiva.

- Tente e veremos o que acontece. - Eu então sorrio para ele.

- E os espíritos de Nazaré Tedesco, Flora e Carminha, finalmente baixam sobre nós... - Matheus fecha os olhos, levanta as mãos para o alto e diz. - De onde essa bicha veio? - Ele pergunta.

- Eu sempre estive aqui...

- Mas gente, eu não estou acreditando.

- Pois acredite senhora. Eu conheço o Jonathan desde sempre, já vi do que ele é capaz... Uma vez, quando a gente ainda estava no ensino fundamental, um coleguinha da nossa sala vivia chamando ele de mulherzinha, o empurrando pelos corredores e coisas do tipo, até que um dia o Jonathan juntou o menino com um pedaço de pau... - Carol olha para mim. - E o fim da história se deu com o Jonathan suspenso durante duas semanas por ter quebrado o braço e três dedos do garoto. Foi uma cena linda de se ver... - Ela sorri.

- Porque a senhora é tão violenta? - Mateus me pergunta e depois sorri.

- Eu não sou violento... Meus pais me obrigaram a fazer terapia depois disso... Eu só engulo sapo até certo ponto, até não caber mais, e depois eu simplesmente explodo. Já aconteceu outras vezes. Tive que fazer aulas de luta por um tempo por recomendação médica, para expulsar a raiva...

- A senhora é ninja que nem eu! - Ele sorri mais uma vez.

- Somos Power Rangers! - Carol levanta o braço com os punhos fechados e nos três caímos na gargalhada.

Quando o intervalo acaba, voltamos para a sala, já que ainda teríamos aulas. Nos sentamos e observamos o Thallison passar por nos, sorrindo de canto a canto. Ele caminha até o fundo da sala e se senta, e assim que ele faz isso, sinto um papel voar na minha nuca. Mal acreditando no que havia acabado de acontecer, me viro para trás.

- Viado. - Ele grita e toda a sala olha para mim. Resolvo acabar com todas as especulações sobre minha sexualidade de uma só vez.

- Antes viado que um enrustido infeliz com a própria sexualidade. Deixa a minha em paz e vai resolver a sua.

- Para de show! - Ele ficou um pouco nervoso com o que eu disse. - Eu não sou viado, e não adianta se jogar para cima de mim.

- Nem se você fosse o último homem da terra. - Eu digo e me viro para frente.

Pois é. Eu nunca fui um menino meigo, que finge ser algo que não é, e por isso já me meti em muitos problemas, inclusive esse que a Carol relatou. Minha antiga psicóloga disse que eu sou uma bomba ambulante, prestes a explodir, e no começo eu confesso que eu realmente era assim, mas hoje eu preciso de muito para me sentir realmente incomodado com as coisas. Há cinco anos eu não tenho outro ataque de fúria, e isso é ótimo, mas se o Thallison continuasse a me empurrar, tenho certeza que eu explodiria novamente, e a situação não seria bonita. Enquanto isso não acontece, vou ficar na minha, curtindo meus amigos, a escola, minha família... Porque eu sei que se eu tiver outro episódio, as pessoas me olharão diferente.

Não me entendam mal. Eu não sou um psicopata que saí por aí batendo nos outros, muito pelo contrário. Tive esses ataques apenas três vezes, mas nas três a situação não foi bonita. Eu tento muito me controlar, me policiar, mas as vezes eu acabo não conseguindo. Já me chamaram de viado, bicha, mulherzinha. Já tacaram papel em mim, colocaram o pé na frente para eu cair, isso tudo no ano passado, e como eu disse, eu não me importei, deixei para lá, mas chega um momento em que a gente não aguenta mais virar o outro lado, e eu sentia que isso estava prestes a acontecer, mas quer saber, eu não estou nem aí.

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Bem, estou passando rapidinho no meu horário de almoço para postar mais um capítulo, e espero que gostem.

No mais, me desculpem por ser breve, mas daqui a pouco tenho que voltar para o serviço e ainda nem almocei...

Um beijão para todos vocês. Fiquem bem.

E-mail para contato: matheusn1992@hotmail.com

Comentários

Há 2 comentários.

Por Jeeh_alves em 2015-07-08 22:01:05
Adorei *-* eu clico no Arrasou? Próximo querida que eu quero barraco *-*
Por Niss em 2015-07-08 16:08:20
Isso se solta mona, mostra a bicha má que tem aí dentro kerida. Samba na cara. Bjs Niss.