Comum & Extraordinário - Capítulo 01

Parte da série Comum & Extraordinário

Eu estava deitado em minha cama, mas não de um jeito convencional. Minha cabeça se encontrava fora do colchão, pendendo para baixo, enquanto eu segurava um livro no alto de meu rosto. Eu lia ‘Divergente’ naquele momento.

O sol estava quase chegando a meu rosto, e para falar a verdade, minha pele já estava começando a queimar devido ao calor. Troco de posição e realmente me deito, com a cabeça apoiada em meu travesseiro, e quando estava prestes a entrar no melhor capítulo do livro, meu telefone toca. Tateio minha cama e o pego, sem ao menos ver quem era.

- Bom dia flor do dia! - Era Carol, minha melhor a única amiga.

- Bom dia... - Eu estranho a felicidade dela. - O que a senhora aprontou?

- Nada. Eu? Eu não fiz nada, nada mesmo... - A escuto rir do outro lado.

- Carol...

- A gente vai a uma festa hoje a noite. - Ela diz com empolgação na voz.

- Mas nem pensar, eu estou lendo.

- Divergente, de novo. - Seu tom de voz um misto de ‘tanto faz’ com ‘pelo amor de Deus’. - Você já leu esse livro o que, cinco vezes?

- Sete, contando com essa, e eu nunca me canso.

- Pois deveria, porque ler de mais causa síndrome da bicha oculta, ou seja, você só fica no escuro, dentro de casa, sem fazer nada, ou seja, novamente, ninguém te vê.

- Ai Carol...

- Você vai nessa festa comigo e ponto final. Estou morrendo de vontade de dançar um sertanejo com um boy bom.

- Sertanejo? Você sabe que eu não gosto dessa palhaçada.

- Não gosta, mas vai assim mesmo.

- Tem um porem, minha mãe nunca vai deixar...

-É por isso que você irá mentir para ela, querido.

- Mentir, para minha mãe... Você sabe como ela é. É impossível mentir para aquela peça.

- Se vira, arruma um jeito. Diz que você vai dormir lá em casa. Pode dizer que foi minha mãe que o convidou.

- Carol...

- Diz logo bicha. Se você não aparecer lá em casa as sete da noite, vou dar uma na sua cara.

- Tudo bem...

- Ai, eu espero que eu consiga arrumar alguém hoje, porque estou necessitada. - Tudo o que eu pude fazer foi gargalhar. - Para de rir Jonathan, você também pode encontrar alguém por lá, alguém que te leve para os crimes...

- Para de palhaçada Carol, você sabe que eu não gosto de falar sobre esse tipo de coisa...

- Sim, você é um menino casto, maculado, que irá esperar até o casamento para liberar o brioco... Tudo bem Jonathan, eu entendo. - Ela ri da minha cara.

- Que horror! - Tento evitar, mas acabo rindo também.

- Cortando o assunto, vou desligar agora. Tenho que arrumar a peruca aqui, tomar um banho, passar uma maquiagem e fazer todo um preparamento.

- Carol, é dez da manhã ainda.

- Eu sei, e por isso eu tenho que correr contra o tempo... Um beijo na bunda, e até daqui a pouco.

- Um beijo.

Desligo o telefone e o coloco no mesmo lugar. Com o tempo, volto a pegar o livro e começo a ler de onde parei. É, eu nunca me cansava de ler esse. É realmente um dos meus favoritos, isso se não for o melhor. Claro, tenho todos os livros do Harry Potter, e sim, eu amo todos, mas não tem nada melhor do que fazer uma maratona com Divergente.

Era quase uma da tarde quando chego ao fim do último capítulo daquele livro, então me levanto aliviado por ter o lido mais uma vez. Vou para o banheiro, tiro meu pijama azul e tomo um belo banho de água morna. Quando termino, coloco uma camiseta folgada, uma cueca e uma bermuda. Desço então as escadas, sentindo o cheiro do almoço de sábado que minha mãe sempre fazia. Quando chego na cozinha, ela me olha com aquela cara repreensiva.

- O senhor estava até agora no quarto?

- Sim mãe...

- Fazendo o que?

- Lendo.

- De novo? É menino. O senhor vai acabar ficando cego.

- Mãe, ler nunca é de mais.

- Eu sei, mas é que você faz apenas isso, nada mais. Seu último dia de férias e amanhã, e tudo o que fez foi ficar no seu quarto, lendo, vendo aquelas coisas de vampiros e lobisomens...

- São séries mãe...

- Tanto faz, mas você não fez nada além disso. Seu pai e eu fomos a praia e você quis ficar na casa da Carol... Nem viajou com a gente. - É nessa hora que ela começa a jogar as coisas na cara da gente.

- Desculpa mãe, é que eu não estava no clima para sair de casa.

- Tudo bem, mas da próxima vez que eu for viajar, te levo comigo nem que seja arrastado pelas orelhas... Agora senta aí que o almoço está pronto. - Ela diz ao desligar a última boca do fogão.

Eu pego um prato e alguns talheres no armário e vou para frente do fogão. Coloco arroz, feijão, macarrão branco, uma salada cozida de batata e cenoura, um bife de boi, pulo a berinjela porque eu odeio, e me sento a mesa. Me sirvo um copo enorme com suco de maracujá e começo a comer tudo. Quando termino, resolvo contar para minha mãe sobre a festa, pois eu tenho certeza que se eu mentisse, ela iria descobrir.

- Mãe... - Mudo meu tom de voz.

- O que o senhor fez? - Ela descobre na hora. Como ela faz isso?

- Eu não fiz nada, é que...

- Desembucha menino. Tenho que lavar a louça ainda.

- Posso ir a uma festa com a Carol hoje? - Pergunto e logo me preparo para a resposta.

- Mas nem pensar. Você está me achando com cara de que? Jamais.

- Mas mãe...

- Mas nada. Deixar você no meio do álcool, das drogas, daquelas periguetes sem roupa? Jamais.

- Mãe...

- Nem pense nisso querido, nem pense.

- Não pense em que? - Diz meu pai ao entrar pela porta da sala.

- Esse menino está querendo que eu o solte no meio de uma festa adolescente. Onde é que já se viu isso. Que absurdo.

- Mas mãe, eu já tenho 17 anos...

- Você fez dezessete anos a cinco meses, então você ainda tem 16 para mim.

- Mas mãe...

- Deixa o menino ir. - Meu pai diz ao chegar na cozinha. - Ele já não sai de casa, e quando, por milagre do destino, ele resolve, você o impede? - Ele olha para minha mãe.

- Mas Fábio...

- Mas nada dona Cristiane.

- Tá. - Minha mãe bufa e bate o pé no chão da cozinha. Eu consegui! - Tudo bem, ele vai, mas ai dele se eu sentir cheiro de álcool dentro da minha casa, aí dele.

- Eu não vou beber, eu prometo.

- É bom que prometa mesmo. Você ainda pode apanhar de vara mocinho, não se esqueça disso.

- Eu sei. - Eu dou um sorriso para ela.

- Bem, já que o assunto está resolvido, vou subir, tomar um banho e depois eu almoço. - Meu pai passar por mim e deixa um beija na minha testa, e em seguida deixa um beijo nos lábios da minha mãe. - Não se matem enquanto eu estiver longe. - Ele sorri.

- Pode deixar. - Minha mãe e eu dizemos ao mesmo tempo, e então sorrimos.

- Bem, como castigo, o senhor vai deixar a cozinha brilhando. Não sou obrigada.

- Mãe!

- Faz calado e sem reclamar. Quero as panelas brilhando. Quero poder me maquiar as usando como espelho... Anda depressa menino, você não tem o dia todo. - Diz ela ao perceber que eu não levantava.

- Tá...

Vou para a beirada da pia e lavo todas as louças sujas. Acho que eu termino por volta das três da tarde, já que meu pai estava assistindo ao seu programa, que geralmente passa nesse horário. Eu subo novamente para meu quarto e me deito. Queria descansar por pelo menos duas horas até eu começar a me arrumar. Assim que começo a pensar sobre o fato de eu poder odiar a festa, cochilo profundamente.

Eram seis e meia e eu estava em frente ao meu guarda roupas, escolhendo o que iria vestir. Eu não tinha muita opção, até porque, não sou muito de me importar com roupas, então pego um jeans de lavagem clara, uma camisa xadrez em um tom mais escuro, calço meu converse de couro preto, passo um pouco de perfume e então fecho as portas daquele móvel marfim.

- Onde é que o senhor vai desse jeito hein? - Pergunta meu pai ao me ver descendo as escadas.

- Vou a festa, oras...

- Eu sei. - Ele sorri.

- Desse jeito o senhor vai acabar me trazendo uma nora. - Minha mãe diz ao chegar na sala. Eu percebi pelo seu tom que ela estava brincando.

- Com certeza. - Meu pai sorri para mim.

É o seguinte. Eu tinha quase certeza de que meus pais sabiam sobre a minha sexualidade, tinha quase uma certeza absoluta, mas como eu não dizia nada a respeito, eles não diziam nada a respeito. É como se você estivesse em uma selva. Você sabe que ali tem leões, tigres, elefantes, mas você não os enxerga de onde está. É assim com os meus pais. O assunto está ali, no meio da sala, na frente deles, mas ninguém tem coragem de se pronunciar.

- Bem, eu já estou indo... - Digo ao beijar o rosto de minha mãe e a testa de meu pai.

- Tudo bem, mas se for para chegar de madrugada fazendo barulho, pode dormir na casa da Carol, porque se eu acordar no meio da noite, vou jogar meu chinelo em você, e você sabe que eu sempre acerto.

- Eu sei mãe, tudo bem. - Eu sorrio para ela.

- E nada de beber.

- Tudo bem...

- Se for um copinho só, não tem problema... - Meu pai diz e causa ira na minha mãe.

- Como é que é? - Ela se vira para ele e eu saio da li, deixando os dois se resolvendo.

Fecho a porta de casa e caminho até a casa da Carol. Eu não sei se já falei sobre ela com vocês, mas nos crescemos juntos. Estudamos sempre nas mesmas escolas e na maioria das vezes, nas mesmas salas. Nossos pais são amigos há muito tempo, então acabamos ficando amigos também. Sobre eu contar ou não a respeito de minha sexualidade para ela, eu nunca precisei. Carol sempre soube. Desde criança eu era diferente. Nunca gostei de ficar próximo de mais dos meninos e sempre preferia brincar com coisas mais educativas, então, acho que por isso eu nunca precisei contar ela, e é também por isso que eu tenho certeza que meus pais sabem.

Eu apenas atravesso a rua e bato na porta da casa dela. Quando escuto alguém gritar que está aberta, eu entro. Como eu já era de casa, vou até a cozinha para beber um copo de água. Pego um copo no armário e abro a geladeira. Me sirvo, deixando a porta aberta, e quando a fecho, levo o maior susto da minha vida.

- Senhor Jesus Cristo! - Digo depois que eu cuspi a água que estava na minha boca naquele homem parado a minha frente. - Me desculpa! Eu não... Eu não... - Corro na cozinha atrás de um pano, enquanto ele fica me olhando com uma cara séria. - Mil desculpas... - Começo a passar o pano no peito dele, e quando percebo o que eu estava fazendo, fico ainda mais vermelho. - Senhor... - Eu não sabia onde enfiar minha cara...

- Jonathan, você continua desastrado como sempre...

- Oi?

- Não acredito que você não me reconheceu. - Ele se fez de ofendido.

- Oi? - Eu ainda estava completamente sem graça.

- Jonathan, sou eu, Caio, o irmão da Carol.

- Não é não. O Caio é gordinho...

- Eu fui gordinho. Passei quatro anos fora, ou você se esqueceu?

- É verdade... - É, realmente era o Caio. - Bem, mas você não estava fazendo faculdade fora?

- Estava. Me formei na semana passada. Agora eu voltei para cá a procura de emprego...

- Entendi...

O Caio sempre foi uma espécie de irmão mais velho para mim, além de ser o irmão mais velho da Carol. Minha amiga e eu sempre andávamos atrás dele enquanto ainda éramos crianças, e ele nunca se importou com isso. Ao contrário dos outros garotos, que não gostavam de seus irmãos mais novos, ele sempre deixava a gente ficar perto dele. Me sinto realmente como um irmão dele, e tenho certeza que isso é recíproco, porque ele mesmo me disse antes de viajar e se mudar para outra cidade.

- Mas vem aqui, me dá um abraço. - Ele me puxa de uma só vez e me dá o abraço mais apertado que ganhei na minha vida.

- É estranho... - Digo quando ele me solta.

- O que é estranho.

- Você está muito diferente...

- Estou mais bonito, não estou? - Ele dá uma voltinha e eu fico completamente vermelho. - Você também mudou. Cresceu, deixou o cabelo crescer um pouco... - Fico estático quando ele toca nos meus cabelos. - Está rebelde hein. - Ele sorri.

- Você também... Cheio de tatuagens... - Digo ao olhar para seus braços e seu peito...

- Não são tantas assim...

- Vamos parar com a palhaçada. - Carol diz ao chegar na cozinha. - Temos que ir coisa, se não a gente chega atrasado. - Ela se dirige ao seu irmão.

- Tudo bem. Só vou ao quarto colocar uma camisa e levo vocês lá. - Ele diz e já sobe.

- Vem, vamos para fora de uma vez...

- Carol, você não me contou que seu irmão tinha voltado.

- Ele chegou hoje de tarde menino, nem te conto... - Ela me para no meio da garagem e me olha com cara de surpresa.

- Não me conta o que?

- Ele é gay!

- Ele o que?

- Ele é gay.

- Mas... Mas... Mas gente...

- Pois é. Fiquei tão surpresa quanto você. Ele já havia contado para meus pais no ano passado, mas eu não sabia desse babado até hoje...

- Gente...

- Do que vocês estão falando? - Caio diz ao chegar.

- De nada! - Eu digo.

- De você, é claro. - Carol diz.

- Um... - Ele me encara e depois olha para a irmã. - Entrem no carro...

- Tudo bem...

Caio destrava as portas e Carol entra na frente. Abro a porta de trás, e quando vou entrar, acabo tropeçando e caindo de quatro, com a cara no banco traseiro. Me levanto rapidamente, como se nada tivesse acontecido.

- Eu vi. - Carol diz.

- Eu também... - Caio ri.

- E lá se foi toda a minha dignidade...

- É por isso que eu deixo a minha em cima da cama quando eu saio de casa. - Carol diz e nos três caímos na risada. - Bem, agora liga essa joça, porque a noite promete.

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Bom Dia...

Como prometido, aí está o primeiro capítulo de ‘Comum & Extraordinário’, e eu espero que tenham gostado.

Ontem eu falei sobre algumas coisas que eu resolveria hoje, e uma delas são as postagens durante a semana. Jonathan e eu decidimos postar três capítulos por semana, assim vocês não ficam tanto tempo sem ler e sem informações, e como o conto é longo, vai demorar um pouco também até acabar as postagens.

Hoje iremos postar dois capítulos, mas o próximo eu irei postar por volta das duas da tarde, então não vai demorar muito.

Agora eu queria falar sobre outra coisa... Quem já conheceu meus contos, sabe que eu sempre comento algo que aconteceu, desabafo, falo sobre algum filme ou coisa parecida, e eu vou continuar a fazer isso, só que depois do capítulo, no final, não no começo como eu fazia antes, assim fica melhor, pelo menos eu acho.

Quando aos e-mails, eu vou fazer o máximo para responder todos, e o Jonathan ficou de me dar uma resposta sobre ele criar ou não uma conta para responder vocês, então terei que esperar. A loja em que eu trabalho está mudando de bairro, e hoje é o último dia dela aqui, então a partir de amanhã começo a mexer com a mudança, e devo ficar sem tempo, mas mesmo assim irei postar os capítulos, ou o Jonathan irá postar, ainda não sei.

No mais, espero que tenham gostado do primeiro capítulo, e o próximo sairá daqui a pouco.

Fiquem bem, e um beijão para todos vocês. Qualquer dúvida, deixe nos comentários ou mande um e-mail, porque se ele for curtinho, eu posso responder na hora.

Um beijão e um abração. Até domingo.

E-mail para contato: matheusn1992@hotmail.com

PS 01: Como a Selena Gomez me copiou e resolveu estrear o clip dela quase junto com o primeiro capítulo do meu conto, achei que deveria vir aqui e dizer que eu achei uma merda. Rsrsrsrsrs. Mentira, brincadeiras a parte... Eu amei o clip, apesar de não ter sido o que eu esperava, muito menos a nova versão da música. Gostei da simplicidade, não só do vídeo, mas como da voz dela, que parece estar mais limpa nessa nova versão do single, que já era ótimo. Agora só falta a segunda versão, com o A$SAP Rocky dessa vez, por favor.

PS 02: O Kazaky também vai lançar o clip para ‘Milk-Choc’ hoje, e eu estou quase morrendo de ansiedade querendo assistir, porque achei a música uma delícia.

PS 03: Já sei, vou esperar o clip do Kazaky sair para eu postar o segundo capítulo, assim posso comentar a respeito, ou julgar se ficar uma bosta, apesar de eu gostar de todos os clips deles, todos, todos mesmo. Rsrsrsrs. E se não sair hoje, eu posto o segundo capítulo mesmo assim, não se preocupem. Vou esperar até as cinco da tarde, e se não sair, coloco o capítulo dois no site.

Comentários

Há 1 comentários.

Por diegocampos em 2015-06-26 12:08:21
Gostei esperando o proximo