A Vida & Morte De Renato - Capítulo 10

Parte da série A Vida & Morte De Renato

O recado que sempre deixo, diferente das outras vezes, será deixado depois do capítulo, e por favor, não esqueçam de ler. Rsrsrs.

Espero que gostem do capítulo de hoje, porque eu amei o escrever. E não se esqueçam de me dizer o que acharam. Um beijo e um abraço para todos.

― diegocampos: Idiota é pouco para tudo o que ele fez e ainda faz com o Renato... E sobre você estar confuso, eu espero que o capítulo de hoje te esclareça muita coisa. Rsrsrs. No mais, um abração e um beijão, e mais uma vez, obrigado.

― Nando martinez: Bem, todas as suas perguntas serão respondidas no capítulo de hoje, e eu espero que possa gostar do novo rumo da história... Hahahaha. Eu pensei que tivesse lido, mas em fim... Eu faço o possível para narrar da maneira mais real possível, para não deixar nada faltando, e fico feliz que tenha gostado dessa parte, que por mais tendo me doído escrever, foi necessário... E o final ainda está longe de acontecer. Muita coisa irá rolar nessa história.

Rsrsrs.

No mais, um beijão, e obrigado.

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Tudo se encontrava em extremo silêncio. O único fenômeno da natureza a se pronunciar era o vento, que gentilmente soprava a copa das árvores ao redor.

Nada mais era ouvido, sequer visto naquela hora da madrugada. O mundo parecia ter sido abandonado por seus habitantes, que escolheram ir para um lugar bem longe de todas as coisas ruins que aconteceram. Foi com se tivessem preferido coexistir em um novo planeta, onde não havia mais guerra, fome, destruição, maldade e morte. No momento tudo era semelhante a um lugar utópico, inexistente, mas ninguém percebia isso, ninguém conseguia notar, porque todos estavam cegos de mais, ou porque todos estavam errados, e na verdade tudo permanece do mesmo jeito, e foi assim que o primeiro suspiro foi dado, abafando todo o barulho que o vento fazia.

Ele havia despertado. Seu rosto ainda se encontrava por sobre a terra molhada, e a primeira coisa que veio em sua mente foi o cheiro bem abaixo de seu nariz, o cheiro de uma chuva que molhara toda a cidade, uma chuva que ainda caia sobre seu corpo, que agora conseguia sentir.

Sua consciência logo é recuperada. O estranho para toda a floresta, aquele que não pertencia à ali, finalmente havia acordado para seu mundo, e então, o jovem abre os olhos, que pareciam enxergar tudo como se fosse novo. Ele abre os olhos, e esse feito o faz notar os sons a sua volta, como nunca tivesse escutado tal coisa, mas o gosto de sangue seco em sua boca o incomoda, e ele não sabe o porquê daquilo.

Ele se coloca de pé, com um leve sacrifício, e olha a sua volta, percebendo que estava no meio de uma floresta onde nunca estivera. Quando olha para baixo, a primeira coisa que percebe é seu corpo nu, sem roupa alguma, e logo corre os olhos por sua pele, coberta por sujeira e sangue.

Apavorado, o jovem rapaz começa a se desesperar, como se não soubesse o que estava acontecendo, como se não se lembrasse de nada, e ele não se lembrava, não no momento, e também não sabia o que estava acontecendo.

Ele olhava para os lados, afoito a procura de respostas. Seus olhos procuravam pistas, rastros do que ele poderia estar fazendo no meio da floresta em plena madrugada, mas infelizmente não conseguia respostas, não as que ele queria.

O garoto analisou os fatos, ele prestou atenção em seu estado e começou analisar o que havia acontecido. Sua primeira hipótese foi a de que havia sido violentado, mas a descartou quando se tocou e viu que estava tudo bem. A segunda hipótese, a mais provável e a que ele desejava que fosse real, era de que ele havia sido assaltado e em seguida jogado no meio da floresta, mas a terceira, a que ele não desejava, era a de que ele havia feito algo horrível com alguém, porque o rapaz conseguia ver o sangue em sua pele, a sujeira por toda parte, e não se lembrar de nada, só contribuía para seu pavor.

Sem saber o que fazer, ele simplesmente começou a caminharem direção contrária a que estava, até poder avistar o acostamento. O rapaz então passou a acompanhar a estrada por entre a floresta, sem se mostrar, já que o movimento de carros ali era constante.

Ele sabia onde era sua casa, sabia onde morava, mas caminhando assim, demoraria para chegar, mas não havia outro jeito a não ser aquele, e estando descalço, seus pés sofreram as consequências, pois entre um passo ou outro, ele pisava em algo que machucava seus pés, mas a dor, por incrível que pareça, desaparecia em poucos segundos.

Uma hora e meia depois, quando notou seu bairro a frente, ele mudou o rumo de seu caminhar, se virando para a esquerda, ainda dentro da floresta, e então seguiu, observando as casas de longe, ate que encontrou uma que lhe soou familiar, era a sua casa.

Com cautela, o rapaz de cabelos escuros cobertos de terra sobe o muro de sua casa, se sentando nu sobre ele no momento em que alcança o topo, e então pula, caindo sobre o piso duro dos fundos de sua moradia. Em extrema precaução, ele vai até a janela de seu quarto, que por ventura estava aberta, e então entra, a fechando logo em seguida.

Quando ele se sente familiarizado com o espaço, caminha entre o escuro e encontra o apagador preso na parede, perto da porta, e então acende a luz. Seu susto se torna ainda maior quando enxerga que seu corpo estava realmente sujo de sangue.

O rapaz então começa a se esfregar, com nojo, tentando se limpar, se livrar daquele líquido vermelho que não era dele, já que seu corpo estava em perfeito estado.

― O que eu fiz... ― Ele diz, pronunciando sua primeira frase desde que acordou no meio da eterna floresta.

Com delicadeza, ele finalmente abre a porta de seu quarto, sem fazer um barulho sequer. Seus passos vão em direção a outra porta, um pouco afastada da sua, e tremendo de medo e receio, ele a abre, lentamente, e entra aos poucos no quarto, e quando seus olhos pousam na cama vazia, sua respiração se torna mais leve. Seu pai não havia dormido em casa, portanto o jovem volta rapidamente até seu quarto, pega uma toalha e corre para o banheiro, e sem mesmo ascender a luz, liga o chuveiro.

A sensação da água caindo sobre sua cabeça era indescritível. Ele passava as mãos pelos seus cabelos, se livrando de toda aquela sujeira, e no instante em que coloca shampoo em suas mãos e finalmente esfrega seu couro cabeludo, o rapaz fecha os olhos sem querer e quase se perde na quão gostosa era a sensação de fazer aquilo.

Depois de ter lavado sua cabeça, ele usa uma bucha vegetal e um sabonete neutro para esfregar seu corpo, até sua pele queimar, porque mesmo já estando na comodidade de sua casa, a completa memória ainda não havia voltado, e quando mais força ele fazia para tentar se lembrar, mais distante as lembranças ficavam.

Depois de quase uma hora sob o chuveiro, ele finalmente o desliga, se secando ali mesmo, antes de abrir o box e sair.

Com a toalha enrolada na cintura, ele procura algo para vestir, e sem pensar muito, pega apenas uma cueca branca no fundo de seu guarda roupa e a veste, estendendo a toalha em uma cadeira após isso.

Com receio de que seu pai chegue a qualquer momento e entre em seu quarto, ele tranca a porta com chave, se acalmando um pouco, mas isso não foi o suficiente para lhe fazer baixar a guarda.

― Pensa Renato, pensa... ― Ele parecia apavorado. ― O que foi que você fez... ― Ele começa a chorar em desespero. ― Eu não matei ninguém, eu nunca faria uma coisa dessas... ― Ele começa a balançar a cabeça. ― Então o que foi que aconteceu? Porque eu não consigo me lembrar? ― Que saco... ― Suas lágrimas voltam a descer por seu rosto branco e liso, sem um poro aparente.

Ele se senta sobre seu colchão velho e usado, quase imprestável. Ele junta suas pernas em seu peito e apoia seu queixo entre os joelhos, se balançando para frente e para trás, tentando encaixar todas as peças, e quando se dá por vencido, deita seu corpo sobre os lençóis emaranhados em sua cama, e de um súbito, se lembra do cheiro que sentiu ao fazer isso.

― Leandro... ― Renato começa a chorar ao se lembrar de que tudo foi real.

O rapaz começa a chorar outra vez, compulsivamente, e não parou mais. Seus olhos marejados mal podiam enxergar um palmo a sua frente, e o total desespero não o deixava sentir ou se lembrar de outra coisa sequer a não ser seu amante perdido. Renato não conseguia sequer respirar corretamente, e mesmo esse acontecimento se repetindo outra vez, ele ainda não conseguia olhar para frente e seguir sem deixar a imagem do homem que ama para trás, e com todo o seu ser focado em Leandro, o garoto acaba adormecendo, em meio aos panos onde trocaram carícias e fizeram amor tantas vezes.

Quando o sol entrou pela janela, ele abriu os olhos, e era como se nem ao menos tivesse dormido. O jovem então procura seu celular, mas não o encontra. Ele se levanta, olhando dentro do guarda roupa, debaixo da cama, dentro de suas gavetas, de caixas de sapato, e nada. Ele havia achado apenas sua carteira, carteira a qual seu pai havia deixado ali quando volto do cemitério, para disfarçar o ocorrido, e mesmo Renato estranhando aquilo, já que não saía sem seus documentos, deixou para lá e se preocupando apenas com o celular perdido, ele pensou na possibilidade de realmente ter sido assaltado, porque se conhecendo, ele sabia que nunca perderia nada, muito menos seu celular.

― Talvez eu tenha sido assaltado... ― Ele diz para si mesmo, acreditando em suas palavras. ― Talvez eu realmente fui assaltado e jogado na floresta, e talvez o sangue seja devido a outra coisa... ― Ele volta a pensar que havia feito algo ruim. ― Não Renato, você nunca perderia seu celular, você nunca perdeu nada, nem uma borracha na escola, eles foram tomados de você, você realmente foi assaltado... ― Ele finalmente começa a acreditar.

Depois de ter tomado outro banho, Renato se veste propriamente. Teria de ir ao serviço e se explicar com o gerente do restaurante, desejando com todas as forças que não fosse demitido de seu cargo no estabelecimento, porque ele precisava de dinheiro.

Quando estava arrumado e pronto para sair, o jovem fecha as portas e janelas de sua casa, saindo pela frente e indo em direção ao ponto de ônibus. No momento em que ele se senta, entre duas mulheres, sente olhares acusadores em direção a sua pessoa, e apesar do extremo desconforto, ele tenta se manter calmo.

― Todo mundo do bairro já está sabendo o que você fez. ― Uma das mulheres era a sua vizinha de lado, a que havia testemunhado na delegacia contra ele. ― Eu fiz questão de espalhar a notícia. ― Ela chega a se virar para acusar Renato, que se mantinha extremamente calado. ― Eu não sei como você foi capaz de arruinar um casamento. Você deveria sentir vergonha de acabar com uma família. Está feliz por fazer de uma boa mulher viúva? ― Ela o acusa sem parar, deixando Renato ainda mais nervoso.

― Pessoas como você vão para o inferno, saiba disso. ― A outra mulher de cabelos castanhos se envolve na conversa. ― Vou manter meu filho longe de você. Nunca se sabe o que pessoas do seu tipo são capazes...

― Eu vou fazer o mesmo. ― A outra mulher volta a comentar.

Renato passou a ouvir todo quanto tipo de crítica, palavras que antes mesmo nunca ouvira. Ele, mesmo tentando não dar confiança, acabou se sentindo abalado e humilhado com tamanhas acusações. Chegaram a dizer que Leandro morreu por culpa dele, e no momento em que fizeram isso, Renato chorou, mesmo sabendo que estava na frente de estranhos.

― Não adianta chorar agora. Seu caminho já está trilhado para o inferno. ― Diz a mulher que depôs na delegacia, o olhando com nojo nos olhos.

― Se realmente existe um céu e pessoas como vocês forem para lá, eu faço questão de ir para o inferno, tudo para ficar longe dessa gente preconceituosa sem amor no coração. Pessoas que só vivem atrás da dor dos outros, através de acusamentos e condenações. Vocês são todos hipócritas e falsos moralistas. ― Ele finalmente se defende, pela primeira vez em sua vida, e para Renato, Leandro estaria orgulhoso de sua atitude. ― Tudo o que eu fiz foi amar aquele homem. Eu o amei com todas as minhas forças, e me desculpe pelo que eu vou dizer, que você e suas palavras que se fodam. ― Ele se levanta quando percebe o ônibus chegar. ― Ao contrário de vocês duas, eu lhes desejo todo o bem desse mundo, e que um dia, quem sabe um dia, perceba o quão erradas estão sobre as pessoas que tanto julgam.

Depois de subir no ônibus, deixando as mulheres sem o que falar, Renato passa a roleta e se senta no fundo, respirando pesadamente, não acreditando no que acabara de falar. Ele nunca havia feito isso, nunca havia conseguido se impor. Já passou por coisas horríveis na escola, em casa, e em nenhum momento conseguiu se defender, mas depois de ter ouvido tudo isso, ter ouvido as ofensas que preferiram ao seu relacionamento com Leandro, algo estalou dentro dele, algo o fez perceber e fazer o que Leandro sempre lhe pedia, que era ter um pouco de voz nesse mundo e parar de abaixar a cabeça para todos.

Com um pouco de lágrima nos olhos e um singelo sorriso no rosto, Renato desce do ônibus, mas ao se lembrar de que teria que dar explicações quando chegasse ao restaurante, ele desarmou, ainda mais por saber que a notícia corre rápido nessa cidade, ou seja, algumas pessoas provavelmente já estavam sabendo do acontecido, e ele torcia para que não todas, principalmente as que trabalhavam com ele.

No instante em que ele entra pela porta, alguns olhares se voltam para ele, que abaixa a cabeça e se move em direção a área dos funcionários para colocar seu uniforme. Como o lugar já tinha clientes, ele agradeceu por ninguém dali ter a coragem de se pronunciar e levantar a voz, lhe acusando outra vez.

Quando ele volta para a recepção se depara novamente com alguns olhos, mas ele começa a fazer seu serviço, um pouco desajeito, mas faz. Renato atende os clientes, anota os pedidos, retira pratos e talheres de algumas mesas já desocupadas e começa a ocupar sua cabeça com o intenso serviço, mas é interrompido, e ele sabia que não seria coisa boa quando viu que o gerente do restaurante o chamava.

― Gostaria que me acompanhasse até minha sala, por favor. ― O homem diz no momento em que Renato se aproxima.

O jovem, extremamente nervoso, começa a caminhar, seguindo o homem alto de cabelos castanho escuros.

Quando entram na sala, Renato fica sem saber o que fazer, mas ao ver o homem apontando para a cadeira, finalmente se senta.

―Eu vou ser direto ao ponto. ― Ele entrelaça suas mãos por sobre a mesa. ― Porque faltou no serviço, três dias seguidos?

― Três? ― Renato se assusta.

― Sim, três dias. Depois da cena envolvendo a policia, há três dias, você retornou hoje...

Renato começa a analisar o que lhe foi falado. Ele se lembrava de sair do restaurante acompanhando pelos policiais, se lembrava de ter ido até a delegacia e de seu depoimento para a investigadora. O jovem também se lembrava de sair de lá sem rumo e de mais tarde ir ao enterro de Leandro, mas para ele, isso havia sido ontem, ontem, não há três dias, e esse lapso de tempo o deixou completamente confuso e atordoado.

― Eu... ― Ele começa a argumentar, mas não conseguia se explicar.

― Foi pela morte do policial? ― O homem diz, como se aquilo não tivesse importância na situação.

― Você sabe? ― Renato o encara com surpresa.

― Os funcionários fazem mais do que o próprio trabalho aqui. ― Ele se encosta na cadeira.

― Me desculpa, eu... eu não sei o que aconteceu comigo... eu... ― Ele tentava a todo custo se explicar. ― Eu prometo que não falto mais, eu juro, eu só preciso desse emprego, eu preciso muito... ― Ele se entristece.

― Eu não vou te demitir Renato, se acalme. Você é o melhor funcionário que eu tenho aqui. ― Ele tranquiliza o rapaz.

― O melhor? ― Ele se surpreende.

― Eu assinei sua carteira como garçom, não como ajudante de cozinha ou faxineiro, funções que você não é pago para fazer e ainda sim as exerce.

― Eu achei que era minha obrigação ajudar...

― Você vê alguns dos outros garçons fazerem o mesmo que você?

― Não.

― Então pronto, caso encerrado. Além do mais... ― O homem é interrompido por uma batida na porta, e com sua ordem, o funcionário entra. ― O que você quer Rafael? ― Ele pergunta ao notar rapaz de cabeça raspada parado na porta.

― Eu e os outros garçons nos juntamos com as cozinheiras agora, estávamos falando sobre o que os clientes diziam sobre o Renato... ― Ele olha para Renato, que abaixa a cabeça.

― E o que conversaram? ― Pedro cruza os braços sobre o peito.

― Debatemos sobre o que seria melhor para o restaurante, já que os clientes estão comentando o que aconteceu... ―Ele diz.

― E o que seria melhor?

― Que Renato fosse demitido, assim os clientes não reclamariam.

― Bem, diga aos clientes que estão reclamando que venham falar comigo, não com os meus funcionários, e sobre a demissão, eu tomo essa decisão, não você. Agora se puder sair e fechar a porta, irei agradecer. ― Ele diz, fazendo com que Rafael saia da sala, extremamente envergonhado. ― Como eu estava dizendo, eu não te chamei para lhe demitir, e sim para lhe oferecer outro cargo.

― Como? ― Renato parecia surpreso.

― Eu comprei um espaço no shopping da cidade há alguns meses e iniciei a obra do meu novo restaurante, e eu gostaria que você fosse para lá.

― Seu novo restaurante? ― Renato se assustou com a notícia.

― Sim, meu novo restaurante.

― Eu sempre achei que... ― Renato é interrompido.

― Achou o que?

― Que você fosse o gerente daqui... ― Renato estava envergonhado.

― Eu sou o gerente daqui. Eu cuido de tudo nesse estabelecimento, mas isso não quer dizer que eu apenas gerencie o lugar.

― Entendi... ― Ele dá um meio sorriso.

― Esclarecida a minha função nesse lugar, a inauguração do novo restaurante será daqui uma semana, e eu gostaria de saber se está interessado em trabalhar lá.

― Tem como você me explicar direitinho como funciona? ― Renato pergunta, interessado.

― Sim. ― Ele se levanta para pegar café em uma garrafa preta no canto de sua sala, e então se senta outra vez. ― Para começar, o local é maior, provavelmente duas vezes maior do que esse, ou seja, o trabalho será em dobro, assim como os funcionários. Ao invés da sala adjacente que temos aqui, usada para jantares de negócio e confraternizações íntimas, lá teremos um segundo andar exclusivamente para isso, e mais amplo.

― Entendi... Então eu desempenharei a mesma função?

― Não. Você será o encarregado dos garçons... ― Renato o interrompe.

― Como assim? ― Ele não estava acreditando.

― Você cuidará para que eles façam o serviço correto.

― Sim...

― Também será responsável por resolver quaisquer problemas que eles tenham durante o período de trabalho, sejam reclamações de clientes para com eles ou troca de horários, caso desejam.

― Eu continuarei a servir mesas?

― Se você quiser, sim, pode servir.

― Eu quero. Ocupa mais a minha cabeça.

― Isso quer dizer que aceitou minha proposta?

― Sim. ― Renato sorri.

― Ótimo. ― Ele diz, sério. ― Agora, sobre seu salário. Por você ser de confiança e realmente desempenhar sua função com decoro, lá, pelo fato de o seu trabalho ser maior, seu salário sofrerá aumento.

― Aumento? ― Parecia que Renato estava sonhando.

― Sim, seu salário será dobrado. ― Ele fala sem saber que isso deixou Renato extremamente chocado.

― Meu Deus... ― Renato não acreditava em um ser supremo, mas seu nome foi a única coisa que lhe passou pela cabeça no momento.

― Renato, você está bem? ― O homem pergunta ao notar o olhar perdido do jovem.

― Sim, eu... eu só estou surpreso. ― Renato sorri. ― Nunca esperava por essa oportunidade.

― Tudo bem. ― Ele se mantinha serio.

― Posso lhe fazer uma pergunta?

― Sim.

― Como agora serão dois restaurantes, você dividirá seu tempo entre esse e o outro?

― Infelizmente não há como fazer isso, e eu tentei. ― Ele para por um momento, respirando fundo. ― Eu coloquei meu irmão mais novo lá, por insistência da minha mãe. Eu nunca o colocaria em tal função se ela não tivesse enchido a minha paciência.

― Entendi.

― Isso me lembrou de lhe pedir outra coisa... ― Ele encara Renato. ― Quero que vigie o trabalho dele, que me conte caso algo dê errado. Ele sabe o que tem que fazer, eu já expliquei para ele, e mesmo acreditando que ele mudou, não confio extremamente nele.

― Por quê? ― Renato pergunta, sem esperar a resposta, e para sua surpresa, ela aparece.

― Drogas. Ele chegou a vender alguns móveis da casa da nossa mãe para pagar dívidas, e entre uma saída e outra da clínica, ele finalmente conseguiu ficar lá por um ano, e saiu há dois meses, alegando não usar mais.

― Nossa...

― Então é isso. O restante você deverá ter de se acostumar sozinho.

― Tudo bem... ― Renato sorria.

― Agora pode voltar ao seu posto, ainda continuará trabalhando aqui durante a espera.

― Tudo bem... ― Renato se levanta. ― Muito obrigado pela oportunidade.

― Só não faça com que eu me arrependa e está tudo certo.

― Pode deixar.

Quando Renato fecha a porta atrás de suas costas, um enorme sorriso se forma em seu rosto, sorriso que não o deixava por nada no mundo, nem mesmo a imagem de Leandro em sua mente, imagem que sorria, como se Renato imaginasse o contentamento do policial ao receber a noticia pela boca dele, e com esse lindo sorriso e dentes brancos, ele volta ao seu posto, deixando os outros funcionários sem pista alguma do que havia acontecido, e não seria Renato quem contaria.

Quando já era noite, ao fechar do restaurante, Renato, junto aos outros funcionários, começa a organizar as mesas e cadeiras, deixando tudo organizado para o dia posterior.

No momento em que o jovem se aproxima de uma mesa ao fundo do restaurante, ele para, momentaneamente, e a analisa. Ele não conseguia processar todas as imagens que chegavam em sua mente naquele momento, mas a certeza que ele tinha era de que Caled apareceu nelas, várias vezes, e Renato finalmente se lembra do ruivo e de seu sorriso, e ao se lembrar disso, recorda de seus últimos momentos. Renato conseguia ver a ponte, conseguiu recordar do que ele queria fazer, e assim como a sua vontade, se recorda de ter visto Caled ao seu lado, conversando com ele, tentando argumentar a respeito de algo, e a última coisa que vem em sua mente é seu corpo caindo e suas vistas ficarem escuras.

Ele havia feito, ele sabia que havia tentando se matar, e estava clara como água limpa para ele o que aconteceu. Renato conseguiu se ver sentado na ponte, conseguiu perceber a vista lá em baixo, e ao se lembrar da altura, soube que seria impossível resistir uma queda como aquela, a não ser que algo tenha lhe pegado lá em baixo, mas isso era confuso de mais, e mediante isso, Renato corre as pressas para o banheiro, derrubando dois pratos que estavam em suas mãos.

― O que está acontecendo comigo... ― Ele tremia ao se olhar no espelho. ― O que... ― Ele não se fazia uma pergunta, e sim, pedia respostas. ― O que eu estou fazendo... ― Ele tremia com suas mãos sobre a pia de cerâmica branca do pequeno banheiro.

Mesmo tentando repassar tudo na sua mente, Renato não conseguiu recordar tudo. Ele se lembrou de Caled, das mãos do homem eu seu peito nu, mas se esqueceu do que aconteceu após isso, e a única certeza que ele tinha era de seu desejo pela morte naquele momento, naquela noite fria, e nada mais, nada mais vinha a sua cabeça.

O jovem havia se esquecido da surra que levara do pai, de quando se levantou e caminhou até a ponte, e mais, havia se esquecido de Caled, e de suas mãos o empurrando para o precipício. Tudo era muito confuso, e enquanto não se lembrasse de tudo, o quebra cabeça não seria resolvido.

Depois de se acalmar, o rapaz finalmente sai do banheiro, voltando para a área de seu trabalho, e se deparando com o silêncio. Ao olhar para o relógio, percebe que já eram quase cinco da manhã, e no momento em que escuta alguém chamar seu nome, Renato quase tem um ataque.

― Eu não queria te assustar. ― Era Pedro, gerente e dono do restaurante.

― Eu estava distraído... ― Ele diz com as mãos no peito.

― O que está fazendo aqui?

― Eu perdi a noção do tempo... ― Ele diz.

― Você anda fazendo isso ultimamente. ― O homem fala, sério, deixando Renato envergonhado. ― Quer que eu te leve em casa?

― Não precisa, eu moro muito longe.

― Renato, você não pode ficar pela rua afora numa hora dessas, vai acabar sendo mais uma vítima. ― Ele agora estava preocupado.

― Vítima? ― Outro fato que não havia retornado a suas lembranças.

― Quando você sumiu três dias ficou trancado dentro do quarto com as cortinas fechadas? ― Ele não acreditava que Renato não sabia disso.

― Sim... ― Ele mente. ― O que aconteceu?

― Parece que tem um cara copiando os assassinatos de dois anos atrás... ― Ele tinha medo.

― Meu Deus... ― Renato volta a se lembrar de sua conversa com a investigadora, e quando absorve toda a conversa, percebe que os policiais estavam mentindo para a população, alegando que era outro assassino cometendo os crimes, sendo na verdade o mesmo, que não havia sido preso.

― Encontraram outro corpo na floresta há dois dias. Os policiais estão alertando as pessoas sobre o perigo.

― Eu não sabia... ― Renato mente, outra vez. Seria melhor ele não contar o que sabia no momento.

― Eu te levo em casa, é mais seguro.

― Sério, não precisa. ― Renato olha para o relógio pendurado na parede a sua frente, que marcava quase cinco da manhã. ― Meu ônibus sai em sete minutos.

― Tem certeza? ― Ele pergunta.

― Tenho. ― Renato confirma, dizendo a verdade. ― E nesse horário já tem gente no ponto, não precisa se preocupar.

― Tudo bem. ― Ele sorri pela primeira vez, e Renato sorri de volta. ― Pode ir para o ponto, eu acabo de fechar aqui.

― Tudo bem, obrigado, por tudo.

― Não há de que.

Renato corre até a área dos funcionários, pega sua mochila e sai do restaurante, e logo após colocar seus pés do lado de fora, sente um alivio ao ver que havia algumas pessoas na rua. Por temer a noticia que acabara de receber, ele acaba mudando sua rota, caminhando praticamente no meio da rua, onde havia luz, ao invés de caminhar todo a praça sozinho, no escuro, como sele sempre fazia por ser um atalho.

Quando chega no ponto, em cima da hora, Renato quase perde o ônibus, tento que gritar para o motorista esperar por ele, e no momento em que entra, a porta se fecha, o levanto para sua casa.

Sentado e com seus fones de ouvido, o jovem começa a pensar no quão estranho o dia de hoje foi. Acordar no meio da floresta, coberto por sujeira e sangue seco. Percorrer todo o caminho no meio do mato, machucando seus pés e não encontrando corte nenhum. Renato pensou também no fato de ter perdido três dias sem saber o que aconteceu, e por isso, acabou ligando o fato ao seu acordar na mata. Tudo parecia estranho de mais, muito confuso, e apesar de ainda não saber o que estava acontecendo, ele se sentia feliz por ter recebido uma nova oportunidade de emprego, e iria fazer valer a confiança que Pedro havia depositado nele. Renato estava preparado para fazer o seu melhor, e ele iria cumprir.

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Bem, eu sei que muitos de vocês estavam esperando uma simples história de um garoto triste que sofre nas mãos do pai e que segue sua vida em busca de um amor, de um bem maior a troco de abandonar sua vida sofrida, mas, infelizmente, para alguns, não é bem assim que as coisas funcionam em ‘A Vida & Morte De Renato’, e isso vocês irão entender no decorrer dos capítulos.

Sim, há elementos sobrenaturais nessa história, apesar de eu não achar que ‘Sobrenatural’ é a palavra correta para definir a história, muito menos ‘Ficção Científica’, então uso esses termos apenas para mostrar um pouco do que podem esperar pela frente, e eu não vou falar muito a respeito, apenas deixar vocês lerem a história e tirarem suas próprias conclusões.

Em minha opinião, não há necessidade de explicar tudo o que irá acontecer com o Renato, já que deixei pistas ao longo dos capítulos, principalmente no diálogo entre ele e Caled no restaurante, então, é só abrirem um pouco a mente e me dar a oportunidade de mostrar uma nova história, história que eu espero estarem gostando.

No mais é isso. Um beijão para vocês. Rsrsrs. E obrigado.

Comentários

Há 2 comentários.

Por diegocampos em 2016-03-08 12:37:02
Nossa gostei muito, o capítulo me tirou algumas dúvidas mas me deixou com outras kk, fiquei muito feliz de ver que o Renato está começando a mudar e começando a enfrentar seus medos. ansioso para o próximo.
Por Nando martinez em 2016-03-08 00:36:39
Foi meio confuso mas eu gostei muito na real ,três dias!?!?!?! Acordar muito cedo? O Renato deve ter algo no sangue so pode ,tipo anticorpos poderosos ou reestruturação celular impressionantemente rápido neh?