A Vida & Morte De Renato - Capítulo 07

Parte da série A Vida & Morte De Renato

Boa Tarde...

Então, hoje estou passando para postar mais um capítulo para vocês, e é partir desse capítulo de hoje que a história começa a se movimentar, e eu espero que possam entender os rumos que estou dando aos personagens e suas tramas.

Sei que muitos de vocês podem me crucificar pelo que eu vou fazer hoje, mas o que irá acontecer é necessário para a história se desenvolver. Sei que muitos podem achar que não dará mais certo a partir de hoje e que não há como acompanhar mais, mas eu posso afirmar que tudo correrá bem, e digo isso pelo fato de a história estar pronta, ou seja, o que quer que aconteça, fiz pensando no bem da história, então entendam, por favor.

No mais, espero que estejam todos bem e possam acompanhar até o final. No fim irei deixar o link do meu Wattpad para que possam aparecer por lá.

Um beijão.

― diegocampos: Vamos ver o que irá acontecer né. Rsrsrs. E por favor, entenda o que eu fiz com o capítulo de hoje. No mais, um beijão, e obrigado.

Fiquem agora com o capítulo sete, e saibam que desde o começo, antes de eu começar a escrever essa história, eu já sabia o inicio, o meio e o fim, então confiem no que eu fiz, por favor.

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Quando seu celular despertou, ao meio dia em ponto, Renato abriu os olhos e sorriu, sorriu por se lembrar do que havia acontecido há cerca de seis horas, nesse mesmo quarto. Sorriu por acreditar no amor, por acreditar, depois de anos, que era capaz de ser amado. Sorriu, pois passou a entender que era digno do amor de alguém, e com esse pensamento pretendia passar todo o seu dia.

Como ele teria que pegar serviço as três da tarde, Renato ainda tinha tempo para comer algo, então desceu até a cozinha e começou a fuçar os armários, e depois de procurar muito, só encontrou meio pacote de macarrão palito e uma lata de atum picante dentro do prazo de validade.

Enquanto o macarrão cozinhava, o rapaz agradecia por estar sozinho naquela casa, por estar tranquilo e por não ter tido o desprazer de passar por um estresse logo pela manhã. Por não ter que dar de cara com seu pai nas primeiras horas do dia, e quando a manhã começa bem assim é sinal de que tudo daria certo.

Depois de ter comido seu macarrão, Renato lavou as vasilhas que estavam na pia, as secou e as guardou no armário, subindo correndo para o banheiro e tomando um demorado banho, coisa que raramente podia fazer.

Depois de fechar toda a casa, o rapaz se encaminha para o ponto de ônibus, se sentando ao lado de sua vizinha, que assim como as outras, mal faz questão de cumprimentá-lo, e ainda o olhou com desgosto. Ele então deixa a mulher pra lá e pega seus fones de ouvido, já conectados ao seu mp4 e seleciona sua playlist. A primeira música que começa a ecoar em seus ouvidos é ‘Good To Love’ de uma cantora chamada FKA twigs, e apreciando a melodia incrível, Renato se deixa levar e só desliga seu pequeno aparelho quando desce na porta do restaurante.

Assim que passa pela porta, Renato vê Pedro, seu gerente, saindo, e por incrível que pareça, recebeu um sorriso do homem, o qual o retribuiu, verdadeiramente. O rapaz vai então ao provador e coloca seu uniforme, guardando sua mochila nos armários ali perto, na área dos funcionários. Quando ele volta, vai para a cozinha ajudar as mulheres que trabalham lá dentro.

― Quem era aquele que estava com você ontem? ― Um dos funcionários pergunta Renato ao entrar e ficar perto das cozinheiras.

― Um amigo. ― Renato mantem sua resposta curta enquanto lava as vasilhas.

― Amigo é? ― E os risinhos começam. ― Tem certeza que é um amigo mesmo? ― Ele pergunta outra vez.

― Sim... ― Renato já se encontrava nervoso com a situação, com medo de alguém ter visto ou percebido alguma coisa.

― Fiquei sabendo que o moço bem apessoado pegou ao Pedro por sua companhia ontem... ― As mulheres começam rir. ― Depois nós que somos as putas.

― Não é nada disso... ― Renato acaba se descuidando e quebra um dos copos, quase cortando a mão.

― Foram pra onde depois hein Renatinho? ― Outro garçom entra no local. ― A gente viu você entrando no carro dele...

― Vimos sim, logo após você passar quase uma hora com a cabecinha no colo do ruivo gostoso. ― Outra mulher começa a gargalhar.

― Eu já acabei de ajudar, me dá licença... ― Renato se retira, com os olhos molhados.

Sempre foi assim. Desde quando entrou as piadinhas com seu nome começaram, mas antes eram apenas banais, sem sentindo, até porque, Renato nunca havia dado motivo para desconfiarem de sua sexualidade, não até ontem, onde praticamente escreveu uma carta revelação para todos. Ele poderia muito bem procurar outro emprego, mas pela falta de cursos no currículo e pela falta de experiência no mercado, era impossível conseguir algo naquela cidade, então ele ficaria ali até juntar dinheiro, coisa que ele fazia há anos, sem olhar para trás.

Os risinhos para com Renato persistiram a tarde toda, até quando Pedro não se encontrava no lugar, mas no momento em que ele cruzou a porta, todos se tornaram sérios, e Renato agradeceu por isso ter finalmente parado.

Por volta das nove e meia da noite, em meio ao um atendimento ou outro, a porta do restaurante é aberta, e dois policiais estaduais entram, trajando suas roupas escuras e suas jaquetas, ambos portando armas. O jovem os escuta perguntar a um dos garçons onde era a sala do gerente, e depois de informados, seguem para lá.

Depois do breve devaneio tentando desvendar o que eles faziam ali, Pedro, o gerente do restaurante, chama Renato, que se aproxima a passos lentos, como sempre andava.

― Posso ajudar?

― Pode Renato, pode me ajudar me explicando o porquê de dois policiais entrarem em meu restaurante exigindo sua liberação para que possam lhe encaminhar para a delegacia.

― O que? ― Renato não acreditou que ouviu aquilo.

― Acredite, pois está acontecendo.

Num súbito momento, Renato se perde em pensamentos, tentando analisar o que acontecia a sua volta, tentando decifrar o que acabaram de lhe contar, mas ele não conseguiu surgir com teoria alguma a respeito disso, e pensar no que poderia ter acontecido só o deixou ainda mais nervoso e apreensivo.

― Renato Oliveira Martins, queira nos acompanhar até a delegacia, por favor. ― A policial feminina soa amigável, mas isso não diminuiu o nervosismo do rapaz.

― Por quê? ― Renato diz ao começar a caminhar para fora do restaurante, na frente dos dois policiais.

― Conversamos quando chegarmos lá. ― Diz o policial homem.

Quando entra no carro dos policiais, seu mundo se fecha. Seus poros começam a liberar suor. Seu nervosismo aumenta graficamente quando Renato finalmente se convence de que aquilo realmente estava acontecendo, e mesmo se dando conta disso, o motivo para tal coisa ainda não havia entrado em sua cabeça. Ele não fazia ideia do que se tratava, mas sabia, ele conseguia sentir, que não ia gostar de saber.

Passados alguns minutos dentro do carro, Renato escuta a porta sendo aberta ao seu lado, mas seu corpo não conseguia se mover, ele não era capaz de mexer um músculo sequer, então acabou sendo cutucado pela policial, que sacudiu seu torso a troco de atenção.

― Desce do carro. ― Ela diz, e assim Renato o faz.

Se ele entrou quatro vezes nessa delegacia foi muito, e três deles provavelmente se encontrava cheia de gente, então ele não se lembrava muito como se mover ou onde ir, então apenas andou entre os dois policiais que estavam ao seu lado, mas seus passos falham quando nota seu pai, sentado em um banco, de cara fechada e com uma expressão de puro ódio no rosto, e foi ali, naquele momento, que Renato soube que a situação era pior do que ele pensava, e que independente do que acontecer ali hoje, a culpa iria cair sobre ele.

Depois de passar alguns minutos sentado, esperando a resposta dos dois policiais que o trouxeram, seu nome é chamado por uma mulher de cabelos curtos e pele negra. Ela trajava um terno feminino na cor cinza e aparentava ter seus quarenta anos.

― Senhor Renato, pode me acompanhar até a sala de interrogatório, por favor? ― Ela diz encarando o rapaz, que parecia afoito e amedrontado.

― Tudo bem... ― Foram as únicas palavras que saíram de sua boca.

Renato se levanta, com as pernas tremendo, e começa a caminhar. Era como se houvesse esquecido de como se anda, como se não se lembrasse mais, e a medida que seus passos se aproximavam da elegante mulher a sua frente, mais certeza ele tinha que tudo daria errado. Ele não sabia o que, mas sua vida não seria mais a mesma, ele conseguia sentir isso no fundo do seu peito.

Quando param de frente a uma porta escura, a mulher, provavelmente uma investigadora, o olha, o analisando, e então o manda entrar. Trocando as pernas, o rapaz entra, e com a permissão da bela mulher negra, se senta na cadeira de metal, colocando suas mãos pesadas sobre a mesa.

― Renato... ― Ele pronuncia o nome do rapaz ao se sentar. ― Não sou de fazer rodeios, então vou logo ao que interessa... ― Ela abre uma pasta, a olha por um tempo e volta a encarar Renato. ― Estamos aqui para falar sobre Leandro Moura de Ferreira. ― O nome faz um alarme ecoar gritantemente nos ouvidos de Renato.

― Leandro... ― Era como se ele tentasse se lembrar de quem era, porque naquele momento, tudo havia escapado de sua mente, o deixando inerte a tudo.

― O corpo dele foi encontrado na floresta no final da madrugada do dia de hoje, e segundo uma testemunha, ele foi visto pela última vez entrando pela janela do seu quarto. ― Ela finalmente deixa os papeis de lado e olha para Renato, que havia se perdido por completo.

― Eu... ― Renato nem ao menos sabia como respirar, e seu pavor era extremamente visível.

― Eu gostaria de saber de seu envolvimento com ele e o que ele estava fazendo em seu quarto por volta das cinco da manhã, pois até exato momento, você é considerado suspeito pelo seu assassinato.

― Assassinato? ― Renato finalmente olha para a mulher, ainda não acreditando em tudo aquilo, ainda não deixando sua mente navegar por todas as informações.

― Renato, eu não tenho todo o tempo do mundo, então eu gostaria que me informasse o motivo de Leandro ter invadido seu quarto tão tarde da noite. ― Ela cruza os braços e encara o jovem acuado e extremamente pálido em sua frente.

― Ele não... ― O nó em sua garganta estava o impossibilitava de falar. ― Isso é coisa do meu pai não é? É uma brincadeira... ― Renato tentava se fixar na ideia de que aquilo era mentira, apenas uma peça de mau gosto pregada no pobre garoto ingênuo e indefeso.

― Eu não tenho tempo para brincadeiras Renato. ― Ela simplesmente joga um monte de fotos sobre a mesa, perto das mãos de Renato, que sem desejar, olha para as imagens, se deparando com algo extremamente gráfico e violento. ― Isso foi o que aconteceu com o jovem e promissor policial Leandro, e eu gostaria de saber o que ele foi fazer em seu quarto tarde da noite! ― Ela grita e bate na mesa.

O jovem não sabia como se comportar naquele exato momento. Na verdade, Renato nem sabia se conseguia ou não ver as imagens abaixo de seus olhos. Sua mente ainda não havia liberado sua consciência, ele ainda não via com clareza nada a sua frente, e isso o impossibilitava de enxergar um palmo de seu nariz, mas infelizmente isso não foi por muito tempo.

Um súbito desespero começa a tomar parte de seu corpo. Ele tentava com todas as suas forças não desmoronar dentro daquela sala, frente aquela mulher tão imponente, mas diante de tais imagens, era impossível realizar tal bravura.

Renato não sabia o que olhava, não conseguia distinguir, decifrar o que estava vendo. Havia sangue de mais, era deveras visceral.

Prestando atenção em tudo o que via ali, a única coisa que lhe chamou atenção foi o rosto de um jovem e belo homem negro de aparentes vinte e cinco anos, rosto completamente sem vida, coberto por sangue e sujeira. Rosto aquele que antes brilhara muito, mas que agora, através daquelas fotos, não passava de um rosto qualquer, um rosto de uma pessoa sem vida.

― Leandro... ― Renato não conseguia dizer nada. O choque que havia tomado não o deixava se comunicar.

― Eu estou fazendo o meu trabalho, e eu espero que coopere comigo! ― Ela grita outra vez, fazendo com que o jovem se assuste. ― O que ele estava fazendo no seu quarto no final da madrugada? ― Ela pergunta, outra vez.

― Ele não... ― Renato, levado pelo medo e receio, acabou entrando em uma espécie de pânico interno. ― O Leandro, ele não... ele não foi... ele... o Leandro... ― Renato entrou em choque, não sabia como prosseguir guardando tudo aquilo dentro de seu peito. ― Ele... ― Suas mãos começam a tremer sobre a mesa, provocando uma espécie de barulho devido ao atrito de sua pele com o metal gelado.

― Se continuar com a enrolação, te colocarei atrás das grades e será julgado pela morte do policial. É isso o que você quer?

― Eu... ― Renato não conseguia tirar os olhos das foto, principalmente aquela que focava no rosto de seu amante. Ele queria não ver mais aquilo, mas não conseguia.

― Então comece se explicando!

― Eu não posso... ― A primeira lágrima de Renato aparece, e logo após ela, várias insistem em sair, mas o choro, até o momento, era silencioso. Renato estava em choque de mais para conseguir chorar.

― Você não pode? Olha para a situação em que você se encontra! Está prestes a ser condenado por assassinato! Você é o único suspeito até exato momento, então lhe dou duas opções: Ou você começa a falar, ou chamarei os policiais para fazerem sua ficha e lhe enfiarem dentro de uma cela, na qual ficará para o resto de sua vida!

As lagrimas chegam com ainda mais abundancia. As mesmas lágrimas não paravam mais de cair, e aquele choro que fora silencioso, agora aumentava de intensidade, e Renato não conseguia mais se controlar. Suas mãos tremiam sobre a mesa, sobre as fotos debaixo de seus braços. Sua garganta estava travada, e ele mal podia respirar. Era como se seu corpo fosse domado por uma febre sem fim e sem motivo. Era como se seu estômago tivesse sido amarrado em um nó cego, incapaz de ser desfeito. Ele sentia vontade de vomitar, de chorar, de se debater e de matar naquele momento, e tudo foi de mais para ele, porque naquela hora Renato simplesmente caiu da cadeira e foi ao chão, sem uma palavra dizer.

Ele não estava desmaiado, aparentava apenas estar sem vida, sem motivação alguma. Assustada, a investigadora abre a porta e chama alguém lá fora, e essa pessoa, a policial que levou Renato até ali, entra, indo em direção ao garoto e começando uma espécie de massagem cardíaca, mas Renato não havia sofrido de infarto, ele apenas havia apagado, com seus olhos abertos.

Dez minutos depois, após Renato ser submetido a uma injeção de adrenalina, ele havia acordado, e mesmo naquele estado deplorável, ainda estava dentro daquela mesma sala, só que sentado no canto do pequeno cômodo, com as pernas próximas ao peito e os olhos encarando o vazio, olhos sem vida, que pareciam não brilhar mais.

Quando a mulher dentro daquela mesma sala o observou por tempo de mais, resolveu colocar os fatos de sua cabeça em ordem. Diante daquilo que havia acontecido, ela percebeu que tinha uma história por trás daquilo tudo, porque nenhuma pessoa passaria por todos aqueles estágios de luto se não tivesse uma ligação emocional com a vítima, e então ela resolve agir. A primeira coisa que ela faz foi desligar o gravador sobre a mesa, e em seguida a câmera, que filmava o interrogatório desde o começo. Ela então se levanta, se ajoelhando frente ao garoto, que nem sequer a notou ali.

― Renato. ― Ela o chama, com calma. ― Acorda. Você precisa se levantar. ― Ela estala os dedos frente ao rosto dele, e por fim, depois de várias tentativas, Renato acorda, mesmo estando de olhos abertos desde o começo. ― Se levante. ― Ela o ajuda, e então o encaminha até a mesa. ― Quer me contar o que está acontecendo?

― Eu não posso... ― Renato tinha dificuldades para respirar e manter contato visual com alguém.

― Por quê? ― Ela pergunta, agora com a voz mais suave.

― Eu não posso, por favor, não me obrigue... ― Ele volta a chorar, e apesar de estar calmo, o jovem estava completamente destruído por dentro. Ele finalmente havia aceitado o que tinha acontecido, e isso acabou com tudo o que ele tinha na vida.

― Renato... ― Ela olha dentro dos olhos mel e sem vida do rapaz, que a encara. ― A câmera está desligada, assim como o gravador. Eu sou a responsável pela investigação, posso fazer o que eu bem entender, assim como guardar um segredo pessoal.

― Por favor, não... ― Renato suplicava. ― Me deixa ir embora... ― A angústia em seu peito só aumentava. Era como se seu coração estivesse sendo esmago aos poucos, e a cada segundo que passava, a situação piorava. ― Por favor, me deixa ir embora, eu preciso ir embora... ― Ele chora ainda mais, e o aperto no peito soava como um princípio de infarto, ele sentia isso, porque doía de mais. Sua garganta fechava quase o impossibilitava de respirar.

― Renato, se acalme. Eu só preciso que ilumine o caminho que estou trilhando, preciso da sua ajuda.

― Eu não posso te ajudar, não sei de nada... ― Ele temia que Leandro, após morto, tivesse seu nome sujo e passasse a ser mal falado por todos os cantos desse lugar imundo, e se isso acontecesse, ele nunca iria se perdoar.

― Você sabe sim, está estampado em seu olhar. Eu só preciso que me conte do seu envolvimento com ele, apenas isso.

― Eu... Eu apenas o conheço. Ele é colega de serviço do meu pai... Só isso. ― Seu peito doía a cada palavra de negação que ele pronunciava. Seu coração se partia em ainda mais pedaços quando ele fingia não amar Leandro com toda a sua vida. Seu coração se destruía mais e mais quando ele negava que daria a própria vida para o único homem que o amou.

― Não Renato, ele não é só isso... ― Ela encara o jovem. ― Sou bem graduada, eu estudei muito para ocupar esse posto em que me encontro hoje, ou seja, eu aprendi e vi coisas que me fizeram aprender sobre o ser humano, e sabendo tudo isso, sei que se você apenas o conhecesse não passaria por todos esses estágios de luto aqui dentro, comigo, presenciando tudo. Então eu te peço, por favor, que me ajude a te eliminar como suspeito.

― Suspeito? ― Ele finalmente começa a recuperar a total consciência, nem ao menos se lembrando da conversa inicial que tiveram.

― Sim, porque até o momento, você é o único suspeito. Uma vizinha viu o policial entrando por uma janela no final da madrugada, e mais cedo, um dos policiais, junto com ela, identificaram a janela como sendo a de seu quarto.

― Eu não posso... ― Era como se seu peito fosse explodir naquele momento.

― Você realmente quer ser condenado por algo que não fez, algo que seria incapaz de fazer? ― Ela já havia juntado as peças.

― Não... ― Renato olha para ela.

― Porque eu sei que você seria incapaz de machucar o Leandro, estou certa?

― Sim... ― Renato abaixa a cabeça, voltando a chorar.

― Eu sei que você seria incapaz de fazer algo contra ele, de deixá-lo naquele estado em que ele foi encontrado. Você nunca faria isso, ou estou errada?

― Você está certa... ― O jovem já havia molhado a mesa abaixo de seu rosto com suas lágrimas.

― E tudo isso porque você o amava... ― Renato a interrompe, finalmente confessando tudo.

― Sim. ― Ele sentia vergonha naquele momento. ― Você está certa, eu nunca seria capaz de fazer isso com ele... ― Mesmo sem olhar para as fotos, Renato ainda sentia a presença delas sob seu braço, e percebendo que as imagens o incomodavam, a investigadora as recolhe.

― Agora eu preciso que me conte o que ele foi fazer no seu quarto tão tarde.

― Ele sempre fez isso, quer dizer, entrar pela minha janela no meio da noite. Ele... ― Renato volta a chorar outra vez. ― Ele sempre me surpreendia... ― Seus lábios tremiam a medida que as lágrimas desciam por seu rosto e iam até eles.

― E qual o tipo de relacionamento que vocês tinham? ― Ela pergunta, não anotando nada, apenas prestando atenção.

― Não tínhamos um relacionamento, a gente só... ― Ele começa a secar suas lágrimas em abundância. ― A gente só... ― Ele não sabia o tipo de relacionamento que tinham, nunca haviam definido nada, apenas se amavam e se deixavam amar ou ao outro.

― Você sabia da existência da esposa de Leandro? Sabia que ele era casado e tinha um filho?

― Sim... Mas eu o conheci antes do filho dele nascer, há uns oito meses, em uma festa... ― Todas as lembranças da festa voltam a sua mente, e isso piora ainda mais sua situação.

― E mesmo sabendo que ele era casado, resolveu se deixar envolver...

― Eu... ― Renato volta a sentir aquela angustia dilacerante que lhe destruía de dentro pra fora. ― Ninguém, em toda a minha vida de merda, havia se interessado por mim, ninguém. Eu me sentia um lixo, um nojo, o pior ser humano que já pisou na terra. Tinha dias que eu pensava em me jogar de uma ponte e acabar com minha vida... ― Suas lágrimas voltam com força total, o desestabilizando por completo. ― Nunca tive amigos, meu pai é um merda, minha vida é uma desgraça, então quando ele olhou pra mim, quando ele sorriu pra mim e finalmente me beijou pela primeira vez, eu não pensei em mais nada! ― Renato se desespera outra vez, não conseguindo se conter. ― Eu não pensei na esposa dele, no filho que estava prestes a chegar. Eu não pensei nas consequências, no que o meu pai homofóbico poderia fazer comigo e com ele caso descobrisse, eu não pensei em nada, eu apenas aceitei tudo. Eu não me importei com a outra vida que ele tinha, eu só queria me sentir desejado pela primeira vez em toda a minha vida, eu queria me sentir amado, e até ontem, eu me sentia assim, mas agora tudo acabou, tudo! ― Renato não conseguia mais parar de chorar.

― Renato, se acalme... ― Ela parecia preocupada.

― Agora eu não tenho mais ninguém nesse mundo... Ele me deixou aqui sozinho. Ele me prometeu que a gente ia ficar junto pra sempre, que tudo seria melhor daqui pra frente, mas ele não cumpriu, ele não conseguiu cumprir...

― Ele não teve culpa do que aconteceu.

― Eu sei! ― Seu grito soou mais como desespero a que raiva.

― Se acalme...

― Eu não consigo! O único homem que me amou, o único homem que se importou comigo em toda a minha vida morreu! Eu não consigo ficar calmo! Eu não consigo! ― Seus gritos ecoavam profundamente no peito da mulher, que mesmo sendo profissional, ficou abalada. ― Eu perdi o amor da minha vida, ele se foi, pra sempre... ― Renato não conseguia mais parar de chorar. ― Ele nunca mais vai voltar pra mim. Ele nunca mais vai entrar pela janela do meu quarto, com aquele sorriso lindo, dizendo que sentiu a minha falta... ― Seu desespero mexia com a investigadora, que estava surpresa com tudo. ― E agora o que vai ser? O que vai acontecer? Era ele que me mantinha vivo, eu não tenho mais o porque ficar aqui...

― Não diga isso...

― Você não sabe por tudo o que eu passei, desde novo. Você não tem o direito de se intrometer em meus pensamentos, em minhas escolhas, eu... ― Ele para um momento, para tomar fôlego. ― Você sabia que foi ele quem me salvou? Uma semana antes de o conhecer, de me envolver com ele, eu penava em acabar com tudo. Eu não aguentava mais a situação monstruosa lá em casa, eu não aguentava as piadinhas no meu trabalho. Eu não conseguia suportar olhar para as desgraças dessa cidade que insistiam em olhar pra mim com desgosto! Ele que me deu sentido a vida outra vez, foi por causa dele, e agora ele não está aqui... ― Seu desespero era avassalador.

A investigadora observava tudo aquilo, ouvia todas aquelas palavras com extrema atenção. Parte de sua mente estava preocupada com o jovem a sua frente, mas a outra metade tinha que se focar no caso, ela devia se ater a tudo o que havia acontecido e seguir com as investigações.

― Ele te disse alguma coisa antes de sair? ― Ela resolve seguir com seu trabalho

― Não, ele... A única coisa que ele disse antes de sair foi que me amava... ― Renato diz, com a voz embargada. ― A única coisa que ele disse foi que me amava e se desculpou por não ter dito antes... ― Ele mal conseguia secar suas lágrimas. ― Ele demorou muito para dizer o que sentia por mim, e eu achei que ele nunca ia falar, mas ele disse... ― Seu choro era triste de mais. ― Ele disse que me amava e morreu, e ele não podia morrer e me deixar sozinho, ele não podia... ― Renato não sabia o que fazer. ― Eu queria ter ido no lugar dele, eu poderia ter ido... Agora eu não tenho ninguém porque ele se foi, a única pessoa que me amou nesse mundo se foi, e me deixou sozinho, sem saber o que fazer... ― O nó em sua garganta aumenta ainda mais.

― Tem certeza que ele não te disse nada de importante? Tente se lembrar. Deve ter algo que valha a pena ser mencionado. ― Mesmo se preocupando, ela ignora o desabafo do jovem

― Ele não disse... ― Renato para por um momento, secando a suas lágrimas e se recuperando, e então se lembra do aviso que recebeu de Leandro quando ainda estava no restaurante. ― Um corpo que foi encontrado na floresta...

― Que corpo? ― Ela parecia não saber de nada.

― Ele me disse que um corpo foi encontrado na floresta noite passada.

― Isso não consta no sistema aqui da delegacia.

― Ele me contou que estava proibido de comentar a respeito... ― Renato resolve abrir o jogo com ela. ― Leandro me falou que suspeitava que o assassino havia voltado, que o homem preso há dois anos não era o culpado.

― Você está falando do caso do assassinato em série aqui da cidade?

― Sim. ― Renato abaixa a cabeça.

― Me conta essa história direito Renato. ― Ela presta bastante atenção.

― Eu não sei muita coisa, apenas o que ele me disse... ― Sua voz era extremamente melancólica. ― Pelo que parece, Leandro e outros policiais encontraram um corpo na floresta, e quando todos os outros policiais falaram que era um simples assassinato, o Leandro observou tudo, se viu atento aos detalhes, e com isso, acabou se recordando de tudo o que havia estudado sobre os assassinatos quando ainda se formava. Ele então constatou que poderia ser o mesmo autor dos crimes anteriores.

― Isso quer dizer que ele está a solta...

― Sim e não... Eu não sei se o Leandro estava certo, ele não me contou mais nada depois, apenas que havia estudado o caso e tinha certeza de que era o mesmo assassino, mas as pessoas se enganam...

― Você não acredita nisso. ― Ela olha pra Renato, que abaixa a cabeça.

― Não, eu acho que ele estava certo. O Leandro é muito inteligente... ― Renato para ao perceber que usou o verbo de ligação de forma errada, e entorpece outra vez. ― Ele era inteligente. Ele foi o policial que fez a pontuação mais alta durante os testes antes de se formar. Eu acredito nele...

― Era só o que me faltava. ― A mulher passa a analisar as fotos do corpo de Leandro outra vez, e ao perceber que o corpo fora juntado, ela se assusta. ― Os membros foram amputados e colocados juntos outra vez... ― Ela fala para si mesma analisando as imagens. ― O assassino amputava os membros de suas vítimas depois de mata-los, e assim que os levava para a floresta, montava o corpo novamente. ― Ela olha para Renato, que estava com os ouvidos tampados, balançando a cabeça. ― Desculpa.

― Eu não quero ouvir isso, por favor... ― Ele suplica, em prantos.

― É o mesmo modo de operação, o mesmo esquema. Talvez Leandro esteja certo, e por isso acabou sendo pego pelo assassino. Que merda! ― Ela joga os papeis sobre a mesa. ― Mais alguém sabe disso?

― Não sei, acho que apenas eu... ― Renato diz, com a voz baixa e sem vida.

― Não comente com ninguém, fui clara?

― Sim.

― Vou investigar essa história direito. ― Ela se levanta da mesa. ― Pode se retirar, você foi de muita ajuda.

― Tudo bem...

Com as pernas bambas e em estado de choque, Renato se levanta, caminhando lentamente até a porta, a abrindo com dificuldade devido ao tremor de suas mãos. Quando ele sai da sala, várias pessoas o encaram, inclusive sua vizinha, que havia acabado de sair de uma das salas, comprovando que foi ela quem o denunciou pela policia. Assim que ela se aproxima do jovem, o rapaz treme.

― Eu sei que vocês tinham um caso, eu o via entrando na sua janela todos os dias, e por isso vocês vão queimar no inferno. Espero que a esposa dele descubra e te dê uma lição. Sodomita! ― Ela grita em seu ouvido, apenas para ele escutar.

Renato passa a tremer outra vez, e seu corpo parece entrar em choque. Ele olhava para os lados, procurando uma saída, mas não encontrava nenhuma.

Depois dos segundos perdidos em seu pensamento, ele é escoltado para fora pelo policial que havia o trazido até aqui, e assim que coloca os pés fora da delegacia, seu mundo desaparece. Renato não sabia o que fazer naquele momento, não sabia como processar tudo, não sabia como proceder diante das coisas que aconteceram em tão pouco espaço de tempo.

O jovem se via desamparado, desesperado e amedrontado diante daquela madrugada fria, estranha e solitária, e tudo o que ele fez naquele momento, tudo o que ele conseguiu fazer naquele minuto foi mover suas pernas, sem destino, sem saber para onde ir, e sem se importar com o que acontecerei, seja com os outros a sua volta ou até mesmo com sua própria vida.

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Comentários

Há 2 comentários.

Por Nando martinez em 2016-02-29 22:43:30
Que peninha para o Renatinho eu gostava do caso com o Leandro mas tudo bem acontece ,eu queria dar um tapa no Renato quando ele estava se bobiando kkkkk mas tudo bem agora que a historia fica interessante n acha?
Por diegocampos em 2016-02-29 22:03:10
Matheus eu devia te matar kkkkk, cara que triste eu gostava tanto do Leandro e do Renato. Apesar disso espero que com a morte de Leandro o Renato mude um pouco e consiga ter mais coragem estou ansioso para o próximo.