Circunstâncias - 1

Parte da série Circunstâncias

Como é ruim esconder quem somos. Fiz isso por muitos anos para não machucar os outros, mas quem mais se machucava era eu mesmo. Quando completei 18 anos contei aos meus pais sobre minha opção, é claro que não aceitaram muito bem. Meu pai nunca mais falou comigo, por um lado não era muito diferente de antes, ele sempre foi um pai muito distante. Minha mãe ficou triste, mas acabou aceitando, ela sim era quem me importava. O clima em casa ficou pesado depois da minha revelação, não estava mais suportando as indiretas do pai.

Meu grande sonho era estudar na capital, na minha cidade até tinha uma faculdade, mas eu queria o agito da cidade grande. Então foi o que fiz, mudei para Curitiba com a ajuda da minha mãe. Ela cuidou de tudo, alugou um apartamento, comprou um carro e mandava dinheiro todo mês para me sustentar. Ainda bem que quem tinha dinheiro era ela, pois se dependesse do meu pai eu não teria nenhum centavo.

Cheguei em outubro, bem antes dos principais vestibulares. Sempre fui muito estudioso, tirava boas notas e tinha um bom comportamento, então estava confiante que conseguiria uma vaga para o curso de Arquitetura. Nas primeiras semanas não conheci ninguém, nem saía de casa, ficava o dia inteiro estudando. Prestei vestibular para três instituições, duas privadas e a Federal. Quando o resultado saiu e vi meu nome na lista dos aprovados da Federal foi o dia mais feliz da minha vida. Finalmente uma coisa boa, pois ultimamente nada dava certo.

O tempo foi passando e tudo parecia estar no seu devido lugar, estava amando o curso. Nunca havia me relacionado com ninguém, era muito inseguro e tímido para tentar algo. Sentia uma solidão muito grande, só não era maior por causa dos meus amigos. Eles eram fantásticos. A Bianca era uma garota linda, tinha cabelos longos e pretos, um corpo escultural de dar inveja e uma alegria que não cabia nela. O Eduardo era cara alto, de olhos castanhos, corpo sarado e uma simpatia que era equivalente a sua beleza. Agora que percebi que não me apresentei, meu nome é Benjamin, tenho 19 anos, sou branco, alto, meu corpo é bem básico, nem gordo e nem esquelético, tenho olhos castanhos e meu cabelo também é castanho. Nossa amizade nasceu de forma muita instantânea, éramos inseparáveis. Eles sabiam da minha opção desde o início, preferi não esconder deles. Os dois sempre respeitaram o fato de não falar sobre relacionamentos, mesmo por que eu nunca tive um.

Um dia Edu, Bia e eu estávamos lanchando no restaurante do campus.

Bia – Não aguento mais estudar. Minha cabeça dói, meu corpo dói, tudo dói.

Eu – Do jeito que você fala parece que quebrou pedra o dia inteiro.

Edu – A Bia é mais dramática que a Maria do Bairro.

Caímos na gargalhada.

Bia – É sério gente, preciso viajar.

Eu – Pra falar verdade eu também iria adorar fazer uma viagem.

Edu – As férias já estão chegando. O que vocês acham de viajarmos juntos?

Eu – Ótima ideia.

Bia – Também adorei, mas pra onde?

Eu – Sempre tive vontade de fazer um cruzeiro. O que vocês acham?

Edu – Eu topo.

Bianca – Ai ir para o mar?

Eu – Bia você não tem opção, você vai e ponto.

Bia – Nossa, tá bom eu vou.

Estava combinado, iriamos fazer um cruzeiro. O Edu ficou de ver os preços para nós com uma tia que tinha uma agência de viagens. Eu estava ansioso, sentia que esta viagem me faria muito bem.

As aulas terminaram, as festas de final de ano passaram e finalmente o dia da nossa viagem chegou. Fomos para Santos, pois o navio partiria de lá. Passaríamos sete dias em alto mar com paradas pelo litoral brasileiro. Saímos de Curitiba na quinta à noite e embarcaríamos no sábado, aproveitamos a sexta para conhecer Santos. Embarcamos no sábado por volta das 10 horas da manhã. O navio era simplesmente maravilhoso, super luxuoso. A Bia que antes não tinha gostado da ideia do cruzeiro, era a mais entusiasmada. Edu e eu estávamos nos divertindo muito.

Bia – Gente, o que vocês acham de irmos à balada hoje à noite?

Edu – Tô dentro! Faz tempo que não curto uma baladinha.

Eu – Ah não sei, não sou muito fã de balada.

Edu – Vamos Ben, vai ser legal, vamos aproveitar.

Bia – É mesmo, vamos Ben, vai ser legal.

Eles ficaram algum tempo tentando me convencer. Eu realmente não gostava de baladas, já fui a algumas, mas nunca me senti a vontade.

Eu – Tá...eu vou, mas se vocês me deixarem sozinho eu não saiu mais.

Edu – Fechado, vou ficar coladinho em você.

Edu dizia enquanto me abraçava por trás. Ele tinha essas brincadeiras de ficar me agarrando, mas nunca passou de brincadeira.

Eu – Me solta Edu.

Bia – Vão procurar uma cama vocês dois.

Caímos na gargalhada.

Estava tudo combinado, iriamos na balada do navio apesar de eu ir meio contrariado. No restante do dia ficamos passeando e conhecendo o navio, queríamos aproveitar ao máximo.

A noite chega e cada um vai para sua cabine se arrumar. O navio tinha uma casa noturna bem bacana e chique por sinal, se bem que tudo aqui era puro luxo. Vesti-me bem básico, lógico que com bom gosto. A Bia estava linda, ela não precisa fazer esforço para isso. O Edu era gato de qualquer jeito. Quando chegamos à balada, o lugar estava lotado. Pegamos uma mesinha e ficamos conversando por um tempo até que percebo que a Bia olhava para alguém.

Eu – Quem você está olhando?

Bia – Ben, tem um gatinho que não para de me olhar.

Eu – Ai Bia vocês prometeram não me deixar sozinho.

Bia - Oh amigo eu sei disso, mas é que faz tanto tempo que eu não beijo na boca. Tô quase virgem de novo.

Edu – Eu não entendo como uma gata como você está sozinha.

Bia – Pra você vê meu querido, as coisas não estão fáceis pra ninguém.

Eu – Ai tá, vai logo lá com ele, mas depois você vai ter que me recompensar.

Bia – Com juros, beijo te amo amigo.

Ela deu um beijo no Edu e saiu em disparada atrás do carinha. Edu e eu conversávamos quando vou buscar mais bebidas no bar. Peço ao barman as bebidas e quando me viro, vejo que tem uma garota sentada na mesa conversando com o Edu. Fiquei um pouco chateado, pois eles prometeram não me deixar sozinho e foi exatamente o que fizeram.

Voltei para o bar para beber, afinal não tinha mais mesa. De repente recebo uma mensagem de texto, era o Edu.

“Oh desculpa ae...a gata apareceu do nada, juro que depois eu te recompenso...se sabe que você é o meu favorito né!...bjos”

O Edu sempre foi muito carinhoso comigo, mas nada amoroso, era amizade mesmo. Eu respondi:

“É vocês dois vão ter que me recompensar bastante...aproveita...você também é o meu favorito...rsrsrsr...bjos”

Eu já estava conformado que minha noite seria na companhia da solidão, a timidez me impedia de chegar em alguém. Enquanto tomava minha bebida, sinto alguém sentar ao meu lado. Continuei com a minha bebida, pensei que fosse alguém querendo algo do bar. Sabe aquela sensação de que estão te olhando? Então, era o que eu estava sentindo. Comecei a olhar de canto para a pessoa que sentou ao meu lado, o cara não parava de me olhar. Viro para ele e o cumprimento balançado a cabeça. Neste momento fico atônito com sua beleza, seus olhos cor de mel e seu cabelo castanho meio caído no rosto, eram uma combinação perfeita.

Cara – Oi

Eu meio que gaguejando respondi:

Eu – Oi..oi

Cara – Tá sozinho?

Eu – Na verdade estou com uns amigos, mas eles me trocaram por uma possível transa.

Ele deu um sorriso que me deixou mais besta ainda perante a sua beleza.

Cara – Que bom!

Eu – Por quê?

Cara – Assim eu pude chegar em você, estou te olhando desde que cheguei.

Escutar aquilo me fez ficar vermelho de tanta vergonha, ainda bem que estava meio escuro. Nunca ninguém tinha chegado em mim e muito menos tão diretamente. Acho que ele percebeu que fiquei embaraçado com o que disse.

Cara – Desculpa ser tão direto assim, mas é que você me chamou muito atenção. Meu nome é Diego. E o seu?

Eu – Meu nome é Benjamin.

Diego – Prazer Benjamin.

Ele me cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto. Nem preciso dizer que quase desencarnei ao sentir seu perfume.

Eu – Prazer.

Começamos a conversar e eu a beber bastante, pois do jeito que sou tímido só bêbado para encarar o Diego.

Diego – Vamos dar uma volta pelo navio?

Eu – Vamos.

Quando ele levantou que vi como era alto.

Eu – Nossa, você é alto.

Diego – E bonito também.

Eu – Inclua convencido na lista.

Rimos juntos. Quando levantei senti uma forte tontura e me desequilibrei. Ele prontamente me ampara com seus braços fortes.

Eu – Opa...acho que bebi demais.

Diego – Eu percebi.

Comentários

Há 2 comentários.

Por em 2013-01-22 04:26:16
Otima historia
Por em 2013-01-09 18:59:16
idiota