10. Trofeus e ilhas particulares

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Proibido

Hoje faz um calor escaldante aqui em São Paulo, quente demais até para um dia de dezembro, onde o verão já nos tortura com altas temperaturas. O barulho dos motores potentes das motos invade meus ouvidos e faz meu coração bater rápido, enquanto estamos eu, Samuel, o pai e a mãe de Gustavo no camarote da empresa da família, que é uma das principais patrocinadoras da disputa de agora de tarde, aqui em Interlagos.

- Arthur do céu, esse lugar aqui é o paraíso dos homens gostosos! – Samuel cochicha no meu ouvido, fazendo eu reprimir o riso.

- tenho certeza que você vai poder colocar o título de "Maria Purpurina dos Boxes e Estepes" na sua lista de atributos, depois de hoje.

Samuel, que não é bobo nem nada, tratou de unir o útil ao agradável devido ao calor, e colocou sua regata branca justa, que demarca muito bem seus músculos e atrai olhares nada discretos. De repente vem na minha cabeça a imagem dele se jogando com um cara de macacão e boné em uma pilha de pneus, no fundo do box e fazendo sua tarde valer muito a pena. Sorrio e balanço a cabeça em pensamento, pois essa possibilidade não é tão impossível, já que estamos falando de Samuel.

Então, como se nada tivesse acontecendo, eu e ele mudamos rapidamente de assunto e fazemos cara de paisagem quando Ester chega até nós para conversar, sendo logo conquistada pela simpatia de meu melhor amigo loiro. Agora, um pouco mais livre enquanto eles engatam um papo animado sobre a história das corridas, eu consigo ficar a sós com meus pensamentos. Para minha grande aflição, Gustavo é um dos competidores e carrega o grande peso de ser o vice campeão da última temporada, o que traz uma grande responsabilidade para ele, que não tem apenas a empresa da família como principal patrocinadora e sim várias outras, o que faz ele parecer tenso o tempo inteiro. Agora ele esta conversando com dois homens de bonés iguais, com a mesma estampa da logomarca de uma das patrocinadoras, mais ao longe, ao lado de Diego, que também vai correr. Preciso dizer que Gustavo está de tirar o fôlego com esse macacão de microfibra preto com azul, deixando todo seu corpo escultural demarcado, especialmente seus braços, seu tórax e sua bunda. Ver ele tão compenetrado ouvindo os dois homens faz eu ter a certeza de que ele está aflito com tudo é que quer muito vencer, enquanto Diego parece visivelmente mais relaxado, com o mesmo sorriso descontraído e o olhar sexy, mesmo quando ele não quer o fazer. Por um momento seus olhos saem do pequeno grupo e se voltam para minha direção, então eles se tornam acesos, então ele logo olha pra Samuel e algo prende sua atenção nele por uns bons segundos, o que me faz pensar que meu amigo acabou de se dar bem e achar seu piloto de corrida com direito a macacão apertado e tudo. Eu me animo a falar pra ele e me viro para eles, que agora conversam com Rodolfo sobre o novo modelo das motos e suas várias cilindradas a mais. Cutuco levemente Samuel e aponto com os olhos discretamente para a direção de Diego, que agora também presta atenção em sua pequena reunião. Samuel fica com seus olhos azuis evidentemente cobiçados ao ver o homem alto e loiro de cabelos ondulados e corpo forte logo ao lado de Gustavo, então eu penso que tudo está se encaminhando bem.

- e você Arthur, gosta de esportes?

- ah, não sou fanático, mas sou um apreciador. – digo em resposta a Rodolfo, que tira uma garrafa de água do frigobar e me oferece outra, me tirando da pequena missão de cupido secreto que eu estava começando a fazer.

- eu fui um dos primeiros patrocinadores dessa corrida, sabe? Eu até tentei correr quando era mais novo, mas acabei me acidentando uma vez e perdi o jeito.

- ah, que pena! Mas você nunca mais tentou andar?

- só em pescarias com amigos, com aquelas motos 125 cilindradas, sabe?

Nos quatro rimos e eu imagino a cena, onde um corredor profissional volta a andar com uma moto 125. Claro que ele fez esse comentário pois eu entendo de motores, então eu me sinto feliz por ele estar puxando assunto comigo sobre coisas que eu entenda e goste de falar. Eu meio que ainda fico tenso com esse lance de estar com a família do namorado. Namorado? Essa palavra ainda me deixa sem reação. Gustavo é meu namorado, em um período tão curto de tempo, tudo tão rápido, mas é meu. Isso parece surreal demais pra mim.

- garotos, se vocês nos dão licença, eu e Ester temos que cumprimentar alguns convidados.

- claro, vai lá. – lhe respondo com um sorriso caloroso, enquanto eles se afastam e eu faço a contagem regressiva mental para Samuel me perguntar quem é o cara que eu lhe mostrei.

"3,2,1"

- quem é ele?

A curiosidade estampada na voz de Samuel me faz pensar que eu não tenho sombra de dúvidas que eu conheço ele dos pés à cabeça.

- irmão do Gustavo.

- oi?

- é, parece que há algum imã com os homens dessa família.

- até o pai dele não é de se jogar fora, vamos combinar. Adoro um barrigudinho também.

- Samuel! Sua puta.

- obrigado pelo elogio. – ele fala sarcástico, ao tomar um gole de água. – e você sabe que ele é podre de rico, né?

- quem, o Rodolfo?

- é, ele é acionista majoritário de tipo, mais de 5 empresas enormes e minoritário de uma multinacional! Já trabalhou na Wall Street e tudo. Tá bom ou quer mais?

Uau, agora sim eu estou impressionado. Não basta apenas Gustavo ter conquistado sua fortuna em tão pouco tempo, os pais dele também tem que ser podres de ricos. Acho que além da beleza, a habilidade com negócios também tá no sangue.

- e como você sabe de tudo isso?

- ah Arthur, para né! Ele tá sempre estampado nas revistas, seja de economia ou de celebridades, você nunca viu?

- hum, o rosto dele não me era estranho, mas eu não lembro de ter visto ele em alguma revista. Acho que talvez você seja obcecado em impressos de fofocas. – eu solto, venenoso, então ele percebe que eu estou querendo fazer nossos joguinhos irônicos.

- eu não preciso disso, querido. Sou uma pessoa muito atarefada.

- ah é? Com o que?

- com meu plano de fisgar seu cunhado gostoso.

- então aproveita que ele tá vindo aí, Don Juan.

Ele se vira para o lado e eu vejo que ele toma isso como um desafio, pelo modo como ele deseja Diego apenas com os olhos a medida que ele e Gustavo se aproximam.

- e aí gente, curtindo?

- muito! – digo para Gustavo, que me dá um beijo breve e um abraço intenso, fazendo eu sentir sua roupa colada e querer um pouco mais.

- Diego, esse é meu amigo, Samuel. Samuel, esse é o irmão do Gustavo, Diego.

Pronto! Acabei de soltar a bomba de desejo entre os dois. Como um pontapé inicial bem sucedido, vejo que Diego estende a mão para Gustavo aparentemente investindo todo seu charme infalível, inclusive aveludando mais sua voz.

- prazer, Samuel.

- o prazer é meu, Diego. – vejo Samuel retribuir o aperto de mão de forma firme e não deixar de olhar nos olhos dele um segundo sequer, então acho que não há mais nada para ser feito. Os dois já estão em sintonia.

- Samuel, você me empresta o Arthur uns minutinhos?

- claro! Só devolve ele inteiro.

Aproveito que Samuel vai estar em ótima companhia e então não me importo nem um pouco de ser tomado emprestado por Gustavo, seja pelo tempo que for.

Andamos pra fora do camarote, onde eu achava que já estava calor o suficiente, mas só então quando chegamos no lado de fora que eu vejo o quanto o ar condicionado estava ajudando. Passamos pelo longo corredor cheio de pessoas ansiosas e agitadas na correria que o pouco tempo para o início da corrida provoca, então estamos indo em direção ao box, onde o barulho das motos e ainda mais alto e é aí que eu vejo o nervosismo que eles sentem, estando no centro de tudo, de toda a expectativa, onde tudo realmente acontece. Passamos reto e agora vamos em direção dos banheiros e só aí que eu percebo as reais intenções de Gustavo. Minha nossa! Mais uma fantasia prestes a ser realizada, mas dessa vez, eu achei que seria mais a cara de Samuel se pegar com alguém nos bastidores da corrida. No entanto, hoje eu estou um tanto Samuel, se é que eu vocês me entendem. Essa roupa colada, esse ar de tensão no ar, esse ambiente diferente, tudo me faz ter tantas ideias, ideias essas que eu acho que Gustavo também está tendo.

Assim que fechamos a porta, Gustavo me prende em seus braços e me beija forte no meio do cômodo, respirando alto e soltando pequenos sons que arranjam sua garganta e quase não se fazem audíveis, mas que eu sinto não só em meus ouvidos mas em todo o meu corpo, através do desejo. Eu o empurro pra trás até entrarmos em uma das cabines, então temos um pouco mais de segurança em caso de alguém entrar de repente, além de privacidade para fazermos outras coisas que eu começo a querer. Desde que eu esbarrei com Gustavo, grande parte da minha vida começou a ter bastante adrenalina e tudo o que fazemos me soa bastante perigoso e sexy, o que me atiça ainda mais e desperta um desejo incontrolável por ele. O empurro contra a parede e isso causa um barulho que o pega de surpresa, fazendo-o sorrir pela minha força empregada e parecer ainda mais estimulado, com seus olhos castanhos me encarando quentes, muito quentes.

- hoje você tá no ponto certo, hein?

- você nem imagina.

Então, volto a o beijar. Passo uma de minhas mãos em seu corpo, em sua malha lisa e desço até chegar em seu volume notável no meio de suas pernas. Meu toque o faz reagir com um suspiro forte e com um gemido mais alto, me deixando saber que eu estou no caminho certo.

Suas mãos então começam a desbravar meu corpo e tomá-lo pra si, enquanto eu fricciono minha calça em sua malha e causa um atrito delicioso, mas o barulho da porta se abrindo e uma conversa entre duas vozes nos faz parar imediatamente e ficarmos imóveis, controlando o riso.

"Acho que elevamos o nível de perigo um pouco mais por aqui." – penso comigo mesmo. Os dois homens conversam animados sobre suas apostas para o resultado da prova enquanto eles nem desconfiam que bem ao lado deles há dois homens escondidos na cabine, se divertindo. Bom, que estavam. Agora a diversão não é sexual e sim genuinamente engraçada, pois estamos nos segurando ao máximo para não ter uma crise de risos ali mesmo e sermos descobertos.

Quando finalmente a porta volta a fazer barulho e por fim se fechar, eu e ele suspiramos aliviados.

- você ainda vai me colocar em problemas sérios, Arthur.

- eu? Se eu bem me lembro, a ideia foi sua.

Ele endurece a mandíbula e me analisa, os olhos cintilantes e divertidos com a adrenalina.

- você sempre tem uma resposta pronta, né?

- hum, eu acho que sim.

Gustavo dá um sorriso de canto e em seguida morde o lábio inferior, fazendo eu lhe beijar mais uma vez. Até que, em um movimento rápido, ele me troca de posição e agora sou eu quem está preso na parede, enquanto ele me deixa encurralado com os dois braços em volta de mim.

- se eu desistir da corrida e te pegar aqui nesse banheiro mesmo a tarde inteira, a culpa vai ser sua.

- seu pai ficaria muito, muito bravo. – eu jogo, a voz cômica e os olhos estreitos.

- disso eu não tenho dúvida.

- mas esse não é o caso. Você vai lá, vai ser o melhor e levar a taça pra casa.

- você tá apostando alto em mim, então.

- com certeza. Bom, o troféu de melhor barraca armada você já tem, sem dúvida.

Eu falo isso e olho pra baixo e então ele me acompanha, olhando para o relevo logo abaixo de sua barriga.

- agora me diz como eu vou sair desse banheiro?

- sabe que eu não sei?

Então eu tiro seus braços de volta de mim e, sorrindo, destranco a porta da cabine e saio do banheiro, deixando ele sem escolha. Posso até ver sua cara de desolação é isso me causa ainda mais divertimento, pois se tem algo que eu amo nesse mundo é torturar Gustavo.

De volta ao camarote, vejo Samuel entretido olhando através do vidro para a linha de largada, que é bem em nossa frente, logo após a grade de proteção. Me aproximo e vejo que já há vários homens fazendo as checagens finais na pista, inclusive com um carro do evento, então eu me dou conta que eu e Gustavo ficamos tempo demais no banheiro.

- ei, pensei que tinha desaprendido o caminho de volta! Cadê o Gus?

- provavelmente correndo pro box e se preparando pra ouvir sermão dos patrocinadores pela demora.

- vocês não tem jeito mesmo. – ele me olha com tom de desaprovação e eu encolho os ombros. – eu to começando a achar que vocês são ninfomaniaco ou algo parecido.

-  ah Samuel, vai cagar. Aposto que você também tava louco pra dar uns amassos com o Diego, se pudesse.

- ah meu amigo, disso você não tenha dúvida! Mas o dia ainda não acabou. – o modo como ele fala soa como um predador da pior espécie, então eu balanço a cabeça em reprovação e volto meus olhos para a pista, onde os competidores já estão se posicionando.

Não demora muito para que eu veja Diego e depois Gustavo na pista, ocupando seus lugares. A largada é dada e eu vou ao delírio quando os dois saem em disparada na frente, páreo a páreo com outros dois competidores, e esse sentimento me angustia durante toda a prova, fazendo eu ansiar pra eles darem as voltas e passar por nós para eu ver em qual posição eles estão. Para minha surpresa, na última volta Gustavo ultrapassa o homem que até agora era quem estava à frente, com Diego logo atrás, então assim que eles fazem a curva e se aproximam da chegada, Gustavo é o primeiro a cruzar a linha, seguido do outro homem e depois de Diego. Eu e Samuel entramos em um estado de euforia enorme e começamos a gritar e comemorar dentro da sala, mas a agitação e tanta que saímos do camarote e descemos até a grade de proteção, onde ficamos perto deles e eu consigo ver a felicidade de Gustavo de ter conquistado o primeiro lugar.

Depois de receberem os trofeus no pódio e tirarem algumas fotos, eles fazem o tradicional banho de champanhe. O sorriso largo de Gustavo por conquistar o primeiro lugar é radiante e eu me sinto muito feliz por isso. Após ele descer do pódio, vou direto ao encontro dele, e ele do meu.

- parabéns, campeão! - não consigo conter meu sorriso de orgulho, então ele respira fundo, erguendo as sobrancelhas, provavelmente ainda não acreditando que ele ganhou a corrida, então eu sou pego firme em seus braços e sinto sua roupa molhada de champanhe agora também me molhando.

- acho que você foi meu amuleto da sorte. - sua voz baixa ao lado do meu ouvido faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Eu o olho eufórico e vejo seus pais terminando de parabenizar Diego pelo troféu de bronze, agora olhando para Gustavo. Me desvencilho dele e dou espaço para que Ester e Rodolfo o abracem, então logo o fotógrafo pede para eles tirarem uma foto deles. Depois disso, Gustavo pede para que o homem espere um pouco e então me puxa para seu lado, para minha grande surpresa. Ele quer que eu pose ao lado dele? Para o jornal? Isso é loucura! Mas no fundo, eu gosto disso. A ideia de Gustavo querer estar do meu lado e fazer questão de mostrar isso reflete que estamos indo em trilhos certos e firmes.

- o que foi isso? - eu pergunto extasiado, depois que o fotógrafo sai de perto.

- estou tirando foto com a minha família, ué. Meus pais e meu namorado.

Não consigo conter o riso e a surpresa em meus olhos, enquanto ele também sorri pelo momento. Depois eu vejo Samuel cumprimentando Diego e vejo que os dois estão no maior entrosamento, o que me faz pensar que logo logo estaremos vendo um novo casal na área. Pra finalizar a noite, nós quatro saímos para comemorar pela noite paulistana, indo jantar no Skye e depois cair com tudo na Yatch, aproveitando que também estamos perto de finalizar o ano que, pelo menos para mim e para Samuel, foi um ano de muitas novidades.

__

O barulho da champanhe sendo aberta aguça meus ouvidos, enquanto eu subo as escadas em direção à proa, onde Gustavo está simplesmente lindo com sua polo de tricô branca, uma bermuda social café e seu chinelo, com a felicidade estampada no rosto e, assim como eu, visivelmente animado por estarmos passando a virada do ano a sós, apenas eu, ele e o oceano em nossa volta. O único vestígio de civilização está a uma boa distância, onde as luzes da beira da praia formam pontos no horizonte, junto com alguns fogos de artifícios antecipados no céu.

Há uma mesa posta logo à frente, entre eu e Gustavo, no meio de seu luxuoso iate, pronta com um jantar à base de frutos do mar e que me parece ter um gosto ótimo. Isso só me faz ter certeza que meu chefe, além de ter todas as atribuições positivas que eu já sabia, também sabe cozinhar pratos exóticos com maestria.

- com fome? – ele pergunta ao me alcançar uma taça com o champanhe, a retina brilhando com a luz da noite.

- um pouco. O cheiro e a cara estão ótimos.

- bom, eu tenho que admitir que me esforcei pra te impressionar.

Ah, então estamos tendo uma sessão de sinceridade pura aqui! São poucas as vezes que eu vejo Gustavo sem seu jeito confiante e autoritário. Como resposta eu lhe lanço um riso de agradecimento e lhe planto um beijo nos lábios. O gosto da champanhe só deixa sua boca ainda mais tentadora, com sua língua molhada me envolvendo e me deixando aceso.

- vem, vamos jantar antes que esfrie.

Eu prontamente obedeço e me sento à mesa com ele, observando tudo e me sentindo bobo por ele ter feito tudo isso pra mim. Se a comida parecia ótima apenas pela cara, o gosto e ainda melhor, com o excêntrico sabor da lagosta e do polvo dourado na chapa com manteiga, tomates cereja, pimentão amarelo e verde, champignon e molho branco, além de um ensopado de camarão, arroz branco e salada de cenoura com rúcula. O gosto do vinho branco como bebida deixa o sabor do prato ainda mais realçado, enquanto eu penso que Gustavo, ao contrário do que eu achava, é um ótimo cozinheiro.

Jantamos enquanto conversamos sobre seus planos de viajar comigo para eu conhecer a sua casa de campo, logo quando possível. Depois disso, ele toma mais um gole de sua bebida e vai até seu iPod e troca de música até parar em Wild Things, da Alessia Cara e apesar do ritmo não ser próprio para uma dança, ele exclama que gosta dessa música e me convida pra dançar. Eu hesito por um segundo e rio de sua cara de expectativa enquanto estende a mão pra mim, então eu cedo e seguro sua mão, levantando e me juntando a ele para a dança. Gustavo tenta bancar o engraçadinho fazendo um movimento brusco e, devido às ondas fortes e repentinas balançarem um pouco a embarcação, isso faz nos desequilibrar e cair de volta na cadeira, sem jeito. Após sorrirmos com a situação embaraçosa e engraçada, Gustavo passa sua mão em volta do meu pescoço e me puxa para um beijo, fazendo eu sentir um calor muito forte e instantâneo.

- acho que a gente tem um assunto pendente de ontem. – sua voz é bem sugestiva e deixa suas intenções bem claras.

- ah temos?

- Uhum. E eu preciso que você me ajude a matar uma curiosidade

- qual? – o ambiente já começa a mudar de clima e eu sei que agora somos caça e caçador.

- toda a virada do ano as pessoas escolhem a cor das roupas por um significado. O que será que significa se a gente passa a virada sem roupa?

Uou! Direto e franco, tanto que me deixa sem resposta por alguns segundos.

- ahm, acho que essa é uma pergunta que vamos ter que solucionar juntos.

- me parece uma ótima ideia. – sinto ele se levantar comigo em seu colo e então eu reprimo um grito e quase peço para ele me por no chão, mas antes que eu pudesse pensar em algo, ja estávamos na parte de dentro do iate, entrando no quarto peculiar de madeira escura e com o guarda roupa embutido no mesmo material, sem contar com a janela redonda que deixa tudo ainda mais diferente. Gustavo me põe deitado na cama e fica de pé em minha frente, então se livra de sua polo e fica me olhando por um par de segundos, me deixando na expectativa por seu próximo passo, a antecipação me corroendo por dentro. Eu o olho curioso e sinto que o desejo cresce impiedoso dentro de mim.

- não me olha assim, Arthur, você sabe que esse é meu ponto fraco.

- assim como?

Forço ainda mais meu melhor olhar, então ele sorri e avança pra cima de mim novamente, a sede por sexo estampada em seus olhos. Quando nossas bocas se encontram, é como se fosse o encontro de fogo e gasolina, com nossos corpos explodindo e querendo um ao outro, então em um segundo eu já estou sem minha camisa, no outro estamos sem calça e no outro estamos totalmente sem roupa na cama, o calor de pele a pele me deixando sem fôlego e nossos olhos em sintonia, firmes, imóveis, brilhando com o desejo.

Sem perder tempo, Gustavo desce com sua língua por meu corpo até chegar em meu pênis reluzente e duro, que esperava ansioso por esse toque desde que fomos interrompidos ontem na cabine do autódromo. Solto um gemido abafado quando ele faz de sua boca uma casa para meu membro, o tomando por inteiro, da ponta a base, parecendo que não importa-se o quanto ele engolisse, ainda não seria o suficiente. O modo como ele manuseia a língua, o movimento com a boca e até suas expressões faciais com tamanha maestria me deixam ainda mais desestabilizado, fazendo revirar os olhos e querer sentir tudo o que eu estou tendo vontade nesse momento, sozinho com ele no meio do mar. Mais que prontamente, ele levanta minhas pernas e começa a friccionar seu membro contra minha bunda e soltar aquele sorriso safado que me deixa fora de mim. A antecipação toma conta de mim e eu começo a ficar sem fôlego, ansiado para ter ele por inteiro dentro de mim. Seu pênis está tão duro e pronto para o combate que eu sinto ele forçar mais do que o necessário e quase faz seu caminho em mim. Para chegar logo ao nosso desejo real, sem rodeios, ele se estica e puxa um pacote de preservativos e um tubo de lubrificante de dentro da gaveta ao lado da cama.

"Sempre preparado." – penso comigo mesmo, ficando feliz por isso.

Já devidamente protegido, ele passa o lubrificante em mim e nele, para deixar o caminho mais fácil. Sem muita dificuldade, seu mastro começa a deslizar pra dentro de mim e eu sinto como se eu estivesse sendo invadido por um misto violento de sensações prazerosas, mas quando ele está quase lá ele tira novamente, me causando uma contração de desejo e me fazendo segurar firme no lençol com as duas mãos. Até que ele volta a forçar a entrada e quando está tendo sucesso, volta a tirar, só para me provocar. O tesao agora se mistura com ansiedade máxima, me fazendo choramingar e quase implorar pra que ele entre completamente em mim e acabe com a tortura.

- Gustavo...

- você gosta disso? Sua voz ressoa baixa em sua garganta e vibra através do meu corpo, com o tom provocativo é certeiro que me deixa ciente de que hoje é minha noite de sorte. Então ele entra com um pouco mais de intensidade e eu solto outro gemido, agora mais alto.

- gosta?

- sim!

- eu sei que gosta.

Outra tentativa, agora por completo, parecendo que está me rasgando por alguns segundos, mas que estranhamente e a melhor sensação do mundo. Eu jogo minha cabeça pra trás, encostando firme no travesseiro e deixo toda a sensação avassaladora começar a tomar conta de mim. O vai e vem começa devagar e tímido, com nossas respirações cada vez mais descompassadas e com nossas peles em atrito, até que ele se curva em cima de mim e afunda sua cabeça em meu pescoço, fazendo eu sentir com mais intensidade seu perfume misturado com cheiro de shampoo de aloe vera e de sabonete suave. O modo como ele me toma pra ele é tão dominador, tão explicitamente egoista que deixa bem claro que eu sou dele e de mais ninguém, o que absolutamente não é nenhuma mentira. As estocadas ficam mais intensas e eu ouço o barulho dos fogos de artifício subindo e explodido no céu, lá fora. É meia noite.

- feliz ano novo, bebê. – seu rosto já está levemente vermelho e suado por causa da agitação do momento, mas sua voz é suave e calma, apenas ficando um pouco instável por causa dos movimentos que não cessam nem um segundo sequer. Penso que esse é um jeito bem diferente de ganhar um feliz ano novo e eu acho a ideia muito boa.

- feliz ano novo, chefinho.

Então, uma onda de beijos intensos se mesclam com a penetrarão mais agitada. A situação começa a ficar complicada pra mim quando ele começa a soltar gemidos mais altos, com a voz grossa e quase abafada, enquanto ele volta a querer brincar comigo, tirando totalmente seu pênis de dentro de mim e entrando com tudo em seguida, repetidamente, me deixando sem base para me conter e não me restar outra alternativa a não ser perder o controle e deixar que meus instintos fossem soltos. O desejo dentro de mim então se torna ainda mais forte, enquanto eu fecho os olhos e me preparo pra gozar, mas Gustavo percebe e então para com tudo, apenas me beijando e fazendo meu orgasmo ser jogado mais pra frente, o que me deixa um pouco frustrado, mas que é uma estratégia e tanto pra prolongar nossa noite. Rapidamente ele se senta na cama e me coloca em seu colo, suas costas apoiadas na cabeceira macia da cama em tecido preto e agora com seu suor. O cheiro de sexo no cômodo só contribui para o desejo aumentar mais e mais, enquanto eu me ajeito em seu colo e começo a controlar o movimento, dessa vez. Penso que essa é a hora perfeita para torturar Gustavo também, então eu faço ele provar da mesma antecipação que eu provei antes, forçando a entrada de seu membro e mim mas fazendo-o lenta e demoradamente, fazendo ele provar do próprio veneno.

- você não presta, Arthur.

- você percebeu isso só agora? – sou meu melhor sorriso de canto e me afundo nele de vez, enquanto vejo ele fechar os olhos e puxar fundo o ar, o som de satisfação vindo baixo de sua boca, que agora se abre levemente e em seguida se preenche com um beijo meu. Mas o Gustavo que eu conheço logo aparece e toma as rédeas da situação, segurando minha cintura com as duas mãos e se afundando mais rápido e mais intenso em mim, fazendo meu desejo acender mais quando seus olhos em brasa encontram os meus. É apenas questão de tempo para que eu sinta meu orgasmo vir sem nenhuma compaixão e me fazer explodir, jogando jatos de esperma em Gustavo, pegando em sua boca, em seu pescoço e em seu ombro. Eu sorrio automaticamente quando vejo que ele parece estar adorando a ideia de estar lambuzado com meu gozo. Ao ver que eu estou me divertindo com a situação, ele sorri de volta, aquele sorriso safado e que sempre me deixa fora de mim. O desejo acende ainda mais em seu rosto e ele volta a acelerar as estocadas, então logo eu vejo ele fechar os olhos com força e soltar gemidos altos enquanto entra na mesma sintonia que a minha, com a respiração ofegante e com o corpo ficando sem forças e com pequenos espasmos de prazer.

Com meu corpo ainda em transe e com minha respiração voltando ao normal, Gustavo me puxa pra perto dele e me abraça por trás, mesmo com nós dois sujos com os vestígios de nossa transa inaugural do nosso ano juntos, então eu começo a pensar longe. Será que eu sou o único que ele trouxe aqui e fez todo esse cenário romântico como agora?

- Gustavo?

- hum?

De certo modo eu acabo travando e não consigo prosseguir, por mais que a minha curiosidade esteja grande.

- não, nada.

Ele se mexe, visivelmente impaciente e eu espero ele dar o sermão.

- sabe que não é nada legal isso? Deixar as coisas no ar?

- é bobagem, deixa pra la.

- se é bobagem, então me fala.

Eu crio coragem e me viro pra ele, olhando em seus olhos castanhos e profundos para buscar as palavras certas.

- é que... quantos caras você trouxe aqui?

- como? – ele parece realmente surpreso com a pergunta.

- quantos caras você trouxe no iate, nessa cama? Ou no Maverick?

- se eu falasse que você foi o único, você acreditaria?

- não sei, me parece muito improvável.

- mas foi. Eu nunca namorei serio, nunca fiz essas coisas com outros caras, só com você. Algo em você me faz perder o equilíbrio, Arthur, me faz perder o juízo.

Ele passa a mão pelo meu rosto e eu fecho os olhos, me sentindo estupido por ficar puxando esse tipo de assunto em uma hora tão inapropriada.

- às vezes eu acho que eu não te mereço.

Sua voz me faz abrir os olhos e sair do meu breve estado de graças, me deixando chateado.

- por que você diz isso?

- você é bom demais pra mim, Arthur. Nunca pensei que eu teria alguém como você.

De repente, vejo em Gustavo alguém que se acha tão inferior a ponto de não merecer o amor sincero de alguém. Por que? Por que esse menosprezo contra si próprio?

- mas você tem. Você tem e eu vou te fazer muito feliz, se você deixar.

Ele sorri e se aproxima pra me beijar. Nosso beijo é lento, intenso e breve.

- você já me faz, Arthur.

__

O ambiente estranho faz eu ter que pensar por alguns segundos onde eu estou, antes de me familiarizar com a janela redonda, que emite o sol exuberante da manhã, e com o movimento irregular da embarcação, que me deixa com um pouco de agonia por não estar em terra firme. Ampliando mais meu campo de visão, sinto falta de Gustavo. Ele não está na cama e eu não ouço barulho de nada a não ser do mar lá fora, então decido sair do quarto e procurar meu fujão. Assim que abro a porta, no entanto, sinto o cheiro de algo fritando e de café recém passado no ambiente e vejo-o distraído na cozinha, preparando o café da manhã. Ele parece fazer parte da mobília de madeira adaptada para o pequeno espaço, já que tanto ela quanto ele são lindos, especialmente ele, com a cara de sono e com os cabelos úmidos, provavelmente depois do banho.

- bom dia, cozinheiro.

- e aí, dorminhoco. - ele se abre em um sorriso caloroso e se estica para me dar um beijo. - com fome?

- hum, um pouco. O cheiro também ajuda. O que tem de bom?

- omelete com queijo e tomate seco. - ele fala orgulhoso. Ver Gustavo no fogão é algo bem inusual pra mim.

- então quer dizer que você é um bom cozinheiro até em alto mar?

- eu sou o que você quiser, onde você quiser. - sua voz rouca e sugestiva já me aguça os sentidos, enquanto ele percebe minha vergonha e sorri, vitorioso. Cretino!

- senta aí, já tá tudo pronto.

Obedeço-o e me sento na mesa farta que ele havia preparado. Enquanto sou servido com a omelete, arrumo um pouco de suco de laranja e observo-o sentar em minha frente e pegar uma fatia de pão integral e passar um pouco de creme de ricota. Dou a primeira garfada e sinto o gosto dos temperos saltitar em minha boca; tomilho, manjericão e pimentão amarelo. Hum, ele sabe realmente conquistar pela barriga, além de ter um ótimo gosto pra mistura de temperos.

- e então, gostou? - ele me tira dos meus pensamentos, seus olhos me fitando com uma expectativa alta.

- acho que eu estou sendo mal acostumado. Vou querer que você cozinhe pra mim todos os dias.

Ele sorri e se remexe na cadeira, claramente satisfeito pela minha resposta.

- quais são os planos pra hoje?

- ah, eu tava pensando em nadar um pouco, ir até alguma ilha, explorar... O que você me diz?

- ilha? Explorar? - eu arqueio a sobrancelha, deixando claro que eu captei as segundas intenções, intenções essas que talvez nem tenham sido propositais, mas que mesmo assim são válidas.

- exato. - ele pende a cabeça levemente pro lado, me analisando.

- interessante.

O clima começa a esquentar e eu sinto meu estômago se revirando. Santo Cristo, ele não perde o ritmo, nem pela manhã! Mas o fato é que eu gosto disso, pois eu também não perco. Mas por hora, nos contentamos a terminar nossa refeição antes de seguirmos rumo ao mar aberto, mais longe ainda da costa. Gustavo agora parece tão mais sexy do que o usual, concentrando seus olhos no horizonte enquanto pilota o timão com firmeza. Eu estou na proa, observando aquele homem lindo e só meu lá em cima, nos levando para algum lugar desconhecido e privado. O fato é que nenhum lugar parece ser privado o suficiente pra nós dois, quando se trata dele. Gustavo desperta em mim meus instintos mais primitivos, me faz querer explorar tudo com tamanha coragem que nem eu mesmo conhecia em mim. Ele, apesar de estar de óculos escuros agora, eu sei que ele olha pra mim, pois ele está sorrindo daquele jeito que ele só sorri quando está olhando pra mim. Sinto meu corpo se aquecer e então me viro para frente, olhando para aquela imensidão azul. Sinto a brisa do mar tocar o meu rosto e fecho os olhos enquanto abro os braços para os lados, aproveitando cada sensação que eu estou tendo agora e guardando isso ao máximo, pois eu sei que esse é um momento especial.

Nos apaixonamos de uma pequena ilha no meio do nada, que parece ser exatamente o que procurávamos. Gustavo para o Iate a uma distância considerável e desce pela lateral do barco e vai até a popa. Eu o sigo e vejo-o na extremidade da embarcação, logo após as escadas laterais que nos separam. Fico o observando, escorado nas grades de proteção, enquanto ele espera o compartimento traseiro se abrir e então ele poder entrar no espaço onde ficam os jet skis. Gustavo logo aparece com o primeiro e me olha sorrindo, com os olhos pequenos por estar encarando o sol, fazendo sinal com a cabeça para eu descer e me juntar a ele. Caramba, vamos andar os dois de jet ski!

Desço as escadas animado e espero ele voltar da borda do iate, onde ele deixou cuidadosamente um de nossos brinquedos flutuando na água.

- vamos nos divertir um pouco. - Ele passa por mim com um sorriso de criança no rosto, me dá um beijo breve e volta para dentro da embarcação para pegar o outro jet ski. Logo ele me alcança um dos coletes salva-vidas e faz a frente, subindo no dele e acelerando sem sair do lugar, como forma de desafio. Eu logo percebo e tento esconder minha inexperiência com tudo aquilo, enquanto respiro aliviado por ter subido naquele troço sem cair no mar.

- preparado pra comer poeira?

Eu levanto as duas sobrancelhas e o olho debochado, enquanto acelero devagar até chegar ao seu lado, perto o suficiente pra ele me ouvir.

- tem uma coisa que você precisa saber, chefinho.

- ah é? E o que seria?

- que eu posso ser mais eficiente que você imagina.

Dito isso, eu acelero com tudo, sendo jogado pra trás com força e precisando me segurar firme no guidão pra não cair, enquanto eu deixo Gustavo todo molhado pelo meu movimento brusco e me afasto rapidamente dele, graças ao motor potente do meu brinquedo, seguindo para longe do iate em direção ao mar aberto. Olho pra trás e vejo de relance ele sorrindo da minha audácia, então logo depois ele está do meu lado, fazendo questão de disputar comigo e jogar na minha cara o quão sexy ele fica com aqueles músculos do braço saltados naquele colete apertado, com o cabelo molhado é bagunçado e o sorriso delicioso de quem acabou de provar da própria poeira.

- nada mal, estagiário.

Eu apenas sorrio pra ele e vejo-o acelerar mais, andando aos arredores da ilha, que fica cada vez mais próxima, com a areia branca e intocável, as pedras com diversas formas e tamanhos surgindo na água de um azul irreal, as árvores ao fundo que formam uma espécie de muro verde, aumentando a densidade à medida que a mata vai ficando mais extensa para o fundo e que sem dúvida escondem muitos lugares prestes a serem desbravados por nós. Eu tento alcançá-lo, mas é em vão. Ele parece brincar de bicicleta, fazendo acrobacias que fazem o jet ski pular pra fora d'água, como se aquilo fosse a coisa mais fácil e natural do mundo. Ambos de nós se aproximamos mais lentamente da ilha até que encostamos na areia da beira d'água.

Meus pés começam a afundar na areia quente quando ouço Gustavo caminhar apressado logo atrás de mim. Me viro e o vejo vindo ao meu encontro, então seguimos juntos rumo a pequena trilha entre as árvores diversas, em sua maioria coqueiros. O barulho dos galhos quebrando no chão e dos pássaros acima de nós são tudo o que temos agora. O labirinto verde no qual nos enfiamos é sinuoso e a sensação de estarmos fazendo algo diferente é proibido fala alto, fazendo meu estômago se embolar. Como sempre, tudo o que envolve Gustavo anda longe do óbvio.

No meio do caminho, mais surpresas. O barulho de água corrente faz nossos ouvidos seguirem pela trilha até acharmos um pequeno córrego de água cristalina correndo bem ao lado do nosso caminho,  que agora é cercado de bambus cravados um do lado do outro no solo, formando uma espécie de cortina natural que nos separa do pequeno barranco verde que termina em água, pedras e musgo. Mais à frente, uma pequena cachoeira com uma espécie de caverna, onde um paredão de pedras fica bem no meio do largo fio de água que cai de cima, sendo rodeada por alguns cipós e vegetações crescem ao seu redor, formado um lago natural bem em nossa frente em uma vista de encher os olhos.

- acho que descobrimos um paraíso escondido.

- um paraíso escondido e só nosso. - ele complementa, os olhos castanhos vibrantes me fitando com emoção, com excitação.

Ele caminha mais adiante, fazendo a volta pela água e chegando até a pequena e estreita caverna, colocando a mão na vertente de água e me olhando como se me convidasse a fazer o mesmo. Eu, que estou perto das pedras, caminho lentamente por elas, que estão escorregadias, até chegar ao seu lado e pegar em sua mão. Ele me puxa e me abraça por trás, fazendo eu sentir o calor de cada músculo de seu corpo, de cada centímetro de sua pele. Sua respiração atrás do meu pescoço me causa arrepios, enquanto eu olho em volta e vejo aquela paisagem perfeita que nem precisamos caminhar muito longe pra descobrir. Seria um momento incrivelmente romântico, se Gustavo não desse seu ar de comediante e me puxasse pra trás, bem pra baixo da agua estupidamente gelada que caia de cima, fazendo eu me assustar e gritar, enquanto eu tentava sair de seus braços.

- olha que água boa, Arthur!

- filho da puta, me larga! - eu grito, aparentemente furioso, mas não conseguindo conter o riso.

Quando finalmente ele me solta, vejo que ele está pondo a mão na barriga de tanto rir. Pra não deixar barato, eu o pego e em um movimento rápido eu o empurro pra dentro do lago, fazendo me questionar como eu tive mais força do que um homem como Gustavo ao ponto disso. Logo quando ele surge já superfície, ajeitando o cabelo pra trás e me olhando como quem dissesse "muito bem, dessa vez você me pegou de surpresa", eu sorrio e corro pra me juntar a ele, pulando e jogando água para os lados. Sem duvida a água gelada me faz parecer que eu estou mergulhando em um balde de gelo, mas a sensação é ótima. Gustavo chega mais perto com aquele sorriso de canto e me toma em seus braços, fazendo meu corpo agradecer por ter uma fonte de calor.

- esse lance de cachoeiras tá virando uma tradição nossa, né?

- cada uma parece ser mais fria do que a outra... - eu digo, quase tendo um espasmo de frio.

- eu amo suas bochechas vermelhas de quando você sente frio. - ele diz de forma calma, com a voz ressoando baixa de sua garganta, logo após me encarar por alguns segundos em silêncio.

- não é bonitinho quando se está com frio.

- eu esquento você. - ele não deixa nenhuma dúvida quanto a isso, já que só de falar ele me provoca uma onda e calor que percorre meu rosto e desce pelo meu peito e minha barriga, chegando até meu pênis.

- hum, isso parece bom. - me coloco mais pra frente, encostando firme meu abdômen no dele e sentindo a temperatura do meu corpo crescer gradualmente.

Então, antes que eu pudesse pensar ou falar, ele me beija. Um beijo lento, molhado e quente, que me faz por minhas mãos  em sua nuca e em suas costas, então foi aí que eu senti todo o frio do meu corpo ir embora. Aqui, apenas nos dois em nossa ilha particular recém descoberta, começa a brotar o desejo de nós dois, e eu sinto que nossa manhã vai ser ainda mais produtiva do que foi até agora.

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Já de volta ao continente, caminhamos pela beira do cais, onde há uma fileira de embarcações atracadas, médias e pequenas, balançando junto ao mar e ao vento, ambos agitados. O sol também se escondeu entre algumas nuvens e faz tudo parecer que logo vamos ter um pouco de chuva, pra espantar o calor excessivo que faz nos últimos dias. Gustavo parece saber exatamente onde nos levar para almoçarmos. Assim que chegamos no pequeno e antigo prédio de arquitetura portuguesa em estilo colonial, pintado em azul claro, eu entendo seus motivos; o lugar por si só já me parece valer a pena visitar, mas o cheiro da comida que vem de lá de dentro é o meu veredito final. Sentamos bem ao lado de uma das grandes e largas janelas de madeira da fachada, com a vista para o cais e para o calçadão onde muitas pessoas, trabalhadores e visitantes, caminham no momento.

- com fome?

- muita, dizem que ficar muito na água dá fome, né?

- levando em consideração o quanto a gente desbravou hoje, ficar na água foi o menor dos fatores pra se ter fome.

E lá está o predador novamente, com seus olhos acesos e divertidos, me fitando logo acima do cardápio. Claro que eu não gostaria de mencionar nossas aventuras em ilhas desertas como fator chave pra eu estar faminto e com as energias gastas, mas já que ele insiste...

Antes que eu pudesse replicar, Gustavo sorri e acena para o garçom, que caminha até nós com seu sorriso cordial e anota o pedido do Dr. Insaciável, que mais uma vez surpreende com seus gostos peculiares, ao pedir filé de salmão com crosta de gergelim e mostarda, e molho de gengibre, pimenta e mel e nhoque de banana da terra como acompanhamento. Já eu passo meus olhos no menu e escolho risoto de camarão com champignon e aspargos.

Assim que ficamos a sós novamente, começamos a conversar sobre como a família dele está à vontade com a minha constante presença, seja em jantares de família ou corridas de moto.

- a Leona não para de falar em você. Já quer marcar logo o próximo jantar pra vocês conversarem sobre o amor em comum de vocês por carros clássicos.

- você contou? - pergunto surpreso, pois por certo momento até eu havia

me esquecido do meu Chevette fiel e aposentado, o que me faz sentir um aperto no peito.

- sim, ela também tem uma queda por carros antigos. Acho que isso é de família.

- vai dizer que ela tem um Maverick também?

- não, Maverick não, mas um Corvette 1965.

- uau, bom gosto. Aposto que ela vai gostar bastante do Samuel também, já que eu prevejo os dois conversando horas a fio sobre moda no aniversário do Diego.

- isso tem lá suas vantagens.

- por que?

- assim eu vou poder te roubar dos dois e aproveitar a noite do meu jeito.

Hoje você está impossível, Gustavo! Mas não posso negar que a ideia me parece ótima. Com as duas pessoas que têm a maior probabilidade de me reter atenção durante a noite se entrosando entre si, eu e Gustavo poderíamos anotar mais um momento de diversão exótica na nossa crescente lista.

- falando em Samuel, parece que ele e o Diego estão... se conhecendo melhor, né? - Gustavo escolhe bem as palavras, visto que ainda é cedo pra rotular as coisas.

- é, isso parece um tanto estranho.

- vindo do Diego, que nunca foi de se interessar em ninguém, ele tá bastante animado, falando em Samuel pra cá, Samuel pra lá desde o dia da corrida.

Eu arqueio as sobrancelhas e penso que talvez Samuel goste de saber disso, já que eu também não ouço nada a não ser "como o Diego é lindo e gentil e atencioso e etc".

- talvez a gente possa ter um dedo de cupido no meio.

Enquanto rimos da ideia, o garçom agilmente traz nossos pedidos em tempo recorde. Eu pensava que apenas o prato de Gustavo demoraria um século pra ficar pronto, visto a complexidade e o exagero de seu pedido. Mas as cores, o aroma, o visual em si, não só do dele mas também do meu, faz meu apetite se abrir ainda mais. Dou minha primeira garfada com gosto quando ouço o celular de Gustavo tocar em cima da mesa, e não posso deixar de ver que é um número que ele não tem na agenda, a julgar pelo fato de não mostrar nenhum nome.

- desculpa, deve ser alguma coisa importante. - ele fala intrigado, ainda mais pelo horário, então atende logo em seguida. Porém, assim que ele coloca o celular no ouvido, sua expressão indiferente torna-se tensa, enquanto vejo suas pupilas se dilatarem em contraste com a luz que entra pela janela. Não sei se é impressão minha, mas acho que ele empalideceu um pouco.

- o que você quer? - ele rosna rispidamente para a pessoa do outro lado da linha. O que está acontecendo? Antes que eu pudesse atravessar os limites perigosos de sua privacidade e perguntar quem era, ele se levanta rapidamente da cadeira e caminha pra fora do restaurante, visivelmente impaciente. Agora, todo e qualquer vestígio de fome acabara de ir embora. Olho pra fora e vejo-o parado na calçada, virado de costas e com a mão livre pousada na cintura. Acho que ele fica assim por quase um minuto, até que vejo-o desligar e guardar o celular no bolso, então um Gustavo tenso e impaciente volta para a mesa, enquanto eu espero ter algum tipo de explicação.

- aconteceu alguma coisa?

- não.

- então por que essa cara?

- nada, Arthur. Vem, vamos embora.

Embora? Tudo bem, acho que as coisas estão confusas aqui. Se não aconteceu nada, por que estamos indo embora no meio de uma conversa leve no meio do almoço? Em tese, se estivesse tudo bem, voltaríamos a comer e a rir sobre o vestígio de romance no ar entre meu melhor amigo e Diego, então aí sim, em uma situação normal ele me convidaria pra ir embora. Porém, pra não causar desconforto, apenas concordo com a cabeça, sem dizer nada, me levanto e caminho pra fora do prédio, esperando-o no meio fio e tentando não deixar a raiva transparecer. Agora eu não sei ao certo o que está acontecendo, mas há algo sobre Gustavo que me deixa cada vez mais curioso. O que ele tanto esconde, de mim e aparentemente de todos?

Comentários

Há 4 comentários.

Por Elizalva.c.s em 2017-04-04 14:28:46
Está tudo tão maravilhoso entre eles que dá até medo da felicidade...ansiosa pelo próximo capítulo,beijo.😘😘😘😘😘
Por Luã em 2017-04-04 10:24:40
Oi gente! Muito obrigado pelo carinho, vocês são incríveis, sério! A história já está finalizada, então não vai mais haver pausas O/ espero que gostem, abraços! <3
Por Josha em 2016-05-10 16:00:30
Verdade, continua! Faz tempo que espero pela continuação dessa história.
Por PedrãoC em 2016-05-06 23:41:25
Esperando ansiosamente pelo próximo capítulo ! Por favor não demore postar, já estava com saudades.