Ligados Ao Passado - Capítulo VIII - Part I

Conto de Lohan como (Seguir)

Parte da série Ligados ao Passado

Como havia falado no último capítulo. Este é bem extenso, então tive que dividi-lo em dois. A Segunda parte, postarei sábado a noite ou domingo de manhã. Mas no blog da história: https://ligadosaopassado.blogspot.com.br/ . Já deve estar o capítulo completo.

Ligados Ao Passado

Capítulo VIII

Esclarecimentos

Nuno ficou em silêncio, procurando em seu coração e sua mente as palavras que sempre quis dizer. Contudo, ele não conseguia encontrá-las, pelo menos, não enquanto encarasse aqueles olhos que brilhavam em fúria. Por mais que quisesse se livrar desse peso, sua voz não o obedecia.

Lentamente ele relaxou seus ombros e braços, os deixando livres ao lado de seu corpo. Ele abaixou a cabeça e somente quando uma de suas lágrimas percorreu o seu nariz lhe causando uma sensação de cócegas, que ele percebeu que estava chorando. Ainda sem acreditar que aquelas eram suas lágrimas, ele levou sua mão a seu rosto para verificar se estava úmido. Ele limpou as lágrimas de forma discreta e se forçou a ir em frente com aquilo.

- Recorda-se da sua festa de aniversário?... – Nuno começou de forma hesitante – A de quando estava completando 18 anos? Que foi realizada naquele casarão de festas antigo que tinha naquela fazenda de seus pais?

- Sim, não é todo dia que você faz 18 anos! – Ender respondeu de forma ríspida.

- Foi lá que tudo aconteceu Ender... Como pode ser tão mesquinho ao ponto de fingir não saber do que estou falando? – Nuno já estava começando a se enfurecer novamente, apesar de não demonstrar exteriormente.

- Eu me lembro do que aconteceu naquele dia, lembro-me muito bem. Foi naquele dia, que o inferno se concretizou na minha vida. No qual passei a perder tudo e todos que eu gostava – Ender fechou os punhos com toda sua força, tentando não erguer sua voz enquanto respondia, para que não causasse outra discussão – Nunca imaginei que isso tivesse afetado você de alguma forma. Pelo que me recordo. Você estava gostando muito do que aconteceu... O único a ser prejudicado em toda a história naquele dia não foi você! Então, pare VOCÊ de se fazer de mesquinho e de vítima indefesa! E me faça o favor de contar logo a porra dessa “história” para que eu possa ir embora daqui.

- Irei contar então! Mas com a condição de que me conte a “sua história” e de como sofreu tanto. E então veremos quem tem a razão nesse caralho! Depois disso, pode voltar para o inferno de onde saiu – Antes que Ender pudesse respondê-lo, Nuno continuou dessa vez contando à história que ele vivenciou.

Na noite anterior ao grande dia. Um jovem e iludido garoto, passou horas fazendo inúmeros planos para o dia em que estaria junto com outro garoto. Seu trabalho era mantê-lo ocupado durante todo o dia, dando chance da melhor amiga dos dois, fazer todos os preparativos da festa. Sem dúvidas, aquele seria o seu dia mais feliz. Pela primeira vez, desde a infância dele, estariam somente os dois juntos, sem a presença da melhor amiga deles. E isso, por mais estranho que possa parecer, o deixava nas nuvens. Ele podia ter toda a atenção do outro garoto somente para ele.

O dia dos dois começou bem cedo, antes mesmo de o sol surgir. Somente assim, eles teriam tempo para cumprir a longa lista de coisas a serem feitas, coisas essas, que antes nunca podiam ser feitas, devido à presença da amiga deles. Apesar de sempre quererem muito, mas como só faziam algo que os três estivessem de acordo, quando um não queria algo, os outros também não podiam fazer. Esse era o acordo.

Com isso, a primeira coisa que fizeram foi uma escalada de uma enorme árvore que ficava próxima aos estábulos dos cavalos do pai do garoto. O garoto iludido quase teve um infarto quando o outro escorregou em um dos galhos e quase caiu e depois quase teve outro infarto, dessa vez, de raiva, quando viu que o outro tinha feito de propósito para assustá-lo e que agora estava rindo da reação que tivera. Depois de alcançar a copa da árvore, os dois ficaram lá por um tempo, olhando o campo que se estendia aos seus olhos. O que não era muito para o garoto iludido. Seus grandes e quadrados óculos, limitavam sua visão, contudo, ainda conseguia ao menos ver a luz do sol da manhã refletida nos olhos escuros do outro garoto ao seu lado.

Ele ficou lá... Olhando para ele com uma vontade de beijá-lo... Uma vontade cada vez mais crescente. Mas logo esse feitiço se desfez quando o outro garoto o olhou e o pegou de surpresa.

- Está olhando o que? – O garoto perguntou

- Nada – respondeu e sorriu.

- Dá pra ver que não esta vendo nada, seus óculos estão embaçados – Então ele pegou os óculos do rosto do garoto iludido e soprou, aquecendo as lentes antes de começar a limpá-las no casaco de lã que vestia – Aqui! Experimente agora.

- Melhorou muito! Obrigado! – O garoto iludido sorriu, mas na verdade tudo o que queria ver estava a sua frente, bem próximo a ele.

Mesmo olhando para o sol surgindo enquanto começava a aquecer aos poucos o ar, sua atenção se mantinha no calor que sentiu em suas bochechas quando o outro garoto soprou as lentes de seus óculos.

Após descerem da árvore, selaram dois dos cavalos mais rápidos e saíram cavalgando sem um destino certo, enquanto faziam disputas e mais disputas para ver quem conseguia cavalgar mais rápido. Mas não era surpresa que o garoto iludido se saísse pior. Seus óculos balançavam em seu rosto e ele ficava com medo de derrubar e quebra-lo. Então, o outro sempre se continha um pouco para não deixar o garoto iludido para trás, além de que, para o outro garoto, aquilo era algo natural, seus movimentos se complementavam com os movimentos que o cavalo que estava montado fazia, enquanto para o garoto iludido era algo desconfortável e dolorido.

Depois de quase 41 minutos cavalgando, chegaram à borda de uma mata fechada. Sempre tiveram curiosidade de saber o que se escondia nela, mas nunca puderam ir devido à amiga deles ter medo de entrar e se perder. Amarram os cavalos em uma árvore e seguiram caminhando pela mata. Tudo trazia um sentimento de apreensão. As sombras das árvores... O silêncio absurdo, quebrado às vezes por sons rápidos de animais correndo... O vento silencioso e frio que às vezes chegava lentamente em seus pescoços, fazendo com que se arrepiassem... Contudo, a sensação de não reconhecer por onde entraram e como sairiam era a maior de todas as apreensões para o garoto iludido.

A cada minuto que passavam andando pela mata, mais assustado ele ficava. E cerca de 30 minutos se passaram, o pânico começou a se instalar no coração do garoto iludido. Mas o outro o acalmou segurando na mão dele, e o guiando pela mata até alcançarem uma trilha. Quando os dois chegaram nela o garoto sorriu.

- Achei!

- Achou o que?

- Você verá! Pode até ter planejado todo o dia de hoje como meu presente de aniversário... Mas, isso não quer dizer que eu não tenha pensado em nada pra retribuir – Ele pegou a mão do garoto iludido novamente – Por aqui! Vamos!

Os dois caminharam seguindo a trilha, e quanto mais eles seguiam a trilha estreita, mais alto o som de água caindo ficava. Por fim, quando chegaram ao local que o garoto queria chegar. À visão que tinham, era de uma grande cachoeira com uma água cristalina que escorria em meio a pedras escuras. Não era daquele tipo de cachoeira que jorra suas águas expressando sua força, era do tipo em que a água simplesmente fluía quase como uma cascata. Para completar a visão, ainda tinha um lago que, aparentemente, era extremamente confortável, com o seu fundo todo de areia branca e fina, daquelas que ao pisar faz parecer que está pisando em um cobertor, e um rio que corria tranquilamente, levando aquela água para locais desconhecidos.

Enquanto o garoto iludido estava de boca aberta olhando tudo nos mínimos detalhes, o outro se encaminhou para a borda do lago.

- Aposto 100,00 reais, que essa água deve estar ótima para um mergulho! – Falou enquanto começava a tirar o casaco e a camisa.

- O quê? Está maluco? O clima está frio pra caralho! Essa água deve estar congelando! Espere...! Você não está mesmo pensando em ir mergulhar, está? – O garoto iludido perguntou incrédulo com a burrice do outro.

- Você? – O garoto riu, enquanto começava a tirar o outro tênis do seu pé e se preparava para retirar a calça – Quem disse que serei somente eu? Você também vai!

- Meu filho! Eu não tenho um aquecedor embutido dentro de mim igual ao que você tem não! Se eu colocar o pé ali, eu viro uma pedra de gelo – Apesar de ser contra a ideia, o garoto iludido estava rindo, enquanto lentamente já se preparava para o que veria a seguir.

- Então acho bom você correr bastante porque se eu te alcançar é lá que você vai parar – E dizendo isso ambos começaram a correr enquanto se divertiam e trocavam insultos.

Não demorou muito para o garoto iludido ser pego. Até uns dois anos antes, ele era bem sedentário, então não tinha a mesma energia que o outro, que sempre foi em forma. Quando o garoto o alcançou, eles começaram uma pequena briga, um tentando tirar a camisa e a calça e o outro tentando preservar suas roupas quentes em seu corpo, que tremia só de pensar no gelo que a água deveria estar.

Dessa forma, o garoto iludido se concentrou em passar os braços ao redor da cintura do outro para que assim seu casaco e camisa não fossem retirados.

Após alguns minutos de risada e luta, o garoto iludido pisou em uma pedra que acabou rolando e isso fez com que se desequilibrasse... “E então ele caiu puxando o outro que caiu por cima dele”. Não! Não! Se essa história fosse assim, seria clichê demais. O que aconteceu foi que, quando se desequilibrou, ele acabou se ajoelhando, o outro estava meio que por cima dele puxando a camisa pelas costas, dessa forma, quando um se ajoelhou enquanto se inclinava um pouco pra frente quase derrubando o outro de costas, o outro acabou levantando o joelho para por a perna para trás a fim de conseguir se equilibrar. A única coisa que não saiu certo foi que, ao fazer isso, seu joelho foi em cheio no nariz e nos óculos do garoto iludido que quando sentiu o impacto, se jogou para trás, enquanto colocava as mãos ao redor de seu nariz e rolava no chão e insultava o outro com vários palavrões, que ao escutar, só fazia rir e rir cada vez mais.

- Foi mal! Hahahahaha! Não tive culpa! Você que se abaixou de repente e me empurrou pra trás. Achei que tivesse tentando me derrubar. Cadê? Deixa-me ver se machucou.

- É óbvio que machucou idiota! Quer que eu te dê uma joelhada no seu nariz? Mais fácil de mostrar se machuca ou não – O outro só fez rir.

O garoto iludido sentou-se no chão enquanto massageava o nariz.

- Está sangrando? – Ele tirou suas mãos e olhou para o outro, que colocou uma das mãos ao lado do rosto dele e inclinou o rosto dele de um lado e do outro para ver se as narinas estavam sangrando ou não.

- Não! Seu rosto está perfeito, Mister Perfeição! Já seus óculos...

O garoto iludido assustado procurou seus óculos que estavam ao seu lado. Ao colocar no rosto, só podia ver as incontáveis rachaduras que se formaram nas lentes.

- Meu Deus! Estou ferrado... Sabe quanto essas lentes me custaram? Devia fazer você me pagar por elas – O garoto iludido estava claramente revoltado.

- Ei! Ei! Não tenho culpa se você resolveu dar narizadas em meu joelho, e veja pelo lado bom... Você não tem mãe pra justificar como quebrou, já é um ponto positivo – O garoto riu.

- Você é muito retardado cara – O garoto iludido queria estar bravo, mas com uma resposta dessas, não conseguiu conter-se e acabou rindo.

- Qual é? Vamos pular no lago ou não? Não seja tão covarde! Além disso... – O garoto pôs suas mãos no rosto do garoto iludido novamente – Você fica muito mais bonito sem óculos.

- Você está sendo muito viado – O garoto iludido riu e retirou a mão dele do seu rosto. Por fora, ele agiu como sempre agia quando estava com ele, sendo “o amigo” igualmente másculo e pegador. Por dentro, seu coração estava acelerado, enquanto tentava não surtar por ter recebido um elogio como aquele.

O garoto riu, ajudou ele a se levantar. Quando o garoto iludido estava limpando seu casaco e sua calça da terra que havia ficado quando ele deitou-se, o outro se aproveitou descaradamente da oportunidade, para atacá-lo subitamente por trás, prendendo suas mãos e o forçando a caminhar até um pequeno morro na borda do lago e de lá o empurrar com roupa e tudo.

O garoto iludido mergulhou na água gelada e após ressurgir ele começou a brigar com o outro, que somente ria das palavras que ouvia, por serem ditas de forma trêmulas devido aos dentes do garoto iludido bater um no outro a todo o momento.

- Você é muito mole! Vou mostrar pra você como se faz – Ele deu alguns passos para trás, pegou impulso e pulou no lago, fazendo com que água borrifasse por todo lado. Quando ele apareceu novamente o garoto iludido estava saindo na margem do lago, de forma desastrada devido ao peso das roupas molhadas.

- Melhor tirar elas e voltar pra água. Logo seu corpo se acostuma com a temperatura. Já se ficar ai, vai sentir mais frio ainda – Ele sorriu de forma maldosa.

- Ata! Sei! E onde viu isso? Nos imbecis.com?

Ele se sentou um pouco distante da margem e agarrou seus joelhos se encolhendo para ver se o frio passava, contudo o vento não estava ajudando ele a se aquecer. Dessa forma, ele se levantou, foi para trás de uma árvore tirou suas roupas e as pendurou em alguns galhos baixos ficando somente de cueca. Depois ele correu e pulou para o lago e para sua surpresa, dessa vez, a água não estava tão gelada quanto antes.

- Ora! Ora! Ora! O filho pródigo retorna! A que devo a sua honrada visita? – O garoto riu e continuou debochando dele.

- Simplesmente me faça o favor de calar essa sua boca! E me deixe pensar um pouco – Ele mordeu seus lábios que de vermelhos passaram a um tom arroxeado devido ao frio.

- Pensar em quê?

- Pensar em quanto tempo terei de ficar nessa geleira até minhas roupas secarem. O clima está frio e ainda não deve ser mais de 8h30min da manhã, ou seja, vou ter que passar umas 3 horas aqui, isso se o vento continuar assim e se não começar a garoar.

- Você pensa demais... Por isso todo mundo te chama de Nerd ou de Projeto Professor Charles Xavier. – ele riu – Se você continuar ficando com essa careca aí, realmente vai se parecer com ele. Claro! Tirando a diferença de tom de pele.

- Ahhh! Vai se foder seu arrombado do caralho. Vá ficar de rabo pra cima em uma chuva de pica! Careca é o rombo que vou fazer na sua cara com o soco que vou te dar seu idiota. Seu retardado dos infernos. Filho da puta. Vou te arrebentar agora seu viado – Ele começou a nadar tentando alcançar o outro garoto, que somente ria dos insultos dirigidos a ele.

Quando o alcançou, eles começaram a lutar novamente. Mesmo o garoto iludido sabendo que suas vantagens eram praticamente nulas, ele continuou tentando a todo custo afogar o outro, nem que fosse por apenas alguns segundos, somente o suficiente para fazê-lo se arrepender de ter o chamado de careca. Após alguns momentos o garoto prendeu seus braços e o colou de costas junto ao seu corpo impedindo todos os seus movimentos. Como estavam em um ponto fundo do lago, ele só podia continuar balançando os pés para não afundar no rio e confiar que o outro garoto não o afundasse. Mas estava difícil para ele se concentrar em alguma coisa quando ele estava sentindo sua bunda ser pressionada em outros locais, que para ele parecia estar meio duro. Evitando pensar nisso, ele disse que estava sentindo sua perna doer e que talvez fosse cãibra, assim, logo o outro garoto o soltou e eles foram pra perto da margem, até onde pudesse se sentar de forma que o corpo ficasse submerso e somente a cabeça deles ficasse a vista.

Lá, eles conversaram por bastante tempo, sobre vários assuntos aleatórios e um que sempre se repetia. Esse que se repetia era sempre sobre virgindade. Ambos ainda eram virgens, cada um por razões diferentes, mas ambos tinham dúvidas em comum.

- Ei! Sabe de algo legal? – O garoto perguntou expressando uma excitação cada vez mais crescente enquanto esperava pela resposta.

- Não! O quê? Finalmente conseguiu desenvolver um cérebro nessa caixa vazia que chama de cabeça?

- Você é tão mal humorado. Enfim, talvez eu me declare hoje para aquela garota que te falei e bem... Se tudo der certo... Talvez eu perca minha virgindade hoje.

- “Nossa! Que legal! Parabéns!”... Se for isso que está esperando ouvir de mim... Desista. Estou nem um pouco a fim de comentar sobre isso. O pau é seu e você come quem você quiser. Admira-me o porquê de você demorar tanto. Metade das meninas da escola gostaria de dar pra você. Você que é burro e não se aproveita da situação.

- Wow! É isso mesmo? Tenho alguém com ciúmes de mim? Não acredito! – O garoto iludido somente olhou de forma irônica e revirou os olhos. Já estava habituado a esse jeito vaidoso do garoto – Não é por que eu sou meio bruto assim que eu não quero ter algo especial com alguém que eu goste, entende? Sem falar na minha família. Minha mãe é paranoica com esses assuntos, ela mesma diz que só fez essas “trivialidades” duas vezes para gerar o meu irmão e eu. Não sei como meu pai suporta isso. Ambos acreditam nisso de que sexo serve somente para ter crias e pronto, se fazer por prazer é pecado.

- Isso não tem sentido algum! Sua família é meio perturbada. Seu irmão é assim também? Por que se for... Sinto muito! Mas não tem muitas esperanças para você.

- Meu irmão? Ele começou quando tinha 13 anos com a empregada lá de casa. Eu mesmo peguei no flagra. O que foi imensamente melhor do que se fossem nossos pais. Eu o entendo, ela era muito bonita e gostosa.

- Uau! E a empregada tinha quantos anos?

- 19. Ela era...

- Okay! Não precisa me contar os detalhes – O outro garoto sorriu.

- Tudo bem. Mas e você? Nunca te vi falando sobre quando pretende perder a virgindade... E você tem tantas pretendentes quanto eu, e ainda por cima tem a regalia de morar em uma casa grande, e sozinho praticamente.

- Quem disse que ainda sou virgem? – Ele riu da reação que o outro garoto teve.

- Se você não fosse... Você teria me contado já... Não é?

- Porque te contaria?

- Ah! Não sei. Talvez porque sou seu melhor amigo?

- E o que isso tem a ver com a minha vida sexual? – Ele estava segurando a risada. O outro garoto sempre acreditava em tudo que falasse. Isso o deixava indeciso entre saber se o outro garoto era ingênuo mesmo ou somente burro.

- Não acredito em você!

- Nossa! Isso vai fazer uma diferença enorme em minha vida agora. Nem vou conseguir respirar mais se você não acreditar em mim.

- Sabe como sei que é mentira?

- Essa eu quero ouvir! Como você sabe que é mentira? – O outro garoto sorriu.

- Vieram me falar que você não sabe nem beijar. Então o que dirá fazer alguma outra coisa – O garoto iludido ao invés de rir disso, ficou profundamente indignado. E lógico. Essa era a intenção do garoto desde o inicio.

- Vai se foder!

- Wow! Calma! Eu te defendi quando ouvi isso. Disse que com esses seus lábios você só não beijaria bem, se não quisesse. E que se o beijo foi ruim foi porque você beijou por pena. E antes que diga que estou inventado. Quem me falou sobre isso foi a Lizz do 2º ano.

- Aquela... Filha da mãe... Como ela pode dizer isso? Eu beijo muito bem. Ninguém nunca reclamou. Como ela se atreve a dizer que não sei beijar?

- Eu te defendi, mas tenho certeza que ela está certa – O garoto começou a rir com a cara de ódio que o garoto iludido fez.

- Quer que eu te prove ou o quê? – Ele falou por raiva, levado pelo momento.

- Quero que prove!

- O quê? – Arregalou os olhos, se surpreendendo – Não preciso provar nada a ninguém!

- Vai fraquejar agora é? Eu sabia! Além de beijar mal, é covarde. Que coisa feia pra sua imagem, Mister Perfeição – O garoto se inclinou para trás, apoiando as mãos no fundo do rio e deixando seu corpo flutuando na água, enquanto fechava os olhos e sorria de forma convencida.

Muitas coisas se passaram na mente do garoto iludido naquele momento. Era uma oportunidade que nunca se repetiria novamente em sua vida, mas ele era seu melhor amigo e certamente não se sentia da mesma forma que ele, então, o que fazer?

Aos poucos, seu corpo começou a se mover, como se fora de seu controle. Com uma mão ele apoiou o peso de seu corpo no fundo do rio e com a outra segurou na parte de trás da cabeça do outro garoto. Como estavam próximos, seus movimentos foram rápidos, precisos e silenciosos, e quando o outro garoto percebeu, já não havia espaço para que ele fugisse e antes que falasse algo, o garoto iludido o silenciou com seus lábios. O beijo foi rude e brusco no começo, só houve o contato dos lábios e ele achou que ficaria somente assim, já que ele não tinha coragem de continuar aprofundando o beijo. Quando estava prestes a sair, sentiu os outros lábios se abrirem levemente e envolverem o seu lábio inferior. Ele não esperava ser correspondido e isso fazia seu coração acelerar. Ele também abriu os seus e então ambos começaram a se alternar entre um envolver os lábios do outro.

Era como uma passagem só de ida para ele. Aos poucos tudo ao redor sumiu de seus sentidos, todos os pensamentos que tinha em sua mente desapareceram, e restaram somente aqueles lábios e o calor que eles provocavam. Quando achou que não poderia ficar ainda melhor, sentiu algo invadir sua boca, começando a explorá-la aos poucos, logo, ele passou a corresponder, sentindo sua língua encontrar a do outro garoto, que era incrivelmente suave e quente. Ele estava quase fora de si, sua respiração estava ficando ofegante e estava começando a inevitavelmente ficar excitado, mas ele não se importava, só queria continuar e continuar... Quando o outro garoto sugou sua língua e depois mordeu seu lábio inferior foi inevitável conter que um gemido escapasse. Quando isso aconteceu, toda a névoa que envolvia seus pensamentos foi desfeita e somente então, ele abriu os olhos de forma sincronizada com o outro garoto, que também abriu os olhos no mesmo momento. Eles se encararam e depois de um tempo se afastaram um do outro. Sentaram-se novamente e logo após, somente o silêncio reinou entre eles.

Ficaram em silêncio por vários minutos enquanto se perdiam em seus pensamentos. O garoto iludido tentava pensar em quantos minutos passaram se beijando, parecia que foram horas, de modo que sua respiração ainda estava desregulada e sua excitação estava incontrolável. Por sorte, o outro garoto não havia olhado para ele quando terminaram o beijo, como a agua era clara e límpida, ela não escondia absolutamente nada. Após quase 20 minutos o silêncio foi, finalmente, quebrado, pelo garoto iludido.

- Acho que já está na hora de voltarmos, ainda tem muita coisa para a gente fazer – o garoto iludido lembrou ao outro de forma hesitante.

- Você que manda... – Então ele ficou de pé e caminhou até onde suas roupas estavam sem a mínima dificuldade ou expressão de que estivesse com frio.

O garoto iludido também se levantou e foi até a árvore que deixou suas roupas penduradas. Para seu desânimo, elas ainda estavam úmidas, mas uma roupa úmida era melhor que somente uma cueca molhada. Quando estava prestes a vestir a camisa, o outro garoto chegou com as suas roupas e estendeu para ele.

- Aqui! As minhas estão secas, então você pode vesti-las, vai se aquecer mais rápido assim – Colocou as roupas na mão dele enquanto pegava as que estavam úmidas para vestir.

Vendo aquilo o garoto iludido não podia ficar calado, mesmo sabendo que o outro garoto tinha uma temperatura corporal bem mais elevada que a sua. Não seria certo o deixar usar suas roupas úmidas. Quando ia protestar o outro garoto desceu sua cueca, ficando pelado em sua frente. Apesar de já terem se visto pelados quando criança, as coisas estavam bem diferentes, os dois já estavam “maduros”, e pelo menos para um dos dois, isso provocava um calor diferente. Ainda sem acreditar no que estava vendo, o garoto iludido rapidamente se virou de costas e esperou o outro se vestir para poder retirar a sua própria cueca e vestir a roupa, mas de repente duas mãos desceram a sua cueca.

- Qual é? Não vai dizer que está com vergonha de mim agora? – O outro garoto riu e deu a volta até ficar de frente ao garoto iludido que cobriu sua cintura com a camisa – Já sei, ficou com vergonha porque o meu pau cresceu e o seu...

Quando o garoto ia falar “pequeno”, o garoto iludido teve um pequeno acesso de vaidade e retirou a camisa, enquanto com um olhar de desafio disse – Pequeno? Acho que não. Parece que nisso empatamos.

O outro garoto ficou vermelho de vergonha, talvez ele não esperasse essa ação do garoto iludido. E quando se encararam, ambos ficaram em silêncio, constrangidos demais para continuar alguma conversa, restando à opção de somente terminarem de se vestir e irem embora. Depois disso...

- Você realmente vai contar todo o nosso dia juntos? Pode pular pra parte onde eu te machuco. Por favor? Se não se importa, está ficando tarde e quero sair daqui ainda hoje... – Ender interrompeu Nuno com impaciência, estava sendo incomodo demais para ele relembrar essas cenas ouvindo que os desejos de ambos eram o mesmo.

- Fecha o cú aí que a história é minha e eu conto da forma que eu quiser, quando for à sua vez, você fala do seu jeito. Continuando...

...Passaram o dia cumprindo todos os itens da lista, desde os mais idiotas, até os mais perigosos. No fim do dia, ambos estavam cheios de arranhões, hematomas, dores e cansaço, sendo assim, tomaram banho e foram se preparar para a festa. O garoto sabia que teria uma festa, porém, ele achava que a festa seria em outro local e que todos estariam lá, ele não esperava que quando fosse buscar o carro que estava estacionado próximo ao casarão para ir até o local da festa, seria recebido com uma enorme e extravagante surpresa, com direito a pilhas de confetes explodindo e vários apitos, que faziam um barulho ensurdecedor enquanto as pessoas começavam a sair, cada uma, de um canto diferente.

Foi uma grande festa. Começou cedo, por volta das 17 horas da tarde e começou a esvaziar perto das 3h30min da manhã. Nesse ponto, todos já estavam bêbados ao extremo, especialmente os dois garotos, que durante toda a festa ficaram competindo, virando copos e mais copos de bebidas. Até então eles ainda estavam bem um com o outro, se abraçavam e não desgrudavam um do outro, mas de repente o outro garoto foi sequestrado por uma bela garota que o garoto iludido achava familiar, mas que não conseguia reconhecer e entre danças e mais danças, eles se beijaram... Aquilo de alguma forma machucou bastante o garoto iludido, que teve naquele momento, sua primeira rachadura na ilusão daquela amizade.

Quanto mais ele olhava, mais sem ar e com mais raiva ele se sentia, quando viu a garota puxando ele para um dos quartos do casarão, recebeu sua segunda rachadura e sem o que fazer ele decidiu sair para o lado de fora e tentar se estabilizar um pouco enquanto bebia vodka diretamente do litro. De repente um homem chega ao seu lado, colocando a mão sobre o ombro dele e apertando.

- Vai com calma amigo. Ainda tem mais vodka lá dentro, não precisa virar tudo de uma vez.

- Quem é você? Meu pai por acaso?

- Bem que me falaram que você tinha uma língua afiada para responder aos outros.

- Isso cara! Volta a falar de mim com os outros e me deixa aqui de boa. Você vai ganhar bem mais com isso. Não estou com um bom humor caso não tenha percebido.

- Wow! Você é mais esquentado que meu irmão, como vocês podem ser amigos? Devem brigar a cada 5 segundos, han?

O garoto até então não havia olhado para o homem que estava ali o enchendo á paciência. Quando olhou, era inegável o parentesco que existia entre ele e o seu amigo, ambos eram extremamente parecidos, a única diferença consistia no timbre de voz e em um alargador na orelha, de resto, as diferenças eram mínimas, se ele não soubesse que seu amigo não possuía alargador, ele diria que eles eram gêmeos.

- Mas que porra é essa? Vocês são gêmeos por acaso? Ele me disse que você era somente 1 ano e meio mais velho que ele... Mas... Vocês são praticamente iguais... Ou é minha visão que não está boa sem meus óculos... Ou eu bebi demais... Dane-se, não sei de mais nada.

- Você é engraçado.

- É? Sou não sou? Só falta o nariz de palhaço pra completar o figurino.

O homem deu uma risada curta.

- Agora entendo porque ele gosta de você... Mas... Não entendo porque você gosta dele. Ele é bem idiota, imprestável e egoísta, não é?

- É! Ele é bem idiota, imprestável e egoísta sim, mas nos conhecemos há 10 anos. Então já me acostumei. Já você! Conheço a menos de 10 minutos e insultar meu amigo mesmo sendo irmão dele, não é um bom início de conversa. A propósito porque nunca o vi antes? Trabalha como fantasma na família de vocês ou o quê?

- Eu moro com meus avós desde os meus oito anos... Alguns problemas familiares, então... Somente... Os visito... Ás vezes... Mas me diz, porque está aqui com ciúmes do meu irmão?

- Quem disse que estou com ciúmes dele?

- Bem... Não sou idiota como ele. Ficou óbvio quando você o viu pegando aquela menina e saiu de lá quase correndo. Mas, relaxa. Não vou contar para ninguém sobre isso.

- Você não bate bem da cabeça. Não é?

O homem riu novamente.

- Já disse! Relaxa. Não vou contar a ninguém. Na verdade, sou como você, se é que me entende. Só vim aqui pra te dar um aviso.

- Primeiro! Não sei do que está falando quando diz que é igual a mim, está mais para igual ao seu irmão e segundo, se der esse aviso você vai embora e me deixa sozinho?... Geralmente, eu me levantaria e sairia, mas... Cheguei aqui primeiro. Sabe? Então... Se você se tocar disso e puder sair, ajudaria. Quem sabe assim, eu passo a gostar um pouquinho de você também?

- Claro. Apesar de que assim que você ouvir o que tenho a dizer, acho que você vai sair correndo em menos de um segundo... Enfim, na verdade, aquilo foi uma encenação do meu irmão para ver se você ficaria com ciúmes. Ele me deixou encarregado de ficar te observando e caso você ficasse com raiva, era para eu vir aqui te avisar de que... – Ele tirou um papel do bolso da calça – “Nuno, hoje passei o dia inteiro ao seu lado, e apesar de este dia representar o fim da minha infância, ele também representa o começo da minha vida adulta, e nela, espero que você esteja ainda presente. Hoje, tivemos o dia inteiro para nós, e isso me mostrou que quero continuar tendo esse “nós” para sempre. O que quero dizer é que... Quero você na minha vida como meu melhor amigo, meu melhor conselheiro e se você aceitar... Meu melhor namorado. Lamento por estar dizendo isso dessa forma, mas você sabe. Sou complicado com palavras, elas nunca saem facilmente. Mas se quiser ouvi-las dos meus lábios... Só vir no quarto que entrei com aquela menina. Estarei te esperando. E antes que venha com toda sua raiva (Risos), lamento por te causar ciúmes, nós não estávamos nos beijando. Era só encenação, nos posicionamos no ângulo exato para que você não pudesse ver que era falso. E lamento por esta carta estar chegando através das mãos do meu irmão... Mas saiba que não lamento por fazer tudo isso para ter certeza se você pode ser capaz de me amar assim como te amo!”. Esse é o aviso que ele me pediu para te repassar.

- Isso é impossível! Acha que sou idiota ou o quê?

- Se não acredita veja a letra... É a dele, certo? E a forma da escrita, as palavras que usa, e ele descreve o que vocês fizeram hoje, e pelo que entendi, só estava vocês... Então como é impossível?

- Eu não sei... Só sei que... Não pode ser... Pode?

- Saberá se for naquela sala e falar com ele.

Inocentemente o garoto se levantou totalmente dormente, meio tonto e acima de tudo, feliz... Caminhou pelo corredor até chegar ao salão, que ainda havia algumas pessoas dispersas. Uma ou outra dormindo em um dos sofás, algumas se curtindo, outras dançando ao som de Goo Goo Dolls – Iris¹...

Nesse momento Nuno parou sua narrativa, respirou por alguns segundos de forma profunda e antes de continuar ele fez um breve comentário – Engraçado como essa música se encaixou perfeitamente em como eu me sentia caminhando naquele trajeto da varanda até o quarto. Naquele dia, achei que essa música ia ser a que iria me trazer as melhores lembranças, hoje... – Ele balançou a mão, sinalizando que não importava – Enfim, continuando...

O garoto iludido entrou no quarto. Estava escuro. Demorou um tempo até sua visão se acostumar, então ele ficou na porta por um tempo. Quando sua visão se acostumou com os contornos dos móveis velhos no quarto, que era mais um depósito que um quarto, ele entrou e fechou a porta, chamou uma... Duas... Três vezes pelo sobrenome do outro garoto. Quando não teve resposta, ele caminhou até o centro do quarto, e viu em uma estante coberta de poeira algo que parecia ser uma rosa em cima de um cartão, o garoto sorriu. Como não poderia sorrir não é? Tudo estava perfeito, apesar da clara bagunça e desordem dentro daquele quarto. Ele se encaminhou até a estante, pegou a flor e a cheirou. Como sua visão era extremamente ruim, achou que era uma rosa, mas seu cheiro mostrou que estava errado, era um Lírio Amarelo². Quando pegou o cartão a primeira coisa que pensou foi “Como ele é tão burro? Como vou ler essa merda sem óculos e no escuro?”, mas ele ainda estava sorrindo. Esticou sua mão para a parede à procura do interruptor para ligar a luz... Mas de repente alguém o segura por trás, prende suas mãos com algemas, depois coloca um pano dentro da boca dele no momento em que ele pretendia reclamar, depois o amordaça, depois cobre seus olhos com um pano e depois o joga em cima de uma cama que tinha um cheiro repugnante de mofo.

Raiva domina o garoto iludido, ele pensa “Quem você pensa que é pra fazer a merda de uma brincadeira dessas? Acho bom você tirar essa algema, antes que eu fique com ainda mais raiva de você. É bom não estragar tudo com essa sua burrice”. O garoto sente suas roupas sendo rasgadas e sendo retiradas peça por peça, ele se assusta, quer chamar pelo nome do outro garoto. Mas não consegue... Que bater nele, mas não pode se mover... Além de suas mãos estarem presas atrás de seu corpo alguém está sobre ele.

O peso, as mãos, a força, tudo só lembra a ele uma pessoa. Sem sua visão que já limitada para distinguir os contornos, com seus ouvidos somente captando a respiração e o som de outra música que está a tocar na altura máxima³, só lhe resta um sentido, seu olfato. Desesperado, ele tenta sentir o cheiro daquela pessoa, mas só sente o cheiro do Lírio... Então o peso sai de cima de si. E ele respira aliviado, pensando que finalmente aquela brincadeira estúpida acabou, mas depois escuta uma risada familiar e alguém chega perto ao seu ouvido...

- Ei, Rey! Quem disse que já pode descansar? Estamos somente começando... Eu disse que se tudo desse certo hoje, eu perderia minha virgindade, certo? Quem melhor do que você para me proporcionar isso? Sei que você quer também...

Então o garoto é virado de bruços. Ele se agita. Não resta dúvida, é realmente a pessoa que ele temia que fosse. Então, ele pensa desesperado “Porque está fazendo isso comigo? Não somos amigos? Você não me ama?”.

Então lá está o peso sobre si novamente, e então... Não há nada. Tudo fica quieto por um ou dois minutos, depois... Uma dor o preenche, uma dor que não é possível de descrever. Ele quer gritar, mas não consegue. Seu corpo fica rígido e devido a isso, ele leva um soco na base de sua coluna, mas ele somente sente a pancada, nada supera a outra dor que sente cada vez indo mais fundo dentro de si. Lágrimas brotam em seus olhos, mas o pano as impede que sequer saiam. Ele simplesmente não se pertence mais, tudo o que faz ser ele, passa a ser, uma a uma tirada dele, sua voz, sua visão falha, seus movimentos, seus direitos sobre seu corpo, sua primeira vez...

Então ele sente alívio, a dor insuportável passa para uma dor suportável. Mas então, sua cintura é erguia e algo é posto embaixo, fazendo com que ele fique com sua bunda empinada. Ele sabe o que vai acontecer, mas... O que ele pode fazer para impedir? E antes que possa se preparar, lá está à dor novamente, só que dessa vez, pior que antes...

- Sente isso Rey? Agora ele está todo dentro de você! Agora sim vamos experimentar o prazer, certo?

O garoto iludido não sabe quantas vezes desmaiou e acordou naquele resto de noite. Tudo estava sendo movida na base da dor, sem descanso, a dor o colocava para dormir e a mesma dor o acordava. Já na última vez que acordou, seus ouvidos captaram ao fundo duas estrofes de uma música que ele desconhecia, mas que foi responsável pela terceira rachadura na ilusão, juntamente, com olhos de um castanho-escuro que o encarava e lábios fechados em uma linha firme, sem espaços para sorrisos. O que era dito na música se contrastava com a voz que saia dos lábios daquele garoto. O garoto, agora desiludido, não conseguia enxergar muita coisa, o pano só permitia a ele uma pequena brecha, sendo assim, só podia fixar sua visão nos olhos castanho-escuros ou nos lábios. Ele optou pelos lábios. O que ouviu entre as frases da música4 e frases pronunciadas por aquele garoto foi:

[MÚSICA] Vimos nossa quota de altos e baixos

- Sempre soube que era um viado...

[MÚSICA] Oh, a rapidez com que a vida pode mudar em um instante.

- Durante toda a nossa infância eu soube...

[MÚSICA] Parece ser tão bom reunir

- Tenho certeza que você gostaria...

[MÚSICA] Dentro de si mesmo e dentro de sua mente

- Bem mais...

[MÚSICA] Vamos achar a paz lá

- Se fossem vários caras te comendo...

[MÚSICA] Quando você está comigo

- Quem sabe não mando uns virem aqui...

[MÚSICA] Eu sou livre... Eu sou despreocupado... Eu acredito

- Te mostrar como é...

[MÚSICA] Acima de todos os outros, nós voaremos.

- Ser uma putinha de verdade?...

[MÚSICA] Isso traz lágrimas aos meus olhos

- Para você ter todos os seus buracos

[MÚSICA] Meu sacrifício

- Preenchidos do jeito que gosta...

O garoto desiludido riu nesse momento, sem saber se a música estava lhe dizendo coisas pelas quais se segurar enquanto aquilo não terminava ou se ela complementava o que o garoto dizia. Com isso recebeu um soco em seu rosto. Estrelas rodaram em sua mente, logo após, sentiu o gosto metálico do sangue preencher sua boca, o sufocando, já que não podia cuspir e nem engolir o sangue. Aos poucos ele caminhou para o escuro novamente, enquanto ouvia o garoto gemer e sentia-o estremecer sobre seu corpo alcançando seu clímax. Depois disso... Nada... Somente cacos quebrados. A ilusão se desfez, é já não existe mais um garoto iludido, não existe mais nada...

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