Terceiro Dia de Aula

Parte da série Amor de Ensino Médio

A quarta feira foi um daqueles dias que a gente acorda indisposto pra tudo. Eu já estava exausto da semana, queria logo o sábado pra eu poder dormir até tarde e ficar o dia inteiro jogado na cama. Pra piorar eu ainda não estava acostumado com o clima de Nova Friburgo. Meu pai costuma dizer que por causa da vegetação densa em torno da cidade, Nova Friburgo tem as 4 estações num único dia. E é verdade. Ora esta chovendo e de repente nasce um sol do nada e começa a esquentar. E quando menos imaginamos já esta fazendo aquele friozinho gostoso. E esse clima aliado as doenças do "ite", como diz mamãe: "Joao Lucas tem todas as doenças do "ite": bronquite, rinite, sinusite..." estava me fazendo muito mal. A gente estava a quase 3 meses morando ali e eu já tive 5 crises. Antes em São Paulo, eu costumava ficar 1 mês e pouco sem apresentar sintomas. Mas ali era direto, virava e mexia eu estava de cama. E logo no terceiro dia de aula, eu acordei me sentindo mal.

O celular despertou, direto, como se não fosse mais parar de apitar. A dor de cabeça e a preguiça era tão grande que eu não tive coragem de esticar o braço para desativar o alarme. Remexi na cama, virei pra parede, puxei o edredom tampando a cabeça e fechei os olhos, tentando dormir mais um pouco. Eu até que consegui ficar mais alguns minutos na cama, mas não demorou muito pra minha mãe chegar até o meu quarto.

Mamãe abriu a porta, foi até o criado mudo e desativou o alarme. Chamou pelo meu nome duas vezes mas eu a ignorei. Foi então que ela foi até a janela e abriu a cortina. Cruzes! Aquele sol estava de rachar. Novamente escutei "Joao! Joao! Joao Lucas. Acorda meu filho. Você vai se atrasar pro colégio."

Eu estava sentindo uma dor de cabeça insuportável. Meu nariz estava entupido e eu não conseguia respirar direito.

-Mãe! Eu não vou na aula hoje não!

-Claro que vai! Porque não iria?

-É sério mãe! Não to me sentindo bem.

A expressão da minha mãe mudou na hora. Ela veio até a cama e sentou ao meu lado enquanto fazia carinho na minha perna por cima do edredom.

-O que você tá sentindo? Sua voz está diferente mesmo.

-Não tô conseguindo respirar pelo nariz e a dor de cabeça está insuportável.

-aí meu Deus! Calma. Eu vou pegar o termômetro.

Mamãe levantou e foi até o quarto dela buscar o termômetro. Não demorou muito e ela voltou, dessa vez, acompanhada do meu irmão.

-O que foi maninho? Sinusite de novo? - disse meu irmão, logo após me dar um beijo na testa de "bom dia".

-Acredito eu que sim.

-Que merda ein cara.

-Matheus pega os remédios do seu irmão aí- disse mamãe enquanto posicionava o termômetro em baixo do meu braço, na axila.

-Tá aonde?

-Nesse nicho em cima da escrivaninha. - respondi.

Enquanto Matheus pegava o remédio, mamãe foi até a cozinha e voltou com um copo de água. Eu odeio engolir remédio em cápsula. Tomei os 2 remédios de uma só vez. Minha boca ficou com um gosto horrível.

-Tem certeza que não dá pra ir pro colégio?

-Não mãe! Os professores também nem devem passar matéria, mas qualquer coisa, eu pego depois com o Caio.... ou com alguma das meninas.

Quando ouviu a palavra "Caio" meu irmão já olhou pra mim com um olhar diferente. Eu fiquei tímido e remexi na cama.

Mamãe retirou o termômetro de mim e olhou a temperatura:

-37 graus. Ainda não é febre forte. Tem que ver se não vai aumentar ao longo do dia. Eu vou ver se seu pai precisa de alguma coisa. Você fica ai deitado e qualquer coisa você me grita.

Mamãe saiu do quarto e meu irmão ficou ali comigo, parado no meio do quarto abotoando a camisa. Ele não conseguia fechar o botão do pulso. Então logo intervi:

-Psiu! Ei garotão. Vem cá!

Eu sentei na cama e meu irmão sentou ao meu lado e logo esticou seu braço pra mim. Eu abotoei sua camisa e ajeitei a gola.

-Pronto! Tá lindo!

Meu irmão era um fofo. Uma gracinha de homem, tanto quanto a aparência física quanto a personalidade e o jeito dele. Não era a toa que tínhamos uma relação tão saudável e admirável. E ele sempre fica tímido quando o elogio Rsrs.

Deitei de novo, me ajeitei em baixo do edredom. Por mais que tivesse fazendo calor e o sol estivesse rachando eu estava sentindo muito frio.

-Joao Lucas tô indo trabalhar, tá!? Qualquer coisa você me liga.

Ele me deu um beijo no rosto e continuou:

-Fica bem ein.

Antes que meu irmão saísse do meu quarto, chamei-o pelo seu nome:

-Matheus!!

-Fala...

-fecha a cortina pra mim, por favor.

Meu irmão fechou a cortina e quando estava saindo do meu quarto, perguntou:

-Deixa a porta aberta?

-Pode fechar!

-Fui!

-Beijos. Bom trabalho.

Só escutei o barulho da porta fechando.

O quarto estava escuro. Apesar do mal estar, o clima estava ótimo pra eu dormir até 13h. E não foi muito diferente o que aconteceu.

Minutos depois escutei alguém batendo na porta.

-Abre!

-Joao Lucas....

Era minha irmã. Ela entrou no meu quarto com roupa de dormir e segurando com as duas mãozinhas o travesseiro dela.

-Oi Dudinha. Vem cá!

-Joao Lucas, é verdade que você tá dodói? A mamãe falou pro Papai que você não tá bem.

-Sim meu amor. O irmão tá com um pouquinho de dor de cabeça.

-e você não vai pra escola?

-Hoje não. Só amanhã, minha linda.

-Hmmmmmm. E você vai dormir mais?

-Sim. Porque?

-Eu posso dormir com você?

-Claro meu amor. Deita aqui com o irmão.

Me ajeitei na cama e coloquei o travesseiro dela ao lado do meu. Minha irmã deitou ao meu lado, e eu a cobri com edredom. Comecei a fazer carinho no cabelo dela e ela logo caiu no sono. E não demorou muito pra eu dormir também.

Passei a manhã inteira dormindo. O único ponto negativo não era nem tanto a dor e o mal estar afinal a gente acaba se acostumando mas o fato de eu não ter visto o Caio por um dia me deixou meio deprê. Aquele rostinho fofo e o sorriso mais lindo do mundo era o que me deixava mais feliz naquela fase da minha vida . Independente se ele estava ciente do que eu sentia por ele ou não, e se era recíproco ou não.

Mamãe me acordou 12:35. Era hora do almoço, meu irmão e meu pai já estavam em casa pra comer e minha Irma já tinha acordado antes de mim e tinha ido pra sala assistir desenho.

-Filho! Joao Lucas! Almoçar!

Esfreguei a mão no olho, bocejei e estiquei os braços e as pernas. A dor ja tinha aliviado. Mas o nariz ainda me incomodava muito.

-Já vou mãe, já vou!

Fui até o banheiro. Fiz minhas necessidades, escovei os dentes, lavei o rosto e passei uma mão molhada no cabelo porque tava igual uma juba de leão. Minha cara parecia de morte, minhas olheiras estavam "gritando" e minha bochecha mais funda que o normal. De pijama mesmo fui até onde estava todo mundo. Minha mãe estava colocando as travessas sobre a mesa, meu irmão e meu pai já estavam sentados e minha Irma estava na sala vendo TV.

-Olha quem tá aí. Já está até com uma carinha melhor. - disse meu irmão num tom de ânimo.

-Tô recuperado- disse eu em meio a um sorriso enquanto me acomodava na mesa ao lado meu irmão.

-O que você tem meu filho? Sinusite mesmo?- perguntou Papai numa expressão de preocupação e cuidado.

-Acho que sim pai, só pode ser isso.

-Eduardaaaa! Desliga essa TV e vem comer.

Todo mundo começou a se servir. Coloquei suco no meu copo e de repente meu celular toca.

-Tem um celular tocando! - disse mamãe

-O meu tá no meu bolso! - Disse Papai

-O meu também não é, é dos meninos- continuou mamãe

Meu irmão olhou pra minha cara numa expressão de interrogação do tipo "é o meu ou o seu?"

Levantei da mesa e fui até o corredor pra ver de onde estava vindo o som.

-O meu tá na sala. Vê se é ele que está tocando Joao Lucas- disse meu irmão

-Não! É o meu! O barulho está vindo do quarto.

Fui até lá e peguei o celular, era o Caio.

-Alô! - atendi!

-Opa. Está vivo? O que aconteceu?

-Rsrsrs tô sim. Foi só uma crise de sinusite mas amanhã já to de volta na escola pra te perturbar.

-Até parece que perturba. Rsrs fiquei preocupado!

-Tô melhor já. Relaxa. Mas e você?

-O que tem eu? Eu to ótimo! Só senti sua falta né

-Que? Você? Sentiu minha falta?

Caio sentiu o tom de ironia na minha fala e respondeu:

-Nem vem tá. Você que é um ogrinho. Ontem mesmo eu te liguei e você ficou todo grosso comigo.

-É diferente!

-É diferente porque? Nada a ver, é a mesma coisa.

-Porque é ué.

-Affs!

-(silêncio no telefone)...

-Psiu - cortei o gelo

-Fala...

-Posso te contar um segredo?

-Segredo? Vai, me conta... - respondeu Caio com uma voz de entusiasmo.

-Eu tava morrendo de saudade de você!

-Saudade de mim?

-Uhum!

-Rsrsrsrsrsrs

-O que foi?

-Nada rs

-Não gostou né!? Desculpa!

-Naoooo. Para! Gostei! Só não esperava que você ia falar isso.

-Rsrs tá fazendo o que aí? - mudei de assunto

-Tô vendo TV e você?

-vou começar a almoçar agora.

-Hmmmmmm

-O que?

-Nada. Queria te ver. Mas você tá doente. Ia chamar pra tomar açaí.

-Calma. Espera. Você poderia vir aqui em casa. Você sabe o caminho. Aí aproveita e traz seu material que eu copio a matéria que eu perdi hoje.

-Sério? Seus pais vão deixar?

-Vão! Claro! Relaxa! Você vem?

-Acho que sim. Não vou fazer nada hoje.

-Beleza! 14:30?

-14:30!! Combinado! Eu levo açaí pra gente.

-Fechou então. Agora vou desligar pra eu almoçar.

-Ok. Tchau!

-Tchau.

Desliguei e fiquei com o celular na mão olhando pra parede, pensando no Caio com o sorriso mais bobo do mundo.

Parece que a cada dia que passa ele lida melhor com a situação eu e ele. Ele ainda não chegou pra mim e falou que tá a fim de mim e muito menos me beijou. Mas era perceptível só pelo jeito que a gente fala um com o outro que a nossa relação era além de amizade. Amigos não são assim, principalmente meninos. E o Caio tava se soltando aos poucos. Basta eu ter calma!!

Coloquei o celular de volta em cima do criado mudo e voltei pra almoçar.

-Quem era? - perguntou mamãe

-O Caio- respondi olhando pro meu irmão temendo a reação dos meu pais. Matheus me olhou na hora. E minha mãe e meu pai trocaram olhares fulminantes. Continuei...

-... ele vai vir aqui hoje, trazer os cadernos pra eu copiar a matéria. Algum problema nisso!

-Por mim, tudo bem!- disse meu irmão enquanto limpava a boca com um guardanapo.

Olhei pro Papai esperando uma resposta, ele apenas disse:

-Sua mãe que resolve. Eu não vou falar nada!

Desviei então o olhar pra mamãe que respondeu:

-Tudo bem! Só lembrando que o senhor não está se sentindo bem. E só por isso que não foi na aula. - Nessa hora mamãe desconfiou até se eu estava mesmo com crise de sinusite.

-Eu sei mãe. Só vou pegar matéria.

-Hum.

Continuamos o almoço na paz divina. Meu irmão foi o primeiro a terminar de comer, levantou, e mamãe disse:

-Pode deixar tudo aí filho, que eu vou limpar tudo.

-Vou escovar meu dente então porque ainda tenho que voltar pra empresa.

Matheus levantou da mesa e foi direto pro banheiro.

Eduarda começou a brincar com a comida. Minha mãe não tem muita paciência pra isso. Então, terminei meu almoço e fui dar comida à minha irmã. Oh menininha difícil! Ruim de boca. Bolacha, chocolate, essas coisas ela come... mas comida de sal, enrola enrola e não come nada.

Em meio a tudo isso, Papai também havia terminado seu almoço, levantou da mesa e foi se ajeitar pra voltar a trabalhar. Mamãe juntou todas as louças e colocou na pia. E quando Eduarda havia terminado de comer, peguei ela no colo e fui pra sala com ela.

Mamãe ficou na cozinha, ajeitando tudo.

Sentei no sofá da sala e coloquei em canal infantil. Minha Irma deitou com a cabeça no meu colo e ficamos vendo desenho, enquanto eu passava a mão no cabelo dela.

-Vamos brincar de Barbie?

-Hoje não Dudinha. O irmão não tá bem não.

-aaaaaaah

-Mas..... prometo que amanhã a gente brinca de Barbie e faz cabaninha em baixo da cama. Topa?

-Ebaaaaaa.

-rsrsrs

Nesse mesmo instante:

-Daniela meu amor, estou voltando pro trabalho. - Papai gritou da sala

-Vai com Deus meu amor. Bom trabalho!- respondeu mamãe lá da cozinha.

-Tchau mãe! - Matheus

-Beijos meus filho- gritou de novo mamãe.

-Tchau filho. Se cuida ein.- falou Papai que despediu de mim passando a mão no meu cabelo num gesto de carinho.

-Tchau maninho.... quero saber de tudo depois-

Cochichou.

Matheus me deu um beijo no rosto, retribui com um sorriso. E ele voltou pra empresa junto com o Papai.

Fiquei ali na sala por mais algum tempo com a minha Irma. Eu já estava cansado de ver TV e nada de mamãe terminar de arrumar cozinha pra fazer companhia pra Eduarda. Passado uns 10 minutos, levantei e fui pro banho:

-Dudinha, o irmão vai tomar um banho e você fica aqui tá!?

Eduarda apenas balançou a cabeça que sim. Fui até a cozinha antes de ir pro banheiro:

-Mãe deixei minha irmã vendo TV e vou tomar um banho porque o Caio daqui a pouco está chegando.

-Tudo bem meu filho. Já to indo lá ver ela. To só fazendo um bolo aqui porque já que esse menino vem aqui em casa, aí vocês têm alguma coisa pra tomar café mais tarde.

Abracei minha mãe por trás e dei um beijo no rosto dela.

-Muito obrigado viu!? Por tudo!! Você é a melhor mãe do mundo!

-Não sou nada. Larga de melação menino.

-É sim! Te amo muito, viu!?

-Oh meu filho. Também te amo!

-Bom, agora vou tomar banho

Quando eu tava saindo da cozinha....

-Filho!?

-Oi mãe!

-Você tá melhor?

-Em visto de mais cedo, estou sim mãe. Depois vou tomar a segunda dose do remédio, acredito que amanhã eu acorde bem.

-Vai sim, se Deus quiser. Até porque também nem é bom ficar faltando muita aula né!?

-Uhum. Enfim... já volto.

Fui pro banheiro. Tomei um banho caprichado. Passei sabonete líquido no corpo umas 3 vezes só pra ficar aparentável pro Caio. A gente fica muito bobo quando se apaixona por alguém né!? Faz cada coisa só pra impressionar....

Desliguei o chuveiro e me sequei. Enrolado na toalha, passei uma pomada no cabelo só pra ajeitar o topete. Escovei o dente, e escovei de novo. Espirrei um desodorante e o meu perfume preferido. E fui pro meu quarto vestir uma roupa.

Vesti apenas uma cueca branca e uma bermuda de moletom cinza. Liguei a TV do quarto e fiquei assistindo Netflix. Eu estava deitado na cama, sem camisa quando o interfone tocou, com certeza era o porteiro pra anunciar a chegada do Caio. De pressa, gritei:

-Deixa que eu atendo! Corri pra cozinha e peguei o interfone:

-Alô!

-Dr Joao Lucas?

-Sim, sou eu!

-É que tem um rapazinho aqui que se identificou como Caio e tá querendo subir. Posso deixar subir?

-Pode deixar subir. Obrigado!

Calcei meu chinelo e fui até o corredor esperar o Caio na porta do elevador. Vi pelo visor que o elevador estava subindo, nessa hora meu coração estava prestes a sair pela boca. Um dos elevadores abriu primeiro, eu estava com um sorriso de um canto a outro do rosto pra receber o Caio mas não era o Caio, era o vizinho do apartamento ao lado, com sua irmã. Cumprimentei-os e continuei ali parado.

De repente o outro elevador abre, e lá estava ele, lindo e maravilhoso. Recebi-o com o brilho nos olhos, sorriso Colgate e uma expressão de felicidade, entusiasmo, amor e saudade. Caio estava com um sapatênis, uma calça jeans tradicional, uma blusa polo preta, relógio, Ray ban preto clubmaster, uma pasta carteiro de couro preta e na mão, uma sacola de supermercado. Não sei o motivo de toda aquela arrumação só pra ir na minha casa. Se a intenção era me impressionar, conseguiu. Olha, ele já era lindo, com aquele roupa ele estava mais gato ainda. Fiquei apaixonado. Ele ficava fofo de óculos de sol, e com blusa polo também. Acho que foi a primeira vez que o vi arrumado, sem o uniforme da escola. E estava impressionado. Não consegui disfarçar a minha expressão de "Uaaaaau! Que gato!"

Quando nos olhamos, ele abriu um sorriso e eu também. Ele veio ao meu encontro e não sabíamos se nos cumprimentávamos com um aperto de mãos ou se nos abraçávamos logo. Ficou meio que aquela enrolação mas por fim eu agarrei meu braço nas costas dele e o envolvi num abraço. Eu estava sem camisa, só de bermuda, e quando nos abraçamos a bolsa que ele estava segurando encostou nas minhas costas, e estava gelada então meu corpo reagiu tremendo.

-Nossa! Tá gelado!

E gargalhamos.

-Trouxe açaí pra gente!

Caio tirou o óculos do rosto, levantou-o e o colocou em sua cabeça.

-Vem. Entra!

Encostei a porta da sala. Caio estava muito sem graça, tímido e sem ação. Andava atras de mim feito um robô. Não é de se estranhar também, afinal era a primeira vez dele na minha casa.

Minha Irmã estava deitada no sofá e quando o viu, desceu do sofá e veio até a gente, e comunicativa do jeito que é, já foi logo falando oi:

-Oi. Quem é você?

Caio só riu, e antes que ele respondesse eu já disse:

-Essa é minha irmã, Caio.

Caio abaixou pra falar com a Eduarda:

-Oi. Rsrs Tudo bem? Meu nome é Caio e você, como se chama?

-Meu nome é Eduarda!

-Eduarda! Seu nome é muito bonito, sabia?

-Obrigada! E você é muito bonito!

Caio sorriu, olhou pra mim, tornou a olhar pra minha irmã e respondeu:

-Aaah muito obrigado! Você também é uma menina muito linda e esperta!!

-Você gosta de Barbie?

-Se eu gosto de Barbie? Gosto! Você tem?

-Aham! Você quer brincar comigo?

-Dudinha, agora não, deixa ele. Ele veio aqui pra gente estudar. - intervi antes do Caio responder.

-Olha, hoje não vai dar, mas eu prometo que vou voltar aqui um dia só pra gente brincar de Barbie. Combinado?

-Combinado!

Dudinha deu um abraçou no Caio. Ele quase caiu pra trás e os dois ficaram rindo. Eu também fiquei com um sorriso bobo no rosto admirando e observando o primeiro contato deles. Pelo visto, minha Irma já gostou dele de cara e já tava criando intimidade. Isso era bom. Nunca vi o Caio tão comunicativo, pensei que ele seria tímido demais, mas superou minhas expectativas, ele estava super entrosado. Mamãe saiu do quarto dela e chegou na sala:

-Solta o rapaz, Eduarda. Assim você sufoca ele! - disse mamãe

-Imagina, não tem problema não Rsrs- respondeu Caio.

Minha Irma voltou pro sofá, Caio levantou e eu o apresentei pra minha mãe:

-Mãe, esse é o Caio, amigo meu da escola. Caio essa é Daniela, minha mãe.

-Prazer! Tudo bem com a senhora? - disse Caio sendo simpático, com um sorriso no rosto, estendendo o braço pra cumprimentar minha mãe.

Minha mãe o cumprimentou com um aperto de mão e dois beijinhos no rosto.

-Senhora não, ainda não tô velha pra ser chamada de senhora- disse minha mãe com seu senso de humor, e Caio reagiu com um sorriso tímido. Então, mamãe continuou:

-Então você é o famoso Caio. Bonito mesmo! Sabia que seu nome é muito falado aqui em casa, né Joao Lucas!?

-Maaaaaae! - respondi tipo assim "Para né mãe"

Caio ficou tímido, suas bochechas ficaram rosadas e ele deu uma olhada pra mim e desviou o olhar pro chão, enquanto sorria.

-É mentira Caio. Minha mãe que exagera! - tentei contornar a situação, mas todos já estavam com vergonha.

-Você fica a vontade, tá Caio!? - disse mamãe enquanto sentava no sofá e ajeitava minha mãe no seu colo.

-Obrigado! Rsrs

-Pede sua mãe pra guardar isso na geladeira, senão vai derreter- cochichou Caio comigo.

-Mãe, o Caio trouxe um açaí aí vou colocar no congelador, tá!?

-Tá bom, meu filho.

Peguei a bolsa da mão dele e fui até a cozinha guardar. Caio veio atrás de mim, numa expressão de que realmente estava em território desconhecido. Da cozinha partimos direto pro meu quarto. Entramos e fechei a porta.

-Pode colocar sua bolsa aí, se quiser tirar o tênis, fica a vontade....

-Com licença.

Caio colocou o celular e o óculos em cima da minha escrivaninha. Colocou a bolsa em cima da poltrona.

Eu estava sentado na cama com os pés cruzados em cima da cama. Caio sentou ao meu lado e sem termos algum assunto pra de imediato conversar, ele ficou olhando pra TV (tava passando série na Netflix, na verdade tava pausado) e eu o admirando. Ele percebeu que estava encarando-o e sem graça perguntou:

-O que foi?

-Nada!

-Tá me olhando...

-Posso não? Desculpa então

-Pode né. Mas...

-Mas?

-Nada!

-Hmmmmmm. Euem.

-Não sabia que assistia Gossip Girl!

-Amo! Sou viciado! Mas como sabe que é Gossip Girl?

-Tô vendo a imagem do Eric ali na TV. E eu não perco um capítulo.

-Gente!

-O que foi?

-Não tem cara de quem assiste Gossip Girl.

-E como é a cara de quem assiste Gossip Girl?

-Você entendeu! Não é aquele tipo de série que heteros costumam assistir - instiguei, mesmo tendo certeza de que ele era gay.

-Affs. Que preconceituoso!

-Não é isso. Ah quer saber, deixa pra lá.... Mas foco aqui, quem foi dar aula hoje?

-Ah! Tivemos aula de Português, história, física e inglês. Quase não teve conteúdo. Os professores ainda estão naquele lance de apresentação, embalar do ano letivo e etc e tal. Mas eu trouxe o caderno pra você copiar algumas coisas. Acho que só tem conteúdo de história e física. Ah! E eu trouxe uma folhinha de inglês que a professora distribuiu.

-Não conheço a professora.

-Ah. Ela é super gente boa. É coroa já mas sem duvidas uma das melhores do colégio. Você vai gostar!

-Se liga, vou te mostrar- disse Caio se referindo ao conteúdo. Caio pegou um caderno de 10 matérias e uma folha dentro da sua bolsa e me entregou.

-Vou copiar depois tá!? A noite quando não tiver nada pra fazer. - disse eu enquanto olhava superficialmente a folhinha e folheava o caderno.

-Tudo bem!

-Aí amanhã eu te entrego na escola!

-Se preocupa não.

Coloquei o caderno em cima do criado mudo e sentei ao lado do Caio de novo. Sorri pra ele e ele retribuiu com aquele lindo sorriso e olhamos um nos olhos do outro. O momento foi intenso e pra quebrar o climão que ficou entre a gente, Caio comentou:

-Não deveria estar sem camisa. Não está 100% bom pra isso! - comentou olhando pro meu abdômen.

-Hmmmmm. Tá incomodado? - respondi numa expressão maliciosa.

-Não! Tô falando pra sua própria saúde. E também não tem necessidade ficar com essa bermuda lá em baixo igual funkeiro com a beirada da cueca aparecendo.

-Gente ele tá incomodado mesmo! Mas tá reparando até a minha cueca kkkkk. - respondi enquanto apalpava o pau. Tentando ser divertido e instigante ao mesmo tempo. Ele olhou pro meu volume num olhar de desejo, eu saquei mas não falei nada.

-Não seja idiota Joao Lucas, fala sério, você acha que eu vou ficar olhando sua cueca? Eu também uso! Só fiz um comentário porque tá chamando a atenção, mas eu também tenho seu palhaço, olha... - falou ele sendo provocante enquanto com uma mão levantava um pouco a camisa e com a outra abaixava um pouco a calça, deixando a mostra a beirada da sua cueca. Óbvio que eu olhei pra aquela visão, sem contar que a barriga dele era uma delicia e deveria ter pauzão também porque tinha um volume considerável marcando na calça jeans. Queria aquele garoto só pra mim.

-Serio? Pensei que usava calcinha

-Seu besta

Gargalhamos juntos. Ficamos num silêncio por alguns segundo, e pra quebrar o gelo, falei:

-Psiu

-Fala

-Confessa que tá incomodado que eu to sem camisa sim!!

-Caralho Joao Lucas. Já falei que não tô incomodado. Quer saber, fica sem camisa então ué. Euem.

Olhei pra ele com um sorriso malicioso, aquela expressão de quem iria irritar, provocar.

-E para de me olhar com essa cara- Caio comentou.

-Tá incomodado sim!

-Não tô!

-Tá sim!

-Não tô!

-Tá sim! - parti pra cima dele, fazendo cócegas na barriga, axila e pescoço, ele começou a rir e ficar com o corpo mole, se jogou na cama e só falava "Para!".

Eu não entendia o Caio, ora ele era todo fofo, meigo, carinho que demonstrava estar ciente do que é, do que quer e do que sente, e ora faz questão de frisar a imagem falsa de hétero e de macho alfa. E eu não entendia também a minha ousadia com ele naquele momento. Logo eu, todo tímido e fechado. Com ele eu estava sendo ousado até demais.

Retornamos às nossas posições de antes ofegantes e ainda rindo do ataque de cócegas. Caio ajeitava seu cabelo e sua roupa que a essa altura do campeonato já estava amarrotada. Nós dois parecíamos duas crianças imaturas. Fazer o que né!? É o amor...

-O que a gente vai fazer?- perguntei tentando deixá-lo mais confortável e menos constrangido

-Não sei. Filme? Série? Conversar? Sei lá...

-Conversar depois porque preciso te falar uma coisa e te perguntar outra mas só depois. Vamos procurar alguma coisa na Netflix então. Pega o controle aí na escrivaninha.

Quando Caio foi pegar o controle da TV, ele deparou com as folhas dos meus rabiscos em cima da escrivaninha. Logo comentou, pegando alguma das folhas:

-Uau! Esses desenhos sãos seus?

Levantei e encostei ao seu lado:

-Sim. Costumo traçar algumas construções quando tenho tempo livre mas é desenho amador ainda.

-Quer ser arquiteto né!?

-Meu sonho! Desde os 6 anos de idade.

-Incrível! Você tem talento.

Nesse momento chega notificação no meu celular e ele apita. Pego ele na escrivaninha e vejo que é mensagem no grupo com as meninas do colégio. Logo comentei com o Caio:

-Mensagem da Laura no grupo!

-Da Laura? O que elas tão falando?

-Não sei, vou ver agora!

Sentei no tapete, encostado na cama e Caio pegou seu celular e sentou ao meu lado.

-Coloca a senha do Wi-Fi ai no seu celular.

-Qual é a rede?

-Vizeu!!! E a senha é ********.

(Pausa)

-Conectou? - perguntei

-Aham!

-Elas estão falando de ir pra casa da Laura sexta à tarde pra assistir filme e conversar

-Tô lendo. A gente sempre se reunia lá no ano passado. Eu, Gabriel, Laura, Julia, Thais. Ah! Até o Bruno também foi em alguns. Já fizemos noite do pijama. Era muito legal.

-Que massa. Vai ser legal então

-Aham!

-Você falou Bruno? Quem é? - eu sabia que era um ex namorado dele mas eu me fiz de sonso só pra ver o que ele ia responder.

-Bruno?

-Aham! Você falou "até o Bruno já foi em alguns"

-Ah! É um moleque que estudou com a gente, ele quase repetiu de e saiu da escola.

-Hmmmmmmmmmm. Legal.

Merda! Não teve coragem de assumir que pegava o garoto. To vendo que tirar o Caio do armário seria uma tarefa árdua. Mas eu não ia desistir. Não ia sair imune daquela história sem pelo menos um beijo dele.

-Vamos gravar um áudio pra responder no grupo - propus.

-Áudio?

-Aham! Vai, em 3,2,1.... apertei o botão do áudio:

"-EU ADOREI A IDEIA. VAI SER SUPER LEGAL. A GENTE PODE FAZER PIPOCA, BRIGADEIRO, SEI LÁ, VÊ FILME E FICA CONVERSANDO! (Eu)

-isso. Eu também curti a ideia. E Laura, depois a gente pode marcar uma noite do pijama igual foi daquela vez. O que você acha? Vai ser irado! (Caio)"

Pronto. Áudio enviado!

Não demorou muito pras meninas responderem:

"-Joao Lucas porque você não foi na aula hoje? Tá doente?" - Laura

"-Gente! Caio e Joao Lucas tão juntos? Aonde vocês estão? Casa de quem?" - Thais

"Hmmmmmmmmmmmmm. Olha o casal20 aí" - Julia

Gabriel respondeu apenas com o emoji de dois olhos "👀", tipo "só observo".

Caio gravou áudio no celular dele, respondendo:

"-Parem de viajar. Nem comecem. Tem casal porra nenhuma não. Eu to na casa do João porque vim trazer o material pra ele copiar a matéria de hoje que ele perdeu. Só isso!"

E eu digitei por escrito a minha resposta:

"Eu tive crise de bronquite, sinusite.... aí tô de cama. Mas já to me recuperando. Acredito que amanhã já vou na aula."

Nesse momento, enquanto eu digitava, Bateram na porta.

-Abre! - gritei.

Era minha irmã. Ela entrou no quarto com duas Barbies na mão, falando com o Caio:

-Caio, essa é a Karen e essa é a Duda.

-Nossa! Que lindas suas bonecas.

-Dudinha, agora não. Ele falou que depois ele brinca com você mas não é hoje. Chama a mamãe pra brincar com você- falei com a minha Irma

-Deixa ela.- disse Caio comigo.

Caio puxou Dudinha pro colo dele e ela sentou no colo dele. E os dois ficaram conversando e brincando com a tal boneca.

-Essa de vestido rosa é qual?

-A Duda. E essa morena de vestido verde é a Karen.

-Hmmmm. Duda! O mesmo nome que o seu. Olha que legal! Foi você quem escolheu?

-Na verdade não, foi o Joao Lucas.

-Hmmmm. E o seu irmão costuma brincar de Barbie com você? - perguntou Caio pra Eduarda enquanto olhava pra mim num sorriso malicioso. Apenas revirei os olhos pra ele porque sabia que no fundo ele tava me zoando.

-Aham. A gente faz cabaninha em baixo da cama e monta casinha de almofada pras bonecas.

-Olhaaaa que legal. E você vai me chamar pra vir brincar com você qualquer dia desses? - falou Caio com a Eduarda de novo, enquanto me olhava com um sorriso.

-UHUM!

-Então tá bom!

Caio deu um beijo no rosto da Eduarda. Eu fiquei com um sorriso bobo no rosto. Apenas de eu estar admirado e adorando essa relação dos dois (futuros cunhados rs), era só o que me faltava ter que disputar a atenção do Caio com a minha irmã.

Logo depois do beijo no rosto, minha irmã disse:

-Você é legal, sabia?

-Sério? Você também é legal.

-Eu gostei de você!

-Nossa! Rsrs Que honra! Eu também gostei muito de você.

-Você sabia que meu irmão tinha um namorado?

-Um namorado? Sério? - falou Caio, numa expressão que não demonstrou muita surpresa.

-Eduarda! Já chega! Vai lá brincar com a minha Irma- essa hora eu tive que ser grosso. Falei apavorado. Ela tava falando coisa que não devia. Por mais que estivesse rolando um clima entre eu o Caio, e a relação entre a gente estivesse meio estranha, sem saber ao certo o que estava acontecendo. Eu ainda não tinha falando de forma clara pra ele que eu era gay. Por mais que ele já sabia. E minha Irma já tava contando do meu ex namorado. Affs.

Não adiantou nada, ela continuou falando, e o Caio dando corda e atenção demonstrando estar interessado em escutar tudo que ela tinha pra falar.

-Aham! O Luan! Ele brincava de Barbie comigo também mas você é muito mais bonito que ele.

-Kkkkkkkkkkkkk muito obrigado!

-Você é o novo namorado do meu irmão?

-Eu? Kkkkkk Não! Nós somos só amigos.

-Eduarda. Já chega. Anda! Vem! - falei enquanto levantava do chão e tentava tirar ela do colo do Caio pra levá-la pra sala pra brincar com a minha mãe. Mas a bichinha persistia e continuava falando...

-É sim! Dá pra ver o jeito que você olha pra ele

-Aí meu Deus kkkkkkkkkkkkk

-Você sabia que ele brigou com o Papai e a mamãe por causa de você?

-Oh mãaaaaaaae! Vem aqui! - gritei.

-Por causa de mim? - perguntou Caio

-Aham! Porque ele não queria confessar pra mamãe que você era o namorado dele - confessou Eduarda.

-Oh maaaaaae. Olha a Eduarda! Chama ela pra aí pelo amor de Deus - gritei

-Kkkkkkkkkk mas nós não somos namorados! - disse Caio

-Não? - confusa, perguntou minha irmã

-Não!

-Mas vai ser!

-kkkkkkkkkkkkkk- riu Caio sem ter o que falar. Ele estava constrangido. É óbvio! Mas não ia ser grosso com a Eduarda. Afinal ela era minha Irma e só tinha 3 anos.

-Já chega! Vem comigo! - peguei Eduarda no colo e a levei até o quarto dos meus pais, onde minha mãe estava.

-Mãe!

-Oi

-Segura a Eduarda aqui porque ela tá falando um monte de merda e o Caio já tá todo sem graça. Já falou até do Luan

-Como assim?

-Depois te explico direito.

Quando eu estava saindo do quarto, minha irmã ameaçou a vir atras de mim, mas minha mãe logo interviu:

-filha! Vem aqui! A mamãe vai brincar com você. Vamos fazer comidinha pra Karen e pra Duda?

Graças a Deus, minha mãe consegui entreter minha irmã. Tadinha dela, ela só tinha 3 anos, era inocente. Mas esperta demais pra idade que tinha. Aliás, muito esperta. E sem querer, estava sendo inconveniente com o que estava falando. Por isso tive que a manter longe do Caio por enquanto.

Voltei pro quarto, e tava um clima super pesado entre eu e o Caio. Eu não tinha o que falar. Apesar dele tentar agir normal, tava perceptível no rosto dele o desconforto e o constrangimento. Tentei me desculpar, era o mínimo que podia fazer, e era uma forma de tentar amenizar o climão e dar início a um conversa....

-Desculpa pela minha irmã. Ela fantasia demais as coisas.

-Relaxa. Tá tudo bem. Ela é só uma criança! Só é esperta.

-Esperta até demais pra idade dela.

Sentei ao lado dele, Caio estava de cabeça baixa olhando pro tapete.

Depois de alguns segundos em silêncio, Caio disse num tom baixo:

-Você não me disse que tinha um namorado!

-Que diferença faz. Já virou ex!

-Nenhuma mas é bom conhecer as pessoas quando a gente começa a criar uma amizade.

-Você também não jogou limpo comigo. Você não me disse 100% da sua vida.

-Não tenho muito o que dizer, minha vida é basicamente essa que você tá vendo.

-E sobre o Bruno? Você também não me convenceu com essa história de amigo de classe.

-Já disse. Ele estudou com a gente no colégio mas já saiu. Foi embora da cidade, pra falar a verdade. E sobre o Luan?

-Meu ex namorado. Minha Irma já disse.

Caio tava diferente comigo, ele tava sufocado com os próprios sentimentos mas não tinha coragem de por pra fora.

-Você ainda fala com esse garoto?

-Que garoto?

-O Luan!

-Perdemos o contato desde que vim embora de São Paulo. Mas porque você tá tão interessado em saber?

-Nada ué. Só curiosidade!

-Uhum, sei.

Um silêncio reinou entre a gente por alguns segundos....

-Psiu!

-Fala...

-Olha pra mim!

-Fala Joao Lucas...

-Eu vou falar mas tô esperando você olhar pra mim.... Caio, posso ser sincero?

-Hum! Fala....

-Porque você não abre logo o jogo?

-Que jogo?

-Vai ficar me enrolando?

-Não tô te entendendo, Joao Lucas.

-Beleza então. Vocês faz perguntas pra mim sobre o que você quer saber de mim e eu faço pra você. Beleza?

-Hum!

-Beleza? To esperando você responder

-Tá. Vai...

-Ok. Minha vez de perguntar! O que aconteceu entre você o Bruno na festa de 15 anos da Laura?

-Que???

-Anda! Fala...

-Quem te contou isso?

-Não interessa. Eu quero ouvir você me contar

-Não vou falar disso.

-Beleza! Então eu também não vou te responder nada que você perguntar.

-Você investigou a minha vida? Foram as meninas que contaram, tenho certeza.

-Não investiguei a vida de ninguém. Elas que quiseram me contar por livre e espontânea vontade, porque elas perceberam um climão que tava entre a gente, então tentaram jogar limpo pra ajudar a unir eu e você. Foi só isso. Eu não quis se meter na sua vida não, nem perguntei nada pra ninguém. Para de ser estupido!

-Eu não sou estupido!

-Ah quer saber Caio, chega! Não vai dar certo isso. Só você que não percebe que eu to afim de você. Não toma uma atitude, não faz nada. Quer dizer, saber sabe né!? Mas é tão preconceituoso que não tem coragem de se assumir pra você mesmo e dizer que é gay.

-Eu não sou gay!! Você não sabe o que tá falando.

Você não me conhece. Você não sabe nada de mim.

-Realmente. Eu não te conheço e não sei nada de você. E nem você sabe da minha vida. Eu até estava tentando conhecer você melhor, mas chega! Isso não vai dar certo. Eu que fui burro em achar que um dia a gente ia ficar junto. Iludido eu! Achei que você ia acordar pra vida, deixar de lado esse pensamento pré histórico e assumir pra vo........

Caio não deixou eu completar minha fala e me atacou com um beijo. Eu fiquei com o olho arregalado. Não esperava aquela atitude dele, não esperava aquele beijo. Fiquei literalmente sem reação alguma. Eu estava colocando tudo pra fora que eu estava sentindo e precisava falar se não eu ia explorar e em questão de segundos, pra minha surpresa, eu senti sua mão segurando minha cabeça e sua língua invadindo minha boca. A língua dele se movimentava dentro da minha boca e eu não conseguia corresponder ao beijo. Meus braços ficaram paralisados pra baixo, não conseguia nem tocar o Caio. Meus olhos custaram a fechar. E quando eu consegui me entregar por completo ao beijo dele, ele me largou. Quando eu abri o olho, nós os encarnados profundamente. Foi o olhar de amor mais sincero. Porém ele ainda tinha medo e vergonha de assumir. A boca do caio estava entreaberta e muito inchada, avermelhada e toda molhada. O olho dele estava prestes a fechar se entregando a outro beijo meu. Eu lia "desejo" naquela olhar. Foi então que encarei aqueles lábios macios e com o polegar toquei sua boca, ele não demonstrou reação deixou os lábios moles e soltos. Puxei o lábio inferior dele pra baixo, deixando a mostra os seus dentes. Fechei os meus olhos e aproximei minha boca da sua. Nossos lábios se chocaram um com o outro. Eu chupei aqueles lábios e logo em seguida como resposta ele chupou os meus. Nossas línguas invadiram a boca um do outro, e se entrelaçavam de um lado pro outro num beijo quente, molhado e gostoso. Eu coloquei minhas mãos atras de suas orelhas e o seguirei pela nuca. E ele em mim da mesma forma. Não demorou muito pro heterossexualismo dele falar mais alto. Caio cortou o beijo, me empurrou de forma grosseira, levantou do chão muito apavorado, pegou sua bolsa na poltrona, seu celular e óculos na escrivaninha e saiu do meu quarto correndo sem dizer nada.

-Caio! Caio! Volta aqui! Caio!

Eu não tive reação. Não consegui levantar do chão pra impedi-lo de ir embora do nada, e daquele jeito. A única coisa que fiz foi chamá-lo pelo seu nome e pedi-lo pra ficar. Mas não adiantou nada. Ele saiu apavorado. Não falou um nada comigo, não me deu uma satisfação, simplesmente não me deu ouvidos e me ignorou, nem despediu da minha Irma e da minha mãe. Simplesmente saiu e foi embora correndo, como se estivesse fugindo. Fugindo da realidade da vida!!

Eu deixei ele ir.... pelo menos ele ia pensar. Mas confesso que eu estava com medo. Muito medo. Eu não queria perdê-lo. Não queria que ele me excluísse da vida dele daquele momento pra frente ou começasse a me tratar diferente. Tinha medo disso.

Fechei os olhos, respirei fundo, bufei, passei a mão na cabeça e deitei no tapete no chão do meu quarto pensando em tudo, tudo tudo. Momento tenso de preocupação e de não saber o que fazer.

Minha mãe logo veio no meu quarto:

-Joao Lucas, o que aconteceu meu filho? Porque o Caio saiu daqui de casa naquele estado. O que vocês fizeram?

Eu abri a boca a chorar e apenas pedi um abraço:

-Mãe, me abraça!

-Ooooooh meu filho.

Minha mãe sentou no chão ao meu lado e me envolveu num abraço. Eu deitei naquele colinho de mãe e chorei chorei. Não queria que minha mãe nunca mais me soltasse.

-O que aconteceu? Vocês brigaram?

-A gente se beijou, mãe.

-E foi por isso ele saiu daquele?

-Aham! Ele é gay mas é homofóbico mãe. Ele não se aceita.

-Ooooh meu filho. Não quero que você se machuque com isso tudo!

Voltei aos prantos. E tentava conversar com a minha mãe.

-Ele saiu transtornado. Não deu tempo nem de tomar o açaí que ele trouxe pra gente comer.

-Calma filho! Ele vai voltar. Dá um tempo pra ele.

-Até quando mãe? Até quando?

Minha mãe estava fazendo carinho no meu cabelo quando minha Irma chegou na porta:

-O João Lucas tá chorando? Porque mamãe? Ele ficou chateado comigo?

-Naaaaaao minha filha. Ele não ficou chateado com você. É porque ele tá dodói, lembra? Aí quando doi, ele chora.

-Chora? Mas eu tomei injeção no bumbum e não chorei mamãe! Ele precisa comer mais feijão pra ficar forte como eu.

-Isso aí minha filha. Rsrsrs

Não resisti às fofuras da minha irmã, e as lágrimas deram lugar a um sorriso. Levantei do colo da minha mãe, sequei as lágrimas e puxei minha Irma pro meu colo. Abracei muito ela e a enchi de beijos no rosto.

-Você quer brincar de Barbie comigo?

-Vamos brincar de Barbie então.

-Ebaaaaaa.

Peguei minha Irma no colo, coloquei ela sentada no meu pescoço e a levei pro quarto dela. Eduarda ainda dorme no berço, e como lá em casa são só 3 quartos: 1 dos meus pais, 1 meu e 1 do Matheus,

O berço e as coisas da Dudinha ficam no quarto da minha mãe porque é maior. Chegamos lá, coloquei ela no chão e pegamos as bonecas.

Minha mãe foi pra cozinha ajeitar as coisas pra gente tomar café da tarde e eu fiquei no quarto com a minha irma fazendo cabaninha em baixo da cama e brincando de Barbie.

A tarde passou e eu nem vi, ficou eu, mamãe e Dudinha brincando. Aí depois comemos bolo, tomamos suco e assistimos filme: Frozen. Quando vimos já era quase noite e Papai e Matheus já estavam de volta em casa. Papai foi direto pro banho e quando voltou disse:

-Quem quer ir no parquinho comigo, grita "eu" e levanta a mão!

Dudinha deixou as bonecas de lado e gritou "eeeeeeu" entusiasmada pra ir no playground do condomínio com o Papai. E os dois foram pra lá.

Juntei a bagunça de brinquedos que fizemos e fui pro meu quarto, comecei a copiar a matéria que tinha perdido. Mamãe estava na cozinha preparando o jantar. E meu irmão? Bom, Matheus estava no banho mas não demorou pra ir cumprir com sua função de paizao.

Eu estava sentado, na escrivaninha, copiando tudo, quando meu irmão bateu na porta.

-Ei posso entrar?

-Claro, entra ai!

-Trouxe seu remédio, maninho.

Peguei o copo de água e os comprimidos da mão do Matheus e tomei numa golada só.

Matheus sentou na poltrona e ficou olhando para minha cara. De cara, percebi que queria conversar algo, então deixei o material de lado e virei pra ele:

-Já pode me contar como foi o seu dia com o excelentíssimo senhor maravilhoso Caio. - brincou meu irmão.

-ah Matheus, foi muito mais ou menos.

-iiiiiiiih o que aconteceu? Não gostei desse tom de desânimo não. Pode me contando tudo Direito.

Matheus levantou da poltrona e sentou na minha cama, cruzou as pernas, encostou na parede e colou o travesseiro no colo dele e disse:

-Vem cá. Deita aqui!

Fui até lá e deitei no colo do meu irmão. Ele começou a mexer no meu cabelo e disse:

-Vai, me conta...

Respirei fundo e comecei a contar, TUDO TUDO TUDO desde a primeira impressão quando a porta do elevador abriu e eu o recebi até quando ele saiu apavorado batendo a porta sem dizer absolutamente nada!

Matheus me escutava, prestava atenção em tudo o que eu dizia mas não falava nada, nadinha. Apenas acenava com a cabeça que "sim" tipo "UHUM. Entendi. Continua...." e quando eu terminei de contar tudo como foi ele brincou:

-O açaí tá na geladeira?

-aham!

-Ótimo! Porque fiquei com vontade.

-É sério Matheus. Para!

-Eu tô falando sério!

-Para de brincar. Você não vai falar nada?

-Porque? Você achou ruim isso que aconteceu?

-óbvio. Você achou bom?

-Claro que é bom. Presta atenção.... ele veio aqui em casa, ele se deu super bem com a Dudinha, Ele ficou incomodado com o seu ex namorado, olha aí, sinal de ciúmes, ou seja, se interessa por você. Vocês se beijaram, cara. Olha só que grande passo. Não é isso que você queria!?

-Mas não desse jeito né Joao Lucas. Ele me beija e depois sai correndo e me deixa sem saber como vai ser entre a gente daqui pra frente? Assim eu não quero!

-E mais Joao Lucas, presta atenção, vocês tiveram apenas uma primeira conversa e ele jã começou a conversar direito com você a se abrir aos poucos, um falando da própria vida pro outro. Calma. Foi só uma primeira conversa. Você tem que levar em consideração o jeito dele e você não sabe ao certo porque ele é assim, se é algum trauma, se a família é homofóbica. Sei lá, pode ser vários motivos. Só não queira colocar a carroça na frente dos bois e estragar algo que possa vir a acontecer. Não seja burro maninho. Já te disse; Dê tempo ao tempo. E vocês se beijaram. Pra quem é muito enrustido eu já achou que aconteceu coisa demais pra um primeiro "encontro".

-Não foi bem um encontro. Mas você acha que ele vai me tratar diferente?

-Se ele te quer mesmo, não. Amor, amor não existe ainda porque convenhamos que vocês só se conhecem a três. Pelo amor de Deus. Mas aquele desejo, sabe!? pode ser que tenha muito. Então se ele tá muito envolvido, ele pode até te ignorar por uns dois, três dias no máximo. Até porque se ele é enrustido, vocês se beijaram e ele saiu daqui transtornado. É óbvio que ele vai ficar muito pensativo. E você também não vai ter o direto de cobrar que ele chegue amanhã na escola rindo, te abraçando e agarrando como se nada tivesse acontecendo. Mas calma. Deixa as coisas fluirem no tempo certeza. Sem pressionar,

Ok maninho? E também não precisa ficar com essa cara de morte, cabisbaixo, porque ninguém morreu e não tem motivo pra isso não. Vida normal, tudo normal, só ter calma e deixar as coisas fluirem.

-Você tá certo!! Obrigado, viu maninho? Te amo demais.

-ama? Ain que lindo! Me emocionei com essa declaração

-Affs Matheus, você é muito idiota.

-Mas eu já to imaginando você entrando de vestido branco na igreja com o véu arrastando até na porta.

-Nossa Matheus. Tchau! Você é ridículo. Não dá pra conversar com você.

Ele gargalhou, e eu não resisti e acabei rindo também.

-TATARANTANNNNNNN - Matheus ficou cantando marcha nupcial me zoando. Levantei do colo dele e voltei pra escrivaninha:

-Sai daqui. Ridículo. - falei, brincando com ele.

Quando ele tava saindo do meu quarto, enfiou só a cabeça na porta e disse:

-Quando você jogar o buquê, você joga pra mim? Preciso desencalhar também!

-Saaaaaaaaai. Implicante! Ridículo!

-Kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Ele fechou a porta e eu voltei pro conteúdo rindo feito um bobo das palhaçadas que meu irmão faz. Fiquei horas ali, por mais que fosse conteúdo de pouca matéria, eram textos longos. Depois de já algum tempo, Mamãe bateu na porta e me chamou pra jantar:

-Filho vem comer senão vai esfriar.

-Tô indo mãe. Podem comendo que eu vou só terminar esse parágrafo e tô indo.

-Não demora!

Pronto. Tudo copiado. Só faltava agora fazer a folha de inglês. Mas como não era pra entregar no dia seguinte deixei pra fazer outro dia. Guardei o caderno do Caio dentro da mochila pra entregá-lo no outro dia e fui jantar. Quando cheguei a cozinha, meu irmão ja tinha terminado de comer assim como minha mãe que estava dando comida a minha irmã, que novamente fez gracinha pra não comer. Ficou só eu e Papai jantando. Mas ninguém saia da mesa até que todos tivessem terminado a refeição. Vários assuntos cotidianos saíram e eu como sempre sem dizer nada. A TV da sala estava ligada no jornal então da mesa de jantar dava pra escutar as notícias. E a cada reportagem, vários comentários de mamãe, Papai e Matheus. Ajudei mamãe juntar a louça e colocar na pia. Matheus guardou o restante das coisas na geladeira e armário. E Papai foi pra sala com a Dudinha. Deixei Matheus secando a louça enquanto mamãe as lavava, e fui tomar meu banho. Tomei um banho normal, nem lento e nem tão rápido. Escovei os dentes pra deitar e do banheiro já fui direto pro meu quarto. Comecei a sentir frio de novo e vesti um pijama de inverno. Fui até a sala e dei boa noite pra todo mundo:

-Gente, vou deitar já. Beijos. Boa noite!

-Dorme com Deus meu filho. - mamãe

-Boa noite filho. - papai

Pelo visto Dudinha já tinha ido dormir. E Matheus estava no seu quarto.

Voltei pro meu quarto e deitei na minha cama. No escuro, fiquei olhando pro teto fazendo uma retrospectiva do meu dia. E olha, que dia ein. Peguei meu celular mas não havia uma notificação do Caio, pra minha tristeza, nem uma mensagem, nem uma curtida, nem nada. E ele estava online. Fiquei olhando pra sua foto do perfil durante um maior tempão. E me deu uma vontade de beijá-lo de novo. Só conseguia pensar no gosto daquele beijo e na imagem daquela boca inchada e molhada. Uma lágrima escorreu do meu rosto. "Eu só queria que tudo terminasse bem. Ele não precisava sofrer, bastava se entregar, afinal era o que ele mais queria e eu também. Eu não queria bagunçar sua vida, apenas colocar em ordem os pensamentos e sentimentos que estavam confusos dentro dele" foram esses os últimos pensamentos meus antes de eu apagar a tela do celular, colocá-lo no criado mudo, virar pro canto, cobrir minha cabeça com o edredom e cair no sono profundo.