João e Miguel #2

Conto de jorgeneto como (Seguir)

Parte da série João e Miguel

Bem cedo na manhã seguinte, depois de uma noite de sono inquieta, João já estava pronto e ansioso. Toma rapidamente a xícara de café, sai correndo para escovar os dentes, veste a bermuda azul e olha o relógio. Coloca a camiseta branca e olha, mais uma vez, o relógio. Calça o tênis, coloca o boné na cabeça e sai apressado do quarto. Volta e tira o boné, quase nunca o usa. Avisa a mãe onde está indo, dá um beijo nela e se vai. Luciana fica até assustada, ele quase nunca sai de casa e, quando sai, parece que está só cumprindo com uma obrigação, como se o protocolo das pessoas socialmente saudáveis o obrigasse a sair de casa. Ele prefere ficar no seu quarto em meio aos livros, músicas que ele gosta e internet. Ele sabia que um dia se encaixaria em algum lugar, mas por enquanto, só se encontrava mesmo no seu quarto.

Enquanto os pensamentos de sua mãe voam, João parece voar também de tão rápido que desce a rua da sua casa para chegar a tempo no ponto de ônibus e consegue. Linha 07: Jardim D. Pedro – Centro. Depois do costumeiro bom dia ao motorista e ao auxiliar e senta-se no primeiro assento.

No centro daquela cidade, Miguel acorda com as lambidas da sua cadela. Adelina era uma cachorra dócil, apesar da má fama dos pitbulls. Ela tinha sido bem cuidada, sempre recebeu muito amor e o corresponde sendo mansinha. Miguel a viu na casa de um amigo quando Adelina ainda era uma recém-nascida. A conexão foi profunda e imediata. Adelina se aconchegou no colo de Miguel e ficou deitada. Na hora de João ir embora, ela parecia querer ir junto. O amigo vendo a situação, deu de presente ao amigo querido que amava animais e, se pudesse, teria todos. Miguel a levou e não desgrudou dela desde então. Na cama, ainda recebendo as lambidas de Adelina ele se lembrou disso e, sem entender direito, pensou que o encontro da noite anterior tinha sido como o seu encontro com a cadelinha: com uma conexão profunda e imediata. Ele sorriu mais uma vez, o quarto ou quinto sorriso dado sem querer ao pensar em um quase desconhecido. Mas agora não era hora para ser levado por esses pensamentos. João, o tal quase desconhecido que o fazia sorrir sem querer, já estava a caminho. Se fosse pontual, estava para chegar e Miguel deitado ainda.

Depois de mais um pouco de carinho em Adelina, sai para tomar seu banho. Antes disso, Miguel enche a tigela de comida para Adelina que já começava a ficar agitada. “Quem vai passear comigo hoje? Quem? Come direitinho que o caminho é longo!” – falou para a cadela que já devorava toda a ração. Dentro do banheiro se despiu e ao ligar o chuveiro a campainha toca. Só podia ser João. E era.

Ele não teve dificuldade nenhuma de encontrar a casa de Miguel, apesar de não conhecer muitos lugares naquele local. Uma casa muito bonita, de muro baixo feito de cerca viva, com alguns degraus que levavam a uma varanda comprida onde havia bastantes plantas. As janelas eram grandes e estavam apenas com o vidro fechado. João contemplou aquela casa antiga, típica do interior, parecendo casa de vó por alguns segundos enquanto pensava se não era melhor ir embora e esquecer aquilo tudo. João não era tímido, sua professora até dizia que ele era um comunicador nato, mas o mundo o oprimia. Era assim que ele se sentia: oprimido. Ali, parado na porta da casa de um cara que ele havia conhecido na noite anterior e que era tão diferente dele e ao mesmo tempo tão parecido, João pensou em sua vida, na sua casa, no seu quarto e em como se sentia confortável lá dentro. Pensou também que era hora de reverter aquela situação, no fundo queria ter muitos amigos, sair de casa aos fins de semana, aproveitar um pouco mais e Miguel parecia ser a chance disso acontecer, a pessoa que o prepararia para o mundo. Meio vacilante, mas agora decidido, ele tocou a campainha da casa e o tempo que Miguel levou para atender pareceu ser eterno.

Demorou um pouco mesmo, afinal, Miguel estava nu, no banheiro com o chuveiro ligado. Ele pensou em vestir a roupa novamente, mas levaria ainda mais tempo e lhe passou pela cabeça que João poderia ir embora, achando que não tinha ninguém ali. Então, só desligou o chuveiro, enrolou-se na toalha e saiu correndo pra abrir a porta, passou por Adelina que comia a ração naquela calma de sempre, deitada com as patinha praticamente segurando o pote. Quando finalmente encontrou as chaves e abriu a porta, Miguel sentiu seu coração quase saltar pela boca ao ver aquele garoto imóvel ali, com aquele jeito hesitante que - Miguel presumia – sempre lhe acompanhava. João estava mesmo inerte, não sabia o que fazer e, então, sorriu. Miguel também sorria e não se movia. Os dois admiravam cada um a beleza do outro.

O silêncio só foi rompido um tempo depois pelos latidos de Adelina que se desviava das pernas de Miguel e corria para o portão já dando algumas lambidas em João que se abaixou para brincar com a cachorra. Saindo daqueles segundos mágicos, Miguel, enfim, convida João para entrar. Já na sala da casa, João percebe que Miguel estava enrolado apenas em uma toalha, deixando à mostra seu peito todo peludo, porém, aparados, e aquele caminho de pelos ralos que começava abaixo do umbigo e terminava onde ele não podia ver. Ver aquilo lhe causou uma excitação em todo o seu corpo - um arrepio gostoso quase nunca sentido. Percebeu, também, que seu rosto estava mais quente e, provavelmente, vermelho. Poucas vezes ele havia visto um homem com tão pouca roupa, além de seu pai e alguns colegas que ainda estavam no vestiário da escola quando ele finalmente entrava, depois de enrolar bastante.

Miguel se desculpou pelo atraso e disse que seu banho seria rápido. Enquanto isso, ele poderia ficar ali pela sala ou, se preferisse, no seu quarto. João já estava para dizer que ficaria na sala mesmo, afinal era a primeira vez em que ele estava ali e só conhecia Miguel há menos de 24 horas, mas antes que dissesse, Miguel o interpelou:

- Acho melhor ficar no meu quarto pra você conhecer meus discos e minhas coisas. Vem cá! – Miguel disse, pegando João pela mão, o deixando no quarto e depois correu para o banheiro.

João observou o quarto, a cama arrumada, a escrivaninha cheia de papeis, e a enorme estante entupidas de livros, discos e CDs. Ele só olhou, mas não quis tirar nenhum de lugar, mesmo Miguel dizendo que ele poderia ficar à vontade. Ele não conseguia parar de pensar no corpo de Miguel. O peito peludo, a barriga levemente saliente. “Deve ser maravilhoso passar a mão, alisar todos aqueles pelos”, pensou. Os minutos de pensamento libidinoso foram interrompidos abruptamente quando João se lembrou de que, na noite anterior, Miguel disse que haveria outra companhia com eles. Ele voltou a ficar preocupado, pensando em quem seria essa outra pessoa. Uma amiga? Um amigo? Seria namorada ou namorado dele? Essa ideia fez João voltar à realidade. Miguel não queria nada com ele e, talvez, não era nem mesmo gay. Era sempre assim, João, com toda a sua intensidade peculiar, via coisas que não existiam e acabava se decepcionando.

Miguel, enfim, terminou seu banho. Ainda no banheiro ele se enxugou, enrolou-se na toalha e saiu. Ao entrar no quarto foi logo indagado por João quando a outra companhia deles chegaria. Ele não entendeu direito do que João estava falando, nem se lembrava mais da brincadeira no dia anterior.

- Sim, você disse ontem que talvez tivéssemos mais uma companhia. Quem é? Ainda está para chegar? – João perguntou.

- Ah, sim. Você já conheceu nossa companheira, a Adelina. – Miguel disse em meio a uma risada um pouco escandalosa.

João sorriu, aliviado. Lógico que ele estava falando da cachorra, da Adelina. Depois de saber disso ele conseguiu ficar tranquilo novamente e sentou na cama.

Miguel começou a falar sobre seus discos e livros, mas João só conseguia prestar atenção no corpo de Miguel que estava completamente nu a sua frente, se enxugando com tranquilidade mais uma vez. João estava vermelho, com o rosto quente outra vez, vendo o pênis de Miguel e as bolas rosadas penduradas totalmente sem pelos, ele imaginou que duro, ficaria grande e grosso. Ele tentava desviar o olhar, mas não conseguia. Miguel parecia se aproveitar, passando a toalha no seu membro, arregaçando-o, deixando a enorme glande à mostra. Tudo isso fez com que João se encolhesse, não queria mostrar que sua excitação sentida lá na sala agora era visível, seu pênis estava duro feito pedra e o de Miguel também havia reagido e estava meia bomba ou seria impressão de João? Miguel continuava falando e João mal escutava.

Depois daquela exibição gratuita de Miguel que, enfim, veste a roupa, João também se recompõe e eles saem para o passeio. O dia estava ensolarado e uma brisa leve corria o rosto deles. Miguel estava efusivo, falava e ria. João também estava adorando tudo e conversava, parecia que se conheciam há anos.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Legal em 2017-02-02 18:18:11
Ola, Jorgeneto. Sua história está muito interessante, cativante mesmo. Além disso, a sua escrita é boa, diferenciando-se dá maioria, o que aumenta o prazer da leitura. Parabéns!