O namorado de minha amiga 18

Parte da série O namorado da minha amiga 01

Revelação de Luiza.

“... então é isso, Cláudio. Na verdade

sempre gostei de Guto e confesso

que até comecei a namorar Marcello

para ficar mais perto dele. É, mas

acho que ele nunca gostou de mim e

eu até acredito que isso tenha haver

com o fato de eu, na verdade,

demonstrar sempre o contrário do

que eu sentia por ele.

Eu estava sempre implicando, de

forma disfarçada, mas acho que ele

acabou percebendo e certa vez me

ouviu dizer a Marcello que eu não

queria que ele andasse muito com o

Guto porque eu o achava galinha.

Ele havia ficado com duas amigas

minhas, em uma festa e eu tive uma

crise de ciúme por conta disso daí

disse a Marcello que sentia dor de

cabeça e que fossemos embora. Sei

que fui uma perfeita idiota e que

não deveria ter forçado a barra para

namorar Marcello gostando do Guto,

mas Marcello parecia gostar de mim

e eu não queria ficar só.

Eu me sinto péssima com isso e

sinto muita vergonha de ambos. Eu

sei que terminei por usar Marcello e

me sinto horrível com isso, mas

perceba, eu não conseguia dominar

o que eu sentia por Guto.

Cláudio eu só estou desabafando

tudo isso contigo porque eu sei que

você será a última pessoa no mundo

a me julgar. Eu conheço o seu

coração e sei que irá me entender,

você sempre me entende até quando

eu o maltrato e sei que eu tenho

sido uma droga de amiga esses anos

todos, mas eu enxergo que só tenho

você como amigo.”

Dúvida.

Eu fiquei ali parado ouvindo a voz

da Lu baixinho ao telefone. Não

sabia como reagir diante daquilo.

Não era fácil de acreditar. Não sei se

havia ouvido certo, mas... enfim,

toda aquela implicância com o Guto,

e aquela propaganda negativa sobre

ele... tudo aquilo não passava de

amor reprimido?

Confesso que minha cabeça deu uma

volta e não pude assimilar no

mesmo instante. Porque ele não se

declarou para ele diretamente?

Porque usou Marcello? Porque então

falava tão mal do Guto?

Teria a Lu o raciocínio

comprometido? Ela escolheu o pior

caminho e porquê? Acho que nunca

vou entender o universo feminino.

Só sei que minha amiga havia me

confidenciado uma coisa que jamais

havia considerado. O asco que ela

parecia nutrir por Guto era notório,

como terá sido esconder que o

amava ou ainda, como será ter

mentido pra si mesma?

Sei que ela sofre e acho que

encontrei aí a razão por sua recusa

em falar com Marcello, penso que

ele pode ter desconfiado de algo,

talvez tenha percebido e isso tenha

arrefecido sua dedicação e interesse

por ela, na verdade não sei,

compreendo apenas que essa

estratégia esdrúxula da Lu a fez

sofrer e só resultou em dor para

todos os envolvidos.

Prosseguimos em outros assuntos,

mas não nego que o que ela havia

me dito não me saia do pensamento.

Nos despedimos e passei quase uma

hora com aquela sensação estranha

no corpo, um misto de alívio, pena,

estranheza, pena, mais pena ainda e

sem saber se queria levantar da

cama. Imaginei que talvez realmente

não tenha eu sido a causa do

rompimento entre ela e Marcello.

Gosto dela, queria poder ajudá-la,

mas não sei como ou se devo.

Surpresa

De qualquer forma, devia dormir,

bem cedo Marcello estaria aqui para

irmos para a Chapada, seguiríamos

até Alto Paraíso e de lá para São

Jorge, Guto iría conosco e acho que

deveria esquecer um pouco a Lu e

seus problemas e aproveitar o final

de semana ao lado de Marcello, mas

esquecer do sofrimento de uma

amiga não dá. O sono sobreveio à

preocupação de adormeci.

Senti o cheiro e os lábios doces de

Marcello sobre os meus e respondi

ao beijo recebido. Por um instante

esqueci estar no meu quarto na casa

dos meus pais e quando disso

recordei, levei um susto. “Marcello?

Meus pais estão em casa!!!” disse a

ele quase que em tom de

repreensão.

Mas ele sorriu e disse: “Não estão

não, você sabe que horas são, meu

coelhinho dorminhoco? São sete da

manhã. Quando cheguei seus pais

estavam saindo para o trabalho da

igreja e me disseram que poderia

entrar e acordá-lo. Faz meia hora

que estou aqui olhando você dormir.

Imagina... eu nem gostei...

hehehehe”. Eu me levantei e tomei

meu banho arrumei as coisas,

tomamos um café ligeiro e fomos

apanhar o Guto que havia acabado

de chegar da rua. Ele estava em

uma festa na casa de uns amigos e

disse que precisava só de um banho

rápido e que logo estaria novo.

Novo? Durante a viagem ele dormiu

o tempo todo, até roncou hihihihi.

Olhando para o Guto eu pensei se a

Lu suportaria esse espírito livre que

ele tem. Acho que às vezes quando

as coisas não se acertam é porque

não havia destino para isso.

Alto Paraíso.

Acho que depois das contas feitas o

que melhor ocorreu foi a Lu e o Guto

não terem namorado do contrário ele

teria se aborrecido muito, mas não

sou eu quem deve julgar isso. De

qualquer forma ele é livre e honesto,

não faz promessa, mas quando faz as

cumpre o problema reside no fato

dele parecer haver feito a promessa

de nunca assumir compromisso

sério.

Quando chegamos a Alto Paraíso

Guto insistiu para tomarmos uma

cerveja para espantar o calor da

estrada. Notei os olhares das

meninas sobre nós. Uma delas até

quis entabular uma conversa, trocou

telefone com o Guto, como não

poderia deixar de ser e uma outra

do grupo se dirigia na direção de

Marcello que quando percebeu, sem

cerimônia se levantou e foi pagar a

conta.

Entendi o que ele fez, a moça ficou

sem graça e se afastou. Uma terceira

me perguntou as horas e quis

conversar mais, mas acertei o anel

de compromisso no dedo de forma

que entendessem que estou

compromissado.

“Guto, vamos?” Disse Marcello muito

mais ordenando que perguntando. É

chato lidar com o assédio às vezes,

pior é assistir o namorado sendo

assediado, mas acho que começamos

a desenvolver resistência a isso.

Quando chegamos a São Jorge,

Marcello havia reservado dois

quartos, um para Guto e outro para

nós dois, com cama de casal. Dessa

vez desistimos de acampar porque

tem feito muito frio nesta época do

ano quando anoitece. Ocorre que o

quarto que ele havia reservado para

nós não fôra preparado para um

casal e ele ao notar a presença de

duas camas de solteiro ao invés da

de casal pedida, desceu para

reclamar.

Hotel.

A moça da recepção disse que como

se tratava de dois rapazes ela

pensou que ouviu errado. “Errado

como?” Marcello trovejou sobre ela e

chamou a gerente que discretamente

resolveu tudo, se desculpou e nos

alojou em outro quarto, ligeiramente

superior e com cama de casal.

“Eu me irrito muito quando isso

acontece, me desculpe, Claudinho”

disse Marcello ao que respondi que

não tinha importância e que o que

realmente importava era o fato de

estarem juntos para aproveitar o

final de semana, daí ele sorriu, nos

beijamos e fomos conferir se na

banheira realmente cabiam duas

pessoas.

Mais tarde recebemos da gerência

um pedido de desculpas e uma

cesta com bombons e um vinho

“cachorro” segundo Marcello que

tem horror ao vinho Canção que

segundo ele é gasolina pura hahaha.

Ele despejou no vaso e deixou a

garrafa onde poderiam imaginar que

a bebemos.

Eu me divirto com algumas atitudes

dele. “Não poderia magoá-la não é

mesmo, coelhinho?” Ele indagou-me

com um sorriso maroto no canto dos

lábios.

Aproveitamos para namorar um

pouquinho e a noitinha nos

encontramos com Guto que fora

parar no outro quarto pensando que

lá nós estaríamos. Nele instalaram

duas estrangeiras com as quais Guto

já havia feito amizade e estava

“Treinando” seu espanhol com uma

delas.

Novas amigas.

Eram Argentinas e até bem

agradável sua companhia.

Combinamos de ir a um bar onde

tocava música ao vivo todos juntos,

nós cinco.

Já no bar, depois de doses de

conhaques e algumas tequilas Ana e

Guto resolveram “caminhar pela

noite de São Jorge” a outra, Rafaela,

ficou conosco e perguntou a

Marcello se éramos namorados, ele

disse que sim e ela disse que se não

fossemos seria uma pena. (?)

Perguntei a ela porque e recebi

como resposta: “Vocês são lindos

juntos”. Ela é lésbica e viera para

conhecer uma garota com quem fez

contato pela Internet e ainda disse

que momento em que nos viu na

recepção entendeu que éramos um

casal (terá notado nossos anéis de

compromisso?), daí nos sentimos

mais a vontade e eu por meu lado

mais solto para ficar abraçado a

Marcello.

O bar em que estivemos era um bar

bem liberal e vimos outros dois

casais como nós por lá; a freqüência

do lugar era selecionada e

indiferente ao fato de haver pares do

mesmo sexo no recinto.

Rafaela nos deu muitas dicas de

bons lugares em Buenos Aires e por

ela ficamos sabendo que aprovaram

uma lei de união para “parejas

especiales” como nós. A conversa foi

ótima e as convidamos para uma

trilha conosco no outro dia.

Curtindo.

Mais tarde da noite Rafaela

encontrou a garota que viera

conhecer, era uma morena linda,

generosa nas formas, olhos de

amêndoas e sorriso de pérolas.

“Hasta mañana meninos, no se van a

dormir muy tarde eh?” Disse ela com

sotaque carregado quando se

despediu de nós.

Marcello e eu ficamos ali curtindo

uma bandinha até boa, e não sei

porque acho que a atmosfera do

local me deixou realmente relaxado,

tanto que me permitir, sem pressa,

beijar Marcello que entre um

conhaque e outro me disse ao pé

“Agora eu quero ficar sozinho com

você meu namoradinho lindo” Fiquei

arrepiado com o toque da sua boca

no meu pescoço.

Voltamos para a pousada onde no

quarto Marcello tocou violão para

mim e namoramos olhando o céu

pela janela. São Jorge é um lugarejo

muito pequeno, rústico e muito

simples, na entrada do parque da

chapada, mas gostamos muito, estar

próximos ao mato, perto da natureza

é algo que Marcello e eu amamos.

Dormi com a cabeça no colo dele

enquanto ele tocava.

Curtindo II.

Na manhã seguinte foi minha vez de

acordá-lo para a caminhada no

parque, ele dormia como um bebê e

deu até pena despertá-lo. Enquanto

ainda dormia fiquei estudando seu

rosto, seus traços, parado fiquei

observando o arfar do seu peito.

Às vezes paro e observo seu corpo,

seu rosto, seu jeito e entendo que

amar é isso, é descobrir no outro um

novo ser a cada dia. “Cachorrinho,

acorda, está na hora!” Eu disse em

seu ouvido. “A não coelhinho, só

mais cinco minutinhos!” Ele pediu e

me abraçou pra ficar com ele de

conchinha.

Terminamos por dormir até às 10h

hihihihi. Acordamos, pedimos um

café reforçado e ligamos para o

celular do Guto. Anna atendeu (*).

“O Guto? Chá acortou sim”

Respondeu ela com seu indefectível

sotaque porteño hihihi.

Marcamos de nos encontrar na

entrada do parque. Rafaela havia

sumido, imagino que sua amiga a

tenha feito entender que havia outro

programa mais interessante a ser

feito naquele dia de sol.

Bom, como já conhecemos o local

temos nossos lugares preferidos e

por uma coincidência sem

explicação, naquele dia a freqüência

havia sido mínima, então pudemos

ter alguns pontos só nossos.

Nadamos, caminhamos. E ao retornar

a São Jorge encontramos Rafaela e

sua amiga na praça. Ela nos

convidou para bebermos com ela e

ficamos por ali jogando conversa fora

por algum tempo.

Tarde agradável demais até que

apareceram dois caras que sentaram

à mesa atrás da nossa e ficaram nos

observando. Marcello notou na hora.

Nervos.

De vez em quando eles soltavam

uma piadinha de mau gosto, riam e

bebiam, Havia um terceiro rapaz no

balcão que ficava olhando a gente

também e estava visivelmente

incomodado conosco.

O bar que Rafaela escolhera era

também de categoria duvidosa isso é

o que a elegância me permite dizer,

mas estando em São Jorge e em

boas companhias tudo bem.

A coisa ficou quente quando um

deles passou por nós e soltou essa:

“... O meu nome é Valdemar...”

Buscou a cerveja e voltou à mesa

rindo. Marcello ficou vermelho como

um pimentão de raiva.

Eu não entendi porque; depois

fiquei sabendo que é trecho de mais

uma daquelas cançõezinhas idiotas

em que estigmatizam os

homossexuais. Marcello estava até se

controlando e já íamos embora,

estávamos saindo quando um deles

resolve cantar um outro trecho em

que... sei lá alguma coisa Telma eu

não sou gay, perto de Marcello.

Marcello se virou, segurou no

pescoço do sujeito, suspendeu o cara

e disse com ódio nos olhos: “ EU

SOU GAY , Ô VALDEMAR. QUAL O

PROBLEMA? VOCÊ É MACHO PRA ME

ENCARAR?” EU fiquei sem reação e vi

o sangue italiano de Marcello ferver.

Rafaela não entendeu nada e sua

amiga morena saiu puxando-a pelo

braço.

Desculpas forçadas.

O outro cara se levantou e veio pra

cima do Marcello, Guto deu uma

chave de braço nele e disse pra ele

ficar parado onde estava.

Marcello abaixou o outro e disse

para ele pedir desculpas. O cara

parecia assustado, mas não queria

pedir desculpas e Infelizmente disse

a Marcello: “Eu não vou pedir

desculpas pra você seu v* filho da

p*”.

O que aconteceu em seguida me

deixou assustado. Marcello,com uma

mão, torceu o braço dele até ele se

ajoelhar e disse que o quebraria se

ele não pedisse desculpas. O sujeito

já chorando pediu perdão e Marcello

o soltou e disse: “Vira um risco!” O

cara saiu correndo do jeito que

podia enquanto o Guto se acabava

de rir em uma gargalhada e soltava

o outro cara que saiu correndo

assustado atrás do primeiro.

“Vamos voltar logo antes que você

arrume confusão seu viado brabo

hehehehe” disse o Guto rindo pra

Marcello que respondeu “Fica

brincando que eu quebro o seu

braço”. Marcello se virou pra mim,

pediu desculpas, segurou na minha

mão e saímos como se nada

houvesse ocorrido.

Das poucas almas que estavam

naquele boteco sentimos aprovação

em seus olhares e de um senhor que

estava sentado na porta pudemos

ouvir “Bem feito, para aqueles dois;

eu sabia que ia aparecer alguém pra

dar um corretivo neles”.

Retorno.

Ao chegar a pousada tomamos um

banho demorado, Marcello se

desculpou mais uma vez e disse que

não pôde se controlar e eu pedi que

das próximas vezes ele se esforçasse

porque perigoso é o homem que não

tem nada a perder e aqueles bem

são do tipo que não têm expectativa

que seja, que poderiam estar

armados e de repente fui calado com

um beijo e fizemos amor dentro da

banheira mesmo.

Dormimos um pouco e saímos para

comer algo. Guto nos encontrou

mais tarde e voltamos ao mesmo bar

da noite anterior e encontramos

Rafaela que perguntou o que havia

ocorrido e a informamos de tudo.

Ela pensou que fosse um seqüestro

ou coisa assim, (é incrível com gringo

acha que tudo é seqüestro!). Guto

nos fez rir de algumas coisas e

esquecemos por completo do

episódio. Rafaela Nos convidou para

conhecer a sua casa em Buenos

Aires e trocamos telefones.

Nos despedimos e a nova amiga de

Guto ficou de retornar no final do

ano.

Resolvemos voltar na noite de

domingo mesmo, de lá saímos por

volta de 23h40 e por acaso do

destino no posto onde abastecemos

os rapazes que haviam nos

provocado eram frentistas.

Eles levaram um susto quando

Marcello desceu do carro. O outro

que Guto segurou veio pedir

desculpas e perguntar se iríamos

dizer alguma coisa ao gerente do

posto. Guto simplesmente o ignorou

como se não o conhecesse.

O outro se desfazia em gentilezas e

agrados perguntando se queria que

ele lavasse o pára-brisas, se queria

que ele calibrasse os pneus. “Só

enche o tanque e vaza daqui”

Marcello respondeu ríspido.

Retorno II.

É interessante como algumas

pessoas se comportam com relação a

essa questão. Quando um gay ocupa

uma posição superior ele é

respeitado e isso é triste de se

notar. Penso que aceitam nosso

dinheiro, mas nós não.

Dá vontade às vezes de só comprar o

que quer seja de estabelecimentos

cujo dono seja gay ou empregue

funcionários gays. Só assistir a

canais voltados ao público gay e

carimbar nosso dinheiro com

triângulos rosa com os gays já

fizeram nos EUA para mostrar que

estamos aqui e que somos cidadãos

merecedores de respeito como todos

os outros brasileiros.

Isso é só um pequeno desabafo, em

verdade sou contra esse tipo de

coisa por entender que não é esse o

caminho.

Terminamos de abastecer e

retornamos sem maiores

contratempos.

Nem Marcello nem eu teríamos de

trabalhar na manhã da segunda e

resolvemos ir para casa dele e

dormir um pouquinho antes de

irmos trabalhar a tarde. Antes disso

deixamos o Guto em casa porque ele

teria que estar cedo no escritório.

Ao acordarmos fizemos um lanche

reforçado e Marcello me deixou no

trabalho. Marcamos dele me

apanhar depois da facul e de lá para

minha casa fomos.

“Você já disse aos seus pais que

viajaremos?” ele me perguntou ao

que respondi que não e nem sabia

como dizer. “Temos que providenciar

isso para logo Claudinho, quer que

eu o ajude a falar com eles?” Ele

perguntou visivelmente preocupado

e com aquela voz mansinha que me

faz o amá-lo mais.

Não sei realmente como dizer a eles

que vou sair do país com Marcello,

não sei como explicar a eles que

ganhei a passagem tampouco o

porquê. Isso tem me ocupado os

pensamentos ultimamente e não

encontrei ainda uma solução.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Somebody em 2013-10-06 15:44:56
Olá! Td bem? Sua história é muito linda e cativante! Queria saber se todos os contos são verídicos. Continuarei lendo! Parabéns (: