O namorado da minha amiga 47

Parte da série O namorado da minha amiga 01

*Lar*

Quando Marcello abriu a porta eu chorava e ele me abraçou dizendo que estava tudo bem e que tudo daria certo e que estávamos juntos, que nada mais importava, disse a ele que não estava triste, mas sim grato por tudo, e que o amava. Chorei por mais um tempo e Marcello abraçado a mim também chorou. “Eu sonhei tanto com isso que nem acredito que o tenho agora, Cláudio” Disse ele me sorrindo lírios. Depois do fondue, nos amamos pela primeira vez em nossa casa. Dormimos abraçados.

Foto: http://i.imgur.com/0M3yvOY.png (Fundue para dois, nossa primeira refeição em nossa casa. Reparem na caixa de fósforos e nas mesinhas improvisadas, hihihi).

Na manhã seguinte, Marcello me trouxe o café na cama, assistimos tv, ele não passa sem o FX “televisão para grandes homens” hihihi, TV por assinatura foi a primeira coisa com que ele se preocupou hihihi. Fizemos amor e preguiçosamente voltamos a dormir. A vizinhança é tri-tranquila como diz o Guto, mas não temos garagem coberta, teremos que improvisar uma cobertura hihihi. Mas fiquei tão feliz com tudo que não cabia tanto no meu coração.

À tarde recebi um telefonema de meu pai dizendo que Cláudia havia saído para o sítio e que precisava falar comigo. Disse a ele que tudo bem e que lá estaria por volta das 17h aproveitaria para levar o computador e outras coisas, confesso que senti certo temor ao me aproximar da porta, mas afastei o pensamento, se lá Cláudia estivesse a ignoraria.

Quando toquei a companhia, minha mãe abriu com surpresa perguntando por que não abrira a porta, respondi que havia esquecido as chaves. “Queria que entendesse que esta sempre será a sua casa” disse ela me abraçando respondi com um sorriso e quando chequei à sala vi sentados: meu pai, um rapaz, uma moça e uma senhora.

Eu os cumprimentei rapidamente com uma aceno e abracei meu pai. Como havia visita pensei em primeiro ir ao meu quarto, digo antigo quarto e buscar algumas coisas enquanto eles recebiam o pessoal. Pensei que eram da igreja, mas meu pai me disse que esperasse, pediu que me sentasse e me disse olhando nos meus olhos com a voz baixa “Cláudio, meu filho, essa é sua mãe”

Fui tomado por uma sensação única; olhando nos olhos daquela senhora, observando cada ruga que o tempo com esmero esculpiu, reconhecei feições minhas o que me causou espanto de um horror inesperado. Jamais me havia visto refletido nos olhos de outro alguém daquele modo.

Havia me acostumado a não me achar parecido com meus pais até agora; não tenho os pelos claros ou o verde nos olhos, tampouco o tom da pele, eu cresci achando isso normal. Mas 24 anos depois, minha face se parecia com a de alguém. Não consegui mover as pernas, um calafrio me percorreu a coluna em toda sua extensão do cóxi até o pescoço, senti como se houvesse um esquilo dentro do meu estômago. Um gosto azedo me subiu pela garganta me deixando um travo amargo na boca que estava seca e o ar se fez pesado naquele momento.

Quis levantar, e dar as costas, mas não mais sentia as pernas, sim estava diante da minha mãe biológica. Ela sorriu para mim, mas ainda permaneceu sentada. Pediu desculpas por não haver se anunciado antes e haver pedido que meus pais guardassem segredo de sua visita, mas justificou-se dizendo que temia que eu não a quisesse ver. Eu não sabia como reagir, quis ser educado e estendi minha mão, mas me dei conta que não era o mais apropriado. Caberia um beijo? Não sei. Um abraço talvez. Como cumprimentar sua mãe biológica depois de um hiato de 24 anos? “Cláudio não seja rude, dê um abraço” pensei, mas fiquei ali, paralisado, preso àquela cena que jamais imaginara viver.

“Esses são meus filhos, seus irmãos” Ela me apresentou ao rapaz educado de olhar amendoado e tranquilo e uma moça muito simpática de sorriso doce e olhar igualmente gentil; se acercaram de mim "Olá Cláudio, como vai?" Respondi a ambos com um aceno de cabeça tentando ser agradável, nem sei se assim deveria proceder, não sabia ao certo como cumprimentar a um irmão, jamais houve entre mim e Cláudia tal tratamento cortês, não sabia como agir.

Estava diante de meus irmãos, mas não sabia como ou de qual forma dizer a eles o que quer que fosse. Amália, percebendo meu desconforto e confusão me beijou a face dizendo: "haverá tempo, não se preocupe, sei que deve ser estranho e para nós também foi, mas não se preocupe, estamos aqui e o recebemos em nosso coração, irmão"

Nunca jamais provara abraço fraternal de intensidade semelhante ao calor que, naquela tarde, ela e de Afonso me apresentaram. Naquele contato insólito, a estranheza dos corpos se fez presente e não entendi inteiramente o significado daquele momento, mas estranhamente me senti fazendo parte a algum lugar, era como ter voltado, não sei dizer ao certo para onde, mas havia voltado.

O doce castanho do olhar daquele rapaz que guardava traços meus, que descobri ser meu irmão me cativou instantaneamente e os modos singelos e a candura de Amália me fizeram compreender o que delicado há entre as pessoas que realmente se gostam. Olhei para Marcello que em pé, havia alguns metros, tinha os rasos d’água.

O abraço daquela moça alegre e agradável, seu sorriso de elegância discreta me fez recordar a alegria que sentia nas festas de São João quando eu ainda era garoto. Lembrei do cheiro de pinheiro da escola onde aprendi a ler, mas não sei dizer a razão dessa lembrança. Mais calor e afeto senti em poucos minutos ao lado deles que em uma vida ao lado de minha pobre Cláudia. Por quê? Senti certa culpa e me senti de certo modo ingrato também.

Aquela senhora de fala simples, e de sotaque lusitano, fato que me chamou a atenção, me pediu perdão pelo que ela disse haver sido irresponsabilidade de uma moça tola e inconsequente, disse que havia se arrependido inúmeras vezes e que por anos desejou me reencontrar. Disse que ao me localizar teve medo e primeiro aproximou-se de meu pai que não achou ser boa ideia, mas que minha mãe adotiva o convencera. “Sua mãe é uma mulher admirável, ela entendeu todos os meus motivos e o criou o tornando esse homem maravilhoso que sei que é” ela me disse e completou:

“Quero que me perdoe pelo que fiz e que não guarde mágoa de mim, pois cada dia que vivi longe de você foi amargo e cheio de arrependimento” Eu me perguntava se podia julgar quem quer que fosse, o quão não teria sofrido aquela senhora de alma contrita?. “Não venho lhe pedir nada que não seja o seu perdão e a compreensão para comigo, mesmo seu amor é algo que sei que não devo esperar” Disse ela ao que respondi que ódio algum dela guardava tampouco mágoa nenhuma havia em meu coração.

Pergunto se poderia eu, homem como outro qualquer, falho e propenso a erros, condenar o que quer que fosse, olhei para dentro de mim mesmo e vi que também erro, Santo Cristo como erro.

“Como posso repreender o comportamento de uma jovem sozinha que em desespero tenta solucionar uma situação que em si nada tem de fácil. Não concordo com a forma, mas não atirarei pedra que seja. Esteja tranquila, mas entenda que tudo é novo demais para mim e devo precisar de tempo para que nos acostumemos e em outro ponto eu tenho uma família a quem não desejo magoar” .

Disse a ela que sorriu concordando e dizendo “Você é digno e agir assim é o correto, não esperava outra posição sua, mas não me rejeite nem aos seus irmãos” “Eu os recebo em meu coração e a você também, como disse que se chamava”, perguntei a ela “eu não disse” ela respondeu rindo e prosseguiu “Artemísia, é estranho eu sei, mais minha mãe leu num livro certa vez e gostou” “Bonito, ela tinham bom gosto” disse a ela.

Houve um momento em que ficamos em silêncio nos entreolhamos, foi uma sensação inteiramente nova. Foi como se de repente descobrisse que não era quem sempre achei que fosse, estava tudo virado dentro de mim. Perguntei se aceitavam um café, chá, água..., mas foram prudentes, entenderam que estava sendo muito novo para mim, foram breves e recusaram dizendo que em outra ocasião conversaríamos.

Ela se levantou e me deu um abraço ao qual tive dificuldade em corresponder. Amália e Afonso me abraçaram também dizendo que queriam me ver em breve, sorri e disse que seria logo, entreguei meu telefone a eles e nos despedimos. Minha mãe os acompanhou até a porta e quando lá Artemísia chegou, virou-se e me sorriu, seu sorriso me atravessou o coração de uma forma nova.

Quando já haviam saído meu pai me chamou e disse que precisava me contar uma coisa também, minha mãe retornou e se sentou ao lado dele segurando sua mão. “Você acha que é o momento?” ela perguntou a ele que disse um sim decidido. “Cláudio, eu já fiz muita coisa errada na minha vida, mas a maior delas foi ter mentido para você todo esse tempo, por não saber como falar disso com sua mãe, por vergonha de mim e por covardia. Quando Artemísia voltou me procurar faz algum tempo, resolvi contar a sua mãe que eu era o responsável por tudo isso”.

“Responsável?” perguntei a ele ao que respondeu “Na época eu não pude lidar direito com isso e terminei por não ajudar sua mãe biológica quando mais precisou, espero que entenda que fui fraco não podendo arcar com as consequências de uma inconsequência minha, um momento de desvario, tive medo de destruir meu casamento.” Ele foi interrompido por minha mãe que me contou que para ela também foi uma surpresa e que foi difícil aceitar, mas que compreendeu e que mais significava o que meu pai havia sido para mim todos esses anos. “Você é o orgulho dele, mas acho que não preciso dizer isso” disse ela sorrindo.

A minha cabeça deu uma volta e novamente senti as pernas enfraquecerem. Não entendi tudo no primeiro momento e um largo silêncio se passou. Eu o observei como nunca houvera feito antes, notei seu rosto cansado, sua forma de respirar e as únicas lembranças que me vieram à mente foram quando criança ele me ensinando a andar de bicicleta, sua imagem nas manhãs de natal com um presente para mim. Sua alegria no dia em que passei no vestibular e a forma como ele chorava segurando minha mão na manhã em que corrigiram cirurgicamente o sopro, eu tinha sete anos. Meu caso era complicado e meus pais foram informados dos riscos.

Recordei do seu rosto aflito nos dias em que passei internado. Jamais esquecerei de suas preces ao lado da minha cama nas madrugadas frias daquele hospital. “Meu Deus, não deixe que meu filho morra!” dizia ele entre lágrimas em suas preces murmuradas.

Imaginei se eu teria direito algum de julgar seu comportamento. Ele era apenas um homem e como eu, cheio de medos. Coitado, como terá sido doloroso para ele e quanto o arrependimento e remorso o terão consumido?

“Para mim não é surpresa, que isso tenha ocorrido, tampouco me surpreendo com seu comportamento, compreendo, não inteiramente, mas entendo o porquê de não me haver dito que eu era seu filho biológico antes, mas acho que não quero saber disso, já se passou muito tempo e não mudará nada entre nós, continuarei respeitando e tendo o mesmo amor, também não acho que o deva condenar por nada” eu disse a ele e o abracei longamente, choramos juntos. Depois fui para o meu antigo quarto e apanhei algumas coisas.

“Você não quer ficar com eles para conversar?” Marcello me perguntou, mas respondi que tinha que ir para minha casa, havia coisas para fazer, uma vida para construir e que o passado nada mais me dizia e o que de real eu tinha era um pai que me fora o melhor que sua natureza fraca de homem o havia permitido ser e que isso já era o bastante. (imaginei se sob as mesmas condições de pressão e temperatura não teria agido de igual modo)...

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Obrigado a todos que estarem acompanhando!!

Sentindo falta do Leitor de português, com seus comentários enormes, mas não fique com raiva a qual é do site!

Niel152 eu sou muito ocupado pra ficar no facebook, só entro para verificar algumas coisas, me passa seu email ou me mande emails, assim conversamos melhor. OK?

Comentários

Há 4 comentários.

Por A.Silva em 2013-07-07 00:44:06
sabe... eu espero que esteja bem... e que continue a postar... porque to sentindo muita saudade de te ler...
Por Ricar1do em 2013-07-03 07:26:45
Esperei a continuação da historia do Coelhinho e do Cachorrão por muito tempo! Tinha parado da parte 20 em outro site, e vagando por pela net, depois de muito tempo, encontrei a continuação! Obrigado! Eles são um exemplo de amor e carinho que pretendo seguir com o meu amor, que por coincidência também é Marcelo! =D
Por Jota em 2013-06-30 00:46:11
Onde se encontra? Onde você se esconde? Parece tudo muito difícil para todos verem que o amor não deseja o mal, não se ofende, não se ensoberbece, o amor não se arde em ciúmes; O amor é bom, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Fico feliz de ver em você e no seu Marcello, esse amor. Jamais duvide desse amor que bate no seu peito esquerdo e lhe faz lembrar das experiencias sofridas e tirar delas as melhores lições, como a sua compaixão, o seu perdão, sua compreensão, sua atenção e o seu amor, pelas pessoas mais próximas e as que estão distantes de você, Claudinho e Marcello. Parabéns aos dois e desejo, sinceramente, do fundo de minha alma, que vocês sejam muito felizes. Que Deus abençoe vocês! Beijão e um abraço! jota_7@live.com
Por sofrido em 2013-06-19 17:13:37
Deparei-me com algo que pensava que seria capaz de fazer mas que depois de ler isto, o meu sentimento é diferente. Sempre desejei conhecer o meu pai biológico, olhar o seu rosto e sentir-me igual/parecido a alguém, conseguir ver semelhanças com alguém. Contudo, depois de ler isto, eu não sei se sou capaz, não sei se um dia eu souber quem esse individuo é, eu terei coragem de conhece-lo de olhá-lo, do cumprimentar, de falar com ele, nem que seja para perguntar o porquê? O porquê da decisão dele? o porque de não me crer, ao pondo de pedir á minha mãe que aborta-se, o porque de tudo isto? Depois de ler isto, eu acho que nem isso conseguia. Por um lado, tenho o desejo de conhece-lo, de vê-lo, conhecer, se tiver, irmãos, conviver com ele, tudo o que um filho tem direito. Por outro lado, tenho medo do que possa sentir quando o vir, medo da minha reação, tenho medo das respostas, medo de sair mais magoado e desiludido do que já estou. Não consigo esquecer, nem perdoar o que ele fez, a decisão dele, eu achava que sim, que conseguia, que isso era o que mais queria mas agora não sei. Acho que nunca poderei vir a conhece-lo, morrei na incógnita, por isso já aprendi a lidar com este sentimento de rejeição, de abandono ... mas é difícil ler uma historia destas e, as pessoas que passaram por algo semelhante, não pensarem " e se eu estivesse no seu lugar?". Estou a adorar o conto, estou a adorar tudo. sei que tenho andado ausente mas estou em época de exames, e estes par alem de contarem pra nota final da disciplina, são os exames de acesso á universidade, por isso, tenho me dedicado a isso e pouco tempo tenho de vir aqui ler. desculpe a minha ausência mas quero que saiba que mais sedo ou mais tarde eu irei ler e comentar :D. Ass: o seu leitor português