Cap. 8

Conto de Itak como (Seguir)

Parte da série Em busca da felicidade

Ramon: bom saber que alguém acompanhará a série até o fim. Muito obrigado. Beijo

Peço perdão pelo erros durante toda a série... Sempre antes de publicar eu reviso, mas depois sempre noto algumas correções que deixei de fazer.

Espero que gostem desse capítulo, pois a partir do próximo, as coisas não serão mais tão fáceis. Beijos

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Cap. 8

Abri a porta e me deparei com aquele jeito frio com que minha mãe se direcionou a mim e já imaginei que o pior estava para acontecer, olhei para os lados e notei Aline em pé, num cantinho perto da cozinha com a cabeça baixa. A essa altura eu já não sabia o que pensar, mas sabia que teria de encarar de qualquer jeito, então sentei-me a frente de meus pais, respirei fundo e disse:

- Podem falar, estou aqui.

- Onde você estava ontem à noite, André? - perguntou minha mãe num tom furioso e ao mesmo tempo triste.

- Eu fui ao shopping e cinema... Eu deixei um bilhete, vocês não viram?

- Então por que só voltou para casa hoje?

- Encontrei um amigo no shopping e acabamos conversando tanto que nem vimos a hora passar, então resolvi dormir na casa dele.

- Por que você está mentindo para mim, André? Eu nunca lhe ensinei esse tipo de coisa.

- Mãe... - fiz uma pequena pausa antes de continuar. - se a senhora sabe onde e com quem eu estava, então apenas diga. Não precisa fazer joguinho pra escutar o que a senhora quer ouvir.

Nesse momento minha mãe se levantou e me deu um tapa na cara, coisa que ela nunca fez em todos esse meus 18 anos de vida. Ela realmente estava fora de si, me pedia respeito e dizia que era minha mãe, não minha amiga.

Por incrível que pareça, meu pai segurou minha mãe e conseguiu fazer com que ela se acalmasse.

Eu não sei como devo falar sobre o que eu senti ao levar aquele tapa... é pior do que uma surra de chinelo, cinto, mangueira, galhos de árvores ou qualquer outra coisa. Parece que um tapa te perfura a alma, é inexplicável. Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo e me perguntava como é que ela havia se inteirado de meu paradeiro na noite anterior, pois a única pessoa que sabia era Aline, e ela, eu tinha certeza de que não contaria.

Minha mãe olhou pra mim mais uma vez e disparou:

- O que você estava fazendo em um ambiente gay?

- Eu... - percebi que não tinha como esconder mais nada, então resolvi encarar de uma vez. - eu estava em um ambiente gay porque eu sou gay, é isso.

- Não é!!!!! - minha mãe gritou como uma louca, como se aquele grito fosse me curar de minha "homossexualidade".

- Calma, mãe. Eu ainda sou a mesma pessoa, o mesmo rapaz, filho e amigo. Nada mudou em mim...

- Isso é falta de Deus em seu coração, se você soubesse tudo o que a Bíblia diz a respeito dessa promiscuidade, você procuraria ajuda para se curar.

- Eu não sou um doente, mãe. Eu não sou anormal por ser gay, eu apenas me interesso por pessoas do mesmo sexo...

- Vou te dizer uma única vez, André: você vai procurar ajuda junto comigo para se curar disso ou então eu não te aceitarei mais dentro dessa casa.

- Ana!!!! As coisas não são assim. - disse meu pai.

Por incrível que pareça, meu pai abriu a boca pra falar pela primeira vez desde que aquela conversa começou. Eu não sabia se sorria ou se apenas prestava atenção no discurso que ele estava fazendo para minha mãe.

Eu me lembro muito bem que meu pai era machista e preconceituoso... Então eu não estava entendendo mais nada, alguma coisa não se encaixava em toda aquela história.

A discussão entre os dois começou a piorar e eu já não sabia o que fazer, eu olhava para Aline naquele cantinho e acenava perguntando como minha mãe soube de tudo... Aline balançava a cabeça como se não soubesse de nada, absolutamente nada.

- Eu sou o homem dessa casa, eu sou o chefe da família e eu estou dizendo que você não vai colocar o André pra fora de casa. Estamos entendidos? - meu pai disse num tom de autoritarismo maior do que quando um general dá uma ordem a um soldado. Fiquei impressionado e ao mesmo tempo feliz por saber que meu pai estava me defendendo. Minha mãe se calou e chorou por um bom tempo. Eu queria abraçá-la e tentar explicar que eu ainda era a mesma pessoa, mas sabia que seria inútil. Aline subiu para meu quarto e disse que me esperaria lá. Meu pai me chamou para a área dos fundos e me pediu algumas explicações sobre tudo o que estava acontecendo em minha vida, parece que ele queria estar por dentro de tudo e isso me deixava um pouco intrigado.

- Por que o senhor me defendeu? - perguntei apreensivo.

- Porque você é meu filho, oras.

- Mas o senhor sempre foi machista.... Não estou entendendo.

- André... Você realmente acha que eu nunca percebi que você era diferente dos outros meninos de sua idade?

- Eu não acho que sou afeminado, pai...

- Voce não é... Mas mesmo assim, alguma coisa sempre delata. Coisas minúsculas que eu percebia enquanto você crescia, coisas que sua mãe também deve ter percebido mas preferiu fechar os olhos.

- E por que o senhor nunca tentou falar comigo, pai.

- André... Não sei como poderia te dizer isso sem te magoar, mas vou tentar explicar.

Nenhum pai quer ter um filho gay... Muitos aceitam e respeitam, mas se fosse uma escolha, qualquer pai nesse mundo escolheria que seu filho fosse hétero. Eu fui muito covarde ao perceber que você era gay, eu deveria ter conversado contigo, mas preferi me calar e adotar uma postura machista. Fiz isso para que você tivesse medo de minha reação e de alguma forma tentasse mudar.

- Mas eu tentei... - interrompi meu pai

- Eu sei que você tentou. Eu sei que você saiu com algumas garotas... E é por isso que eu me conformei. Eu só esperava que você tivesse a coragem de se abrir com a gente por conta própria.

- Como vocês ficaram sabendo de tudo isso?

- Recebemos a ligação de um homem hoje de manhã. Ele estava preocupado querendo saber se você tinha chegado em casa.

- Qual o nome dele?

- Carlos!!!

Mas é claro... Agora tudo fazia sentido... Apesar de estar completamente bêbado na noite passada, me lembro muito bem que Carlos pediu meu telefone, só não me lembrava que havia lhe dado o número residencial também. Provavelmente Carlos ligou preocupado por eu ter desaparecido sem ao menos ter dado satisfação. Agora tudo fazia sentido.

- Sua mãe chamou Aline e a fez permanecer aqui o tempo todo até que você chegasse. Eu não estava de acordo com isso, mas sua mãe estava irredutível. Ela não queria dar tempo de Aline te ligar e te avisar que a gente já sabia de tudo...

- Perdão, pai!!! Eu deveria ter sido homem suficiente pra revelar isso para vocês, mas eu tive muito medo. Eu amo vocês! Eu não queria que vocês perdessem o orgulho que tinham de mim.

- Eu ainda tenho orgulho de você, meu filho. Só te peço que não fique andando por aí como se você fosse o último pedaço de carne da terra. Não entre nessa promiscuidade que tantos outros gays seguem. Seja bom, seja consciente e acima de tudo, respeite seu corpo... Você não precisa dormir com um homem diferente a cada dia, lembre-se: respeite seu corpo porque você não o achou em uma lata de lixo.

As palavras de meu pai tocaram lá no fundo de minha alma. Tudo o que ele dizia fazia sentido, ele tinha razão. Eu nunca tive esse pensamento de querer aproveitar a vida e transar com várias pessoas, então eu conseguia entender o que ele estava me pedindo.

- Obrigado, pai!

Meu pai veio até mim e me deu um abraço muito apertado. Disse que eu jamais deixaria de ser seu filho e que ele realmente queria me ver feliz, mesmo que fosse ao lado de outro homem. Também me pediu um pouco de paciência em relação à minha mãe, pois ele sabia que ela não facilitaria nada, mas ele tentaria alguma forma mudar um pouco seu pensamento.

Eu senti uma felicidade imensa ao saber que a pessoa mais improvável estaria do meu lado para o que eu precisasse. Ainda abraçado a ele, fechei os olhos e agradeci a Deus por me proporcionar aquele momento, agradeci por ter me dado um pai tão compreensivo.

Agora eu não precisava mais me preocupar em fingir ser algo que não era... Sabia que teria apoio dentro de casa, quer dizer, minha mãe ainda seria um problema.

- Aline está te esperando em seu quarto, vá falar com ela...

- Já vou!!! Mais uma vez, pai.... Muito obrigado.

- Não há necessidade disso... Isso é apenas minha obrigação.

Fui até meu quarto e Aline estava lá em pé, inquieta, andando de um lado para o outro.

Correu até mim e me abraçou ainda mais forte do que meu pai. Ficou me pedindo desculpas por não ter conseguido me ajudar de nenhuma maneira e eu a tranquilizei dizendo que meu pai acabara de me contar tudo o que aconteceu.

Já era noite e Aline precisava voltar para casa, ela se despediu de mim depois de me fazer prometer que no dia seguinte eu daria todos os detalhes do que tinha acontecido com Tony.

Tony... Apesar de tudo o que estava acontecendo em minha casa, nao pude parar de pensar em Tony nem sequer um minuto. Tudo o que eu queria era poder correr para seus braços e pedir um pouco de carinho... Apesar de Tony ter me explicado os motivos de não querer tentar nada comigo, eu ainda questionava sua postura. Não seria mais fácil ficar com um virgem? Porque pelo menos ele poderia me ensinar e me deixar do jeito que ele gosta. Agora imaginem se ele já fica com um cara que já tem um pensamento formado sobre tudo? Bom... Eu não sei. Talvez eu estivesse agindo como um garotinho mesmo, eu não me chamo Alice e não vivo no país das maravilhas, isso aqui é a realidade... Nem tudo será como a gente quer, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não iria desistir de Tony...

Comentários

Há 3 comentários.

Por edward em 2015-10-10 16:35:01
Gente esse capítulo mexeu comigo,chorei.
Por joão em 2015-10-03 00:51:19
caramba....nunca pare de escrever, Você é tãoooo talentoso, parabéns mesmo, Sou Seu fã
Por Niss em 2015-10-02 23:50:57
Itaaaaaak me perdoaaaa por favoooor... Me desculpa serio mesmo. Eu vou te acompanhar até o fim.... Eu fiquei surpreso com a reação do pai dele, que bom que ao menos este está a favor do André. Espero pelo próximo. Kisses, Niss.