Capítulo 11 - Bitter

Parte da série Black Velvet

Derek trancou a porta do quarto no minuto em que chegou em casa, saindo só na hora do jantar.

-Tá acontecendo alguma coisa? – perguntou Carter, vendo o filho encarar o prato como se a porcelana branca fosse interessantíssima.

-Eu não sei, Carter. Está? – respondeu, irônico e enigmático.

-Então foi tudo bem na escola hoje?

Derek pousou os talheres na mesa.

-Sim, claro. Vamos relembrar o que aconteceu hoje: eu tirei um A+ na minha prova de historia americana, essa tava fácil; Jason Litton disse que me ama e eu tomei um milkshake maravilhoso naquela sorveteria perto da escola. É, foi isso que aconteceu!

Cody e o pai se entreolharam.

-Então, o que você respondeu? – perguntou, escondendo suas esperanças.

-Eu não respondi nada, eu saí do carro dele em choque! – Derek tentou manter a sua raiva controlada – Agora a pergunta que não quer calar: qual de vocês foi abrir a boca pra ele?

Os dois ficaram calados.

-QUEM FOI? – berrou Derek.

-Quem foi o que? Derek, do que você ta falando?

-Você sabe, pai! Foi você ou o Cody? Quem contou pro Jason que eu gosto dele? – sua garganta ardeu, o garoto percebeu que estava a segundos de chorar. – QUEM CONTOU?

-Derek, se acalma! – ordenou Carter. – Eu não contei nada!

-Nem eu!

-A gente nem sabia que você gostava dele. Por que você não tá vendo o lado bom, o lado em que o cara que você gosta também gosta de você?

-PORQUE ELE NÃO GOSTA DE MIM, ELE ACHA QUE ME AMA PORQUE TEM PENA DE MIM!

Derek saiu tempestuosamente da mesa, se jogando na cama. Algumas horas se passaram até ele ouvir uma batida tímida na porta.

-Podemos entrar?

-A casa é sua, né? – o pai e o irmão passaram, deitando do lado do menor, que encarava o teto enquanto uma musica era tocada baixinho no computador sobre a escrivaninha.

-The Wizard of Oz?

-Wicked. –corrigiu Derek. – O que vocês querem? Eu não vou me desculpar por gritar.

-Justo, você nunca se desculpa por isso. A gente só quer conversar. – respondeu Carter, fazendo um leve carinho no rosto do filho. – Você chorou?

-Não. Eu pensei que ia me desidratar quando entrasse aqui, mas não escorreu uma lágrima. Eu estou podre por dentro. – declarou amargamente. – É por isso que o Jason sente pena de mim. Não tem nada aqui pra amar!

Ninguém disse nada, não era apropriado tentar contradizê-lo agora.

-Quer contar o que aconteceu? Com calma, dessa vez. – pediu Cody.

-Ele me chamou para um encontro, disse que queria que eu mudasse meu pensamento sobre ele. E então ele disse que me ama. Eu não tô presumindo, ele disse tudo isso, usando todas as letras e palavras.

-E o que você fez?

-Eu entrei em pânico, aquilo não fazia sentido nenhum pra mim. Caras como ele não se apaixonam por caras como eu. Eu sei que ele não tá apaixonado por mim, então eu pedi um tempo. Ele concordou, e eu sei que se a gente ficar um tempo sem se falar ele vai cair em si.

Cody viu que não fazia mais sentido esconder a verdade do irmão.

-Jimmy, ele te ama! Não por pena, não por você ser o irmãozinho do amigo dele. Ele te ama pelo que você é. E ele contou isso pra mim, já tem um tempo.

-Você tá mentindo! – soltou Derek, ainda em negação.

-Derek, larga de ser um tapado! Olha tudo que aconteceu, todas as vezes que ele quis conversar com você, ou arrumar desculpas pra vir no seu quarto. Te chamando pra ir com ele pra escola, tendo ciúmes de você. Todo mundo já percebeu isso, mas só você que não, porque aparentemente se convenceu que você é um algum alien medonho e gosmento, que ninguém vai chegar perto. – Derek era o bebê de Carter, e naquele momento o seu bebê estava precisando de uma surra. – Ele te ama, não tem tempo no mundo que vai fazer isso mudar. E não tem tempo que vai tirar de você o amor que você tem por ele.

Derek esperou para responder.

-Eu sei que eu amo ele. Eu amo ele com todas as minhas forças. E eu odeio ele. Odiei. Nem sei mais! – o garoto ficou maravilhado com sua capacidade de não chorar. – Será que vocês podem ir agora? Eu preciso ir dormir.

A porta se fechou, deixando Derek novamente sozinho.

- Não tem nada aqui pra amar! – repetiu, enquanto a primeira lágrima descia.

-Como ele tá? – perguntou Riley.

-Cansado. Confuso. Acho que nem ele mesmo sabe! – respondeu Cody, sentando na cama com o celular colado ao rosto.

Riley coçou os olhos e bocejou sonoramente.

-Você tá cansando também! – observou o outro. – Acho melhor a gente desligar.

-Não! – disse apressado. – Quer dizer, a gente podia conversar mais um pouco!

-Sim – Cody agradeceu por estar no telefone, assim Riley não poderia ver seu sorriso bobo.

-Te contei que o Derek gritou com o refeitório inteiro?

Os dois continuaram no celular até a madrugada.

Jason acatou ao pedido de Derek: os dois não trocaram uma palavra desde o incidente do carro. Não se encaravam no refeitório, não usavam o mesmo corredor e nem mesmo andavam na mesma calçada. Agora ele e Cody se encontravam sempre na casa de Jason, que era basicamente 3 vezes maior e 10 vezes mais luxuosa que a dos Tyer, mesmo sendo do lado.

-… e depois disso a gente foi no cinema. Eu tava meio cético com o filme, mas o Riley com certeza soube escolher bem. Foi ótimo! – Cody contava com alegria, ele e Riley tinha ido ao cinema na ultima semana de aulas e ele não parava de dar os detalhes.

-Uau! - respondeu Jason, com sarcasmo. Essas semanas em que estava sem falar com Derek tinham feito um estrago nele: o garoto estava mais magro, pálido e com olheiras já aparentes. – Você realmente quer contar sobre seu encontro pra mim, o Cara-Que-Não-Conseguiu-Um-Encontro? – sem contar o seu mau-humor, que só perdia pro de Derek.

-Não foi um encontro!

-Sei! – rebateu, rindo. – Ele tem perguntado de mim?

Cody se apoiou no cotovelo, erguendo a cabeça para enxergar Jason, que estava no extremo oposto da cama king-size.

-Pela quinta vez essa semana, não! Meu pai até tentou, começa a falar de você quando a gente tá comendo. Mas ele fica calado na hora. Ou vai pro quarto dele, a desculpa de sempre é que tem que estudar. – Cody se calou, por um longo período, já que Jason não parecia estar ouvindo. – Ele ficou muito puto com você!

-Por dizer que amo ele? É a mais pura verdade e ele vai ter que lidar com isso!

-Não, quer dizer, por isso também, mas… você fez ele chorar! Ele chegou na mesa com os olhos inchados no dia seguinte, acabou confessando depois. – Cody suspirou. – Eu devia bater em você por fazer meu irmãozinho chorar, porém você tá pior que ele.

-Obrigado? – confundiu-se Jason

-Eu devia mesmo bater em você. E nele também! Dois idiotas. Vocês estão acabando com a minha vida, sabe? Dói acordar sabendo que estou num mundo sem Deron!

Jason riu.

-Você tem seu namoradinho loiro encapetado, você vai ficar bem.

-Ele não é meu…

-Não é? E os encontros? E as mensagens? Você não desgrudou do telefone desde que chegou aqui. – apontou, rindo.

Cody esperou um pouco, deixando o silencio ecoar por um segundo ou dois.

-Ele não é meu namorado! A gente se gosta, como amigos.

-Claro, bons amigos. – respondeu Jason, completamente cínico.

-Jason?

-Que foi?

-Como você sabia que era gay?

O amigo se levantou, apoiando-se no cotovelo da mesma forma que o outro.

-Você não é gay!

-Eu não tô falando de mim. Tô perguntando de você.

-Não é isso que eu quis dizer, Cody! Eu sempre gostei de caras, sempre. O Derek não foi o primeiro cara que me atraiu, só o que me atraiu mais intensamente, que me fez ficar totalmente bobo. Não sei com certeza, mas creio que ele nunca tenha gostado de garotas. Contudo, você sempre foi um cara, digamos, “hetero”! Sempre piranho, com uma garota diferente a cada semana, incapaz de manter um relacionamento. E agora você tá sendo amigo do Riley Blue, e toda sua cabeça tá embaralhada.

-Então, você ta dizendo que eu não gosto do Riley?

-Não, porra. Tô dizendo que você não precisa de rótulos! Hétero, bi ou gay, você é quem você é, não quem você ama. Mesmo se alguém virar e falar que você é gay por estar com o Riley, ou hétero por já ter pegado garotas não importa. O que importa é você!

Jason se jogou no travesseiro, frustrado por saber dar conselhos amorosos com sua vida pessoal em cacos.

-Cara, com uma cabeça dessa você teria que ser um completo boçal pro meu irmão não te querer! – comentou Cody, rindo como se estivesse bêbado.

-Ele me vê assim. E eu não posso culpá-lo. – e por mais uma vez ele se viu indo dormir com o rosto molhado.