Capítulo 21 - Amor de amigo

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

Nós não sabemos o efeito que temos sobre as pessoas até decepcioná-las. A questão é que quando isso acontece você precisa reparar esse erro sabendo que terá que lidar com as consequências dos erros. Muitas brechas podem nunca se fechar, muitas feridas podem demorar para cicatrizar. Mas amigos de verdade sabem se perdoar e começar de novo.

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Como um raio eu sai atrás de minha amiga a fim de alcança-la. Ela repetia “não me segue” enquanto procurava as chaves de seu carro em sua bolsa. Para a minha sorte ela confirmou com um “merda” as minhas suspeitas de que ela havia esquecido as chaves em cima do balcão da cozinha. Por essa razão ela parou e virou em minha direção pretendendo voltar mas eu me pus em seu caminho.

- Adam me deixa voltar pra pegar a minha chave e sair daqui.

- Não até você falar comigo.

- Então agora você quer falar? Ok! Então vamos falar. Mas eu começo, Adam. E eu começo com o fato de que quem não queria ser encontrado era você. Eu fiquei que nem uma louca atrás de notícias suas e você me ignorou, me excluiu completamente da sua vida, logo eu, a idiota que esteve com você em todos os momentos. Lembra quem ficou com você quando seu irmão faleeu? Ou quando você precisava de ajuda para entender o que estava gostando de um garoto? Ou quando você passou por toda aquela avalanche de acontecimentos no fim daquele ano? Eu, Adam! Eu!

Eu não tinha argumentos para tudo aquilo, então eu só me permiti ouvir cada palavra. Eu merecia aquilo. Ela merecia aquele momento. Minha amiga tinha razão e eu só podia concordar.

- Eu vinha aqui quase todos os dias pra te fazer rir. A gente assistia filmes o dia inteiro pra que você tentasse esquecer os problemas. E como você era péssimo em demonstrar as coisas sempre foi difícil saber se você estava bem ou não mas eu e sua avó fomos pacientes até demais tentando te decifrar.

- Gabi, eu...

- Não! – Ela me assustou com seu tom de indignação - Estou falando então não me interrompe. Eu te apoiei na sua decisão, Adam. Desde o seu distanciamento do Edu, que era meu amigo também. Mas você foi tão egoísta que nem ligou pra como eu me sentiria em uma situação como essas, mas tudo bem, eu queria te ajudar então inicialmente nem me atentei ao fato de estar à deriva das suas decisões. Aí depois você me vem com “vou pra Alemanha e de lá irei morar em São Paulo” – ela fez o sinal de aspas com os dedos tentando imitar a minha voz. Foi engraçado mas eu não podia rir em uma situação dessas. – Meu único amigo indo para longe de mim. Meu coração ficou – sua voz começou a ficar embargada e seus olhos marejados – ele ficou destruído, Adam. Mas eu queria tanto que você saísse daquela condição que te apoiei mais uma vez. Mas pra mim nós iríamos manter contato sempre. Eu poderia ir passar uma temporada em São Paulo ou algo parecido. É claro que eu estava sendo bem burra por que não foi o que aconteceu.

Ouvindo tudo aquilo eu só conseguia fitar o chão. Nem percebi quando poucas lágrimas começaram a se formar enquanto estava concentrado em entender tudo o que Gabriela passou.

- Durante um ano eu ainda tentei te achar ou saber alguma notícia. Sua vó foi uma santa pelo fato de ter sido bem sincera quando disse que você não queria contato. Mas eu não desisti fácil. Mas nem rede social você usava mais. Então eu desisti. Passei um ano da minha vida me dedicando a recuperar sua amizade mas percebi que você realmente tinha seguido então eu também precisei. Então se você...Adam? Você está chorando...

Eu não consegui esconder minha tristeza apesar da feição séria. Então eu apenas enxuguei as lágrimas e pedi desculpa por aquilo.

- Você está diferente.

- Algumas coisas mudaram, Gabi. Olha só. Eu concordo com tudo tá. Você tem toda razão em relação a minha conduta. Foi errado. Eu não deveria ter feito o que fiz. Eu achava que o certo seria recomeçar do zero e fazer tudo diferente pra que eu pudesse esquecer o passado e seguir em frente, mas foi uma atitude muito egoísta e eu sinto vergonha disso. Mas com o passar do tempo eu percebi que isso era errado e que eu não tinha o direito de te arrancar da minha vida. O problema é que quando eu decidi te procurar já era tarde demais pois você não queria mais falar comigo, e com razão. Acho que no seu lugar eu teria desistido bem antes. Então eu fiquei me remoendo durante todo esse tempo até tomar a decisão de voltar. Você, Gabi é um dos motivos de eu ter tomado essa decisão. Eu queria tentar recuperar a confiança de uma das pessoas mais importantes pra mim que eu burro deixei escapar.

Ela estava atenta sem demonstrar reação.

- A verdade é que eu te amo, Gabi – ela se assustou com essas palavras – é.... Eu te amo. E percebi que eu nunca havia dito isso, talvez por não entender direito o que é o amor. Mas agora eu entendo melhor. E é por isso que eu não posso te perder.

Então ficamos ali nos encarando por alguns segundos. Eu não sabia o que esperar mas tinha certeza de que eu não desistiria ali. Gabriela parecia ainda chateada, mas algo em seu olhar me lembrou a forma como ela me olhava quando estávamos sendo fieis um ao outro. Eu esperava que ela falasse algo então voltei a minha condição de ouvinte.

- Você está...diferente. Eu sinto isso.

- Eu também – disse ainda com a respiração pesada.

- Está mais alto e mais forte também. Mas parece que não envelhece. – sorrimos juntos.

- Posse te dar um abraço? – Ali minha amiga não aguentou. Ela me abraçou forte o suficiente enquanto dizíamos quase em conjunto várias vezes “que saudade”. Girei-a no ar e ela comemorou o fato de que agora eu conseguia tal feito já que a própria também havia perdido 5 kilos.

Então selamos nossa amizade mais uma vez.

Ao entrarmos, preparamos o almoço e confraternizamos juntos. A mesa estava bela e a comida como sempre deliciosa. Quando satisfeitos eu subi com minha amiga para o meu quarto para conversarmos. Sentamos em minha cama e minha amiga começou a me crivar de perguntas.

- Então me conta como foi em São Paulo nesses anos. Conheceu algum paulista gato? Fez faculdade.

- Não tive nenhum relacionamento sério, mas conheci alguns caras. E fiz faculdade sim. Passei em engenharia civil, cursei por 2 anos mas percebi que meu amor por medicina não havia morrido.

- Pois é, você sempre disse que era o que queria. Então desistiu?

- Sim. Aí voltei para o cursinho e passei aqui e em Sã Paulo. Mas decidi fazer minha matrícula aqui. Então voltei.

- Aconteceu algo parecido comigo. Quando você foi embora eu entrei em um cursinho no ano seguinte e passei letras mas descobri que não é para mim, então tentei de novo e passei em direito. Iniciei semestre passado.

- Que maravilha minha amiga. Você merece todo o sucesso. E o Ricardo, como ele está? Soube que você foi essencial pra que ele conseguisse superar o vício.

- Então. Inicialmente foi um período em difícil. Demorou um pouco pra ele entender que só queríamos o bem dele, mas até que tudo isso foi bom para nos aproximarmos como família. Então nós lutamos com ele e conseguimos juntos. Ele voltou a estudar e entrou em Engenharia Mecânica. Agora namora uma menina da sala, inclusive eles moram juntos.

- Que bom. Torço muito por ele.

- É engraçado você perguntar sobre ele. Ainda é meio estranho pra mim, você não se sente desconfortável?

- Na verdade não, Gabi. Eu e Ricardo tivemos uma relação mas já é passado. Isso é pequeno perto do fato de que seguimos nossas vidas e estamos bem e com saúde. Eu realmente fico feliz por ele.

- Falou o sr. Maduro. Gostei!

- E a banda dele? Os Lucas?

- Eles continuam na banda. Há outros integrantes, mas de vez em quando estão por aí fazendo dinheiro com shows. Eu e Ricardo vamos dar um apoio sempre que dá.

- E o Pedro?

- Ele? – Ela fechou a cara – por que querer saber algo desse babaca, Adam?

- Justamente pelo fato de que eu não tenho nada guardado dele. Claro que eu me manteria bem afastado se o visse. Mas só tenho curiosidade em relação a seu paradeiro.

- Bom, ele saiu da cidade. Voltou depois de um ano e tá fazendo administração em uma das faculdades particulares daqui. Nem procuro saber. Daquele ali eu quero distância.

- Entendi. Bom pra ele.

- Então... – minha amiga se levantou da cama e caminhou em direção a minha mesa de estudos. – é só deles que você quer saber?

- Como assim? – perguntei sem entender.

- Não quer saber sobre o Eduardo? – sua feição era de curiosidade.

Eu apenas sorri enquanto pensava na resposta mais adequada para aquele momento.

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Então senhores. Falta pouco para uma nova caminhada se iniciar na vida de Adam. Acreditem quando eu digo que muitas coisas mudaram. As pessoas tornam-se mais habilidosas em muitos aspectos, e explorar isso é abrir a porta para grandes dimensões. Não deixem de comentar. Espero ansiosamente por seu feedback.

Comentário do post passado: Que bom que gostou. Não tenho planos de abandonar a sério. Prometo que ela terá um fim. Não agora mas terá. Abraços!!

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