Cap. 6 Maníaco a solta

Parte da série Segredos de um belo homem

Guisantos obrigado por acomoanha querido.

Gente desculpa por demora tanto, agora vou postar diariamente, estava em período de trabalho e faculdade.

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O delegado Ewerton Blake havia conseguido seu posto na chefatura de polícia de Cupertino da maneira mais difícil: casara-se com a irmã do comissário, Eva Dowling, uma matrona com a língua afiada o suficiente para derrubar todas as árvores do estado de Oregon. Ewerton Blake foi o único homem que Eva conheceu capaz de lidar bem com ela. Era um sujeito alto, dócil, de bons modos, com a paciência de um santo. Por mais afrontoso que fosse o comportamento de Eva, ele sempre aguardava até que ela se acalmasse para só então conversar tranquilamente. Ewerton viera para a chefatura porque o comissário Sean Dowling era o seu melhor amigo. Eles haviam crescido juntos e frequentaram a mesma escola. Blake apreciava o trabalho policial e era extremamente bom nisso. Era arguto, de uma inteligência apurada e uma tenacidade irredutível. Tal combinação fazia dele o melhor detetive do departamento. Bem cedo naquela manhã, Ewerton Blake e o comissário Dowling estavam tomando café juntos.

O comissário Dowling disse:

- Eu soube que a minha irmã lhe propiciou maus momentos ontem à noite. Nós recebemos meia dúzia de telefonemas dos vizinhos reclamando do barulho. Eva é a campeã do grito, não é mesmo?

Ewerton encolheu os ombros.

- Eu acabei conseguindo fazer com que ela se acalmasse, Sean.

-Graças a Deus ela não está mais morando comigo, Ewerton! Eu não sei o que dá nela. Esses ataques de nervos...

A conversa foi interrompida.

- Comissário... acabamos de receber uma ligação para a Central de Emergências. Houve um assassinato na Sunnyvale Avenue.

O comissário Dowling olhou para Ewerton Blake.

Blake assentiu.

- Deixa comigo.

Quinze minutos depois, o delegado Blake estava entrando no apartamento de Daniel Valentino. uma polícia da ronda conversava com o sindico do prédio na sala de estar.

- Onde está o corpo? - perguntou Blake.

O polícia fez um gesto com a cabeça na direção do quarto.

- Lá dentro, senhor - Ele estava pálido.

Blake entrou no quarto e parou, chocado. O corpo nu de um homem estava estendido em cima da cama, e a primeira impressão de Blake foi a de que o quarto estava encharcado de sangue. Ao dar alguns passos mais para perto da cama, percebeu de onde vinha o sangue. Os cacos pontiagudos de uma garrafa quebrada haviam perfurado as costas da vítima repetidas vezes, e alguns permaneciam no corpo. Os testículos da vitima haviam sido tirados.

Olhando para a cena, Blake sentiu uma pontada na virilha.

- Como pode um ser humano fazer uma coisa dessas? - disse ele em voz alta. Não havia sinal de arma, mas seria feita uma busca completa.

O delegado Blake voltou à sala para conversar com o sindico.

- Você conhecia o falecido?

- Conhecia, sim. Ele morava aqui neste apartamento.

- Qual era o nome dele?

- Daniel. Daniel Valentino.

O delegado Blake tomou nota.

- Há quanto tempo ele morava aqui?

- Quase três anos.

- O que você pode me contar sobre ele?

- Nada de mais. Daniel era bastante recatado, sempre pagava o aluguel em dia. De vez em quando trazia alguma mulher aqui. Acho que eram, em geral, profissionais.

- Você sabe onde ele trabalhava?

- Ah, sim. Na Corporação Global de Computação Gráfica. Ele era um desses génios da informática.

O delegado Blake fez mais um apontamento.

- Quem encontrou o corpo?

- uma das empregadas. Maria. Ontem foi feriado, de forma que ela só veio hoje de manhã.

- Eu quero falar com ela.

- Pois não. Vou chamar a moça.

Era uma brasileira negra de aproximadamente quarenta anos, estava nervosa e assustada.

- Você encontrou o corpo, Maria?

- Não fui eu que fiz isso. Eu lhe juro. - Ela estava à beira de um ataque histérico. - Vou

precisar de um advogado?

- Não. Não vai precisar de um advogado. Basta me dizer o que aconteceu.

- Não aconteceu nada. Quero dizer... eu entrei no apartamento hoje de manhã pra fazer a faxina, como sempre faço. Eu... eu achei que ele já tinha saído. Ele sempre sai às sete da manhã. Aí eu arrumei a sala e... Porra!

- Maria, você se lembra de como estava a sala antes da sua arrumação?

- Como assim?

- Você tirou alguma coisa do lugar? Tirou alguma coisa daqui?

- Ué, tirei! Tinha uma garrafa de vinho quebrada no chão. Estava tudo grudento. Eu...

- O que você fez com a garrafa? - perguntou ele, agitado.

- Coloquei no compactador de lixo, pra triturar.

- E fez mais o quê?

- Ora, eu limpei o cinzeiro e...

-Havia alguma guimba de cigarro dentro?

Ela parou, tentando se lembrar.

- Uma. Eu joguei na lata de lixo da cozinha.

- Vamos dar uma olhada. - Ele a seguiu até a cozinha, e ela apontou para uma lata de lixo.

Dentro, havia uma guimba de cigarro com uma pequena saliva na ponta. O delegado Blake recolheu-o, cuidadosamente, com um envelope de provas. Ele a levou de volta para a sala de estar.

- Maria, você sabe se sumiu alguma coisa do apartamento? Por acaso, tem a impressão de que qualquer coisa de valor possa ter desaparecido?

Ela olhou ao redor.

- Acho que aquelas pequenas... O senhor Daniel gostava de colecionar estatuetas. Gastava um dinheirão com isso! Parece que estão todas aqui.

- Então o motivo não foi roubo. Drogas? Vingança? Um caso amoroso que deu errado?

- O que você fez depois de arrumar a sala, Maria?

- Aspirei o pó daqui, como sempre faço. E depois... - Sua voz falhou. - Eu entrei no quarto...e o vi. - Ela olhou para o delegado Blake. - Juro que não fui eu que fiz isso.

O legista e seus assistentes chegaram numa viatura do instituto, trazendo o material para ensacar o corpo.

Três horas depois, o delegado Ewerton Blake estava de volta à chefatura de polícia.

- O que você achou, Ewerton?

- Pouca coisa! - O delegado sentou-se em frente ao comissário Dowling. - Daniel Valentino trabalhava na Global. Pelo que parece, era um desses génios da informática.

- Mas não foi gênio suficiente para evitar o próprio assassinato.

- Ele não foi só assassinado, Sean. Foi trucidado. Você deveria ter visto o que fizeram ao corpo dele! Só pode ter sido algum maníaco!

- Nenhuma pista?

- Não temos certeza do tipo de arma que foi usada para o crime, estamos aguardando os resultados do laboratório, mas talvez tenha sido uma garrafa de uísque quebrada. A empregada a jogou no compactador de lixo. Parece que há uma impressão digital em um dos cacos de vidro que estão nas costas dele. Falei com os vizinhos. Nada que me ajudasse. Nenhum deles viu ninguém entrando ou saindo do apartamento da vítima. Nenhum barulho incomum. Aparentemente, Daniel era um cara que ficava muito na dele. Não era do tipo de fazer amizade com vizinhos. uma coisa: Daniel fez sexo antes de morrer. Temos resquícios de espermas, não só dele, mas do assassino , pêlos pubianos, alguns outros vestígios e uma ponta de cigarro com um pequena saliva. Vamos fazer o teste de DNA.

- Os jornais vão se fazer, Sean. Já estou vendo as manchetes; MANíACO ATACA NO VALE DO SILêNCIO. - O comissário Dowling soltou um suspiro. - Vamos resolver este caso o mais rápido que pudermos.

- Já estou a caminho da Global.

Fabrício levara uma hora inteira para se decidir se deveria ir para o escritório. Sua aparência estava horrível. Basta olhar para mim e todos vão saber que há algo errado. Mas se eu não for, vão querer saber por quê. A polícia provavelmente estará lá, fazendo perguntas. Se me perguntarem, terei de dizer a verdade. Vão me culpar pela morte de Daniel. Mas se acreditarem em mim, e eu contar que o meu pai sabia o que ele tinha feito comigo, vão botar a culpa nele.

Ela pensou no assassinato de Rafael Bramn. Chegou a ouvir a voz de Florence : os pais de Rafael chegaram em casa e encontraram o corpo dele. Ele foi morto a facadas... e castrado.

Fabrício fechou os olhos, bem apertados. Meu Deus, o que está acontecendo? O que está acontecendo?

O delegado Blake entrou no andar, onde grupos de funcionários com ar taciturno conversavam baixinho. Blake podia imaginar qual era o assunto das conversas. Fabrício o observava apreensivamente, enquanto ele se encaminhava para o escritório de Marc Miller.

Marc se levantou para cumprimentá-lo.

- Delegado Blake? Certo. - Os dois trocaram um aperto de mãos.

- Queira sentar-se, delegado.

Ewerton Blake sentou-se.

- Fui informado de que Daniel Valentino era um dos funcionários da casa.

- Correto. um dos melhores. Que tragédia horrível!

- Ele trabalhava aqui fazia uns três anos?

- Isso. Era o nosso génio. Não havia o que ele não fizesse com um computador.

- O que você sabe sobre a vida social dele?

Marc Miller balançou a cabeça.

- Não há muito o que contar, acho eu. Daniel era um tipo solitário.

- Você faz ideia se ele estava metido com drogas?

- Daniel? Não, de jeito algum. Ele era um maluco saudável.

- Jogava? Poderia estar devendo muito dinheiro para alguém?

- Não. Ele ganhava um salário muito bom, mas eu acho que era bastante controlado com dinheiro.

- E com mulheres, homens? Tinha alguma namorada ou namorado?

- As mulheres não sentiam muita atração por Daniel, nem os homens. - Ele pensou um instante. - Mas,ultimamente, ele andava por aí dizendo que tinha alguém com quem estava pensando em se casar.

- Por acaso ele mencionou o nome?

Miller balançou a cabeça.

- Não. Pelo menos, não para mim.

- Você se importaria se eu conversasse com alguns dos seus funcionários?

- De forma alguma. Fique à vontade. Eu não posso deixar de dizer que estão todos muito

abalados.

Ficariam ainda mais abalados se tivessem visto o corpo dele, pensou Blake. Os dois saíram do escritório e se dirigiram aos demais. Marc falou em voz bem alta:

- Pessoal, atenção, por favor! Este é o delegado Blake. Ele gostaria de fazer algumas perguntas. Os funcionários haviam interrompido o que estavam fazendo para prestar atenção. O delegado Blake falou:

- Estou certo de que todos vocês já sabem do que aconteceu com Daniel Valentino. Precisamos da ajuda de todos para descobrir quem o matou. Algum de vocês sabe de algum inimigo que ele pudesse ter? Alguém que o detestasse o suficiente para querer matá-lo? - Silêncio. Blake prosseguiu: - Havia alguém com quem ele estava querendo se casar. Ele discutiu isso com algum de vocês?

Fabrício estava sentindo dificuldade para respirar. Era hora de falar. Era hora de contar ao delegado o que Daniel havia feito com ele. Mas Fabrício se lembrou do olhar do pai quando lhe falara sobre isso. Decerto todos iriam achar que a culpa era dele. Seu pai não seria capaz de matar ninguém.

Era um médico.

Era um cirurgião.

Daniel Valentino fora castrado.

O delegado Blake estava dizendo:

-... e nenhum de vocês o viu depois que ele saiu daqui na sexta-feira?

Edward Snow pensou: Vamos. Conte a ele, Senhor Certinho. Conte que você foi ao apartamento dele. Por que não confessa? O delegado Blake ficou parado um momento, tentando ocultar sua decepção. - Bem, caso algum de vocês se lembre de qualquer coisa que possa ser útil, eu ficarei agradecido se me telefonar. O Sr. Miller está com o número do meu telefone. Obrigado!

Todos o observaram, enquanto ele se dirigia para a saída, acompanhado por Marc.

Fabrício sentiu-se enfraquecer de alívio.

Blake se virou para Marc.

- Havia alguém aqui a quem ele fosse particularmente mais chegado?

- Não, eu suponho que não - falou Marc. - Acho que Daniel não tinha proximidade com ninguém. Ele sentia muita atração por um dos nossos operadoras de computador, mas nunca chegou a ter nada com ele.

O delegado Blake parou.

- Ele está aqui agora?

- Está, mas...

- Eu gostaria de falar com ele.

- Tudo bem. Podem usar o meu escritório. - Eles voltaram, e Fabrício os viu chegando.

Estavam se encaminhando direto para o seu cubículo. Ele sentiu o rosto ruborizar-se.

- Fabrício, o delegado Blake gostaria de conversar com você.

Então ele sabia! Ele ia lhe perguntar sobre a sua ida ao apartamento de Daniel. Preciso tomar cuidado, pensou Fabrício

O delegado estava olhando para ele.

- Importa-se, Senhor Madson?

Fabrício conseguiu dizer:

- Não, de forma alguma. - Ele o acompanhou até o escritório de Marc Miller

- Sente-se. - Os dois se sentaram. - Eu estou sabendo que Daniel Valentino tinha uma certa atração pelo senhor.

- Eu... eu acho... -Cuidado! -... que sim.

- O senhor saiu com ele?

Uma ida ao apartamento dele não seria a mesma coisa que sair com ele.

- Não.

- Ele lhe falou sobre essa pessoa com quem queria se casar?

Ele estava cada vez mais apreensivo. Será que esta conversa estaria sendo gravada? Talvez ele já soubesse de sua ida ao apartamento de Daniel. Poderiam ter encontrado suas impressões digitais. Agora era a hora de contar ao delegado o que Daniel tinha feito. Mas se eu contar, pensou Fabrício, em desespero, a conversa vai levar ao meu pai, e eles irão conectar isso ao assassinato de Rafael Bramn. Será que sabiam disso também? Mas a chefatura de polícia de Bedford não teria razão alguma para informar à chefatura de

polícia de Cupertino. Ou teria?

O delegado Blake a estava observando, à espera de uma resposta.

-Senhor Madson?

- O quê? Ah, desculpe! Eu fiquei tão perturbado com isso...

- Eu compreendo. O Sr. Valentino alguma vez mencionou essa pessoa com quem queria se casar?

- Mencionou... mas nunca me disse o nome dele ou dela. - Isso, pelo menos, era verdade.

- O senhor já esteve no apartamento de Daniel?

Fabrício respirou profundamente. Se dissesse que não, o interrogatório provavelmente terminaria ali. Mas se eles tivessem encontrado suas impressões digitais...

- Estive.

- Esteve no apartamento dele?

- Estive, sim.

Ele estava olhando mais atentamente para Fabrício agora.

- O senhor disse que nunca tinha saído com ele.

A mente de Fabrício estava ativa agora.

- Correto. Não saí para namorar. Fui levar alguns papéis que ele tinha esquecido.

- Quando foi isso?

Ele se sentiu enrascado.

- Foi... faz mais ou menos uma semana.

- E essa foi a única vez em que esteve no apartamento dele?

- Isso mesmo.

Assim, se eles tivessem encontrado suas impressões digitais, ele estaria a salvo.

O delegado Blake ficou sentado, estudando-o, e ele se sentiu culpado. Fabrício quis contar-lhe a verdade. Talvez algum ladrão tivesse entrado no apartamento e o matado - o mesmo ladrão que tinha matado Rafael Bramn cinco anos antes e a cinco mil quilómetros dali. Se é que você acredita em coincidências! Se é que você acredita em Papai Noel! Se é que você acredita em fadas!

Maldito seja você, papai.

O delegado Blake falou:

- Foi um crime horrível. Não parece ter havido motivo algum. Mas eu lhe digo uma coisa, em todos esses anos que venho trabalhando no departamento, jamais vi um crime sem motivo.

- Não houve resposta alguma. - Você sabe se Daniel Valentino estava envolvido com drogas?

- Tenho certeza de que não.

-Então, o que nos resta? Não foram drogas. Ele não foi roubado. Não devia dinheiro a ninguém. Parece que sobra apenas o aspecto passional, não é mesmo? Alguém que estivesse com ciúmes dele. Ou um pai que quisesse proteger a filha ou um filho.

- Eu estou tão intrigada quanto o senhor, delegado.

Ele a fitou com firmeza por um instante e seus olhos pareceram dizer: Não estou acreditando em você, mocinho.

O delegado Blake se levantou, pegou um cartão e o entregou a Fabrício.

- Caso a senhor consiga se lembrar de alguma coisa, eu ficarei grato se me der um

telefonema.

- Eu darei, com certeza.

- Bom dia!

Ele esperou que ele saísse. Acabou. Papai está a salvo. Quando Fabrício voltou para seu apartamento naquela noite, havia um recado na secretária eletrônica.

- Você me deixou excitadíssimo ontem à noite, gatinho. Fiquei alucinado. Mas você vai me dar uma atençãozinha hoje, conforme me prometeu. Na mesma hora, no mesmo lugar. Fabrício ficou ali parado, escutando, incrédulo. Eu estou ficando maluco, pensou. Isto não tem nada a ver com meu pai. Deve ter mais alguém por trás desta história toda. Mas quem? E por quê?

Cinco dias depois, Fabrício recebeu um extrato do seu cartão de crédito. Três itens lhe chamaram a atenção.

· Uma conta da loja Mod Mens, de 450 dólares.

· Uma conta da boate Circus, de 300 dólares.

· Uma conta do restaurante Louie's, de 250 dólares. Ele jamais ouvira falar da loja, da boate nem do restaurante.

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