I - Rota de Fuga

Conto de Felipe Storm como (Seguir)

Parte da série Oscilação Repentina - Reboot

Capítulo 1

Rota de Fuga

Bem. Eu estava literalmente fudido. Todas as minhas pedras eu já tinha tragado e não tinha mais nada. Já estava no horário da compra e eu contava as últimas cédulas que eu tinha no bolso do moletom preto que eu tinha como cobertor nas costas.  "AH MERDA!" Eu gruni mentalmente, pois o dinheiro que eu tinha não dava pra nenhuma pedra se quer. Eu peguei a lata velha com água e joguei na parede. Eu tava sentado num beco escuro e vazio, apenas com sacos de lixo e entulho onde eu dormia nas última noites. De vez enquando eu saia pra comprar as drogas mas nunca eu mudei de lugar. Eu desisti de ficar parado, minha agonia era permanente e me levanto atrás de grana.

Eu ando, sem rumo, esquecendo do meu objetivo a todo momento e já estava caindo de cansaço. Eu me sento na calçada e olho ao redor. A estrada sem movimento, algumas pessoas caminhando pela calçada e me olhando com uma cara de desprezo e pena. A noite estava linda, o céu estrelado, lua cheia e bem poucas nuvens que deixavam o clima bem calmo.

- O que foi que eu fiz? - lágrimas começavam a cair e o passado tomou de conta da minha mente. As memórias surgiam aos poucos de tudo que eu passei. Era tão bom. No começo era tão bom. Eu era feliz, simplesmente feliz, não me importava com nada, apenas em aproveitar o momento.

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[Flashback]

Mais um dia na escola. As coisas estão perfeitas. Eu tava deitado no meu quarto a um tempinho já. Pensando em como tudo está ao meu favor. Meu pai arranjou um emprego na metalúrgica que tanto queria. Minha mãe estava se dando bem nos negócios com a Newtec. Meu irmão, Rodrigo que não está meio satisfeito com a subida na vida dá família, pois queria administrar a Newtec junto com a mamãe (Vanessa) e ela não queria alguém da  família se metendo no trabalho dela. Já eu, eu tenho minha vida normal de adolescente popular do ensino médio. Estou à dois meses pegando a garota mais gata da escola e me dando bem com as notas. Eu já estava no terceirão do ensino médio e não podia falhar.

O barulho frenético do despertador me lembra que tenho aula. Me levanto num pulo da cama, abro a persiana e vejo os raios de sol entrando no quarto. Sinto o leve calor no meu rosto e vou pro banheiro fazer minha higiene matinal.

Minha mãe e meu pai, ambos tem uma beleza de outro mundo. Apesar do fato da mamãe ser neta de canadenses e meu pai filho de português. Eu tenho 17 anos, não sou muito alto, tenho cabelos castanhos e os olhos azuis. Sou meio fortinho (resultado dos meses que passei na academia).

Eu vesti o uniforme da escola e desci pra cozinha. Minha mãe tava toda arrumada na mesa com uma torrada na mão e o café na outra.

- Bom dia dona Vanessa - ela percebeu meu entusiasmo enquanto eu pegava minha xícara e sentava na cadeira ao lado dela. - Tá um pouco atrasada - ela olhou para o relógio de parede que ficava pendurado na coluna dá cozinha

- Ah merda. Vou tomar o café no carro. - Ela veio até mim e deu um beijo na minha testa. - boa aula Ben, acorde seu irmão pra ir trabalhar e cuidado por aí. Te amo - ela falou tudo isso correndo aflita.

-  Cuidado por aí, te amo, sua doida - me divirto sozinho vendo a situação dela. Vejo a hora de novo e se não me apressar sou eu que vou ser o próximo atrasado dá história.

Minha mãe sempre se atrasava pra reuniões na Newtec. Nunca era pontual pra nada. Meu pai devia estar no trabalho e meu irmão... Rodrigo sempre saia do quarto depois que a mamãe fosse pra empresa. Ele não suportava o fato de que não trabalha lá. Eu chamei ele no quarto e ele foi super educado comigo, ele disse pra eu tomar cuidado, blá blá blá blá, coisas de irmão mais velho. E eu fui pra escola. Cheguei lá e já tinha um amigos meus na cantina lanchando, Nathan, Matheus, Yuri e Camila estavam na mesa conversando e rindo a cada 2 segundos.

- fala seus putos, passaram a noite num Stand Up? - meu sarcasmo era natural já. Peguei uma cadeira vaga da outra mesa e sentei junto com eles.

- Ui, o Crush já chega arrasando - Camila me analisa e o namorado que é o Matheus dá uma cutucada de leve nela. Todos que tavam na mesa deram risada.

- Ae Ben - Nathan sussurra no meu ouvido - já viu quem vai reprovar pelo que tô vendo ultimamente?

- Alguém reprovar aqui? Não é nenhuma novidade. - Pego o suco de laranja dele e dou um gole - Na verdade é comum isso já.

- Mas você não tá entendendo. Estou falando do Erick. - viramos de costa e vimos ele encostado na coluna sentado no banco, ouvindo música no fone. Inacreditável, o Erick é o aluno mais inteligente do sala e do nada vai reprovar.

- Impossível, deve ter alguma coisa errada aí. - Erick além de ser um cara bonito, de 16 anos, porte de atleta, ruivo dos olhos verdes, era a mente mais genial da sala. - Eu vou ajudar ele. Coitado deve ta passando por uma situação difícil em casa sei lá.

- Pode ser. - ele pega o copo de volta e antes de esvaziar o copo ele diz - só desejo boa sorte.

Naquele momento eu tinha tomado a pior decisão de minha vida

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Eu não suportava lembrar disso. Lembrar do que me fez cair. Do que fez tudo ao meu redor cair.

Vejo do outro lado da rua, uma catedral, tento ver as horas mas o borrão na minha vista não deixava. Já devia ser quase 20:00 hrs e eu tava com fome, sem a pedra. Vou tentar fazer do meu jeito. Vou até a "boca" que tem duas esquinas depois da rua que eu tava. Eu tiro a minha camisa branca e molho em uma poça de água para pôr na cabeça. Numa tentativa de aliviar a dor que martelava de tanta aflição. Começo a caminhar lentamente, não ligando para as pessoas que passavam perto de mim.

Depois de uns 15 minutos caminhando eu chego na esquina onde eu compro as drogas. Vejo do longe o Bruno que comandava aquela área. Vou até ele que está conversando com outro usuário sujo igual. Ele cochicha algo no ouvido do outro cara e ele vai embora. Bruno olha pra mim da cabeça aos pés e põe as mãos na cintura.

- Aí está ele - ele começa a dizer em voz alta - o "Galãzinho Rebelde" Faz muito tempo que não te vejo rapaz - ele põe a mão no meu ombro. - Desde... Ontem eu acho - ele começa a rir e eu calado olhando pro nada.

Bruno era meio alto, eu não sabia quase nada sobre ele. Era moreno, tinha o cabelo tingido de loiro e os olhos castanhos. Ele vendeu a casa pra começar o ramo de negócios dele.

- Me poupe do falatório Bruno - ele para na minha frente e observar a minha situação

- Hum, vejo que alguém terminou a mercadoria antes da hora - o sorriso de canto dele é a melhor coisa. - ainda sobrou umas 4 ou 5 por aqui - enquanto ele revirava o bolso dá bermuda eu olhava ao redor.

Era uma área aberta um pouco longe da estrada. Vários dependentes usando as drogas como loucos viciados. Era um lugar onde eles se sentiam a vontade pra usar a mercadoria. Eu nunca quis me misturar a esse povo. Eu me sentia pior estando com eles.

- Ah! Finalmente. Achei 3 "Rebelde". Você já sabe quanto é - entrego o dinheiro enrolado pra ele e vou embora em passos rápidos. O que ele não percebeu foi que eu dei dinheiro a menos. Assim que eu fumar isso eu me mando daqui. - Adoro fazer negócios com você Rebelde. Use com calma dessa vez - ele grita de onde está.

Assim que eu dobrei a esquina comecei a correr, corria e olhava pra trás a cada 4 passos. Eu estava com medo e olhava para todos os lados. Eu corri por umas 9 ruas despistando o local e paro um pouco ofegante.

Me encosto na parede com o coração a mil por hora. E pego a pedra e começo a fumar. A satisfação é imensa. Me sinto nas nuvens. Eu escuto a voz de um homem gritando "Ele veio por aqui". Olho do outro lado da rua e dois homens grandes correm na minha direção. Eu jogo a pedra no chão e corro freneticamente para fugir deles. Decidi entrar em uma rua vazia pra despista-los, mas fui pego de surpresa pelo Bruno que deu uma pancada com um pé de cabra no meu rosto. E caio no chão com a mão na cara morrendo de dor.

- HA HA HA HA. Achou que ia me enganar fácil né Rebelde. - os outros dois caras chegaram perto. Tento me levantar ficando de joelhos no chão e Bruno mantém o olhar fixo em mim. Ele dá a ordem pros capangas. - Podem mata-lo. Encham esse filho da puta de porrada.

Levo um chute certeiro no meio das costas e caí de volta. Eram chutes e mais chutes. Um deles pisou na minha cabeça bem forte e quase fico inconsciente. A última coisa que me lembro é do Bruno, caminhando lentamente de volta pra "boca" com o pé de cabra na mão.

Depois de algumas horas desacordado eu abro os olhos com dificuldade e com uma dor tremenda na cabeça, nas costas e na perna direita. Me arrasto até a pista depois de um tempo gritando de dor. Atravesso a rua e vou pra calçada, não aguentei mais e desacordei novamente. Mas a última coisa que vi foi um colírio pros meus olhos. Era minha salvação, meu refúgio, meu antigo melhor amigo: Eduardo.

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