"Obrigado Pai" - Parte 1

Conto de Felipe Storm como (Seguir)

Parte da série Destino

Interior de Goiás

02 de Junho de 2015, Segunda-Feira, 18:20 Hrs

Tudo mudou, se passaram seis meses depois da viagem e as coisas melhoraram para nós, a casinha foi alugada várias vezes por outros hóspedes o que trouxe um lucro muito bom. Arrumamos nossa casa e meus pais estão felizes como nunca o que me deixa feliz também. Tem a minha irmã também, Beatriz. Ela é demais. (Muito divertida, simpática, carismática, agrada qualquer um que puxar um papo. Tem os cabelos castanhos cacheados, é branca, olhos pretos, é magra e alta). Minha vida está tranquila, sem problemas. Exceto por uma coisa, Scott. Não consigo esquecer ele, algumas vezes tenho um sentimento de raiva por ele ter vindo só pra me deixar assim, mas outras vezes eu sinto saudade demais porque, porque não sei, não consigo saber o que eu sinto certamente. Mas consigo conviver com isso. Quero focar apenas em uma coisa, festas juninas. Cara eu amo de paixão essa época desde criança. Aqui no interior a festa junina é bem querida pelos moradores e na escola não é diferente, é nesse sábado aqui na escola então, já estou ansioso. Estou sentado em um banco perto do bicicletário da escola pensando em tudo vendo os alunos indo embora. Até que ainda tinham alguns alunos nas salas mas já estava acabando a tarde e o céu estava alaranjado, Henrique senta do meu lado e fica admirado o céu

- Nossa... - foi só o que ele disse. Voltou a dizer alguma coisa só minutos depois. - cara se a professora de biologia não cuspisse tanto na gente eu até que poderia xingar ela menos.- rimos e volto a ficar calado - Ei ficou sabendo do aluno novo que vai estudar na nossa sala amanhã?

- Não - Mais um bocó pra aguentar - isso foi bem sua namorada né

- com certeza

- "novidade" - a namorada dele (a qual não me recordo o nome. É muito difícil o nome dessa guria) era conhecida como "jornal da escola". Sabia de tudo da vida de todos. Ela já sabia do Scott antes de eu levar ele na escola. Ela sabe de todas as garotas grávidas da escola, quem era o pai e o nome do bebê .

- ela já sabe a vida toda do cara, mano.

- é, eu imagino. - me levanto pra ir embora. O sol ja estava se pondo e é ruim sair a noite por aqui. - Bom espero que ele se acostume com as "pessoas agradáveis" aqui da escola.

Ele da uma risada bem sarcástica - Isso vai ser difícil

-bem. Eu tenho que ir, já está tarde.

- Até amanhã então Thommy. Vou ficar um pouco por aqui.

- Okay, se cuida. - peguei minha bicicleta e fui pra casa.

Chegando lá eu tomei um banho e me deitei na cama pensando no Scott. "Caraca como não consigo esquecer desse projeto de ser humano." Eu não entendia, era um sentimento estranho que me perturbava dia e noite, me deixava sem sono, igual nessa mesma noite. Fiquei até quatro horas da manhã acordado, sem sono. Eu fiz um achocolatado e levei pra tomar lá fora. Andei um pouco, olhando para o céu, vestido com uma roupa velha de dormir com a face acabada e sem sono.

Tomei todo o chocolate e eu ainda estava sem sono algum. Pensei em ir até a praia, "loucura minha, essa hora na praia". Comecei a caminhar pela trilha, errei o caminho umas 4 vezes mas no final acabei achando o certo. Estava como antes, só com uns galhos jogados pela areia, a maré estava meio seca e o vento um pouco forte. Já devia ser quase seis horas da manhã, e o céu ja estava ficando claro, andei um pouco e me sentei na areia, fiquei olhando ao redor o ambiente perfeito e lindo demais, eu tinha boas lembranças.

- BUU! - eu peguei um susto que cortou todo o clima - ta devendo alguém Thommy - era a Bia, tava rindo demais, adorava me assustar

- Não não - minha voz estava calma - eu tava só relembrando bons momentos.

- Eu heim - ela se sentou na mesma posição que eu e olhou pro espetacular Nascer-do-Sol - aquele garoto mexeu mesmo contigo. - "O QUÊ?!" -Nem vem essa sua cara não nega. - "COMO ELA SABE DISSO?"

- Você não sabe de nada - tento não levar essa conversa a sério

- Qual é Thomas, eu também tive sua idade, sei o que é isso - "Sabe não" - esta sentindo uma coisa estranha no estômago. - "É fome" - Fica pensando em uma vida que não existe ainda. Fica sem dormir por causa dessa... "pessoinha". - fico de cabeça baixa, pensando que a filha da mãe estava certa

- não é nada disso - me levanto e dou a mão - continua sempre me perturbando quando estou em paz Bia. - puxo ela e andamos de volta pra casa

- e você continua desmentindo

- e você é irritante

- Caraca maninho, só quero te ajudar.

- Eu sei Bia. Eu sei.

Voltamos e minha mãe estava na cozinha fazendo o café, o vento diminuiu e o calor ficou mais forte. Eu estava me perguntando como ela acertou a trilha tão rápido, me senti uma bosta por ter demorado anos só pra saber que ela estava lá. Mamãe percebe a gente e da um sorriso.

- Bom dia mãe - nós dois falamos juntos

- Bom dia né. Vocês dois somem e não dão notícia. Fiquei preocupada.

- Ué, pra onde iríamos

- Por isso que me preocupo. Não sei por onde vocês andam.

- A gente foi dar uma volta na praia mãe - a Bia fala mordendo uma pêra que pegou da fruteira.

- Vão tomar um banho antes de tomar café, eu heim.

- Tá, tá. - deixei a Bia ir primeiro enquanto eu lavava o copo que tomei o achocolatado.

O dia passou normalmente mas ainda estou pensando no que ela falou hoje mais cedo. Tipo: "ela sabe e não me julgou". Eu fiquei até meio feliz... bolado... confuso... Na verdade são as únicas coisas que sinto ultimamente. Me arrumei rapidamente pra chegar cedo na escola. MAS... Por mais incrível que pareça minha bicicleta quebrou. Então vou ter que encarar todo o caminho... Andando!

Isso me deixou 15 minutos atrasado, quase não entro na escola. Vou pelo corredor de entrada, com uns dois ou três alunos fora das salas que estão todas em aula, me cago de tanta tensão e corro até a minha sala que... Também está em aula e é claro, não posso entrar.

Vou pra cantina e me sento em um dos bancos, tiro meu caderno da mochila e resolvo uns exercícios de geografia.

O tempo meio que passa rápido, o primeiro tempo acaba e os alunos se espalham pela cantina. Aproveito e vou pra sala. Chego lá e tem um grupinho de meninas ao redor do meu lugar de sempre.

- O que essas meninas tão fazendo dessa vez? Meu dia não podia ficar pior! - chego perto e elas tão paparicando alguém, saio chutando elas. - Sai, sai oh. - e pra piorar tem um garoto sentado na minha cadeira com umas duas garotas no colo. Elas se calam quando me vêem e as meninas saem se perto dele. Parecia ser o novato que o Henrique falou ontem.

- Ah, Eae. Desculpa por isso, elas andam enchendo o saco desde que cheguei. - não percebi nenhum sotaque, deve ser de perto.

- Hum, tá. E não querendo cortar teu barato mas esse lugar é meu. - ele levanta uma das sombrancelhas me olhando

- Sinto muito mas eu não me atrasei hoje então... - "É Sério?!" - mas tem uma cadeira livre aqui na frente. Pode sentar aí. Se quiser sua cadeira de volta, vai ter que chegar no horário certo amanhã guri. - não tinha percebido o Henrique sentado na cadeira ao lado olhando a situação, também não tinha percebido a cara de pau dele achando que ja manda na sala.

- Okay - foi só o que eu consegui dizer sem argumento algum - Okay - Coloco minha mochila na cadeira da frente que ele tava sentado e me retiro da sala.

Ando resmungando no corredor e vou comprar uma água na cantina, vejo o professor de geografia indo pra sala e vou atrás. Chegando lá vejo que o novato ta rabiscando um bagulho no caderno dele. Deve ser coisa de emo gótico da trevas sei lá.

Ele não parecia ser um emo gótico das trevas. Tinha o cabelo liso com um topete parecido com o do John Travolta, não deu pra perceber a cor dos olhos mas parece que são de um castanho escuro, era pardo e meio fortinho, um pouco mais que eu. Me sentei e abaixei a cabeça no braço da cadeira, com a esperança de tirar um cochilo mas... O professor tomou a palavra

- Quem tiver feito o exercício que deixei na aula passada traga até a minha mesa. - eu quis jogar minha cadeira nele. Peguei meu caderno e fiz de tudo pra ser o primeiro a entregar. Pelo menos isso eu consegui.

Voltei pro meu lugar, a sala tava quente. O novato foi falar com o professor sobre o número na caderneta e tals e ouço ele (professor) me chamar.

- Thomas! Pode levar esse aluno na biblioteca para pegar os livros que faltam? - "Desisto dessa vida"

- Tudo bem professor, Tudo Bem. - me levanto e falo em voz alta... - Espero que isso volte para minha nota na próxima avaliação. -

ele da uma risada - Coitado.

Ele vem andando do meu lado, sério, parecia ser frio. Chegamos na biblioteca e não vejo ninguém, procuro o bibliotecário entre as prateleiras de livros e vejo um velhinho que veio na nossa direção assim que nos viu.

- Olá meninos. Livros? - Ele tinha voz de velho mesmo

- Sim. É que o.... Eehh - estalo os dedos tentado chutar o nome do novato.

- Gabriel... Eu sou novo aqui na escola e o professor Fernando de Geografia mandou eu vir aqui pegar os livros que vou precisar.

- Ah sim. Venha cá filho, vou te mostrar os livros. - eles foram para as prateleiras e eu puxei uma cadeira e sentei pra esperar.

Fiquei olhando eles procurando os livros e reparei mais ainda no Gabriel. Até que ele é bonitinho, o tipo de garoto que as garotas dariam encima... Eu não sei o que está acontecendo comigo ultimamente, não acredito que eu possa.... Que eu esteja.... Gostando de garot....

- Estão todos aqui. - vejo Gabriel morrendo carregando os livros. Dei uma risada e peguei metade dos braços dele.

- Obrigado moço

- Não há de quê

Seguimos pelo corredor até a sala carregando os livros, ele de vez enquando olhava para os meus braços que estavam com marcas vermelhas dos livros. Ele deu uma risada.

- Caraca você é branquelo demais - levantei a sombrancelha olhando pra ele e dei uma risada sarcástica

- Falou o Índio novato - ele ficou sério e comecei a rir. - de onde você veio bocó?

- Fui expulso de uma escola que fica a uns quilômetros daqui

- Eita, deu uns socos em alguém por causa de lugar na sala? - dei um sorriso é ele me olhou de um jeito que fiquei meio sem graça e respondeu

- não não, só fazia muita coisa errada lá. Aí não me aguentaram mais. - entramos na sala e o professor já tinha saído. Olhei para o relógio que tinha encima do quadro negro e já era hora do intervalo. Não vi o Henrique no lugar dele então deve estar ma cantina.

- Ei Cara! - Gabriel me chama antes de eu sair da sala. - me mostra onde fica a cantina, vou comprar um lanche.

- É fácil, a gente passou por lá - vou com ele até na cantina e vejo o Henrique sentado num banco sozinho. Mostro pro Gabriel onde vende lanche e vou até ele.

- Pensei que não ia falar comigo hoje. - Ele não tava com uma cara boa. Já não bastava a que ele tinha....

- Foi mal cara - sentei do lado dele - é que o dia foi bem cansativo, nem dormi direito.

- Pensei que ja tava me trocando pelo novato ali - ele aponta pro Gabriel que tá comendo coxinha sozinho numa mesa.

- Fala sério cara. Ele chegou a alguns minutos e ainda roubou meu lugar na sala. Nem em Nárnia eu te trocaria por ele.

- Hum. Acho bom. Te conheço desde o fundamental cara, foi mal. Tenho medo de perder uma amizade como a sua.

- Ei - chego mais perto e dou umas batidinhas na costa dele - eu nunca vou te trocar por ninguém. Eu prometo - eu dou um sorriso e ele fica olhando igual ao novato.

- Assim, na brotheragem, tu tem o melhor sorriso que ja vi mano. Sério. - começo a rir - Como que ainda não pegou nenhuma menina aqui na escola?

- Coincidência. - É claro que não era coincidência, eu já tinha me tocado no que tava acontecendo comigo.

O sinal toca e eu vou com o Henrique pra sala, a gente conversa um pouco e o Gabriel entra, Henrique olha meio torto pra ele e já vi que ia dar merda.

Assistimos três aulas de literatura e fomos liberados, fui falar com o Henrique mas ele tinha que ir embora. Me despedi e depois de uns cinco minutos decidi ir também. Vou pro portão e o Gabriel vem arrastado a mochila dele atras de mim. Vou até ele pra ver a situação.

- Tá levando a cadeira aí - começo e rir e da uma risada irônica.

- Queria te pedir, assim, se não fosse incomodar, pra você me ajudar a levar esses livros ate em casa. Eu moro perto. - Vejo a hora e eram quase seis da noite mas dava pra mim.

- Sem problema.

A gente foi andando e andando, e andando e andando e andando.... E andando o sol ja estava se pondo e nada de chegar. Já devia ser umas Seis e meia da noite e finalmente chegamos, lembrei da vez em que fui com o Scott na escola, foi o mesmo sacrifício.

- Nossa mano valeu mesmo. Vou te devolver esse favor um dia. Prometo.

- Okay eu vou cobrar - rimos e sentamos num banco que tinha na frente da casa dele. A gente conversou pra caramba nos conhecemos mais. Soube que a mãe dele morreu de pneumonia à dois anos, que ele mora com a Tia, o que me lembrou o Scott de novo, e que tinha 17 anos. Já estava escuro e eu tinha que ir.

- Amanhã você vai pra escola.

- Claro. Eu nunca falto aula. - respondo como se eu fosse o melhor aluno da classe

- Ah é, falou o que chegou atrasado hoje - nos dois rimos e expliquei pra ele a situação da bicicleta.

- A gente se vê amanhã Gabriel - viro de costas pra ir e ele me chama

- Cara toda essa tarde contigo e não sei teu nome

- Ah sim. Thomas. - aperto a mão dele

- Thomas. Sei que a gente só conheceu hoje mas... Você tem o melhor sorriso que ja vi. - ele fica meio sem jeito é aceno pra ele.

Ja era noite e até que eu tava precisando dar uma corridinha. Voltei correndo pra casa, até porque meu pai não gosta que eu fique andando até tarde com meninos...

Continua...

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