01x03 - AMIGO ESTOU AQUI

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série AMOR DE PESO

Pai e mãe. Estou constrangido. Fiz muitas coisas em Manaus que não sei se teria coragem de contar para vocês, mas se vocês estiverem vendo tudo peço desculpa, mas sou jovem e preciso aprender muita coisa ainda.

Leonardo: (posicionado atrás de Yuri) – Calma. Relaxa.

Yuri: - (na posição de quatro) – Devagar. Por favor.

Obrigado por acompanhar. Nos comentários respondi duas perguntas que me fizeram de comentários anteriores. Se você tiver alguma dúvida pode enviar pro email: escrevoamor@gmail.com.

Leonardo: - (introduzindo o pênis em Yuri)

Yuri: (grito abafado)

Leonardo: - Relaxa. Tem que engolir tudo, mas com calma. Quer que eu tire?

Yuri: - Continua. (respirando fundo e relaxando) – Nossa.

Leonardo meteu tudo em mim. Era um misto de dor e tesão. Ele ficou parado por algum tempo e começou a meter lentamente. As minhas pernas tremiam e o meu pau babava. Não acreditava que estava fazendo sexo pela primeira vez e com um cara super gostoso. Estava suado e dolorido, mas estava adorando aquilo.

Leonardo: - Que cu apertado. Tá gostando? (puxando o cabelo de Yuri)

Yuri: - Sim. Estou amando. (se masturbando)

Leonardo: - Quero te pegar na posição de frango assado.

Yuri: - (ficando na posição de frango assado)

Leonardo: - Uau. Você é lindo.

Pela primeira vez alguém havia me chamado de lindo. O meu coração disparou e eu estava amando aquele momento. Leonardo continuou a me penetrar de forma lenta, acho que ele queria que eu aproveitasse tudo aquilo. Ele segurou uma das minhas pernas e a beijou. Depois ficou segurando em meus peitos e apertando enquanto metia.

Leonardo: - Caralho. Você é muito gostoso.

Yuri: - Continua. Estou quase gozando.

Leonardo: - Vai gostosão, goza. Goza pra mim. (metendo mais rápido)

Yuri: (se masturbando e gozando) – AAAAHHHH!!!!

Leonardo: (tirando a camisinha e gozando na barriga de Yuri)

No trabalho, a minha tia recebeu mais uma vez a visita de Orlando. Ele era um cavalheiro e sabia tratar a minha tia muito bem. Quem ficava com ciúme era Carlos, o estagiário da minha tia que não tinha coragem de se declarar para ela.

Olivia: - Carlos. Pode pegar um café para o Juiz Silveira, por favor.

Carlos: - Claro. (saindo da sala)

Orlando: - Então, depois da sua festa de aniversário não nos vimos mais.

Olivia: (ficando nervosa) – Sabe como é… vida de advogada não é fácil.

Orlando: - Olha. Se foi por causa da…

Olivia: - Não fale isso. Não lembre disso. Que vergonha. (colocando a mão no rosto)

Orlando: - Olivia. Somos adultos e responsáveis pelos nossos atos. Sinceramente (pegando na mão de Olivia) – Eu faria tudo de novo, mas te levaria para um lugar, como posso dizer… hum… menos povoado.

Carlos: (entrando com um café) – Está aqui o café. (tropeçando e derramando o café em Orlando) – Nossa. Desculpa.

Orlando: (levantando) – Tudo bem. Eu… onde fica o banheiro?!

Olívia: - Nossa. Carlos. Deve ter mais cuidado. Vem Orlando, vou te levar até o banheiro. (saindo da sala com Orlando)

Carlos: (rindo) - 1x1. Essa branquinha é minha.

Na piscina, a minha irmã me procurava. Falou com alguns amigos e ninguém sabia onde eu estava. Zedu falou para ela que me procuraria. Ele olhou em todos os lugares da casa, mas não me encontrava também.

Leonardo: - Ufa, gordinho, você me deu uma canseira. (colocando a sunga)

Yuri: - (olhando para a camisinha cheia de sangue) – Droga. Devo estar todo cheio de sangue.

Leonardo: - Você era realmente virgem?!

Yuri: - Sim. (pegando o papel higiênico e limpando o sangue)

Leonardo: - Vou sair na frente. Você dá um tempo aqui. (saindo)

Yuri: - O que aconteceu? (colocando a bermuda e sentando no vaso sanitário) – Caralho. (limpando o suor da testa)

Zedu: (entrando) – Você tá bem?

Yuri: - Ze...Ze…. Eu…. Eu…. tô.

Zedu: - Vi o irmão da Letícia saindo daqui. Tá tudo bem? Aconteceu algo?

Yuri: - Sim. Estou ótimo… ele…. Digo…. O que ele tava fazendo aqui?!! É que…. Olha…. É que… a ….. a ….

Zedu: - Nossa. Respira.

Yuri: (riso sem graça) – É que a privada deu problema. Ele me ajudou. (respirando fundo)

Zedu: - Entendi. A Giovanna estava te procurando. (saindo)

Yuri: - Merda.

Será que ele havia reparado em alguma coisa? O Zedu era a minha paixão secreta, mas eu não o esperaria para sempre, afinal eu o conhecia há menos de um mês. Já o Leonardo por outro lado, ele era um fofo e sabia exatamente o que ele queria. Meu coração ficou dividido entre os dois, mas no fundo eu queria que o Zedu me notasse.

Yuri: - Ei, Zedu.

Zedu: (parando sem olhar para trás) – Oi.

Yuri: Errr…. (pensando: fala alguma coisa) – Estou muito feliz esses dias.

Zedu: (virando) – Sério?! Qual o motivo de tanta alegria?

Yuri: - Ter amigos de verdade. (pegando no ombro de Zedu)

Zedu: - Relaxa. Somos amigos.

Quando voltei para a piscina o pessoal olhava para cima. “Será que passou algum avião aqui por perto?”, pensei. De repente, olhei para Giovanna e ela apontava para o telhado. Simplesmente, o meu irmão querido subiu em cima da casa e se jogou na piscina. Fique puto da vida, entrei na água e o repreendi na frente de todos. Pronto, ele conseguiu acabar com o meu dia perfeito.

Letícia: - Nossa. Nunca vi o Yuri tão bravo.

Ramona: - Mas o Richard provocou. Já pensou se jogar do telhado?!

Brutus: - O menino é hardcore. É dos meus.

Zedu: (entrando na piscina) – Esse menino é maluquinho. Vai ficar de castigo.

Brutus: - Lembra quando a gente pulou o muro da casa da Dona Glória para tomar banho de piscina.

Zedu: - Cara. Aquilo sim era um trampolim.

Ramona: - Pena que ela morreu e enterraram a piscina. Eu gostava também.

Zedu: - Quando você foi lá?

Ramona: - Vocês não são os únicos que sabem pular muro, tá.

Zedu e Brutus: (se olham e riem)

Zedu: - Contra outra Ramona.

Brutus: - Você pular muro é a mesma coisa que o Richard ficar comportado, ou seja, tal coisa não existe,

Ramona: - Seus chatos. Tá. Eu era amiga da neta dela. (jogando água em Zedu e Brutus)

Letícia: - Gente? Alguém viu o Yuri?! Só estou vendo o Richard sentado ali.

Ramona: - Ele se isolou. Deve tá muito chateado. Ei, Zedu. Vai lá falar com o Yuri.

Zedu: (saindo da piscina, pegando um prato cheio de carne do churrasco e indo até a minha direção)

Leonardo: (se aproximando de Yuri) – Oi. Gostou?

Yuri: - Gostei. Amei na verdade.

Zedu: (indo na direção oposta)

Yuri: - Você foi bem gentil.

Leonardo: - Você é muito gostoso, mas deve te avisar que ninguém pode saber disso. Primeiro que não sou gay.

Yuri: - (pensando: - Tá bom) – Tudo bem. Eu entendo.

Leonardo: - Se quiser posso te fazer uma visita noturna.

Yuri: - Claro. Vou adorar.

Aquela conversa me deu um novo animo, eu quase esqueci da traquinagem do Richard. Voltamos para casa e eu o coloquei de castigo. Entrei na internet e busquei dicas para apimentar uma transa. Nossa encontrei cada coisa. Fiz um kit caseiro de sedução e guardei no meu quarto para a noite.

Quando estava saindo do escritório, a minha tia percebeu que um dos pneus do carro havia furado. Tia Olivia é inteligente e tem várias habilidades, mas trocar pneus não é um deles. Ela tirou o pneu reserva e ficou um bom tempo tentando tirar os parafusos em vão. Carlos pegou sua bicicleta e passou pelo carro de titia, então parou para prestar ajuda.

Carlos: (descendo da bicicleta) – Precisa de ajuda?

Olivia: (arrumando o cabelo e chutando o pneu) – Um pouco.

Carlos: - (encostando a bicicleta) – Vamos lá.

Olivia: (prestando atenção na roupa de ciclista que Carlos usava) – Você sempre vem pro trabalho de bicicleta?

Carlos: (pegando a chave para tirar os parafusos e ajoelhando) – Sim. Não gosto de pegar trânsito, então a bike me ajuda a ir para casa mais rápido. E eu não moro tão longe.

Olivia: (prestando atenção no bumbum de Carlos)

Carlos: - E você? É a mãe daquelas três crianças?

Olivia: - (encostando na lateral do carro) – Praticamente. O mais velho, o Yuri, tem 16 anos. Ele é meu braço direito e cuida dos irmãos como ninguém. Acho que ele se sente culpado por eu ter assumido a guarda deles.

Carlos: - E você se arrepende?

Olivia: - Não. Nenhum pouco.

Após alguns minutos, Carlos consegue trocar o pneu. A minha tia ofereceu uma carona, mas ele não aceitou preferiu ir de bicicleta. Titia ficou balançada com a atitude do estagiário, mas parte foi por causa do físico dele, principalmente a bunda. Depois nós gays que somos tarados. Ela chegou em casa e comprou comida japonesa.

Olivia: - Então? O que fizeram hoje?! Pegaram sol? Estão muito vermelhos. (comendo um sushi)

Yuri: - A gente foi na piscina com a turma, mas foi bem tranquilo. Passei parte o tempo lendo um livro.

Giovanna: - Eu fiquei pegando um bronze. Afinal, essa é a única coisa positiva de morar em Manaus.

Richard: - Tia! Eu pulei de cima do telhado na piscina.

Olivia: - Como assim?!

Giovanna e Yuri: (se olham)

Depois do jantar esperei todos dormirem e sorrateiramente fui pegar o Leonardo que me esperava na porta. Fomos para o meu quarto, ele nem me esperou fechar a porta e já foi me beijando. O joguei na casa e tirei toda sua roupa. Coloquei uma música para ficar tocando, afinal não queria que ninguém ouvisse e escolhi por algumas faixas do Oasis, na hora que me pegando com Leo tocava 'Supersonic'.

Leonardo: - Devagar gordinho. Temos a noite toda para aproveitar.

Zedu: (na frente da casa de Yuri, pega o celular e liga)

O Leo pega o meu celular e coloca dentro de uma gaveta. Ele volta para a cama e beija cada parte do meu corpo. Ele pede para eu tirar a roupa, antes de ficar pelado, eu vou e desligo as luzes, deixo apenas o abajur ligado. Ele deita na cama com o pau duro e me espera. Fico de joelhos próximo a cama e o chupo. Aquela madrugada foi demais, ele saiu de casa por volta das 6h, um pouco antes da minha tia sair de casa.

Nem preciso falar que dormi até tarde. E acordei com dois chupões no meu corpo, graças a Deus em lugares que não apareceriam em público. Os meus irmãos se viraram para fazer o café da manhã, mas em compensação, a cozinha ficou uma bagunça generalizada. Eu nem falei nada. Apenas limpei e voltei a dormir. Fiz um almoço com as sobras do café da manhã e voltei a dormir. Sonhei duas vezes com o meu Deus grego, o Leo.

Decidi ir até a casa de Letícia para falar com ela, tá bom, queria ver o Leo e dizer que apesar de tudo eu o amava. A Letícia estava praticando Yoga e fiquei sentado em uma almofada gigante que ela tinha o jardim.

Letícia: - Seus irmãos dão muito trabalho né?!

Yuri: - Um pouco, mas consigo aguentar a pressão.

Letícia: - Eu não conseguiria.

Yuri: - Você parece se dar bem com o Leo.

Letícia: - Só parece mesmo. Eu acho ele um ridículo que sempre apronta. Ainda bem que ele já foi.

Yuri: - Como assim já foi?!

Letícia: - Voltou hoje para Santa Catarina. Ele faz faculdade lá. Ele mora com nossos avós.

Aquela notícia caiu como uma bomba na minha cabeça. Como ele faz isso comigo? Porquê ele não me avisou? Quase chorei, precisei segurar para a Letícia não desconfiar de nada. O homem que eu amava foi embora, e pior, para o outro lado do país. Fui pra casa transtornado, meus irmãos tentaram falar comigo, mas eu nem ouvi. Fiquei trancado no meu quarto, chorando e ouvindo minhas músicas depressivas. Meu celular toca.

Yuri: - Alô?

Zedu: - Oi? Tudo bem?

Yuri: - Zedu, hoje não é um bom dia….

Zedu: - Pra mim também não. A minha tia morreu….

Yuri: - Nossa Zedu. Desculpa. (levantando da cama) – Você já falou com o pessoal?!

Zedu: - Ainda não. Você foi o primeiro. (chorando)

Yuri: - Onde… onde você tá?!

Zedu: - Aqui na frente da tua casa.

Deixei ele entrar no meu quarto, parecia tão abatido e triste. Ele contou que os pais deram a notícia quando ele voltou da festa na piscina, que ele me ligou de madrugada, mas eu não atendi. Pedi desculpa e falei que estava vivendo um momento conturbado. Deitei a cabeça dele sobre as minhas pernas e deixei ele chorar.

A minha tia e Carlos estudavam um caso sobre a expansão da empresa. E um dos lugares que poderia receber uma filial da firma era a cidade de Parintins. Eles pesquisaram vários documentos para que fosse viabilizado o projeto. Vez ou outra, Carlos olhava para a minha tia e respirava forte. Ele realmente estava ficando apaixonado por ela.

Olivia: - Acho que quero ir a Parintins. Preciso conhecer os sócios de lá. Você pode falar com o pessoal do setor financeiro?

Carlos: (anotando tudo) – Claro. Vou falar com a Silvana. Ela me deve uns favores.

Olivia: (tirando os óculos) – Olha. O Carlos é famoso na empresa.

Carlos: - Não. Não esse tipo de favor. Sou solteiro, na verdade sou divorciado. A minha ex só não tirou o meu couro.

Olivia: - Nossa. Sinto muito.

Carlos: - Tudo bem. Já superei.

Lembro que quando os meus pais morreram eu chorei muito, era uma mistura de raiva com tristeza. Os meus irmãos também ficaram tristes, principalmente a Giovanna que era muito mimada pelos nossos pais. Levamos um bom tempo para nos acostumar, eu precisei ir durante um ano e meio no psicólogo, por que estava tendo ataques de raiva. Certa vez quebrei toda a sala de janta da nossa antiga casa. O Zedu adormeceu e eu aproveitei para cochilar também. Quando acordei ele não estava mais lá. Havia um bilhete na cama.

“AMIGO. OBRIGADO POR TUDO. VOU AVISAR A TURMA SOBRE O VELÓRIO E ENTERRO DA MINHA TIA. DEPOIS TE LIGO. OBRIGADO MESMO. ZEDU”

A minha tia fez um grupo de amigas no trabalho. Elas eram de vários departamentos e todos ficaram sabendo que a tia Olivia estava pegando um juiz. No intervalo do almoço, elas faziam a festa e comentavam sobre tudo o que acontecia na empresa. Titia estava adorando aquele clima, afinal ela queria fazer novas amizades, mas nunca sabia como. Talvez isso fosse um problema de família.

Shirley: - Gente. E o Carlos estagiário da Olivia… ele é…. tão… fofinho. (enquanto tomava uma tigela de sopa)

Marina: - Shirley mulher, você anda tomando essa sopa louca de novo?

Shriley: Claro, ela deixa o meu corpo cheia dos nutrientes que preciso.

Conceição: - Depois está passando mal por aí. (fazendo sinal de negativo com a cabeça)

Olivia: (rindo)

Shirley: - Ele é solteiro?

Olivia: - Quem?!

Shirley: - O Carlos. Eu já quero fazer aquele corpo.

Olivia: - Eu… acho que sim. Até onde ele me contou é solteiro. Meninas… ele é o meu estagiário. Controlem-se.

Conceição: - Ele não é um pouco velho para ser estagiário?!

Shirley: - O que importa é a beleza dele.

Eu estava destruído com a notícia da viagem de Leonardo. Ele não poderia ter feito aquilo comigo. Chorei muito naquela tarde e ao mesmo tempo pensei no Zedu. Eu já estive na posição dele, perder alguém que a gente ama nunca é fácil. A minha tia chegou do trabalho e eu contei a ela.

Olivia: - Acho que vamos todos juntos. Afinal, o Zedu sempre nos ajudou.

Yuri: - Eu também acho.

Olivia: - Existe mais outra coisa que deseja me contar?!

Yuri: - Não. Eu vou me arrumar.

Olivia: - Vou pedir para as crianças se arrumarem também. (passando as mãos no ombro de Yuri)

Odeio velórios e funerais. Me traz péssimas lembranças. Aquele clima mórbido e de tristeza. A família de Zedu estava toda presente. A cerimonia foi feita na casa da tia dele, não muito longe da nossa. Naquela noite conheci toda a família dele. O pai, Ulisses, a mãe, Teodora, e os irmãos mais velhos, José Luiz e Fred.

Olivia: - Sinto muito pela sua perda. (cumprimentando o pai de Zedu)

Ulisses: - Obrigado.

Teodora: - Obrigada.

Olivia: - O seu filho e meu sobrinho são amigos. Ele é um rapaz muito prestativo. (pegando no ombro de Zedu)

Teodora: - Obrigada. Se vocês precisarem de algo… pode pedir. Com licença.

A turma já estava no velório, eles ficaram um pouco distante de todos. Deixei a minha tia com meus irmãos e fui até eles.

Brutus: - Que triste cara. Ainda não perdi nenhum avó ou avô. Eles moram no interior.

Letícia: - Eu perdi a minha avó, mãe do meu pai.

Ramona: - Não gosto nem de pensar.

Yuri: - Oi. (acenando para todos)

Letícia: - Olhem. O Yuri. (acenando de volta)

Yuri: - Oi?! Então…. Que chato né?!

Ramona: - Coitadinho do Zedu.

Brutus: - E isso foi acontecer perto do início das aulas. Espero que o irmão aguente a barra.

Yuri: - Pois é. O Zedu ele é forte. Ele vai superar.

A minha tia e meus irmãos foram embora depois de algumas horas, eu decidi ficar com meus amigos. A gente ajudou a família de Zedu em algumas coisas, como servir café ou suco, e colocar uma música de fundo. Encontrei Zedu na cozinha, ele estava olhando algumas fotos e não conteve as lágrimas.

Yuri: - (pegando no ombro de Zedu)

Zedu: - Eu pareço um bobo chorando né?

Yuri: - Não. Muito pelo contrário, só mostra que você é humano. (pegando a foto das mãos de Zedu) – Vocês eram apagados?

Zedu: - Sim. Ela morava conosco. Ela que fazia o almoço, os lanches da tarde. (chorando) – Vou sentir muitas saudades.

Yuri: - (abraçando Zedu) – Sinto muito.

Fiquei sentindo a respiração ofegante do Zedu perto do meu ouvido. O abracei forte e ele se desarmou ali em meus braços. Na minha imaginação eu o beijava e aproveitava aquele momento para me declarar. Mas na minha vida nada é fácil, o clima foi cortado com a chegada da Ramona que precisava de ajuda para servir uma sopa.

Estava quase 24 horas sem dormir, mas o sono ainda não havia me pegado. Na verdade eu queria me manter ocupado para esquecer que o Leonardo havia viajado. Acho que fui com muita sede ao pote, claro que ele nunca ficaria de verdade com uma pessoa igual a mim. Eu era totalmente diferente da maioria dos jovens a minha idade. Eu era gordo e feio.

Letícia: - Porquê você ficou tão surpreso quando descobriu que o Leo havia voltado para o Sul?!

Yuri: - Não fiquei surpreso é que….

Letícia: - Ele ficou te devendo dinheiro né?!

Yuri: - Não. Relaxa. (risos)

Letícia: - O que foi?

Yuri: - Olha. A Ramona e o Brutus. (apontando pra frente)

Os dois dormiam profundamente no sofá. O Zedu conseguiu cochilar um pouco, mas cedo estava de pé. Um pastor evangélico chegou para dizer umas palavras e o cortejo seguiria para o cemitério. Era a primeira vez que eu pisaria em um cemitério após a morte dos meus pais. O sol de Manaus até que deu uma folga, o cemitério apesar de distante era bonito e ficava localizado próximo ao Aeroporto.

Seguimos o cortejo um pouco atrás da família de Zedu. Vivenciar aquilo de novo trazia um sabor amargo para mim. Estive naquela situação uma vez. Não consegui ser forte e acabei chorando. Letícia repousou a cabeça sobre o meu ombro. Era tão bom ter pessoas com quem contar. Eles eram os meus amigos e eu podia ser eu. Sem rótulos ou preconceitos, apesar de esconder deles o fato de eu ser gay.

Zedu: - Oi, gente.

Yuri, Letícia, Brutus e Ramona: - Oi.

Zedu: - Gente. (se emocionando) – Eu só quero agradecer pela força que vocês deram.

Letícia: (limpando as lágrimas de Zedu) – Somos seus amigos. É a nossa missão.

Brutus: - Você é nosso irmão. (abraçando Zedu)

Yuri, Letícia e Ramona: (também abraçam Zedu)

Após o velório fui pra casa, tomei um banho e deixei a minha playlist do notebook tocando, desmaiei na cama. Tive um sonho estranho, sonhei que os meus pais ainda eram vivos e que tomavam de conta da gente. Era um sentimento inexplicável, ouvi a voz do meu pai e senti o perfume doce da mamãe. Acordei chorando. Fui até uma caixa que guardava dentro do guarda-roupa e tirei algumas fotos antigas. No notebook, uma música que eu adorava do Oasis tocava, a faixa era “Dont Go Away”. Chorei mais ainda.

Manhã fria e coberta de geada

Não há muito para dizer

Sobre as coisas presas na minha mente

Conforme o dia ia amanhecendo, meu avião partia

Com todas as coisas presas na minha mente

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Lembrei de um dia quando os meus pais nos levaram para um parque de diversão. Se eu soubesse que aqueles seriam os últimos momentos felizes que nós teríamos juntos.

Lúcio: - Yuri, Filho.

Yuri: - Oi?!

Lúcio: - Está gostando do passeio?

Yuri: - Demais. (abraçando o pai)

==

E eu não quero estar lá quando você estiver

Caindo

E eu não quero está lá quando você atingir o chão

Então não vá embora

Diga o que disser

Mas diga que você ficará

Para sempre e mais um dia

Durante o tempo de minha vida

Pois eu preciso de mais tempo, sim, eu preciso de mais tempo

Apenas para acertar as coisas

=

Dona Ondina: - Meu filho? Você está com fome?

Zedu: - Sim! Vozinha. (abraçando Dona Ondina por trás e a beijando na bochecha)

Dona Ondina: - Vai tomar um banho filho. Fica o dia no sol. Isso faz mal sabia. Já tomou suas vitaminas?!

Zedu ficou com as melhores lembranças de sua avó. Ele guardaria para sempre o carinho, respeito e coragem que ela passou para ele. Zedu dormiu perdido nos pensamentos e memórias. Depois de quase um dia, eu finalmente me dei conta que o Leonardo havia me usado. Durante o banho tive uma crise de choro. Ele tinha sido o meu primeiro. Ele havia despertado alguma coisa em mim, mas o que seria aquilo?!

As aulas estão chegando e não vou mentir, estou com medo. Tenho receio das coisas que vou enfrentar na escola. Afinal, as escolas eram diferentes, mas os adolescentes têm os mesmos preconceitos. Será que vou sobreviver?!

A tia Olivia pediu do chefe duas folgas naquela semana. O motivo? Íamos comprar os materiais escolares. Eu era o mais básico de todos, um caderno e caneta já eram suficiente, mas os meus irmãos. Ô gente complicada. Até que a lista da escola não era tão grande, mas eles pediam coisas absurdas.

Yuri: - Richard, não vamos comprar um grampeador para você colocar na mochilha.

Richard: - Droga. (ficando emburrado)

Yuri: - E, Giovanna, pra que você vai querer um bambolê?!

Giovanna: - Nessa escola não tem canto coral. Preciso focar em outra atividade e optei por ginástica rítmica.

Yuri: - Claro. Optou. Sozinha. Esqueceu de mim e da titia.

Giovanna: - Com licença. Meu corpo, minhas regras! (saindo da sala)

A mãe da Letícia falou para a minha tia que o melhor lugar de Manaus para comprar material escolar era o centro. Chegamos cedo e tomamos café em uma daquelas vendas de produtos regionais. O clima logo começou a esquentar e o Centro da cidade ficou lotado de gente. Era um lugar peculiar, lembrava o Saara do Rio de Janeiro e a 25 de março em São Paulo. Mas realmente, os preços eram imbatíveis.

Giovanna: - Gente. Que loja mais brega. (olhando com desprezo para os produtos) – Cadê o brilho?! Onde está o rosa?! Não gostei. (voltando em direção a porta)

Yuri: - (segurando no ombro da irmã) – Calma mocinha. A gente não olhou ainda.

Olivia: - Yuri, você vê os materiais e vou solicitar os livros.

Richard: - Tem algo com mulher pelada?!

Yuri: - E o que você entende de mulher pelada?!

Richard: - Mais que você.

Yuri: (pensando) – Pior que é verdade.

Depois de muitas horas, metade delas por causa da Giovanna, a gente conseguiu comprar tudo o que era necessário. Até que foi mais barato do que pensei, eu e titia nem precisamos mexer na nossa poupança.

Enquanto a gente batia cabeça com os materiais da escola, a Letícia tentava decorar texto para o teste de um comercial de sabão em pó. Ela tentava, mas as falas não entravam em sua cabeça. As outras meninas fizeram o papel de maneira perfeita e Letícia era muito competitiva. Finalmente uma produtora a chamou para a sala do teste. Haviam dois homens com cara de poucos amigos.

Letícia: - Boa tarde.

Diretor 1: - Pode começar.

Letícia: (pegando o pacote de sabão) – Bem… Sabão em Pó… (risos)

Diretor 2: - Tem alguma coisa engraçada?!

Letícia: - Desculpa. É que o texto é bem engraçado né?! Sabão em Pó, Natirux, o cheiro da Amazônia.

Diretor 1: - E onde tá engraçado?!

Letícia: - A Amazônia cheira a mato né? Qual sabão em pó vai querer deixar a roupa com cheiro de mata?! (rindo alto)

Diretor 1: - Você acha que estamos brincando aqui?

Letícia: (ficando série) – Não. Claro que não. (tentando ficar em uma postura melhor e escorregando no chão)

Diretor 1 e 2: (se olham e sorriem)

Diretor 2: - Esse foi o melhor teste até agora.

Letícia: - Como assim? (tentando levantar do chão) – Eu escorreguei e…. (se levantando)

Diretor 1: - Adorei. Vamos entrar em contato.

Letícia: - Como assim?! (saindo da sala) – Estou arrasada.

Ramona me ligou enquanto eu fazia as compras, animada a minha amiga queria fazer uma festa de pijama na casa dela. Até que não seria nada mal dormir com o Zedu.

Yuri: - Claro. Vou falar com a minha tia.

Ramona: - Vai ser perfeito. Ei, você pode levar seu game? Seria legal a gente brincar de Just Dance.

Yuri: - Claro.

Ramona: - Vou avisar a Letícia. Você pode falar com os meninos?

Yuri: - Claro. Pode deixar. Até mais.

Olivia: - Yuri?

Yuri: (guardando o celular no bolso) - Oi?

Olivia: - Percebi que quase não comprou material para você. Aconteceu algo?

Yuri: - Não tia. É que eu precisava apenas da mochila e do caderno. Os livros vou ganhar da escola e o resto dos materiais tenho em casa. Não faz sentido.

Olivia: - Tem certeza?

Yuri: - Sim.

Não vou mentir, apesar dos meus medos de enfrentar os meus colegas de escola, eu fico um pouco animado no início das aulas. Afinal, fico acostumado de ter alguma coisa preenchendo meu tempo. Sei lá, um sentimento confuso, infelizmente a alegria acaba nos primeiros dias. Quando fico nervoso ou ansioso procuro conforto no meu esconderijo secreto – uma dispensa que coloco doces e salgadinhos.

Batata frita: - Vem Yuri. Me abre e me devora.

Biscoito: - Não! Me escolhe! Olha como sou bem cremosa.

Batata frita: - E eu sou bem crocante. Vem. Vem.

Yuri: (assustado) – Calma. Eu…. Vou….

Olivia: (pegando no ombro de Yuri) – Querido. Acorde. Preciso conversar com você.

Yuri: (acordando assustado) - Quero a batata. (olhando para a tia) – Tia? O que houve?

Olivia: - Que batata?!

Yuri: - Batata? Ninguém disse batata. (levantando da cama) – A senhora deseja algo? (limpando o rosto)

Olivia: - Enfim. Uma das redes da empresa no interior precisa de uma inspeção e o chefe vai me enviar. Quer saber a melhor parte?!

Yuri: - Quero. (limpando a baba do rosto)

Olivia: - Vou ganhar R$ 600 por dia.

Yuri: - Olha que bom. E quantos dias a senhora fica?!

Olivia: - Quatro. Vou na quinta-feira e volto domingo.

Yuri: - Pelo menos vai dar tempo da senhora nos levar os pequenos para a escola.

Olivia: - Verdade.

Yuri: - E a senhora vai chamar babá? Qual vai ser o lance?!

Olivia: - Na verdade, você vai ficar no comando.

Yuri: - Ah, tia. A Ramona quer fazer uma festa do pijama, apenas com a gente. Será que teria problema?

Olivia: - Não tendo álcool, drogas ou pessoas a cima de 18 anos. Tudo bem. Pode chamar seus amigos.

Ótimo. Tudo o que eu precisava era ser babá dos meus irmãos por quatro dias. Se bem que eu praticamente já fazia o serviço. A minha tia deixou tudo encaminhado e me deu dinheiro para aguentar os dias que ela ficaria fora. Ela preparou uma pequena mala e partiu para a cidade de Parintins, a terra dos bois bumbás, ou algo do tipo.

Giovanna: - A gente poderia dar uma festa.

Yuri: - Claro.

Giovanna: - Sério?! (toda esperançosa)

Yuri: - Senta lá Giovanna. (apontando para o sofá)

Giovanna: - Se você fosse um pouco mais divertido tenho certeza que essa festa ia rolar.

Yuri: - Psicologia reversa não me atinge.

Giovanna: (dando um grito abafado, saindo da sala e voltando) - Isso é injusto.

Yuri: - Mas não se preocupa. A turma vem para uma festa do pijama aqui. Já liguei pra Ramona e acertei com ela.

Giovanna: - Festa do pijama? Pareço ter que idade?

Richard: - 12.

Giovanna: - Vocês dois. (saindo da sala novamente)

Yuri: - E você? (olhando para Richard) – Vai querer brincar com furadeira? Martelo? Serra elétrica?!

Richard: - Olha la fora.

Yuri: (levantando rápido) – O que tú já aprontou?! (indo em direção da porta e abrindo)

Um gato com um rato amarrado na calda entra correndo para dentro de casa. Não preciso nem dizer que odeio ratos, quase desmaiei quando vi aquilo. Fiquei desesperado, Giovana entrou na sala e pulou pro sofá também quando viu o rato.

Richard: (rindo)

Yuri: - Faz alguma coisa! (olhando para Giovanna)

Giovanna: - Claro. (gritando quando o gato passa perto do sofá) - Socorro!!!!

Yuri: (pegando o celular) – Deixa eu ver se tem alguém.

Giovanna: - (chorando) – Liga pro Zedu! Liga!! (gritando) – Juro por Deus, Richard, quando eu sair daqui….

Richard: (correndo atrás do rato e do gato) – Vem cá! Vem!

Liguei para o Zedu. Depois de alguns minutos, o meu príncipe de armadura chegou para me ajudar. Quando ele nos viu em cima do sofá não aguentou e riu. Fiquei puto, mas lembrei do rato e deixei ele zoar com a minha cara.

Zedu: - Cadê? (entrando na sala)

Yuri e Giovanna: (em cima do sofá e apontando para a cozinha)

Richard: - Vem cá gatinho. Droga. Foi mais fácil te capturar para amarrar o rato. Não… não morde o ratinho.

Zedu: - Rapaz. O que tú aprontou dessa vez?

Richard: - Vi um estudo na internet que falava sobre a relação dos gatos e ratos, na verdade os gatos têm medo dos ratos. Queria provar isso.

Zedu: - Percebi. Acho que devemos manter você longe dos artigos científicos. (conseguindo segurar o gato) – Vai desamarra esse rato. Aí. (sendo arranhado pelo gato) – Para… gatinho bonzinho.

Richard: (segurando o rato) – Consegui.

Depois da confusão, o coitado do Zedu ficou todo arranhado, então decidi que passaria remédio. Meu irmão foi devolver o rato no quintal e Giovanna estava horrorizada demais para sair do quarto. Peguei um kit de primeiros socorros no quarto da minha tia e tirei uma gaze.

Yuri: - Desculpa. Olha o que aconteceu? (passando o remédio)

Zedu: - Ai…

Yuri: (assustado) – Desculpa… doeu?

Zedu: - Estou brincando.

Yuri: - Bobo. Não me assusta assim. (passando remédio) – Obrigado. Sei que você deve tá me achando um maricas por ter medo de rato, mas….

Zedu: - Ei. Para com isso. Você é meu amigo. Nunca te deixaria na mão. E outra…. Não uso esse tipo de palavra.

Sério. Faltou muito pouco para eu não beijar a boca do Zedu. Infelizmente, o gato atacou o Richard que ficou correndo igual a um maluco no quintal. Deixei o gato perseguir o meu irmão antes de abrir a porta da cozinha.

Richard: - Esse gato é louco.

Yuri: - Garoto, tem alguém louco sim aqui, mas não é o gato. (batendo na cabeça do irmão) – Vai tomar banho e reza para eu não contar pra tia Olivia.

Richard: (subindo)

Yuri: (rindo sozinho)

Zedu: - Quer compartilhar a piada?

Yuri: - Não é que…. Depois que essas situações passam… (rindo) – É tão engraçado. Ainda bem que não tinha ninguém filmando.

Zedu: (pegando um pedaço de algodão e tacando em Yuri) – Você é um bobo mesmo. Estou feliz por você estar aqui.

Yuri: - Eu também estou feliz por ter vindo. Quer dizer… tirando o calor né?

Zedu: - Verdade. (olhando para Yuri e respirando forte)

Yuri: - Zedu.

Zedu: - Sim.

Yuri: - Chamei as meninas para dormirem aqui hoje. O que acha de a gente chamar o Brutus também?! (colocando os materiais dentro da bolsa de primeiros socorros)

Zedu: - Claro… digo…. Claro…. (levantando) – Vou lá em casa e… depois volto.

Yuri: - Tá bom.

A minha levou alguns minutos de avião até chegar em Parintins. Logo que chegou no pequeno aeroporto encontrou o motorista da empresa. Ele a levou para o hotel que ficava perto de um grande rio. Tia Olivia ficou impressionada com aquele verde tão intenso. Ao fazer o check-in encontrou Carlos lá.

Olivia: - O que você está fazendo aqui?!

Carlos: - Trabalho na empresa, esqueceu?! (colocando uma bolsa em cima da mesa e tirando uns papéis)

Olivia: - Claro.

Carlos: - Amanhã temos uma reunião na empresa… deixa eu ver…. (olhando os papéis) – Depois do café, então é bom levantar cedo. E no sábado vamos fazer uma visita em um dos fornecedores.

Olivia: - Claro. Vou pro quarto. Estou precisando tomar um banho.

Carlos: - Se quiser podemos dar uma volta pela cidade. Aluguei uma moto.

Olivia: - Sim. Adoraria. Quero ver como é a noite em Parintins. (pegando o cartão que abria a porta do quarto) – Até depois.

Lá em casa deixei tudo pronto para a festa do pijama. Claro, que não era a festa que a Giovanna esperava, mas ela gostou de interagir com as minhas amigas. O Richard ficou de castigo no quarto, mas tenho certeza que ouvi barulho de martelo no quarto dele. A gente assistiu filmes, jogou 'Just Dance', quer dizer os meninos jogaram, eu apenas assisti. Antes da meia noite, a gente resolveu fazer brigadeiro. Comecei a preparar com o Zedu e a turma ficou jogando Mario.

Zedu: - Escuta. Somos amigos né?

Yuri: - Claro. Vocês são meus primeiros amigos na verdade.

Zedu: - Sério? E no Rio?

Yuri: - As pessoas podem ser muito maldosas quando elas querem, principalmente as crianças. Eu sempre fui motivo de chacota entre meus colegas de aula. Ninguém se aproximava perto de mim, por que quando meus pais morreram eu tive um colapso nervoso na frente de todos da escola. Duas vezes. Fizeram da minha vida um inferno.

Zedu: - Você fala desse assunto com tanta naturalidade. Você não merecia passar por isso Yuri. Eu te conheço... e... você é o cara mais bacana que existe.

Yuri: - Eu me acostumei. Ou a gente se acostuma ou se perde. Eu não podia me perder...

Zedu: - Se perder?

Yuri: - Me matar. Eu não podia. Fiz tratamento no Rio. E tive que lutar por causa dos meus irmãos. Eu sou tudo o que eles tem.

Zedu: - Nossa. Você é o cara. E no que depender de mim, ninguém vai mexer com você na escola. E você sempre foi gordinho?

Yuri: - Nem sempre. Comecei a engordar mais com uns 10 anos. E não parei mais.

Zedu: - Olha. Você não deve se importar com o que as pessoas falam de você. Eu queria te perguntar uma coisa e acho que isso tem haver.

Yuri: - O que tem haver?

Zedu: - O Leonardo, irmão da Letícia, é um escroto. Ele por acaso mexeu com você?

Yuri: (parando de mexer a panela) - Como assim?

Zedu: - Ele implicou com você? Naquele dia no banheiro?

Yuri: - Não... não... ele me ajudou. Ele é gente boa.

Zedu: - Não gosto dele. Sempre menospreza as pessoas. (pegando no ombro de Zedu) - Você pode contar comigo.

Em Parintins, a minha tia encontrou com Carlos no saguão do Hotel. Eles foram a um restaurante japonês. A noite que não foi tão planejada saiu melhor que a encomenda. Tia Olivia conheceu um outro lado do Carlos. Ela descobriu que antes dele fazer Direito, ele era motorista de uma empresa e por isso precisou trancar a faculdade várias vezes. Depois de muitos saquês, eles precisaram pegar um triciclo, famoso meio de transporte em Parintins, para chegarem ao hotel.

Carlos: - Ei. Obrigado pela noite.

Olivia: - Eu é que agradeço. (olhando para Carlos)

Carlos: - Você não vai pro seu quarto?

Olivia: - É esse. (tentando passar o cartão na porta várias vezes antes de conseguir)

Carlos: - Que coincidência. O meu é na frente do seu. (abrindo a porta)

Os dois entraram em seus quartos, mas não demorou muito e eles voltaram para o corredor. Os dois se olharam, aproximaram, começaram a se beijar e escolheram o quarto de Carlos para terminar tudo. Realmente a minha tia estava se saindo melhor que a encomenda. Em Manaus, depois de comermos os brigadeiros, ficamos deitados na sala assistindo desenhos antigos.

Yuri: - Sério, Brutus, se você quisesse esse teu braço poderia atravessar um muro. Você faria igual ao pica-pau.

Brutus: - Ainda não viu nada grandão. (mostrando os músculos)

Zedu: - Lembra naquele dia que o Brutus fingiu que era turista e pegou aquela câmera velha para tirar fotos perto da igreja e o Padre viu. (rindo)

Brutus: - Padre fofoqueiro.

Letícia: - Verdade. A tua mãe ficou muito furiosa.

Yuri: - Gio…

Giovanna: - (dormindo com o rosto no chão) – Hummm….

Yuri: - Acorda. (pegando no ombro da irmã) – Vai pro quarto. Não vou te carregar não.

Giovanna: (levantando toda descabelada) – Tenho que passar a minha máscara de pêssego.

Ramona: - Também já quero dormir. (levantando) – Vamos Lê? Quero experimentar essa máscara de pêssego. (rindo)

Letícia: - Boa noite meninos.

Ramona: - Boa noite meninos. (saindo)

Depois que as meninas saíram da sala, a gente começou a falar sobre besteiras. É incrível como eu conseguia ser natural com todos. Não precisava criar um personagem, acho que o único detalhe que eles não sabiam da minha vida era o fato de eu ser gay, mas aquilo não era importante, pelo menos naquele momento.

Brutus: - A Ramona nem olha pra mim. Eu tento me aproximar, mas acho que não sou o tipo dela.

Yuri: - Acho que você deveria conversar com ela. Simples assim.

Zedu: - Acha que isso resolve?! (olhando para Yuri)

Yuri: - E a tua ex-namorada, Zedu?

Zedu: - O que tem ela?!

Yuri: - O ano letivo vai começar. Vocês vão se ver.

Brutus: - Verdade. O Zedu sempre volta pra Alicia.

Zedu: - Esse ano sinto que vai ser diferente. Vamos ver o que a vida me reserva.

Brutus: - Que misterioso.

Yuri: - Né?

Naquela noite não consegui dormir. Continuava pensando no Leo. Sim, ele foi um escroto comigo, mas era muito bonito e curtia gordos, então ficava imaginando como seria as nossas vidas junto. E, perto de mim, lindo e adormecida estava o Zedu. Olhar para ele era como ver um sorvete de morango com calda de chocolate. Mas ele já era comprometido e eu não tinha a menor chance. Ele me via apenas como um grande, e bota grande, amigo.

No dia seguinte, a Tia Olivia acordou com uma forte dor de cabeça. Ela levantou e foi até o banheiro, retornou e deitou na cama. A minha tia sentiu alguma coisa ao seu lado, ela ergueu o cobertor e encontrou Carlos, pelado, deitado ao seu lado.

Olivia: - Merda. (levantando devagar)

Carlos: (com os olhos fechados) – Demorou, hein. (abrindo os olhos e se cobrindo com o cobertor) – Pensei que ia embora na primeira vez que levantou.

Olivia: - Olha Carlos. Eu não sei o que aconteceu aqui e….

Carlos: - Tem certeza?! Posso te explicar.

Olivia: - Olha o respeito. (juntando suas roupas do chão) – Sou sua superior. Meu Deus. Se descobrem que a gente fez amor…

Carlos: - Amor? Taí. Gostei dessa definição.

Olivia: (colocando o vestido) – Aff. E a gente tá atrasado para a reunião.

Carlos: (olhando o celular) - Relexa. Eles mudaram para depois do almoço. (colocando o celular no criado mudo e batendo na cama) – Ainda temos três horas.

Olivia: - Ridículo. (saindo do quarto)

Carlos: (Sorrindo) – Linda.

Eu acordei e não queria levantar. O ar-condicionado é tão lindo, e logo a gente lembra que vai ter de enfrentar o calor de Manaus. Olhei para os meninos e eles estavam dormindo um por cima do outro. Aproveitei para tirar uma foto, afinal teria que ter provas contra eles, caso um dia precise. Juntei coragem e fui tomar banho. Desci e preparei um café caprichado. Fiz até panquecas.

Letícia: - Bom dia.

Yuri: - Bom dia. Nossa! Você tá verde. (colocando mel dentro de uma bisnaga)

Letícia: (tocando no rosto) – Ah. É o creme da tua irmã. (olhando na mesa) – Caramba, você caprichou, hein? Café, leite, suco, pão, queijo, mortadela, bolo e panquecas. Acho que vou tomar café aqui todo dia.

Yuri: - (rindo) – Nem se alegra. É uma vez no ano.

Richard: - Nossa. Você parece a Fiona. (apontando para Letícia)

Letícia: - Vem cá. Vem me dar um beijo príncipe.

Richard: - (correndo pra sala) – Eu não.

Yuri: (derrubando mel na roupa) – Droga.

Letícia: - Eita que bagunça.

Yuri: - Caramba. Essa blusa é branca… ela vai ficar manchada.

Letícia: - Tira e leva logo. Vai no banheiro.

Yuri: - Vou lá. Termina de colocar pra mim.

Subi o mais rápido que pude, tirei a blusa e entrei no banheiro. Ele estava lá. Ele estava pelado. E eu fiquei o encarando durante 10 segundos que pareciam cinco horas. Ele era perfeito, Deus havia colocado ele na fila da beleza e repetiu a dose uma três vezes. Não sabia para onde olhar. 10 segundos é pouco tempo. Peitoral perfeito, abdômen maravilhoso, uma virilha linda e poucos pelos no corpo. E o pênis. O pênis dele é lindo.

Zedu: (se cobrindo)

Yuri: (virando de costa) – Desculpa. Eu…. Eu….

Zedu: - Você… quer dizer… sei que a casa é sua, mas você… pode…. Pode sair do banheiro.

Yuri: - Claro. (saindo do banheiro, fechando a porta e se escorando na parede) – Merda!!!

Email: escrevoamor@gmail.com

Comentários

Há 1 comentários.

Por edward em 2016-12-11 12:52:49
Cada vez melhor. Forte candidata pra ser uma das melhores séries de 2016