Tormenta - Chapter 10

Conto de Cinnadia como (Seguir)

Parte da série Always

Oi oi, gente, voltei de viagem, super descansado, super bem, e super criativo. Hoje vamos ( finalmente ) estabelecer a trama base de Always, alguns vão ficar tristes, outros vão se interessar, bom, só espero que apreciem.

Sei que não devo ter caprichado no último capítulo, deduzindo pelo número de comentários😞, mas aqui está, o mais longo e bem trabalhado capítulo!

Apreciem!

Henry Thorne: Exato! Como sempre você consegue entender tudo! Nicollas vai passar várias vezes pelas fases de negação e aceitação. Bom, como você já deve ter percebido, sou aficcionado por detalhes, e amo protelar, migo, agora vai descobrir de que forma o relacionamento deles vai se desenvolver. Todos nós temos essa fase, com Nicollas não seria diferente. E Rafael 😍 acho que ele é um fenômeno kkkk você é #TeamRafael?

Indieboy: Obrigado😉 o baile nem começou e já é um marco!

Sirferrow: Sim, mas eu espero ter recompensado com esse capítulo! 😜As mães são tudo em nossa vida, né?

Descubra tudo nesse capítulo! E sim, dependendo de como minha série for aceito, ou se for, mas tenho intenção de outras temporadas, apesar de está estar apenas começando!

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- Uma pessoa sem histórias. Deve ter um grande espaço vazio dentro de você - seu rosto tornara-se uma uma máscara maliciosa - Vamos preenchê-lo.

Confuso, tudo o que eu consegui foi encara-lo. As palavras, carregadas de um duplo sentido provocante, fizeram meu coração bater em disparada, depois de poucos segundos o som retumbava em meus ouvidos, cada batimento era incitado pelo sentido mais obscuro possível de suas palavras. Havia um lago, tranquilo e sereno, sua superfície espelhada refletia o céu e os pássaros, contudo havia também um menino travesso, que se deliciava em jogar pedras no lago, observava com fascínio algumas quicarem, e todas criarem ondulações na água, perturbando a paz interina daquela mancha prateada entre o verde de variados tons das árvores. Foquei meus pensamentos nele. Eu precisava me acalmar. O menino jogou uma pedra particularmente achatada, e essa descreveu uma, duas, três, quatro parábolas sobre a água, distorcendo a imagem refletida por aquele espelho colosso de água. Naquele momento entendi. Minha alma era o lago, calma e inalterável, refletindo o certo, correspondendo as expectativas, Vinicius era o menino travesso, divertindo-se em acabar com essa paz, mesmo que inconscientemente, as pedras eram suas palavras, veículos de suas motivações misteriosas, e as ondulações e imagens distorcidas eram meus pensamentos recentes, tão púberes, aqueles desdenhosos da realidade, zombeteiros que brotavam no meu íntimo, pura fantasia. Não poderia ser. Vinicius não me mudara. O que foi que sua mãe viu de diferente, então? Minha mente desafiava. Eu não sabia. Mas isso era impossível de acontecer, eu não me deixaria levar de tal forma. O que estava acontecendo não era mudança alguma, e sim um acréscimo, como uma inauguração de um novo setor.

Eu arrisquei, concedendo-me uma chance.

- Como pretende me preencher?

Não me importei com o duplo sentido de minhas palavras, muito menos com a sequência de expressões dele: surpresa, dúvida, empolgação.

- Levanta - disse-me, ficando em pé diante de mim, estendendo uma mão - Acho que tenho uma ideia.

Pela primeira vez desde que me lembrava, eu não hesitei. Agarrei sua mão e deixei que ele me ajudasse a levantar da grama. Tudo foi muito breve, de forma que não pude desfrutar de seu toque acalantado. Andamos apressadamente, parando diante de uma bifurcação no caminho. Vinicius inclinou a cabeça para mim e entendi o que o gesto significava.

- Por aqui - apontei para a direita - ficam os dormitórios masculinos, e por ali - apontei na direção contrária - fica o complexo principal e mais depois os dormitórios femininos.

Ele sorriu e andou em direção aos dormitórios masculinos. Corri um pouquinho para continuar do seu lado, o resultado foi uma aura de calor que me circuncidava e contrastava com o clima ameno presente na entrada do complexo de dormitórios.

- Ok, agora vamos entrar e esperar todos irem dormir - seus olhos brilharam de excitação.

Não queria desaponta-lo, mas foi inevitável.

- Mas ainda nem serviram o jantar.

Agora Vinicius reavaliava a situação.

- Então - ele parou e pensou mais um pouco - jantamos e esperamos.

Caminhei lentamente até meu quarto, cuja entrada do complexo ficava mais próxima.

- Posso ficar aqui? - Vinicius perguntou inocentemente.

Eu poderia ouvir aquilo mil vezes, e nenhuma seria menos emocionante ou menos intensa. Já não me cabia dentro de mim com tanta felicidade.

- Sim, sim. Claro - ele entrou e fechou a porta atrás de si, sentei na cama esperando alguma coisa vinda de Vinicius, quando ele não disse nada fui forçado a retomar o diálogo - Então, o que vamos fazer?

- Vou te mostrar, meu caro.

Vinicius me deixou sozinho no quarto, atordoado, apaixonado. Toquei minha bochecha, imaginando seu toque ali, na sensação que suas mãos proporcionavam, em como minha pele se eriçava e formigava diante daquele toque. Ele surgiu na porta antes mesmo que pudesse sentir sua falta, as duas mãos segurando alguma coisa atrás das costas.

- Eu te apresento - disse ele teatralmente, colocando em minha frente uma caixa pequena e colorida, com letras disformes em um amarelo berrante - o material mais duro feito pelo homem, além do mais resistente e mais doce! O Chiclete de Cimento! Ele tem a incrível capacidade de se tornar um sólido inquebrável em menos de uma hora!

Eu ria de sua performance enquanto batia palmas silenciosas.

- E que relação tem O Chiclete de Cimento - enfatizei o nome curioso da mesma forma teatral que o produto me fora apresentado - com criar histórias?

- Você verá - disse ele misterioso, para logo depois revelar seu plano - Brincadeira! Vai ser assim, enquanto os outros vão ir jantar, nós vamos ficar aqui e colocar essas belezinhas nas fechaduras das portas.

- Mas os monitores sempre se certificam de que todos foram comer.

- Nós nos desviamos do grupo enquanto estivermos indo para o complexo principal.

- Vão perceber que não estávamos no refeitório.

- Só vamos colar o chiclete, isso vai demorar cinco minutos, no máximo, e então voltamos correndo para o refeitório.

- E as câmeras?

- Eles desligam as luzes durante as refeições, então vamos usar roupas pretas. E talvez óculos escuros, uma vez fui pego por causa do reflexo nos meus olhos.

- Mas os óculos refletem também.

Vinicius deu um de seus sorrisos maliciosos novamente.

- Eu tenho três óculos escuros opacos, próprios para esse tipo de serviço.

- Então estou falando com um profissional? - perguntei, surpreso.

- Basicamente.

E então outro pensamento me alertou da falha em seu plano.

- Mas o quê vamos comer?

Vinicius ficou quieto, talvez pela primeira vez no dia, nem mesmo ele sabia como proceder com aquilo.

Minha mente corria em diversas direções, decidida a não desistir de nosso plano. A solução veio pouco tempo depois. E o melhor, ela veio de mim.

- E se pegarmos alguma coisa na lanchonete?

Um sorriso iluminou seu rosto, todavia logo desapareceu.

- Meu pai não mandou dinheiro para eu usar aqui.

Meu sorriso se intensificou. Pela segunda vez em menos de cinco minutos eu seria útil.

- Eu posso pagar isso.

- Não me sentiria bem.

- Ah nada disso! - falei tentando anima-lo - Isso não é nada.

Timidamente ele aceitou, e ambos começamos a fazer os preparativos para nossa peripécia. Fui até a lanchonete e pedi algumas guloseimas, doces e bolos no geral, com uma garrafa de suco, cheguei a conclusão de que se pedisse dois copos de alguma coisa seria uma ato suspeito. Andei tranquilamente até a saída e esbarrei em alguém, o choque foi muito grande, pousei minha mão sobre o peito da muralha a minha frente, tentando, em vão, me orientar. O que consegui foi sentir músculos peitorais muito bem feitos através do tecido. Olhando reto eu só consegui ver a parte superior do tórax da pessoa. Ótimo, logo agora eu tinha de irritar alguém alto e forte. Típico.

- Ah, me desculpe, eu não ... - olhei para o rosto extremamente bonito acima de mim e emudeci momentaneamente - Rafael.

O nome saiu de minha boca de forma tensa e aliviada. Ele não disse nada, apenas pousou seu olhar sobre minha mão, que continuava insistentemente sobre seu peito. Engoli em seco e retirei a mão rapidamente.

- Eu ... quer dizer, desculpa - as palavras jorravam de minha boca, aumentando ainda mais o embaraço - Só estava saindo, não vi nada e não percebi...

- Eu sei - pronunciou ele, sua voz reverberando em meus ossos - percebi que estava distraído, fui abrir a porta para que você não batesse de frente com ela.

O sorriso tímido dele me contagiou, sorri também, em total agradecimento.

- Sério? Obrigado. Eu acho que me distraí um pouco.

- Sim, deve ter sido isso.

- Bom, eu vou ir então. Até.

Dei um passo e fui interrompido, uma careta involuntária surgiu em meu rosto.

- Espera - me virei vagarosamente - Isso parece pesado - Rafael apontou para a sacola - Deixe-me ajudá-lo.

Entrei em desespero só de pensar na possibilidade de Rafael descobrir no que eu estava prestes a fazer.

- Ah, quanta gentileza, mas não precisa se incomodar.

- Eu insisto.

Não seja petulante! Minha mente gritava.

- Isso não é nada - tentei uma última vez, mas reconsiderei ao lembrar do quanto ele já me ajudou - Todavia será bom ter uma companhia durante o caminho.

Ele sorriu e tomou a sacola de mim.

- Isso está pesado - constatou Rafael, já iniciando o trajeto - Aonde vamos?

- Para os dormitórios - senti a necessidade de justificar o peso da sacola - Sim, está mesmo. Tenho esse costume desagradável, as vezes sinto fome durante a noite, e faço um lanche noturno.

- Tem muita coisa aqui, não acha?

Oh Deus. Eu só queria ter essa história com Vinicius. Não poderia eu ter esse prazer? Esse instante de delírio?

- É - respondi acuado - acho que me empolguei, tudo pareceu tão apetitoso.

Rafael gargalhou e dissipou parte daquele clima tenso.

- Não se preocupe, seu hábito alimentar peculiar permanecerá um segredo no que depender de mim.

O alívio me inundou, finalmente a situação retornava ao meu controle.

- Obrigado.

- Então - ele mudou de assunto - já encontrou alguém para ser seu veterano?

Não havia pensado naquilo nem por um segundo. Como pude esquecer algo tão importante?

- Ainda não. Alguém já encontrou?

- Philipe Basil, foi aceito por Carlos Basil.

Ah, claro, laços sanguíneos.

- Irmãos?

- Primos - Rafael sorriu discretamente enquanto me contava o nível de parentesco dos garotos.

Como eu desejava ter um primo mais velho ali. Tentei desviar um pouco da pauta de nossa conversa, não queria entrar em desespero por ainda não ter conseguido ninguém.

- E você? Já escolheu algum candidato?

Ele balançou a cabeça negativamente.

- As coisas não funcionam assim para mim - Rafael olhou para o chão, abandonando assim meu olhar - O Líder tem que escolher alguém do 2º ano, para que essa pessoa possa ser o novo Líder em seu 3º ano. Uma pessoa que já ocupou o cargo tem maior capacidade para indicar e instruir o seu sucessor. Funciona assim para a maioria dos cargos dentro da Mänus.

Absorvia cada palavra e tentava grava-la. Será que isso teria alguma relação com meu pai? E esse era o motivo pelo qual Rafael me ajudava? Reavaliando a situação, talvez papai tenha feito algo, ou indicado alguém, que trouxe Rafael ao seu lugar de Líder da irmandade. Não, muitas gerações de Líderes teriam se passado entre a época de meu pai e agora. Qualquer escolha se tornaria desbotada depois de tanto tempo. Continuava no escuro enquanto as atitudes de Rafael. Não só de Rafael, minha mente cantarolava, sádica demais para deixar a oportunidade passar.

- Então você se livrou de escolher os candidatos - concluí.

Ele riu sem o menor ânimo.

- Agora só vou ter que escolher entre os próprios irmãos. Preferiria mil vezes ter de escolher um candidato do que o próximo Líder.

- Por que diz isso? - a pergunta escapou dentre meus lábios, me pus a reparar o erro - Digo, não precisa me contar se não quiser. Sei que deve ser muita pressão.

- Há você nem imagina a quanta pressão sou submetido, mas eu falo isso porque é muita responsabilidade. Além de que quando você está na liderança muitas coisas são trazidas a você, e quando menos se espera um caos se instala, um difamando o outro para conseguir eliminar a concorrência, outros revidando os boatos. É preciso uma sintonia muito fina para restabelecer a paz.

Realmente deveria ser difícil liderar pessoas com diferentes ambições e pensamentos a um denominador comum.

- Eu entendo - a entrada dos dormitórios se aproximava, quando chegamos lá parei de frente a Rafael - Obrigado de novo, por me ajudar com a sacola e me fazer companhia.

- Disponha.

Ele me passou a sacola e fez o caminho de volta, observei por alguns segundos até Rafael se perder entre as árvores. Eu não entendia ele, isso era um fato, mas algo me dizia que havia um motivo para tamanha gentileza. Será que você não o conquistou? Minha consciência delirava, e não seria você bonito o suficiente para tal feito? E não teria qualidades suficientes? Essa ideia ao invés de ser descartada foi afagada e acolhida em meu coração. Rafael sempre estivera acompanhado por beldades, geralmente mulheres mais velhas que ele, e se, com ênfase no se, eu tivesse de alguma forma cativado ele, poderia cativar Vinicius também. Talvez não fosse justo comparar um ao outro, mas era a única coisa que podia fazer, apesar de sempre ser discreto, Rafael é muito namorador, e pelo que Vinicius me conta, além do que observo em sua postura, ele também é. Seria lógico que atraindo um, atrairia outro semelhante. Seria lógico se não fosse o amor.

Entrei dentro do quarto e me deparei com Vinicius deitado em minha cama, sua posição criava uma fissura entre o fim de sua camisa e o começo de sua calça, e ali, naquela brecha eu vislumbrei parte de sua barriga. Não sabia o porquê, mas aquele pedacinho mínimo de pele, que se resumia no umbigo e uma pequena trilha de pelos que se perdia dentro de sua calça, mexeu comigo. Mexeu de uma forma nova e arrebatadora. Os pensamentos libidinosos fervilhavam em minha mente. Minhas mãos tremeram de leve e minha boca secou, uma sensação desagradável instalava-se em minha barriga. Vinicius começou a se mexer e levantou, desviei o olhar mas sentia um ardor em minhas bochechas, uma palpitação nervosa, já tão comum a mim, retumbava em todas as partes do meu corpo.

- Acho que dormi - Vinicius disse entre um bocejo e riu.

Sorri, mas não emiti nenhum som, tinha certeza que estragaria tudo se falasse alguma coisa. Ele se espreguiçou e coçou os olhos, a cena me encantou. Era isso que eu queria, acordar em uma manhã e ao olhar para o lado vislumbrar o sorriso travesso de Vinicius, observá-lo coçar os olhos e poder beija-lo, garantir que tudo estava bem, que nós vivíamos em plenitude.

Meu coração transbordava amor, e não mais o desejo. Arrepiou-me pensar em quão sujo me senti agora, tão carnal e imundo, tão mundano.

- Você trouxe muita coisa - ele apontou para a sacola - Posso ver?

- Eu ... sim - entreguei a sacola e dei um riso nervoso - Comida, o suficiente para o jantar!

Cerrei os dentes, oh Deus, por que eu estava falando tantas besteiras hoje?

O rosto de feições mediterrâneas tão simétricas e perfeitas pousou seus olhos negros sobre mim, parecia achar graça da situação.

- Tudo bem?

- Sim, tudo bem - me forcei a falar algo coerente.

- Bom, temos meia hora até que os monitores venham nos buscar para o jantar.

Dei um sorriso amarelo.

- O quê vamos fazer?

Tantas possibilidades, minha mente se insinuava, tão pouco tempo. Basta! Eu não sou assim!

Minha briga interna foi dispersada por Vinicius. Sempre Vinicius.

- Não sei, talvez seja melhor a gente já comer.

Concordei silenciosamente, ele abriu as embalagens e juntou os papéis marrons como uma toalha no chão. Me impressionei com a sua habilidade.

- Não creio?! Como fez isso?

- Anos e anos de prática. Já comi em tantos lugares bizarros, depois de um tempo você aprende a melhorar as coisas um pouco.

Me sentei de frente para ele e peguei um pãozinho doce.

- Qual foi o lugar mais estranho?

Seus olhos, geralmente de um negro límpido, se tornaram turvos.

- Há, foram tantos.

Sua expressão me deixou consternado, mas não me importei.

Em pouco tempo estávamos seguindo o grupo de meninos para o refeitório, deixamos todos passarem a nossa frente mas quando percebemos sermos os últimos vimos um efetivo de cinco guardas protegendo a retaguarda do grupo.

- O que vamos fazer? - o terror transbordava em minha voz.

- Hmm... tem alguma curva pelo caminho?

- Sim, vão ter duas.

- Então vamos para o meio do grupo.

Apesar de achar estranho, segui Vinicius até o meio da pequena multidão, ficamos em uma das extremidades, e na primeira curva conseguimos entrar no campo de árvores.

- E agora?

- Agora vamos voltar.

Corremos o mais silenciosamente possível, quando chegamos nos deparamos a um portão fechado.

- Oh Deus, devemos ir para o refeitório! Talvez ainda tenhamos tempo de voltar, não vão sentir nossa falta - enquanto perdia meu controle para o pavor, ele não parava de rir - Vinicius, para de rir! Temos que ir.

- Não temos, não - seus olhos lacrimejavam - eu sabia disso. Deixei a janela do seu banheiro aberta.

- Aquela janela? - ele afirmou com a cabeça. Meu medo havia diminuído, contudo não extinto - Ela é diminuta! Não vamos passar!

- Calma, vamos sim. Corre, senão vão sentir nossa falta no refeitório.

Seguimos até o lado do complexo, onde uma única e solitária janela estava aberta. Paramos embaixo dela, o retângulo de metal nunca me parecera tão desafiador.

- Olha, suba aqui - ele cruzou as mãos, já tinha visto aquilo em um filme, coloquei meu pé ali - Ok, no três eu te empurro e você segura na janela. Um, dois, três.

No três senti um impulso e me agarrei a janela.

- Eu consegui! Consegui! - um segundo após a euforia pelo meu feito, entrei em desespero - Eu... ai meu Deus, e agora? O que eu faço?

- Entre!

Tentei me segurar em algum ponto fixo, mas minhas mãos não encontravam nada em que pudessem se segurar.

- Não consigo!

- Está bem, vou te empurrar pelos pés, vamos lá!

Enrijeci minhas pernas e o impulso colocou metade do meu corpo para dentro. Depois disso foi fácil continuar, mesmo com todo cuidado que tive, Vinicius ainda fizera de minha entrada uma vergonha, sozinho, conseguiu se apoiar na janela, pousou tão silenciosamente quanto uma folha que que cai da árvore e atinge o chão.

- Precisamos ser rápidos - sentenciou Vinicius.

- Ok.

- Ah, quase esqueci isso - ele me estendeu a mão, e nela estava um par de óculos aviador, com as lentes escuras e opacas - Agora, antes de saírmos, vamos escolher os quartos alvos. Alguém em especial?

Seja esperto, despiste qualquer um, não deixe rastros. Os pensamentos chegavam como um tsunami, talvez eu fosse mais esperto do que imaginava.

- Acho que devemos colar em quartos aleatórios, mas - pensei por um momento - talvez de uma forma não tão aleatória, só para deixar as suspeitas longe de nós.

- Uau, não sabia que estava falando com um gangster. Mas então, de que forma faremos isso?

- Deixamos os quartos plus, isso vai desencorajar qualquer investigação, garanto.

- Mas você é de um quarto plus.

É, bom eu tentei.

- É - disse em tom conformista, mas minha mente se iluminou logo após - ou colamos em um único quarto plus.

- Pode funcionar, mas vou incrementar essa ideia, vamos colar no quarto de todos os novatos.

- Mas você é um novato.

- Sim, vamos tirar as suspeitas de nós dois. E qualquer coisa eu vou para seu quarto. Ok?

Nada me deixaria mais feliz.

- Ok.

- Agora, o prazer é todo seu - disse-me, estendendo um punhado de chicletes.

Ri e peguei-os, peguei também um suéter preto e vesti, coloquei um dos chicletes na boca e estremeci diante do gosto fortemente adocicado.

- Oh - quanto mais mastigava, mais doce ficava - isso é muito doce.

- Coloca outro.

Coloquei, e meu maxilar começou a doer. Vinicius colocara três de uma vez, tinha certeza que minhas papilas gustativas seriam comprometidas depois daquela empreitada.

- Bom, vamos começar - ele abriu a porta e se curvou, estendendo uma mão para fora. Um convite - Me concede a honra?

Te concederia tudo que puder imaginar, inclusive minha honra.

- Claro - ri de puro nervosismo, por mais tentador que fosse, eu não poderia pegar sua mão, não sabia o que Vinicius pensava, jamais arriscaria nossa relação assim - Vamos.

Atravessei a porta, e ele se apressou na minha frente.

- Por onde começamos? - sussurrei.

Ele me olhou e deu um daqueles sorrisos maliciosos, meu coração bateu mais forte.

- Siga-me.

Até o fim do mundo, querido.

Andamos sorrateiros pelos corredores tirando parte da goma acumulada em nossas bocas e colando as fechaduras, ajeitávamos com a unha, enfiando o máximo possível dentro de onde a chave deveria passar, eu olhava para ele depois de cada porta, sorria torcendo por seu sorriso em resposta.

Estávamos terminando quando um barulho nos chamou a atenção, logo depois um facho de luz.

Olhei apavorado para Vinicius, um assobio soava longe, mas se aproximava. Ele mexeu os lábios formando a palavra "corre", e saiu rapidamente, com passos leves como plumas, segui-o tentando fazer igualmente silêncio. Quando o assobio e a luz se tornaram distantes respirei aliviado, me recostei na parede que Vinicius estava apoiado, seu rosto mostrava o cansaço da corrida, contudo ainda ria, sorri para ele enquanto arquejava.

Aconteceu tudo muito repentinamente, três passadas pesadas ecoaram pelo corredor, o assobio sinistro estava mais perto do que nunca, a luz batia em uma parede ao meu lado, no fim do corredor, eu sabia que seria pego, não tinha mais escapatória.

E então, nada mais importava. Se eu fosse pego, seria o preço a pagar por aquele momento, se não, toda aquela brincadeira seria apenas uma introdução para aquele momento. De qualquer forma, tudo, absolutamente tudo se resumia naquele momento.

Vinicius agiu rápido, saiu de sua postura relaxada e me prensou na parede, suas mãos seguiram meus braços e chegaram em minhas mãos, que agora estavam seguras acima de nossas cabeças, sentia seu corpo pressionando o meu, todo seu tronco em contato com o meu, suas pernas estavam suavemente abertas, para que estivéssemos face a face, e seu rosto, rascunho da perfeição, nunca esteve tão perto. Sentia seu hálito, que mais parecia um afrodisíaco, em minha face, seus olhos tão negros por trás da lente opaca, encarando-me, rasgando minha alma, nossos narizes se tocavam, e nossos lábios estavam a milímetros de distância. Meu coração batia feroz em meu peito, o surto de palpitações fazia minha cabeça doer, como se minhas veias estivessem sendo expandidas ao máximo, mas aquela doce pressão de seu corpo contra o meu, aquilo me guiaria na noite mais escura, me salvaria do desespero mais cruel, me traria à vida.

Não existia guarda, muito menos escola, só existia eu e ele. Parecia impossível aquilo ficar melhor, mas Vinicius me surpreendeu novamente, seu nariz esbarrou mais ainda no meu, de forma que depois de um tempo ele estava colado a um lado do meu nariz, seus lábios incrivelmente macios passearam demoradamente no lado esquerdo da minha boca, e depois em minha bochecha, por fim sua cabeça pendeu para frente, encaixando-se perfeitamente em meu ombro, suas mãos apertaram as minhas, os dedos se entrelaçando aos meus, sua expiração agora em meu pescoço. Meu lábios estavam entreabertos, minha respiração saía entrecortada, eu não conseguia reagir ou pensar. Meu estado era de puro êxtase.

- Ele já foi - não sabia quanto tempo havia passado, Vinicius soltou meus braços, que permaneceram por um segundo na mesma posição, meu olhar estava fixado em seus lábios e todas as promessas ocultas ali presentes, relaxei meus braços e os deixei cair sobre seus ombros, abracei sua nuca, tentando aproxima-lo mais uma vez - Ei, vamos logo, já perdemos muito tempo aqui.

Tirou meus braços de sua volta sem um único pingo de gentileza, mas eu não me importei, levei uma das mãos à boca, toquei delicadamente o lado onde seus lábios repousaram, depois levei a outra mão, como se pudesse manter a lembrança ali por mais tempo. Ele saiu andando, me deixando para trás.

- Você não vem? - perguntou com rispidez.

Andei mecanicamente, mantive as mãos nos lábios por alguns instantes, queria preserva-lo ali, manter seu calor aconchegante, seu cheiro enervante. Comecei a me soltar, mas os músculos pareciam estranhamente tensos, andamos em silêncio, abaixei minha cabeça, envergonhado. Depois de todo aquele fríssom cessar comecei a perceber o quão insensato foi meu comportamento, eu tinha prometido a mim mesmo aceitar o que me era dado, não forjar esse tipo de momento, e o que fiz? Assediei meu amigo na primeira oportunidade.

O assobio distante voltou a se aproximar, dessa vez Vinicius olhou para trás e riu, depois correu, corri a mais silenciosamente possível, seguia-o no escuro, o que com aquele óculos escuro era uma árdua tarefa. Chegamos ao corredor plus, aqueles passos pesados deixados para trás, olhei para todos aqueles quartos, qualquer pessoa estava a mercê de minha vontade, meu bel-prazer. Sabia que se descobrissem, o habitante do plus seria meu pior pesadelo, com certeza ele era privilegiado, podendo me atingir de inúmeras formas. Andei confiante até o quarto 21, aquele era o de Gabriel Ethos, não era esperto fazer aquilo, ele representava muita coisa, muita coisa a mais do que eu, mas eu o fiz. O fiz por Rafael. O pensamento me aqueceu por um segundo, contudo fez meu coração pesar, como posso pensar nele depois de tudo que acabou de acontecer? Não sabia, mas pensava. E ali eu me culpei.

Tirei o resto da goma e coloquei na fechadura, minha boca tinha um gosto amargo agora, como se toda aquela overdose de açúcar se transformasse em algo amargo.

- Vamos logo para o refeitório - disse ele.

E fomos, durante todo o resto de jantar, eu e Vinicius riamos com cumplicidade, orgulhosos de nossa peripécia secreta, quando voltamos para os dormitórios muitos tentaram colocar suas chaves e não conseguiram, eu tentava não rir e de repente Vinicius me aparece na porta do meu quarto falando alto e irritado que tinham colado a porta dele, deixei-o entrar e desabamos em risadas. As reações eram engraçadas, alguns até riam, outros estavam estressados e cansados, mas a reação de Gabriel foi, de longe, a mais engraçada.

- Quem foi o indivíduo? - ele gritava, batia em sua porta e tentava desesperadamente abri-la - Eu juro que alguém vai pagar por isso.

E ele andava segurando o braço das pessoas e perguntando histericamente:

- Foi você!? Não? Então foi você!?

Não quis ficar olhando por muito tempo, então me recolhi em meu quarto com Vinicius, ficamos conversando, tramando a próxima brincadeira.

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- Sim, mãe - tornei a repetir para o telefone - vou querer o branco.

Uma voz levemente eletrônica respondeu do outro lado.

- Você tem certeza? O rosa ficou tão lindo!

Aproveitei a oportunidade de ela não estar vendo e revirei os olhos.

- Mas o branco ficou deslumbrante!

Ouvi um suspiro do outro lado da linha.

- Não acha que vai ficar parecendo uma noiva?

Já tinha pensado naquilo, o vestido era rodado, repleto de rendas e bordados dourados, com alguns cristais swarovsky no corpete de decote quadrado, as mangas eram de um tecido transparente, com mais cristais formando línguas brilhantes. Tinha algumas camadas de tecido, mas minha preocupação não era a cor, e sim o tamanho, algo me dizia que a maioria das meninas usariam vestidos escandalosamente curtos, eu queria que o meu fosse longo, contudo não quereria uma atenção dessa forma, meu vestido iria passar exatos cinco dedos de meus joelhos, não longo, não curto. E ainda teria a oportunidade de mostrar meus escarpins.

- Não, mãe. Não vou fazer um coque nem nada assim, e não vou usar jóias. Vai ser singelo e elegante.

Omiti parte da verdade, usaria grandes e elaborados brincos, mas eles eram semi-jóias.

- Ok, ok, não vou discutir. Vou ir buscar vocês perto das 8:00 horas, fique pronta. Já avisei a escola.

Dei um risinho, iríamos para uma maratona de beleza, salão, maquiagem, talvez até alguma massagem.

- Sim, Beatriz e eu estaremos esperando. Beijos, tchau.

- Tchau, tchau.

Joguei o telefone na cama e sai do quarto, andei até o quarto de Beatriz e bati na porta.

- Mamãe virá amanhã, 8:00 horas.

- Estou com medo - disse ela, com uma tristeza genuína no olhar - Se não ganharmos, o que vamos fazer?

- Vamos ganhar.

- Você mesma disse que era impossível eles romperem.

- As coisas mudam.

- Michelle, você está comprando o vestido e tudo, mas comprou a fantasia de lavadeira?

- O que? - perguntei surpresa e ofendida - Claro que não! Jamais irei vestida como lavadeira. E nem você.

- Só acho que devíamos estar preparadas para eventualidades.

Enganchei meu braço no seu e a puxei para fora, começamos a andar pelo corredor.

- Estou preparada para qualquer eventualidade, tenho sapatos reserva, vestido reserva, até brincos reserva. Mas ir de lavadeira não é uma opção, muito menos eventualidade. Vamos estar lindas, eu garanto.

Virei em um corredor a direita e puxei Beatriz.

- Aonde vamos?

- Ok - joguei meu cabelo para trás - Daniele está no quarto de Yasmin, provavelmente com outras várias. Você vai lá, fala que tem alguma coisa no seu quarto, que precisa de ajuda, qualquer coisa que as tire de lá, entendeu?

A menina em minha frente balançou a cabeça, afirmando.

- Mas o que você vai fazer?

- Vou conversar com Yasmin.

- Você nunca conversou com ela antes! Acha que ela vai te ouvir?

- Isso nunca impediu ninguém! E afinal, estou fazendo um favor para ela.

Beatriz estremeceu.

- Isso tem tudo para dar errado.

- É, mas não vai. Agora vai lá, tire aquelas garotas do quarto, e mantenha elas longe por uns - debutei por um momento - cinco? É, cinco minutos está bom.

Beatriz riu e andou levemente até o quarto, abriu a porta e a deixou aberta, me virei e fingi admirar um mural, depois de um minuto ela saía acompanhada de outras três meninas, esperei elas dobrarem no corredor e entrei no quarto de Yasmin, que por sinal tinha um forte perfume doce. Ela estava sentada na cama, as pernas cruzadas e um ursinho de de pelúcia no colo, tinha os cabelos marrons escuros e ondulados, era bonita, olhos negros bem feitos e uma pele bronzeada impecável, me perguntava o porquê dessa garota ficar correndo atrás de um cafajeste.

- O que está fazendo aqui? - sua voz era doce e baixa, como a de uma criança - Onde estão minha amigas?

- Oi Yasmin - reuni toda simpatia em um sorriso e vi seu semblante se acalmar - Precisamos conversar.

🌒🌓🌔ALWAYS🌖🌗🌘

A conversa não durou muito, entretanto foi frutífera, deixei no quarto uma Yasmin esclarecida, decidida a tomar conta de sua própria vida. Tinha certeza que ela acabaria com o fardo que chamava de namoro, nem mesmo Daniele poderia convence-la do contrário.

Beatriz esperava no meu quarto, sentada na cama roendo as unhas.

- Não acredito que você voltou a fazer isso - peguei em sua mão carinhosamente, conferi as unhas, pouco danificadas por sorte - Bom, ainda podemos arrumar isso no salão. Amanhã temos uma grande festa! Você não quer ir com as unhas roídas, quer?

Beatriz olhou para suas mãos.

- Não pude evitar, fiquei nervosa. Daniele é muito incisiva quando quer.

- É, percebi pelo jeito que Yasmin conversou comigo.

- Você conseguiu conversar com ela? - sua voz ganhava empolgação - Como foi? Me conta.

- Bom, ela tem um sério problema de auto-estima, todavia conseguiu entender o que estava acontecendo - sorri - Só sei que iremos como a realeza. Espero que Daniele não fique triste em ter que usar alguns trapos.

- O mais engraçado é que ela me mandou te falar de uma vistoria na fantasia de lavadeira. Acho que ela vai se arrepender disso.

Beatriz riu e eu a acompanhei.

- O que você disse para tirá-las do quarto?

- Ah, falei que tinha comprado o novo jogo de pincéis Nude, então Alícia disse que não tinham lançado ainda, e falei " vamos no meu quarto que eu mostro ". Foi quase simples. Só achei chato elas me chamarem de mongalóide quando viram que os pincéis não eram o lançamento. Acho que nem lançaram mesmo.

- Não creio que elas te chamaram de mongalóide - ela balançou a cabeça e sorriu tristemente. Beatriz era uma alma boa, tão inocente quanto uma criança, por mais que não deixasse transparecer, eu sabia que ela não suportava palavras rudes, aquilo a machucava muito. Meu coração se compadeceu, aquelas garotas se aproveitavam da bondade de minha amiga, abusaram de sua ingenuidade. Tomei sua mão - Não se preocupe, elas se acham tão espertas, mas dessa vez nós conseguimos ganhar em seu próprio jogo.

- Sim, eu sei. Obrigada por ser minha amiga.

- Eu é que agradeço. Agora vamos dormir, amanhã cedo vamos ao salão, e voltaremos lindas!

Me despedi e fui para meu quarto. Aquela festa seria diferente para mim, carregada de significados. Ano passado não teve, pois a do ano retrasado havia sido um desastre, sempre me fascinava com aqueles vestidos, maquiagens e jóias, mas eu era uma criança, não podia passar muito tempo, as coisas haviam mudado agora.

___________________________________

O tempo corria em uma velocidade alucinante, quando me dei conta estava fazendo a prova de roupas para a festa.

- Mãe, não acha muito - procurei a palavra certa, mas não a encontrava - muito?

Talvez muito fosse a palavra certa. A fantasia tinha três camadas, somente na parte de cima, a compunha uma camisa manga longa branca de algodão, um colete bege repleto de detalhes, e um terninho muito elaborado, em outro tom de bege, esse mais claro. Mamãe tinha dito o nome certo, de cada peça, mas eu já havia esquecido, me referia ao conjunto inteiro como terninho, pois ele acabava na metade da minha cintura, onde começava uma calça de cós alto, talvez altíssimo, por baixo dela havia um calção de um tecido tão fino e leve que não contava para mim como uma camada, a calça era, como quase todo o conjunto, bege, terminava no meio da minha panturrilha, talvez os anciãos fossem obcecados por roupas curtas. O sapato era a coisa mais comum, preto, antigo, estilo mocassim.

- Ah, não! De forma alguma!

Queria algo menos chamativo, talvez uma cor escura.

- Ok, mas não teria esse em preto?

- Sim, mas vai ficar bárbaro você e sua irmã irem combinando!

Aceitei tudo, me olhava no espelho enquanto a costureira fazia medições de ultima hora. O mais próximo que cheguei em comparações foi um toureiro espanhol. Ou até mesmo um fantasma de um toureiro.

- Michelle pediu para que vocês ficassem na escola mesmo - mamãe me disse - Quer ficar ou prefere ir para casa?

Não havia muito o quê pensar, eu preferiria Vinicius.

- Escola.

- Vocês cresceram tão rápido!

- Ah mãe, isso não quer dizer nada.

- Eu sei, eu sei. Bom, iremos para a praia sábado, então amanhã à tarde estaremos aqui para buscá-los. Esteja pronto.

Afirmei com a cabeça.

- Querido - disse a costureira - erga os braços.

Ergui ambos os braços, e a mulher recomeçou a fazer suas correções.

- Posso levar um amigo?

Tentei fazer a pergunta parecer banal, como se pedisse que escolhesse entre vermelho e laranja.

- Claro. Quem?

- Acho que a senhora não conhece.

Minha mãe ficou intrigada, ela conhecia cada um dentro do colégio, provavelmente conhecia até a segunda geração em ordem ascendente.

- Como? - ela parecia incrédula.

- Aluno novo.

Tentei manter a calma, tudo se baseava na calma, tinha que parecer tranquilo.

- Pode abaixar, querido - disse a costureira.

- Hmm. Desde que ele esteja pronto e junto de vocês sábado, tudo bem.

- Ok, obrigado mãe.

- Por nada, meu anjo.

- Bom - a costureira se levantou - parece que terminamos aqui.

Sorri vitorioso. Eu, Vinicius, e a praia. Um início promissor. Bem promissor. Eu deveria estar otimista, mas me sentia a beira de um penhasco, com o vento uivando, me levando suavemente ate a morte.

Lancei um último olhar para a imagem no espelho, todo engomado, deveria estar feliz, tentei dar um sorriso, mas pareci tão triste, e tentar disfarçar tornava tudo tão mais doloroso, senti uma pontada no peito.

🌒🌓🌔ALWAYS🌖🌗🌘

Música para a cena: https://m.youtube.com/watch?v=-FClnussfEc

Continuava estupefato, Michelle parecia uma deusa, o vestido branco era no mínimo extraordinário, seus cabelos eram uma trama complexa e linda, as laterais puxadas para trás e levemente para cima, presas por inúmeros cristais, havia sido cacheado, matrizes e mais matrizes de cachos que chegavam até a parte baixa de sua cintura, todos repletos de cristais, que ao mínimo movimento brilhavam e chamavam mais atenção para sua dona. O olhar felino acentuado por uma maquiagem perfeita, a boca carnuda nunca antes tão invejada.

Ela estava sentada no carro, que já atravessava os domínios de Augustine, por mais que tentasse, meu olhar sempre escorregava para ela, encantado com toda sua glória. Quase perdi o fôlego quando a vi pela primeira vez, a menina de traços belos e elegantes nunca me parecera tão nobre. Toda vez que olhava para ela essas palavras soavam em minha cabeça, elegante, bela, nobre.

O carro parou e descemos, uma forte luz criava dois pilares no céu, entramos no salão e admirei a decoração, realmente bem característica, estávamos em uma ante-sala, ali entregávamos nosso ingressos e ganhávamos uma pulseira de papel. Para onde se olhava tinham papéis-parede que lembravam as paredes de um castelo, pedra sobre pedra, rústico, panos sustentados por um único ponto se mostravam quando olhávamos para cima, e por fim uma lona revestia o chão, tinha a assinatura de todos os alunos de todos os terceiros anos do colégio, essa era uma das tradições de Augustine. Uma tradição clandestina era os outros alunos escreverem seus nomes também, nunca o fiz, apesar de querer, aquele não era o meu momento, meu terceiro ano chegaria logo, e quando chegasse, não precisaria escrever escondido. Uma garota com vestido estampado de arabescos e vários colares de pérolas nos recebeu, tinha um livro com capa de couro nas mãos, e escrevia nele com uma pluma enorme. Wow, eles realmente estão levando a sério o tema.

- Sejam bem-vindos ao Baile de Gala! - ela sorria alegremente, tinha certeza que ela era do terceiro ano - Queiram escrever seus nomes e títulos, por gentileza.

Não fiz nenhum movimento, sabia que Michelle iria pegar primeiro. E assim aconteceu.

- Podemos escolher o título? - Michelle perguntou.

- Sim, menos rei e rainha, príncipe e princesa.

Olhei de novo para ela, o decote quadrado deixava grande parte de sua clavícula a mostra, Michelle insistira em não usar jóias, entretanto eu entendia o porquê. Aquele pedaço alvo de pele, a clavícula de marfim, ela era a jóia, não precisava de nenhum ornamento porque ela já tinha uma jóia ali. Como um diamante oculto. Ela olhou para mim e sorriu.

- Lordes?

Sorri, mas a sensação de pesar persistia em mim.

- Boa escolha.

Ela escreveu, a pluma sendo agitada com delicadeza, Michelle suavemente curvada em direção ao livro, ela era o ser mais elegante que eu já vira, e era minha irmã, me sentia estranho, como um ser tão radiante tem um parentesco tão próximo a mim?

Ela se endireitou e me ofereceu o braço. Aceitei prontamente.

- Vamos, Lorde Petriér.

- Vamos, Lady Petriér.

- Eles vão anunciar vossa entrada - a menina nos guiou.

- Obrigado.

Paramos diante uma entrada com cortinas.

- Nicollas?

- Sim?

- Aproveite a festa.

- Vou sim, aproveite também Michelle.

Alguém abriu as cortinas e passamos, estávamos em uma parte acima do salão, tínhamos que descer um lance de escadas para chegar a festa em si, mas dali tínhamos uma boa visão de todos, o salão era um espetáculo a parte, lustres e candelabros, castiçais enormes, mesas bem decoradas, e as fantasias estavam excelentes, todas ricamente detalhadas, fiquei mais tranquilo quando vi meninos com terninhos iguais ao meu, teria ficado mais se eles tivessem mais de doze anos.

- O Lorde e a Lady Petriér. - um garoto do nosso lado anunciou,ele tinha um cone de papel em mãos.

Olhei para a multidão que se estendia abaixo de mim. Encontro Rafael facilmente, apesar de distante, estava com uma espécie de fraque preto, muito bonito, isso era inegável, ele se destacava, parecia que esteve conversando, a julgar pelos amigos ao seu redor, que olhavam-no com interesse, esperando sua opinião, opinião essa que não viria, ele olhava para nós, o rosto, uma máscara indecifrável, conti um sorriso. E então, o tempo, que nos últimos dois dias corria em uma velocidade assustadora congelou.

Encontrei Vinicius, eles estava em uma mesa, próximo de nós, uma camisa branca de mangas largas, provavelmente algodão. Infelizmente eu não consegui continuar observando suas roupas. Ele olhava, eu me sinto perdido, aquele olhar embasbacado, aquele rosto vislumbrado, encantado, eu o conhecia, não é? Já tinha visto aquela expressão estampar vários rostos. Minha mão procurou algum lugar para se apoiar, aquele olhar, eu tremia diante da sua intensidade, de sua potência, ele transbordava amor, paixão, segui seu olhar, uma linha reta que me levava a um novo patamar de terror, um pesadelo que minha mente não tinha capacidade de criar, e muito menos suportar. E ali estava o alvo de seu olhar, ali, bem ao meu lado. Michelle.

Ele olhava para Michelle. Para minha irmã.

O chão girava e desaparecia diante de meus pés, e eu não tinha nenhum apoio.

Comentários

Há 9 comentários.

Por Henry Thorne em 2016-04-11 08:53:56
Esse hiatus de 3 meses estão acabando comigo, espero que esteja bem
Por Henry Thorne em 2016-03-06 23:22:49
Ai migo cadê você? Espero que esteja tudo bem, volta logo :'(
Por Henry Thorne em 2016-02-28 23:58:00
Migo cadê você? Faz um mês, espero que esteja tudo bem! Que seja só um bloqueio criativo, esperando a sua volta ansioso
Por Sirferrow em 2016-02-11 01:07:17
Apenas chocado. Adorei!!!
Por Sammy Fox em 2016-02-01 20:01:25
Divosos* rsrsrs
Por Sammy Fox em 2016-02-01 20:00:39
Você demora muito para postar kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk pelo menos seus capítulos são longos e não estão para brincadeira, simplesmente amo essa sua história e seus personagens divisões, Vinícius e Michelle possivelmente juntos? Para abrir espaço para o Rafael lindo? Super apoio, mais Nicollas é insistente pelo amor ser forte, vamos ver no que da, o capítulo encerrou no melhor momento, morri, já espero o próximo com ansiedade
Por ChrisDiamond em 2016-02-01 11:56:49
Amei como sempre bastante detalhista, Rafael ama o Nicollas? Nossa já shippo, odiei o Vinícius ter ficado afim da Michelle, espero que Nicollas mantenha sua postura, esperando o próximo.
Por Henry Thorne em 2016-01-28 14:30:57
Sou team Rafael desde o início :3 mais fiquei apreensivo quando você disse que ele arranjaria problemas para o Nicolas mesmo o ajudando, acho que entendi a proposta da série, um amor não correspondido e o crescimento interno para parti para outra pessoa? :3 bom não sei quanto a parte afinal, pois o nic sente algo pelo rafael mais esse algo é imcoparavel se comparar ao sentimento que ele tem por vinicius, não sei qual foi a reação do nic quando percebeu Vinícius deslumbrado por Michelle mais achei triste, eu amo o Rafael achei ele tão fofo nesse capítulo, espero que os dois fiqum juntos mais que ele nunca machuque o Nicollas, acho os detalhes dos sentimentos narrados pelo nic em relação ao vini, tão poderosos, profundos, não sei se já falei antes mais quase lagrimei com a narração dele detalhando o que sentia, por mais que seja muito triste não ser devidamente correspondido espero que seja Rafael que o salve, muito ansioso pelo próximo capítulo, fiquei tão feliz em ver você na lista dos capítulos recentes do site. Já espero continuação do baile e principalmente o final de semana na praia, não seria pedir demais para com a cena de vini secando Michelle que alguma doida der no Nicollas e ele convide o Rafael? :3 amo sua história migo, abraços até o próximo, demore o tempo que precisar, mais não demore muito e acima de tudo não desapareça.
Por Mister Good Vibes em 2016-01-28 01:50:04
Simplesmente perfeito ! O Nicollas deveria ficar com o Rafael ❤️ Por favor não demore à postar 😁