Despertar - Chapter 6

Conto de Cinnadia como (Seguir)

Parte da série Always

Oi oi gente, obrigado por comentarem, desculpa mesmo pela demora. Eu queria saber se vocês gostariam de um capítulo especial, só dele, nosso amado Vinicius, algumas partes mais 🌟✨🔥 para vocês entenderem ele melhor. Esse seria meu presente pela demora desse capítulo ( que ficou meio curtinho, mas eu tinha que postar logo ).

Estava pensando em colocar uma trilha sonora também, alguns momentos se tornam ainda mis intensos com a música.

Então digam se sim, ou se querem outra coisa ao invés da história sendo narrado por Vinicius, vão em frente e me digam!

Henrythorne: Ah meu Deus migo! Eu já estava ligando pra polícia! Mas que bom que conseguiu ler e gostou😘 Sério, sempre que leio seus comentários sinto que você me entende, o ritual é quase que literalmente esse renascimento dele, como a puberdade, agora despertou para a vida, vai deixar de ser observador e vai ser um jogador, a irmandade vai proporcionar poder para ele fazer algumas coisinhas 😶 e também vai ser o palco de alguns dramas. Always é a história de um garoto que começa a experimentar as sensações e sentimentos, e a todo momento sofre o risco de ser corrompido por eles.

ChrisDiamond: Obrigado😉 que bom que gostou! Continue comentando😚

Niss: Obrigado por comentar😊 Sim, Vinicius tem uma certa dificuldade pra expressar seus sentimentos, mas ele cuida muito bem de quem está ao seu redor. A irmandade vai ajudar, depois atrapalhar, mais ou menos como aquele ditado " A mão que dá é a não que tira ", continue lendo e vai descobrir como😜

Se quiserem mandar sugestões, ou apenas conversar mesmo, me mandem um e-mail: cinnadiangelo@gmail.com

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Quando a água fria tocou minha pele, senti-me arrepiar, não recuei, a roupa grudava-se em meu corpo, meus pés descalços tocavam as profundezas aveludadas do lago, fechei meus olhos e senti o ritmo das águas embalar meu corpo, quase maternal. Apesar da situação, nunca me senti mais vivo. Continuei andando e sentindo a água extremamente fria como navalhas glaciais cortando minha pele, quando a parte abaixo dos meus ombros estava submersa algum encapuzado sinalizou que ali era até onde eu deveria ir. Via alguns outros garotos entrando no lago, alguns ainda hesitantes, outros enfrentavam tudo com coragem, mas o choque da água fria com o corpo arrancava inúmeras reações, tentei manter minha expressão neutra, apesar de tremer discretamente. Depois de muita relutância os últimos entraram, e assim ficamos. Não ousava pensar em quanto tempo passou, mas sabia que não era pouco, meus braços haviam voltado a abraçar meu torso, mas o faziam de forma frouxa, meu queixo já batia violentamente, sentia os membros rígidos e dormentes, minha própria respiração estava mais lenta, e ao olhar para os outros via os lábios roxos. Os iniciantes tinham feito uma corrente, todos lado a lado, acho que estava bem no meio dessa corrente, de forma que quando começaram a nos ajudar a sair do lago, eu fui o ultimo a deixar o berço gélido. Rafael dizia alguma coisa, mas o vento frio batendo em meu corpo molhado me fazia tremer de uma forma preocupante, as consequências do meu breve momento de insanidade chegaram.

Minha consciência oscilava, e meu corpo já não respondia mais aos meus comandos, em um instante meus joelhos fraquejaram e eu quase caí. Alguém me segurou e me cobriu com um dos mantos negros, a última coisa que vi foram dois olhos incríveis, eram tão azuis, mas a medida que o azul chegava perto da pupila se transformava em um castanho avermelhado. E foi vendo aquela mistura de cores que eu apaguei.

Antes mesmo de abrir meus olhos já senti a pressão na minha cabeça, provavelmente um dos frutos da minha aventura noturna. Estiquei os braços e puxei o cobertor para baixo, minha mente ainda trabalhava vagarosa, mas já conseguia juntar algumas partes essenciais e me questionei como havia voltado ao meu quarto. Sentei-me na cama e funguei, era oficial, eu estava gripado. Antes mesmo de sair debaixo do cobertor eu o vi dormindo em uma poltrona em frente à minha cama. O próprio Rafael Aramash. Não fazia sentido ele estar aqui, e aquela poltrona não fazia parte da minha mobília, o pensamento sobre a poltrona me fez sorrir, por que iria me importar com a mobília quando tinha um quase desconhecido dormindo em frente a mim? Olhei para a roupa que usava e percebi ser outro pijama, alguém tinha trocado minha roupa. Meu rosto ardeu em ultraje. Joguei o cobertor atrás da minhas costas e o arrumei como se fosse uma capa, andei com cautela até a poltrona e cutuquei com o máximo de delicadeza o corpo inerte de Rafael. Entre alguns gemidos de reclamação ele acordou e me fitou com aqueles olhos, que no mesmo instante reconheci como sendo a última lembrança da noite anterior.

- Bom dia. Dormiu bem?

A pergunta parecia não ter segundas intenções.

- Eu - coloquei ambas as mãos sobre a minha cabeça, tentando organizar alguma frase - eu não entendo, como vim parar aqui? E por que você está aqui?

Havia uma leve entonação no "você", afinal ele era uma pessoa ocupada.

- Surpreso? - ele ergueu uma sobrancelha, dubitativo - Não se lembra do que disse ontem? Somos irmãos agora, e irmãos se preocupam um com o outro.

Aquilo parecia tão surreal ainda, e ele fazia tudo parecer ainda mais lúdico.

- Ok, ok - disse, aceitando tudo aquilo sem pensar muito, quanto mais pensava mais fantasioso tudo parecia - mas, isso não explica minha roupas.

Poderia ser meus olhos que ainda não acordaram, mas eu tinha quase certeza que vi uma sombra de sorriso passar pelos lábios de Rafael.

- Achei que ia preferir isso à seu pijama molhado.

- Não! - eu não iria perder o controle, respirei fundo e continuei - Isso é um absurdo. Entenda, eu pod...

- Poderia tomar banho e se trocar desmaiado?

Não, eu não poderia. Me calei, e Rafael tomou isso por um assentimento.

- Foi você quem fez isso?

A pergunta fugiu dentre meus lábios. Ele fez uma cara de desentendido e apontei para as roupas que eu trajava.

- Ah, não precisa ter vergonha, se isso melhora, foi só eu. Mais ninguém viu sua nudez.

Corei novamente. Por que ele tinha que ser tão infusivo? Ainda assim era melhor apenas uma pessoa ter me visto nu.

- Espero que não haja comentários.

Sua etiqueta de quilate quebrou um pouco com o revirar de olhos que foi direcionado a mim.

- Você terá que se acostumar. Já viu os vestiários depois da Educação Física ou das Eletivas?

Balancei a cabeça em resposta. Jamais tinha visto os vestiários.

- Então, há um monte de garotos tomando banho - ele concluiu - sem problemas.

Oh, havia problemas sim, muitos problemas.

- Posso escolher alguma Eletiva como Jardinagem ou Pintura, talvez até Culinária.

Seus olhos focaram nos meus.

- Todos da Irmandade devem estar praticando algum esporte - Rafael disse de forma categórica, quase mecânica - Corpo são, mente sã.

O assunto, regras intransponíveis da irmandade, ainda era muito novo pra mim. Não pensei em replicar, ele foi claro, eu iria praticar algum esporte. Por mais que isso me assuste. Tentei desviar o rumo sombrio que a conversa havia tomado.

- Bom, eu gostaria que você me esclarece-se sobre a Mänus.

Seus tom foi mais brando agora.

- O quê deseja saber?

Tantas coisas. Tantas, mas todas pareciam ter fugido da minha cabeça agora.

- Não sei. Talvez - desviei os olhos dele - meu pai participou disso?

Um sorriso gentil apagou os últimos resquícios sombrios de seu rosto.

- Uma pergunta comum. Você deveria ir à nossa sede, lá temos os registros de todos os irmãos, os de agora e os antigos. Mas sim, seu pai participou da Mänus, ele e seu avô. Isso é um grande legado.

Não cheguei a conhecer meu avô, ele morreu quando eu tinha 2 anos, meu pai sempre disse que ele foi um grande homem, honesto e integro, foi o responsável por refinar bruscamente nossa família, já que meu bisavô era um novo rico, que conseguiu o aclamado Petriér através de um casamento, não tinha os costumes e etiqueta necessários para disseminar a família na alta sociedade.

Outra questão chamou mais minha atenção.

- Nós - experimentei a palavra com cuidado - temos uma sede?

Agora ele sorriu de verdade, um sorriso que mostrava duas fileiras de dentes brancos e alinhados.

- Você ainda não se deu conta no que está envolvido. Temos uma sede em Augustine.

A ideia não foi digerida no primeiro momento.

- Impossível - a descrença era palpável em minha voz - Todo o perímetro de Augustine é fiscalizado, não cortam uma árvore sem a diretoria saber.

- Não, não é - ele disse como se explicasse a uma criança algo óbvio - você vai ver.

Sentei na cama, oh Deus, não faço a mínima ideia sobre a irmandade que eu entrei.

- Ok, ok - não pense, apenas aceite - e essa prova do lago, não vai ser a ultima, certo?

- Perspicaz. Mas não se preocupe, sim, foi a primeira e última - eu iria me preocupar, eu via em seus olhos que a prova do lago não seria a ultima - Claro que a iniciação não está 100% completa, você, e os outros, terão que fazer uma espécie de estágio, cada um terá que aprender mais sobre os costumes e regras que regem nossa irmandade.

- Como um grupo de estudos?

- Não.

- Como então?

- Cada um terá um veterano para guia-lo.

- Vão sortear veteranos para os calouros?

- Não vamos - corrigiu-me - Cada calouro deverá conquistar um veterano.

Interessante.

- Mas e se alguém não conseguir um veterano?

Ele sorriu em confidência, não iria me contar.

- Isso parece uma prova.

A frase escapuliu de minha boca diante da sua negativa.

- Realmente muito, muito perspicaz.

Me assustei com o despertador tocando. Perdi a noção do tempo, contudo as aulas ainda não começaram, ainda poderia ver Vinicius.

- Bom, acho que vou me arrumar para as aulas.

- Você conseguiu uma dispensa, por estar gripado.

- Ah, obrigado, mas estou bem.

- Por via das dúvidas, fique, seu almoço e sua medicação serão servidos no quarto.

Não, não, não e não! Eu precisava vê-lo.

- Não será necessário.

Aquilo era um jogo perigoso, minha petulância poderia causar efeitos indesejáveis.

- Será muito estranho alguém que recebeu dispensa ir para a aula. Nós sempre agimos discretamente, se alguém imaginar o motivo pelo qual você está gripado, e como conseguiu essa dispensa...

Ele deixou o resto pairar no ar, eu sabia que não seria algo bom se descobrissem o que houve à noite.

- Certo - disse a contragosto, senti uma pontada em minha cabeça - e por favor, mande-os trazer analgésicos.

- Como preferir - Rafael disse polidamente, ele caminhou até a porta e antes de sair virou a cabeça e continuou - Teremos uma reunião hoje, à meia-noite, no lago.

Assenti e ele fechou a porta. Massaje-ei minha têmpora em busca do alívio para a dor de cabeça. Um banho quente era o ideal. Deixou o cobertor e andei até o banheiro. Quando me olhei no espelho percebi o quão afetado eu estava. Olheiras adornavam os olhos, o nariz estava levemente vermelho, o cabelo, geralmente cacheado de maneira planejadamente desarrumada, agora estava embaraçado. Talvez não ir as aulas tivesse sido uma coincidência agradável, não queria que Vinicius me visse assim.

Liguei o chuveiro e a água, extremamente quente, fez com que minha pele formigasse, aceitei de bom grado, a cascata fumegante descia sobre mim e aquecia ainda mais meu corpo. A sensação era agradável, mas não o suficiente para aliviar minha dor de cabeça, era difícil pensar em meio as pontadas, talvez alguns analgésicos e um sono me restaurassem. Eu deveria impor minha presença à Vinicius, talvez em minha companhia ele poderia ver algo desejável em mim. Talvez ele poderia me desejar.

A água continuava fluindo sobre meu corpo, como uma massagem suave e quente. Desliguei o chuveiro e me sequei com a toalha. Peguei o pijama que vestia a pouco e o joguei para o fundo do guarda roupa, não queria lembrar que alguém havia me visto desnudo. Coloquei outro pijama, um mais quente, e deitei na cama. Uma manta, um edredom, e uma coberta, isso compunha meu escudo contra o frio do cômodo, a maciez e o calor me fizeram adormecer rapidamente.

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O sino que marcava o fim da aula prometia me trazer alívio. Estava preocupada por não ter visto Nicollas chegar para as aulas, e depois não te-lo visto no recreio, podia ser apenas bobagem da minha cabeça, mas minha intuição dizia que precisava vê-lo. Deus sabe o quanto valorizo isso desde o fim dos dias ruins. Andei apressada até o refeitório, já era o almoço e nada de Nicollas, a preocupação era crescente.

- Michelle - Beatriz cutucou meu braço - Michelle! Você esqueceu seu estojo!

Olhei para minha amiga e peguei meu estojo de suas mãos.

- Obrigada.

- Aonde vai tão apressada?

A curiosidade da garota era um dos pontos fracos na nossa amizade. Às vezes me cansava ter que responder a tudo. Apesar disso eu não perdia minha compostura, sorri para ela e respondi.

- Esqueci algo no meu quarto.

- Quer que eu vá junto com você?

- Ah amiga, muito gentil da sua parte, mas não precisa se preocupar, vou e volto logo.

Não prolonguei mais a conversa, olhei para a multidão procurando a cabeça cacheada tão familiar aos meus olhos, todavia ela não estava entre o mar de alunos. Outra pessoa me chamou a atenção, Melissa Szelsky, ela iria saber onde ele estava. Segui até ela a passos largos.

- Melissa - chamei-a - Oi.

Ela se virou e me cumprimentou também.

- Michelle. Tudo bem?

- Tudo. Eu queria saber se você viu Nicollas hoje.

- Ah - sua expressão era de surpresa - Eu iria te perguntar sobre isso, também não o vi.

Oh Nicollas, onde você está?

Disfarcei minha frustração, afinal ela também não tinha visto ele hoje.

- Acho que ele deve estar indisposto - disse-lhe - Você sabe como essa mudança de rotina é ruim.

- Sim - respondeu ela - Qualquer coisa me avise.

- Avisarei.

Parei por um instante, ele devia estar no quarto. Onde mais estaria? Andei até a saída do complexo principal, com destino aos dormitórios masculinos, deveria ter pensado nisso antes. Avistei a enfermeira andando no mesmo sentido que eu, ela tinha uma bandeja com uma cúpula prateada cobrindo seu conteúdo. Suspeitas confirmadas. Andei mais rápido e cheguei ao lado da enfermeira.

- Olá - sorri para ela - Com licença, mas isso é parte da medicação de Nicollas Petriér?

Ela sorriu em resposta e respondeu:

- Sim. Você é...?

- Michelle Petriér, irmã dele - ela sorriu de novo e eu prossegui - Está tudo bem com ele?

- Tudo bem, apenas uma gripe.

- Posso ir vê-lo?

Ela relutou, mas encorajada por outro sorriso inocente e preocupado, consentiu.

- Sim, venha comigo.

Andamos em silêncio até a entrada dos dormitórios. Antes do guarda nos ver ela me passou a bandeja e disse:

- Você está me ajudando a trazer isso, ok?

- Ok.

Por fim ela ergueu o domo e pegou um copo e uma caixa de remédios da bandeja. Andamos até o portão de entrada, a bandeja estava realmente pesada, me concentrei para equilibra-la, de forma que não prestei muita atenção no diálogo da enfermeira e do guarda. Entramos e seguimos até o corredor dos quartos plus. Ela olhou a chave e procurou o quarto 07+, quando achou entramos devagar, Nicollas estava dormindo, o rostinho inocente estava abatido, tinha olheiras e o nariz estava vermelho, apesar disso ainda tinha o brilho infantil que eu não me cansava de admirar. Seu rosto sempre me fascinara, os traços finos e angelicais, os lábios carnudos, tudo me fazia lembrar de um cupido ou querubim renascentista.

Caminhei até a cabeceira de sua cama e passei a mão entre seus cachos macios.

- Acho melhor deixá-lo dormir.

Concordei com a enfermeira e me afastei do meu irmão.

Ela deixou a bandeja sobre o criado-mudo e me perguntou:

- Vai ficar aqui por mais tempo?

- Sim.

- Então quando ele acordar fale que sua medicação e seu almoço estão sobre o criado mudo. Se esfriar, ele pode ir a cozinha e esquentar ou pedir outra coisa.

Assenti com a cabeça enquanto a mulher saía pela porta.

- Enfermeira - chamei - Obrigada, por tudo.

Ela sorriu por sobre o ombro e fechou a porta.

Meu peito inundou-se de alívio. Não me perdoaria se algo acontecesse com ele. Nossa relação não tinha os moldes de uma relação fraternal comum, apesar de ser um ano mais velho, Nicollas sempre foi, para mim ao menos, quem aspirava meus cuidados, eu iria protege-lo sempre, fazia tudo o que estava ao meu alcance para garantir seu conforto. Esse instinto foi muito estimulado por nossos pais, durante os dias ruins, Nicollas insistiu em vir estudar, mesmo debilitado, manteve as aparências até quando pode, e quando não conseguiu mais, eu fui forte por nós dois. Mantive-nos fortes e unidos, acompanhava-o à todos os lugares, sempre me assegurando que ele poderia dar o próximo passo, isso fez com que nossa relação se fortalecesse de tal maneira que eu já não conseguia mais pensar em abandona-lo, sonhava em todos nós morando em uma mesma casa, nossos filhos sendo criados como irmãos, uma família perfeita. Os Petriér eram conhecidos por serem " Os homens de pedra ", sempre achei graça disso, mal sabiam que quando os homens de pedra fraquejavam, sempre haveria uma mulher de pedra para sustenta-los, reergue-los. Eu era uma Petriér, uma mulher pétrea. Sentei na cama, levantei a cabeça de meu irmão e tirei o travesseiro, com a maior delicadeza possível, coloquei sua cabeça cacheada em meu colo. Sem protestos por parte dele, me recostei na cabeceira almofadada e passei minha mão por entre seus cabelos novamente.

- Para sempre - disse para meu irmão - Eu estarei aqui, para sempre.

Sua expressão transbordava paz, e a minha alívio.

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Acordei com um cantarolar familiar, abri os olhos e sorri para o rosto de Michelle.

- Oi.

Ela sorriu e disse.

- Oi dorminhoco.

O quê ela fazia aqui? Será que ficou preocupada por eu não ter ido as aulas hoje?

- Tudo bem?

- Ah, comigo sim - ela falou, adquirindo uma expressão mais preocupada - Eu quero saber o que aconteceu com você. Está tudo bem?

Sua mão passeava por meus cachos enquanto ela falava.

- Sim - respondi fazendo uma careta - Só uma gripe.

Ela se virou e pegou uma caixinha de analgésicos, balançou sobre meu rosto como se aquilo explicasse tudo. Oh, não é nada disso que você está pensando.

- As dores de cabeça voltaram?

- Não, de forma alguma. É só uma gripe mesmo.

O belo rosto ganhou um semblante preocupado. Ela estava relembrando. Me levantei de seu colo e peguei em suas mãos.

- Michelle - disse - É sério, aquela época já passou. É uma gripe passageira.

Ela balançou sua mão enfrente ao rosto, como se assim pudesse afastar todas as lembranças, depois sorriu para mim.

- E obrigado por vir me ver.

- Ah, isso é quase uma obrigação para mim. Apesar de que é horrível ser a única menina de um complexo inteiro - ri de sua observação - E a enfermeira te deixou isso.

Ela se virou e pegou uma bandeja com uma sopa e um suco, de lado estava o velho copo com isopor e meus comprimidos.

- Sopa? - gemi em desgosto - Espero que não seja de vegetais.

Experimentei e graças a Deus era de frango.

- Gostou?

- Sim. Frango dessa vez.

Ela sorriu e se levantou da cama.

- Vou ir comer agora. Daqui a pouco vou voltar, ok?

- Ok.

Michelle me deu um beijo na bochecha e saiu do quarto. Continuei comendo minha sopa e tomando o suco.

Quando terminei tomei meus remédios e o analgésico, em pouco tempo estava sonolento de novo, dessa vez em razão dos remédios, adormeci de novo.

Quando acordei outra pessoa estava no meu quarto. Vinicius. Meu coração se contraiu e eu sorri. As lembranças que tinha dele não faziam jus ao esplendor de sua presença ao vivo.

- Oi.

Ele me presenteou com um de seus sorrisos tortos.

- Oi.

Vinicius tirou sua jaqueta e a deixou sobre a poltrona, agora eu via seus braços fortes, caminhou e sentou nos pés da cama. Uma de suas mãos repousou sobre minha perna, casualmente. Minha respiração ficou entrecortada, senti minhas bochechas ganhando cor e meu coração batendo tão freneticamente que chegava a doer. Quatro camadas nos distanciavam.

- Está tudo bem?

Sua voz rouca tinha efeitos avassaladores sobre mim.

- Sim. Acho que estou gripado.

Ele riu.

- Tenho quase certeza.

Sorri para ele. Tão bonito, tão intrigante. Me sentia preso a ele, como um leitor assíduo lendo a obra de sua vida. Incansável, insatisfeito, encantado.

- Aconteceu algo hoje?

Vinicius pareceu refletir por um momento e disse:

- Nada de mais. Apenas eu perdido pela imensidão de Augustine - ri de seu drama - E você? O que fez hoje?

Encarei o teto.

- Apenas encarei o teto.

Ele se deitou ao meu lado, encarando o teto também. Meu coração se igualava ao de um maratonista, no fim de sua árdua jornada. Eu o queria ali, deitado eternamente comigo, se pudesse pararia o tempo naquele momento, nada mais importava, só nós dois.

- É um belo teto.

Não ousei encara-lo, ficamos nós dois ali, curtindo tudo aquilo. Quando achei que precisava falar alguma coisa, tentei pensar em uma frase inteligente, tarefa difícil em meio aos batimentos violentos que retumbavam em meus ouvidos.

- Cuidado. Você pode ficar gripado.

Ele virou seu rosto e me encarou, hesitante, eu também virei e me perdi na imensidão negra que eram seus olhos, como uma noite sem estrelas. Seu rosto era a escultura ideal para mim, milimetricamente desenhado afim de me envolver. Quando eu estava perto de Vinicius sabia que almas gêmeas existiam, que era mais do que provável, era o destino, uma pessoa nascia para outra. Eu nasci para ele.

- Eu não me importo.

Oh Vinicius, você não imagina o quê faz comigo.

- Pois deveria.

Por que eu tinha que dizer isso? Ele despertava isso em mim, esse lado que tinha medo da aproximação, medo do toque e suas reações em mim. Continuávamos nos fitando, em um movimento repentino ele tirou os sapatos e se enfiou nos cobertores. Voltou a me encarar.

- Agora se for para eu ficar doente, eu ficarei - eu tremi levemente, por causa do ar frio que entrou debaixo das cobertas, e principalmente por sua aproximação, isso não passou despercebido à ele - Desculpe, não queria resfriar você. Deixa eu te esquentar.

Ele pegou na minha mão, e depois cobriu a minha com a sua, que estava relativamente fria, ou talvez a minha estivesse febril, não saberia distinguir, até porque minha mente estava ocupada demais registrando todo o momento.

- Talvez assim.

Vinicius disse isso e puxou meu corpo inerte até o seu, me aninhou em seu peito e senti com vigor seu perfume inebriante, fechei meus olhos quase lacrimejantes. Não havia outro lugar no mundo que eu desejasse estar. Os seus braços seriam meu porto seguro daqui até a eternidade.

Comentários

Há 8 comentários.

Por ChrisDiamond em 2015-11-13 18:59:58
AMEI! e que final lindo hein? Mas só vai ser lindo se algo rolar kkkkk mas vai ser bom se não rolar, sedento pelo próximo
Por Sammy Fox em 2015-11-13 02:10:27
Awn você esta fazendo sucesso ^^ o Henry vai ficar tão feliz hehehe estamos passando por um grave momento de ótimas séries estarem morrendo por falta de leitores ativos e por interesse mesmo, Henry Thorne e eu sabemos disso mais do que ninguém :( , eu fico feliz e tenho certeza que ele ficará mais ainda com o seu sucesso, apesar do site esta em uma consideravel crise pois quase ninguém entra e posta ou comenta como no período pré-enem, só mostra que a sua historia de altissima qualidade esta conseguindo seus merecidos frutos ^^ eu amei esse capítulo e a evolução ma historia no geral, achei o rafael perfeito, michelle e nichollas muito fofos principalmente ela, é lindo ver irmãos sendo ótimos amigos carinhosos ^^ o final foi perfeito e lindo, finalmente o casal protagonista ganhou seu momento, mas será que rola? Hehehehe até o proximo cinnadia e parabéns pelo sucesso você merece :) <3 ♥
Por Luã em 2015-11-11 17:27:40
Cinnadia, que conto perfeito! A escrita, os detalhes, o enredo, tudo é realmente muito bom. A história é bastante envolvente, só peço desculpas por ter sumido, ando bastante atarefado, mas sua série é algo admirável, vou acompanhar sempre que puder. Ansioso pelo próximo, abdacos! (:
Por Sirferrow em 2015-11-10 16:47:09
Ansioso pelo próximo capítulo. Sua escrita é sensacional, e eu quero um capítulo com os pensamentos de Vinícius pra ontem. Não desista jamais dessa história. Você tem um fã.
Por BielRock em 2015-11-10 13:53:32
Comecei a ler hoje e já estou amando, sua história é tão fofa e viva que eu me apaixonei no primeiro capítulo. E esse capítulo se superou em fofissidade hahaha. Amando para sempre sua história. Beijos e até logo 😘🌹
Por Feh em 2015-11-09 22:59:46
Ai mds, ai mds, ai mds ... Vomitando arco íris aqui *-* 🌈❤ ... Vou definir sua história em uma palavra : PERFEIÇÃO. Final mais q perfeito *-* ❤. Sério ... Tipo ... Tô sem palavras aqui. Vc realmente possui todas as qualidades de um escritor exemplar : escrita impecável, criatividade elevada e o mais importante, o poder almejado por todos os escritores, SABER PRENDER O LEITOR EM SUA HISTÓRIA *-* ... Pelo menos foi como me senti, acorrentado, algemado, definitivamente preso em sua obra d arte. Bom, vim somente para te elogiar e dizer q assim vc vai longe hein garoto ;p. Aguardo ansioso pelo próximo capítulo :3 Um enooorme abraço do seu mais novo fã :3
Por Henry Thorne em 2015-11-09 16:04:54
Eu morri! Melhor capítulo! Não pude escolher nenhuma frase preferida pois agora você se superou com as frases românticas <3 <3 <3 eu amo eles, amei o jeito fofo do Vinicius quando foi interagir com o Nichollas. Achei incrivel o carinho que a irmã dele sente pelo nic. Foi só eu ou eu senti uma faísca no Rafael? :3 eu acredito e nem preciso acreditar nesse sentido pois você já confirmou para Niss :3 que a irmandande vai afasta-los de certo modo apesar de ajudar o nosso protagonista <3 imersivo gente, eu amei <3 <3 e obrigado pela consideração ;) adoro você e sua estória é claro, ansiosíssimo para o próximo <3 e sempre estarei aqui ;) <3 abraços
Por Niss em 2015-11-09 00:29:31
Aí modeuzu eles são fofinhos hahaha... Amei o capítulo de hj, espero que o Nicollas melhore logo dessa gripe e que eles possam ir curtir Augustine juntos... Kisses, Niss.