CP3 - Não vá tão cedo!

Conto de Brulei como (Seguir)

Parte da série Desculpa se te quero!

In mind: Roberto

Passa quarta, quinta e sexta, e nada dele me ligar.

Será que fui muito precipitado? Nem conversamos direito. Droga! Como sou burro! E agora?

Eu estava na casa da minha mãe, mexendo no notebook, porém meus pensamentos eram de João. Mas eu preciso me focar! Estou vendo algumas coisas para o meu escritório, tipo, mesa, cadeiras, cortinas e etc. Consegui alugar um escritório na Av. Paulista e pretendo inaugurar ainda esse mês.

Meu celular está do meu lado, e eu não paro de olhar para ele. Mas agora estou pensando melhor, bem, ele não tem obrigação de ligar, até por que eu sou um estranho. Mas pensei que aquele breve conexão foi uma coisa legal pra ele também. Ah! Roberto! Se interessar por uma pessoa mais nova que você! Você é burro...

Telefone toca – Triiiim Triiim – eu atendo sem ver quem.

- Alô? – pergunto

- Oi! Aqui é o João!... – disse a voz, e eu já esbocei um sorriso –... o cara que alugou escritório pra você.

Droga. Tinha esquecido que o dono da sala que eu aluguei chama João também.

-Ah! Oi. Então, tudo certo? – pergunto, dessa vez sem o sorriso.

- Certíssimo! Só vir aqui e assinar uns documentos. – disse ele.

- Ok. Estou indo agora. Obrigado.

Me apresso para sair, minha mãe me chama dizendo que o almoço está pronto.

- Mas mãe, tenho que ir agora

- Nada disso! Você precisa se alimentar! Chegou da viagem e precisar recuperar as energias – disse ela.

- Mãe! Faz três dias! Por favor, eu me alimento em algum restaurante lá. Eu prometo, e até tirarei uma selfie.

Depois de alguns minutos ela me libera. Eu pego o carro do meu pai e saio. Não demorou muito para chegar, afinal eu moro perto do centro. Eu estaciono na garagem e subo para o meu andar. O prédio é bem bonito, e a vista do meu escritório é incrível! O Sr. João já está a minha espera.

- Ah! Rapaz, chegou rápido. Sente aí, já lhe trago os documentos.

Mas eu não quero e sentar, então me aproximo da janela enorme e observo o movimento na rua. A Av. Paulista é linda, com uma diversidade incrível e sem preconceito. Lá, você pode ver de tudo. Eu vi travestis, gays de mão dadas, lésbicas tomando sorvete juntas, ciclistas na ciclovia, um grupo de músicos na esquina da Rua Augusta. É lindamente linda.

Continuo observando as pessoas, mas uma em especial me chamou a atenção. Era um jovem do outro lado da calçada. Ele estava vestido de calça preta, camiseta branca e uma blusa cinza listrada com uma touca branca. reconheci seu cabelo castanho para trás e seus lábios vermelhos... JOÃO! Eu começo a querer gritar por ele. Percebo que ele está com uma câmera na mão e entrevistando as pessoas. O Sr. João aparece com papeis nas mãos. Assinei tudo apressadamente e recusei o café dizendo que estava com pressa. Saí em disparada. Atravessei a rua a procura dele e nada. Viro uma rua, viro outra e, por fim, eu desisto. Então eu volto para a garagem do prédio. Quando olho para os lados para atravessar a avenida, alguém me cutuca por trás.

- Bom dia! Perdeu alguma coisa? – eu me viro e encaro um jovem sorridente, João. – Oh! Agora sua expressão melhorou.

-Ei! Haha. Eu... na verdade... eu estava... bem, não tem importância. Como vai? Poxa, nem me ligou.- eu digo fazendo biquinho. De onde eu tirei essa ideia de fazer biquinho?!

- Bem, vai ver por que eu não tenho celular...- disse ele cabisbaixo.

- AH! Desculpe, eu deveria ter perguntado antes. Que tolice a minha. Rs – gaguejo – então, o que faz por aqui?

- Bem, eu coleciono histórias. – seus olhos se animaram ao me contar essa parte, e pude perceber que ele é mais bonito sorrindo – Entrevistos as pessoas.

- Sério? Você faz faculdade de Jornalismo?

- Na verdade, não faço nada. Meu pai não deixa. – disse ele, triste.

- AH, mas por quê?

Ele olhava para os lados e então se aproxima de mim devagar. Ele fica frente a frente com o meu rosto, e posso sentir sua respiração. Seus lábios tocam os meus. WHAT?! Eu nem hesitei, agarro sua cintura e correspondo aos seus beijos.

Ficamos se beijando por uns dez minutos. As pessoas nos olhavam como normaidade! Paulista você é <3. Enfim, eu o soltei e olhei em seus olhos castanhos. Ainda abraçando ele, eu pergunto:

- Uau, o que foi isso? Como você sabia que estava afim disso?

- Bem, eu vi que você me procurava. Não sei se realmente estava procurando por mim, mas eu sabia que era. E quando eu falei com você, você mudou. – disse ele, acariciando meu cabelo. – Obrigado. E então... eu beijo bem? Foi meu primeiro beijo homossexual!

Engasgo com minha saliva.

- O que?! Sério? Você era BV? Uau – digo surpreso – Você beija melhor que muito beijoqueiro por aí.

Soltamo-nos e ficamos frente a frente. Uau, foi tudo muito rápido. Minha barriga ronca.

- Ei! Quer almoçar comigo? – pergunto a ele.

- Não. – disse ele me encarando.

- Hm. Bem, foi...

- Não recusarei! – ele me interrompe rindo – Bobo, vamos lá! – e pega a minha mão e me puxa pela calçada.

E então, estávamos nós dois andando pela calçada e conversando muito. Parecíamos dois namorados.

Entramos em um restaurante na avenida mesmo, pedimos a comida e aguardávamos por ela. Enquanto isso, decidimos nos conhecer ainda mais.

- Então, você tinha me dito que seu pai não quer que você faça nada. – perguntei.

- Bem, não é bem assim. Eu tenho uma doença. – disse ele.

- Doença?! Que doença? – perguntei preocupado. Não é possível! Um jovem aparentemente saudável.

- Tenho câncer. – disse ele sorrindo para mim. – Mas não se preocupe, quando eu morrer, ficará bem evidente.

Minha consciência pesou tanto. Não estou acreditando no que estou ouvindo. Mas ele parece uma pessoa alegre, sempre sorrindo.

- Então, é por isso que você não gosta de pessoas tristes? – perguno.

- Também. Certamente, se as pessoas tivessem uma doença como a minha iriam sorrir mais. Mas temos que aproveitar bastante, sabe? Muitas coisas ainda devem ser vividas. E como meu pai está sempre ocupado, eu não posso sair por aí viajando pelo mundo, então eu pergunto para as pessoas os lugares mais incrível que elas já foram e qual foi a sensação.

- Você tem 19 anos, certamente pode muito bem viajar sozinho.

- Sim, mas meu pai não permite. Berto – disse ele. ‘Berto’. Adorei esse apelido – eu posso morrer a qualquer momento.

Me assustei. Meus olhos se arregalaram e ele percebe minha preocupação e meu medo. Eu queria poder fazer algo por ele. Mas eu não fiz Medicina, e sim Psicologia. Eu queria ajuda-lo de alguma forma.

- Eu queria muito te ajudar. – eu digo, triste. – Sabe, eu gostei mesmo de você. Da sua personalidade, do seu intelecto, de você.

- E você pode! Como por exemplo, me levar para tomar um mega super milk-shake ali no parque Ibirapuera! – disse ele, animado.

Como ele consegue ser assim? Parece que o câncer não é um problema. Ele quer viver cada dia como se fosse um único.

- Bem, claro!

Almoçamos, conversamos muito. Percebo que ele não diz muito sobre sua família, mas conta sobre tudo ao seu redor, seus sonhos e planos. Eu solto algumas informações. Paguei a conta e seguimos para o parque no carro do meu pai.

Antes eu decidi passar numa loja de roupas para comprar uma bermuda , camiseta e sapatos. Afinal, eu estava de social, e não queria mesmo voltar pra casa e me arrumar. Eu não queria perder tempo, principalmente quando estou com uma pessoa que me cativou muito em apenas poucos dias.

A loja é famosa, e suas opções de estilos eram numerosas. João decidiu espera no carro. Eu procuro uma roupa básica, não muito exagerada. Um sapatênis, uma bermuda simples e uma camiseta bege. No provedor, eu escuto um barulho estranho. Alguém gritando:

- Abaixa todo mundo! Ninguém se mexe! É um assalto – disse a voz.

Eu me empalideci. Eu decidi ficar no provedor sem fazer barulho, mas ao mesmo tempo queria correr pra fora e ver se João estava bem. Droga! Assalto logo agora?!

Ouço passos vindos em direção ao provedor. Droga, eles vão me achar. A cortina se abre repentinamente, e um homem mascarado aponta uma arma em direção ao meu rosto.

- Hmm. Achou que escaparia dessa? Saia daí agora! Anda – sua voz estava abafado por causa da mascara. Mas eu saí, e me juntei com as outras pessoas que estavam agachadas no centro da loja.

Todos estavam chorando, ou rezando. Os bandidos estavam esvaziando os caixas, até que...

Um barulho de sino soa. É o barulho que faz quando abrimos a porta da loja. E uma pessoa entra. João.

- Mate-o! – grita o ladrão para.

O ladrão sacou a arma e atirou direto no estomago. Tudo foi tão rápido. Eu só me vi tremendo de raiva e chorando. Me arrastando ao encontro de João que estava gemendo e todo ensanguentado no chão. Oh, Deus! Por que? Por que isso? Nos salva.

Os bandidos pegaram todo o dinheiro e ainda levaram algumas peças de roupas e saíram. Poucos minutos todos estavam ligando para a policia, chorando, e desmaiados. E eu só corri em direção a ele.

- JOÃO! OLHE PARA MIM! NÃO MORRA, POR FAVOR! NÃO VÁ – Eu grito para ele, e vejo que seu rosto se tranquilizou quando o pego no colo. – A gente já vai para o hospital, por favor, não morra.

Eu coloco ele no banco traseiro e acelero. Não sei qual era a velocidade máxima das ruas, mas eu não me importei com isso. Corri muito. Fui para o hospital Sírio Libanês. Demorou, mas quis levar ele no melhor.

-ALGUÉM ME AJUDE! – Eu grito com ele no colo – ELE FOI BALEADO.

Milhares de profissionais foram ao me socorro. Uma maca se prontificou ali e eu depositei o João nela. Ele estava respirando ainda mais pesado. A dor estava bem evidente em seu rosto. Seus olhos estavam se fechando.

- João, olhe para mim. Por favor, tudo vai dar certo. - eu digo chorando. – não vá!

A enfermeira não permitiu que eu entrasse na sala de cirurgia, então só me restou ficar sentado na sala de espera.

Tudo levou 5 horas. Uma enfermeira aparece no sala e me chama.

- Ele é o seu filho? – pergunta ela.

- Não! Moça, olhe para mim. Você acha que sou pai de um garoto de 19 anos? – pergunto, indignado.

- Desculpe, mas esse mundo de hoje eu não duvido de muitas coisas. Mas enfim, ele está bem. Removemos a bala que estava em seu estomago. Ele vai ficar.

Respiro aliviado.

- Então, você tem algum contanto com o responsável desse garoto? Ele ainda está desacordado.

- Não, eu não o conheço muito bem. Eu estava conhecendo ele hoje, então resolvemos ir ao parque para tomarmos um sorvete. Só que eu precisava de umas roupas, poies está calor e eu estou de formal. Então a loja foi assaltada e ele estava no carro. Aí ele entrou e um dos ladrões tentou mata-lo. – conto.

- Entendo. O senhor disse conhecendo? – pergunta ela. Essa perguntas são necessariamente profissionais? Me pergunto.

- Sim. Somos dois homens gays se conhecendo, por quê? – pergunto, irritado.

- Por nada – disse ela com uma cara de desgosto e saindo da sala.

- EI! E quando eu o verei? – pergunto.

- Quando os responsáveis vierem – disse. – Caso contrario, devo esperar ele acordar e perguntar se vai querer te receber.

- Mas sou eu que estou pagando as despesas aqui!!! – grito.

Então, ela sai.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Fla Morenna em 2016-06-15 13:52:00
Gente o João tem cancer??? Socorro amando. essa história.
Por Pop-Afro em 2016-06-04 02:40:05
Super mega fixe...gostei bue da historia
Por Nando martinez em 2016-06-03 18:11:32
Gostei muito da sua historia ,quando vc posta novamente?